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A teia de gelo
Faltava mais um dia, o céu estava povoado de nuvens densas tingidas de um negro rubro, profano e intenso, que estava pronto pra cobrir tudo com gelo e neve sem se importar com o que ou quem morreria. A tempestade não ligava pra isso, apenas em cumprir seu desejo de pintar a terra de branco e perseguir aqueles que ousavam contrariar suas vontades. Todos eles morreriam congelados, mereciam isso. Era o que pensava se de fato tivesse algum pensamento.Orion podia sentir o gosto ferroso no fundo da boca, e algo nele tinha plena certeza que era sangue mais não estava sangrando. Não demorou muito pra que o sabor se transformasse em muco e isso mesclado a saliva se tornou um líquido negro que tingia os dentes e escorria no canto dos lábios os deixando rubros. “Quanto maior o alívio mais perto da morte” o aviso nunca parecia ter mais sentido do que naquele instante. Ele podia sentir os ossos doendo, se esfarelando a cada passo, o sangue fervendo
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O perigo do silêncio
Era estranho o se calar, o fato de ficar em silêncio, erapor si só tão avassalador que a fazia pensar não no mundo, não no problema, masno que havia dentro de si. E por isso encontrava os erros por trás dasperguntas, as falhas da armadura e por fim o vão devaneio de achar que tudoestava certo.  Parte dela queria saber aonde estava ele? O que o fez partir?E por fim porquê nunca voltou pra casa? Era raramente que admitia que havia umproblema, que sentia falta ou que queria saber dele. Já que a maior partesempre assumia que um pai nunca faria falta, fazia falta ou fez falta. Nãoprecisava dele. Não queria pensar nele, só precisava perguntar por qualquer coisa,deixar outra questão no ar enquanto essa ainda pairava sobre ela. Era assim que o a céu era pra Endy, uma massa cinza,
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Não podia ser verdade. Não era real. Não podia ser?! Era o que Endy pensava  tão alto que ouvia as perguntas se transformando em palavras perdidas em duvidas. Era dessa maneira que os olhos cheio de incertezas se enchiam de algo novo e assustador. Uma surpresa tirânica que arrancava todas as outras dúvidas, perguntas ou fosse o que fosse dos pensamentos. Não havia espaço pra tudo apenas para aquela questão, que os olhos impunham a mente. “Aquilo é real?”No gelo um corpo quase sem pele, uma caveira mal coberta por roupas velhas, perfeitos trapos surrados pelo tempo. Uma pobre alma vítima da má sorte ou do insano desejo de atravessar a grande armadilha, mas não podia fazer nada já estava presa tempo demais pra poder ajudar. Os ossos brancos se destacavam no gelo azulado, as costelas a mostra protegiam um coração pútrido, decadente e que sem sombra de dúvida estava parado do mesmo jeito que aquele ser estava morto. Foi quando ele se mexeu, a mandíbula desceu e su
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Não era doloroso perceber que estava morrendo, sentir ar queimando os pulmões ou notar o quão difícil era dar o próximo passo. Estranho mesmo era a leveza que Orion aceitava aquilo. Não havia por que lutar, só restava ceder aos braços da morte que envolvia seu corpo da mesma maneira que não estava preso... a nada. Era um toque suave e caloroso, como o de uma mãe segurando seu filho. Era assim que se sentia mesmo não sabendo o que era isso. Ele podia notar que o desespero não batia a sua porta, não havia medo apenas uma questão: “O tinha do outro lado?”Não seria um devaneio bobo que o manteria acorrentado ao mundo, um desejo fosco e sem vida de ajudar alguém, ou de ser útil, e nem sua dívida o prenderia. Não tinha um porquê, um pra que na verdade de ainda estar ali. Só queria continuar, ir ao limite do máximo, dobrar o infinito era tão impossível quanto se manter vivo. Por isso se concentraria no próximo passo. Não era algo grandioso, inalcançável ou utópico, mas
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Ela não reconheceria o desespero mesmo se ele estivesse bordado diante dos seus olhos, uma peça linda, escrita com suas letras negras, com as lágrimas que caiam da palavra que se desdobrava do profundo medo. Ela não reconheceria o desespero, por isso não sabia o que estava vendo, o que ainda iria sofrer e no que se apoiava.Foi aos poucos que a coisa ou melhor a... se revelou, no começo parecia mais alguém, uma silhueta estática a esperando, um dos monstros retirado dos seus pesadelos que a névoa trazia á vida e dava forma para assombrá-la em carne e osso e não só quando estava dormindo. Os passos estavam carregados de hesitação enquanto o ar, massivo e gelado, a fazia ofegar. Havia a sensação de estar sendo observada e o lugar, a névoa e o gelo sólido sobe seus pés a obrigavam a se questionar. “Para aonde estou indo? Em qual enrascada isso vai me levar?” Essas eram perguntas que só o tempo traria repostas, mas no momento permaneceriam como charadas esquecidas.<
