Eu odiava o ensino médio.

De todas as séries, aquelas últimas três eram as piores. Por sorte, estávamos terminando o segundo semestre. E era o último ano para a maioria ali.

Alguns iriam repetir, outros ficariam para o trabalho de verão, mas a maioria seguiria em frente.

Por exemplo, Amanda Jennings iria para Stanford e faria seu tão esperado curso de medicina. E Jacob Martin pegaria seu Corolla e dirigiria até algum lugar distante--talvez norte do Canadá, segundo boatos-- com a namorada, Macy.

Mas não eu. Eu ficaria em Nova York e me mudaria para outra escola do outro lado da cidade com um novo nome. E iria fazer exatamente a mesma coisa.

Agora eu era uma olheira de escolas. Bem, já fazia dois anos.

Era uma vida tediosamente chata e segura e eu tinha saudade da queimação na perna depois de um corte de faca ou da dor lancinante ao deslocar o ombro outra vez. Era estúpido e perigoso, mas eu ainda sentia falta de ser uma Caçadora.

Caçadores de Feéricos. Éramos os salvadores da humanidade comum há quase dois mil anos.

Desde que as três rainhas feéricas--Maeve, Mora e Mab--abandonaram os feéricos e voltaram para onde quer que as divindades vão quando se cansam do mundo, os feéricos ficaram descontrolados.

Nós éramos encarregados de manter os mais mansos na linha e exterminar os selvagens, como ogros e gigantes.

Isso faziam os Filhos da Lua, como eu. Os Filhos do Sol nos ajudavam muito. Alquimistas experientes, eles faziam coisas incríveis ,como o meu preferido, o Trasporten--era um gel que tornava coisas sólidas, como barras de ferro, algo simples de atravessar.

Bom, mas o que eu era agora não era nada de emocionante. Ser olheira era ver e cheirar futuros membros da Irmandade, cujos sangues tinham essência de feérico diluída.

E ali, naquela sala de aula, eu podia cheirar pelo menos dois deles. Era algo extremamente raro. Era difícil encontrar alguma coisa útil, mas achar dois deles era loucura.

Mas a parte ruim era que eu também sentia o cheiro de três feéricos ali, naquela pequena sala.

Tudo bem, era comum os feéricos menores--como ninfas e elfos--se misturarem com humanos, usando A Sombra como disfarce. A Sombra era um pó que nossos alquimistas criaram alguns séculos atrás. Um pouco, torna qualquer um com a aparência que lhe coubesse melhor.

Naquele momento, eu usava um anel com Sombra líquida no núcleo. Ele me deixava com a aparência mais comum possível, mas ainda mantendo um pouco de mim.

Mas a Sombra havia sido roubada havia muito tempo e os feéricos também tinham acesso à ela.

" Jules? " Uma garota chamou ao meu lado enquanto ela acenava na minha cara. " Ei, acorde, ouviu o que eu te perguntei? "

Levei um tempo para lembrar que aquele era o nome que eu usava naquele momento. Não Anika Gretten, mas Jules Parker, um nome completamente comum e esquecível.

" Ah, oi Mona, o que disse?" Eu perguntei, ainda tentando mater o foco.

" Scott Turner quer te chamar para o baile." Ela deu um gritinho e bateu palmas como uma criança de cinco anos.

Meus olhos se voltaram para o cara mais gato de South High, Scott Turner. Cabelos de um castanho brilhante, olhos azuis e sorriso reluzente. É, deixava qualquer garota daquele lugar pirando. Bem, exceto eu.

Não me leve a mal, mas eu já havia visto caras melhores que Scott e com certeza ele não estava nem na primeira lista.

" Hum, sabe, Josh também me convidou. " Eu disse à ela porque sabia que a deixaria louca.

Mona ficou roxa de raiva. " Não pode sair com um Reynolds quando se tem um Turner aos seus pés. Não é assim que funciona, querida." Ela estalou os dedos na minha direção, um hábito extremamente irritante dela.

" Então diga para eles não esperarem demais. Eu não vou ao baile." Eu dei de ombros enquanto rabiscava círculos aleatórios no meu caderno.

" Não diga isso, talvez você ainda possa..." Ela foi interrompida pela entrada de quatro homens de terno preto na sala.

Eles teriam se passado por empresários facilmente, talvez até me enganado. O único problema era que eu conhecia o líder deles.

Grofe, um dos mais terríveis ogros de toda a história, estava bem na minha frente.

Veja bem, se você não usa a Sombra regularmente como eu usava, sua aparência natural é mostrada para quem tem Anéis de Sombra como eu tinha. Por isso, ainda conseguia ver o corpo enorme e musculoso de Grofe e de seus lacaios.

Ótimo, matar sete feéricos, proteger dois possíveis membros da Irmandade e ainda tentar manter todos os humanos na sala vivos. E isso tudo antes do almoço. Dia extremamente tranquilo.

" Boa tarde crianças. " Enquanto ele varria a sala com os olhos manipulei a Sombra para que meu rosto afinasse e meus olhos verdes se tornassem azuis.

Ninguém respondeu, mas ele não parecia ofendido.

" Estou procurando Scott Turner e Rachel McCollister. " Grofe sorriu.

Scott e Rachel--uma garota bonita, mas quieta com quem eu nunca tinha falado--levantaram as mãos.

"Ótimo, venham comigo. "

Então eu entendi. Scott e Rachel eram os membros da Irmandade. Aqueles que eu estava rastreando.

Enquanto dois dos homens avançavam em Scott, outros empurravam Rachel até a frente da sala.

Se eu não fizesse nada ali mesmo, os dois morreriam e, provavelmente, todos os outros humanos virariam jantar.

Minha risada ecoou pela sala silenciosa--exceto pelos grunhidos de Scott e Rachel-- e todos os olhos se voltaram para mim.

" Ora, Grofe, a diversão mal começou e você já vai embora? "

Eu apertei um botão oculto e o tampo da minha mesa se abriu, revelando todo tipo de lâmina e armas brancas. Usar armas de fogo era estritamente proibido na Irmandade.

Com a velocidade que eu fui treinada a ter, eu atirei duas adagas no pescoço daqueles que seguravam Rachel e armei duas flechas, que disparei na testa dos que seguravam Scott.

Coloquei a aljava nas costas e sorri para Scott. Eu tirei o anel e o guardei no bolso do jeans. A Sombra caiu como uma cortina, revelando meus compridos cabelos castanhos e meus olhos verde-acinzentados, assim como meu colar de ferro retorcido na forma do símbolo da Irmandade--um sol com uma lua e uma estrela dentro.

" O show começa agora, Grofe, e você é a atração principal. "