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São Paulo, São Paulo, Brasil
Do meio da selva de pedra de São Paulo, os Valerius fiscalizavam todos os magi independentes do Brasil. De xamãs, pajés e feiticeiros do interior da Floresta Amazônica a curandeiros e sacerdotes da Bahia; de alquimistas do Pantanal a mágicos e bruxos metropolitanos; todos eram vigiados secretamente a partir do prédio sede do Grupo e do Banco Valerius. Antes de se tornar Magister, Edgar Valerius já vigiava secretamente os independentes brasileiros, mantendo arquivos e fichas de cada um deles. Nas últimas semanas, com a liderança do círculo, Edgar e sua esposa Astra se perguntavam se deveriam começar a cuidar dos independentes da Europa, território sob jurisdição do clã.  O edifício sede onde trabalhava a família Valerius era uma construção imponente e moderna, bem próxima à Avenida Paulista. Era retangular, todo de vidro negro espelhado, e ficava perto do centro da grande capital do Estado de São Paulo. Tirando um shopping center ao seu lado, a sede do banco não
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Pedro havia acordado bem cedo naquele dia. Às sete horas da manhã já estava de café-da-manhã tomado. Os Valerius já haviam chegado e perambulavam pela propriedade juntos dos Galardães conjurando feitiços. Dessa vez, o escritor não viu nenhum sinal dos seguranças armados e, ao perguntar a sua tia Rosário, foi informado de que eles haviam sido todos dispensados.             O jovem Galardães, depois de desjejuar, arrumou sua cama e juntou parte de suas roupas para levar em uma mala ao aposento de seus pais, pois o seu quarto seria agora usado por Edgar e Astra, conforme ordens de sua mãe. Ele e Tomás iriam dormir na sala, enquanto os Magisters estivessem na casa. Maria dormiria junto da mãe Rosário e Suzana dividiria o quarto com Valesca. Sebastião, devido à sua fragilidade, continuaria sozinho em seu quarto.             O escritor pegou por fim o seu notebook,
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6
Pedro agora tinha uma meta. Ele vislumbrava um caminho, uma sucessão de passos a seguir, uma missão a cumprir. Talvez a felicidade que ele sentia viesse da própria importância que ele parecia ter adquirido. Interceder pelos Valerius, atuar junto aos Blackholes: o escritor agora estava incumbido a fazer a diferença, que era o que ele mais queria. Queria acabar com aquela ameaça. A impotência que ele sentia diante da sombra que se aproximava parecia ter ganhado um feixe de esperança, um vislumbre de poder de ação. Ele poderia fazer algo — era isso o que o motivava. Lidar com os Blackholes não pareceu, em seu primeiro pensamento, uma tarefa muito complicada, mas conforme ele ia arrumando suas roupas e seus pais iam lhe explicando as minúcias do clã americano, ele compreendia a complexidade do que estava prestes a fazer. — Eles são muito mais fortes do que você imagina — falou Velkan Valerius, ainda deitado na cama sob o quadro de Lara. — E embora seja difícil pa
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7
A viagem até Nova Iorque foi longa, mas tranquila. Pedro sentia dores nas costas devido à desconfortável posição em que dormira dentro do avião — imprensado entre sua prima Maria e um estranho, sem poder espirrar sem receber um olhar lancinante do passageiro ao lado. Com exceção de seu desconforto, tudo ocorrera conforme previsto.             Durante a madrugada, Pedro chegou ao Aeroporto Galeão e deixou Maria dentro do carro, ainda enfeitiçada, enquanto ia até o saguão de entrada encontrar-se com o enviado dos Valerius com a documentação necessária. Alberto Pedrosa estava com uma plaqueta com o nome do jovem e, ao vê-lo, passou-lhe discretamente a identidade e o passaporte falsos.             — Marcelo Costa — falou o Sr. Pedrosa. — Visto B-2 para os Estados Unidos. Você está indo a turismo. Sua família já está lá e você os encontrará para ficarem dez dias e
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Armor, Somerset, Reino Unido
O serviçal adentrou a sala de pedra trazendo em suas mãos uma carta recém-chegada. Do outro lado do salão iluminado por candelabros, um casal estava sentado em duas cadeiras altas semelhantes a dois tronos, como se estivesse presidindo uma audiência. O lacaio atravessou o salão sobre o tapete envelhecido, cuja cor vermelha estava quase desbotada, e falou desconcertado:            — Meus lordes, eu trago...            — Uma carta de Melissa Stones, certo? — interrompeu a mulher sentada na cadeira acima do tablado, estendendo sua mão na direção do serviçal. Ela já sabia o que ele tinha em mãos. — Entregue-me.            Ele fez o ordenado, deixando a carta nas mãos da mulher de olhos neg