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O vento deslizava sobre a pele feito uma agulha esfolando o tecido e sem vontade nem uma de costurar ou ver sangue. Só queria ferir, provocar dor, sem o esforço de atravessar a pele e pra isso carregava o frio á onde fosse. Porém a verdadeira tortura era o alarido mudo, os grunhidos do silêncio, que se desdobravam na loucura de ouvir a mais familiar das vozes fossem elas rudes, gritos ou broncas por ter feito ou esquecido de algo. Orion conseguia ver atreves dos ouvidos e se imaginava lá.“O homem estava de pé, com as pernas levemente separadas, o elmo descansando entre os dedos enquanto fitava o menino. Já Orion das poucas vezes que ousava desviar os olhos do que estava fazendo o fitava com a expressão rígida, a barba rala crescendo, como ervas daninhas no gramado, em desordem. Porém todas as vezes que olhava-o o resultado era o mesmo, o corpo desabava cansado, exausto, do que estava fazendo.– Você só vai descansar depois de levar todas as toras p
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Antes que tudo ficasse escuro demais, foi antes que as pálpebras se fechassem por uma eternidade, tudo aconteceu rápido e estranhamente com alguma ordem. Assim que a coluna rompeu jogando estilhaços, pedaços de gelo pra todos os lados, e a cobrindo de água, o ar entrou, o susto a fez respirar, a fez perceber que estava prendendo a respiração por tempo demais. Mas foi veloz demais pra entender.O instinto a fez olhar para baixo, cobrir os olhos e por fim fitar a coluna em destroços. O ar entrou corrosivo, como o mais doces dos vinhos, era sim dez vezes mais viciantes que qualquer bebida que houvesse provados antes e como qualquer viciada Endrelina queria mais e mais. Na verdade precisava disso pra continuar existindo. O coração ainda palpitava no peito tentando romper as grades das costelas, feito um cavalo selvagem sentindo a imposição das rédeas, e os lábios entre abertos estavam indecisos, surpresos com o que está diante dos olhos enquanto o oxigênio entrava com t
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Ela não estava vendo, os olhos estavam pregados no escuro enquanto o coração ofegava tentando achar um ritmo pra tudo. Era confortável sentir a ausência do peso, o silêncio sendo quebrado pela brisa gelada e o cansaço dominando os músculos, enquanto o corpo se entrega ao sono.Se esperasse mais um pouco Endy estaria dormindo no campo do inimigo, fazendo da grande armadilha uma cama pra qualquer um dos seus sonhos. Mas ela não ligava pra isso, só queria comer e a garota deitada era uma refeição servida em uma bandeja de prata. Foi a fome, o cheiro suave de sangue fresco, que a trouxe do mundo dos mortos mais uma vez.Se estivesse de olhos abertos Endy correria, não estaria deitada e se entregando as suas vontades. Era esse o seu fraco, a ausência da disciplina de ignorar alguns dos seus desejos. A vida seria menos divertida mais com certeza teria menos problemas. E isso pra Endy era o problema, não poderia ser ela se não se entregasse de verdade, se
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Ele estava chamando ajuda, acordando o resto do bando. Por isso do sorriso, dos gritos e das pancadas contra as pilastras. Tudo fazia sentido. Ele tinha mais de um plano.- Maldito, Maldito... – Vociferou Endy cerrando os punhos enquanto o ruído aumentava. –  Seu MALDITO! – Gritou percebendo que o monstro estava pensando muito além do que podia ver.Bastou ouvir a primeira pilastra ruir pra tentar tirar a foice do gelo, ela poderia precisar de uma arma e aquela era única que tinha na plataforma, inteira. A lâmina havia atravessado o gelo, estava bem cravada, e o ombro quase deslocado de Endy não ajudava em nada. Enquanto tentava desvencilhar a foice conseguia ouvir as criaturas se libertando, a todo instante colunas se quebravam trazendo à tona os monstros. Ela ergue os olhos, eram tantos e ao menos tempo que não daria tempo, que não sobreviveria se ficasse. Precisava sair correndo. Precisaria ter alguma vantagem.Mas os observ
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Os crânios se viraram pra trás. Eles estavam parados e uma parte de Endy torcia pra que tivessem desistindo de caçá-la, enquanto a outra sabia que havia algo de errado, que não devia ficar esperando que viesse ao seu encontro, mas a curiosidade não permitia que avançasse sem saber do que estava fugindo ou o que estava acontecendo. O silêncio os envolvia pela primeira vez, não havia os barulhos da corrida desenfreada, das colunas quebrando e nem um deles repetindo a mesma frase em uníssono. Isso por si só era estranho e a tensão crescia a cada segundo que nem um barulho era produzido.A curiosidade impelia Endy à chegar mais perto, mas o receio a impedia, afinal tudo tinha um limite e não seria idiota de cometer tal erro, ela esperaria a onde estava, nada mais que isso. Endy sentiu a plataforma tremer, parecia que algo estava pulsando, como se o gelo estivesse vivo. Como se algo estivesse vindo à tona. O silêncio crescia enchendo a cabeça da garota de pensamentos enq
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