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8
            Em um único dia, toda a família de Pedro lhe havia sido arrebatada. A vida havia sido novamente cruel. Como se não bastasse que o Galardães sofresse com a perda de sua prima, o mundo mostrava mais uma vez a sua devastação irrefreável ao desferir um único golpe e tirar-lhe todas as pessoas que mais amava. O mundo era injusto, sim. Injusto e incoerente.            Nenhum dos Galardães merecia o desfecho que havia encontrado, mas isso não importava, afinal. A incoerência da vida penetrava em cada célula viva ou morta, em cada átomo da matéria, em cada fluxo de pensamento humano, até mesmo em cada feixe de Essência — aquela magia, a noção mais absurda de todas. Essa incoerência espreguiçava suas mãos pegajosas e
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9
À sua frente estava o próximo desafio do drenador. Seria mais difícil que o anterior, mas ele sabia que venceria. “A morte ultrapassa todos os obstáculos”.             A viagem dos dois Valerius atrapalhara seus planos: forçou-o a ter que pisar em território Blackhole antes do programado. Agora deveria haver um sinal de alerta máximo para todos os magi americanos. Deveriam ter erigido inúmeras proteções — todas inúteis quando tivessem que enfrentar seu poder acumulado. E se havia algo que ele aprendera e bem aplicara era que, ao enfrentar um clã, precisava primeiro atacar a cabeça. Fora o que havia feito com os Valerius: destruiu o Senatus por completo e passou a perseguir os outros isoladamente.             Seguindo a mesma lógica, o homem erguia-se entre árvores fitando o alto da colina onde estava a Mansão Blackhole, sede do Parlamento. P
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Rostov do Don, Oblast de Rostov, Federação Russa
A cidade portuária de Rostov do Don era assim denominada por estar às margens do rio Don, considerado limite entre a Ásia e Europa pelos magi da época da Grécia Antiga. Nesses tempos, o rio ainda se chamava Tanaïs, mesmo nome dado à cidade que precedeu Rostov. Para os antigos magi, a região do rio Don era importante rota do Oriente Médio para a Europa e ali proliferou o antigo Clã Bosfaris, um grupo magi de partes diferentes do Cáucaso, que se estabeleceram em Tanaïs para lucrarem com a passagem de independentes. Quando os antepassados dos Drakov Valerius, por volta do Século II ou III, foram estendendo seu domínio até a região do Mar Negro, os remanescentes Bosfaris foram expurgados e seu clã dissolvido.             A região, apesar de ter sido negligenciada pelos antepassados dos Drakovs por séculos, integrou o projeto de consolidação do poder Drakov, que no Século XIX já detinham to
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O salão de baile dos Blackholes estava belíssimo naquela noite de festa. Quando Pedro adentrou o salão, trajando o mais fino terno que encontrara no armário de seu quarto, não pôde deixar de se deslumbrar com o cenário. As paredes ricas em detalhes dourados contrastavam com o brilho dos pequenos pingentes de cristal brilhantes, levitando abaixo dos panos de seda que cobriam o teto ordinário em um efeito luxuoso. As mesas cobertas por toalhas nas cores vinho e branco ostentavam, cada uma, pequenos feixes de luz a levitarem lentamente nos centros das mesas, girando em sintonia. Flores brancas decoravam cada pilastra de mármore do salão. Ao fundo, um palco havia sido montado, com cortinas vermelhas e veludosas. O aspecto suntuoso do aposento era reforçado ainda mais pela elegância das pessoas ali dentro. Os magi eram, inegavelmente, elegantes por natureza: tal como Malena tinha bom gosto, os americanos usavam vestes que provavelmente custavam o preço de um terreno em R
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11
A primeira imagem que penetrou pelos olhos de Pedro quando eles se abriram foi a expressão angelical de Alyssa, dormindo nua ao seu lado. Os lençóis de seda cobriam-lhe metade do corpo, deixando os seios à mostra, erguendo-se e abaixando-se lentamente conforme sua respiração tranquila. Ele não ousou se mexer: corria o risco de acordar Alyssa e tirá-la daquela postura tão perfeita. Pelo menos por uma noite, ela havia sido sua e ele havia sido dela.E havia sido indescritível. Ele ainda podia sentir os dedos dela a se cravarem em suas costas, suas pernas e braços entrelaçados nos seus, o gosto dela a enlouquecer o seu âmago. Levou sua mãos às madeixas de ouro da magi, contemplando sua beleza, e a americana não reagiu; prosseguia adormecida após uma noite agitada e prazerosa.O Galardães finalmente se virou para o lado, tentando observar pe
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