capítulo 2

Desafio medonho

"Fácil é repetir mentalmente que vai ser tudo tranquilo e que aquele é um trabalho como qualquer outro.

Fácil é desistir quando o desafio é medonho.

Coragem é outra coisa.

Desespero, medo e ansiedade, tudo isso me define nesse momento.

É muito difícil a vida adulta, ela é cheia de sacrifícios e pareço estar vivendo um verdadeiro filme de terror.

Me sinto suja por estar prestes a vender meu corpo, como se ele fosse descartável, e não me sinto confortável com essa ideia que me amedronta. A minha alma está escura e só estou fazendo esse sacrifício por amor. Amo demais a minha pequena, e sou capaz de fazer qualquer coisa para dar tudo o que ela merece.

Estou me arrumando pra minha primeira noite com um homem, um tremendo desconhecido. Ele foi escolhido porque fez uma oferta irrecusável e o dinheiro pode nos salvar da ordem de despejo.

Minha mãe me dizia que eu tinha que enfrentar a vida, mesmo quando as sombras dos meus medos e inseguranças fossem maiores do que a minha confiança em mim mesma.

Ter coragem significa que, mesmo após um dia de luta, de derrotas, de falhas, de desilusões, de impotência, ainda assim serei forte e  determinada a voltar atrás e tentar de novo.

Eu não sei o que vai ser do nosso futuro amanhã. Olho para a nossa foto presa no porta retrato em cima da cômoda, e me encho de determinação. Dou um beijo de boa noite na minha pequena, e sigo determinada. Já são quase dez da noite, hora em que abre a boate persuason, bem no centro de Nova York.

Brasileira assim como a filha, a mãe da Catarina é um anjo. Ela trabalha como cozinheira na casa de uma família milionária, a mansão dos Glecory, há bastante tempo. Ela era a melhor amiga da minha mãe e foi ela que lhe arrumou o emprego. Hoje em dia, ela me ajuda a cuidar da minha irmã sempre que necessário. A Juh é tudo pra mim.

Catarina também é dançarina da boate e há mais ou menos um mês, começou a se prostituir. Sua mãe acredita que trabalhamos como auxiliar de enfermagem, mas eu ainda não consegui arrumar um emprego na minha área. Minha amiga foi a primeira a entrar na boate e depois conseguiu me convencer a ir atrás dessa oportunidade obscura. Ela já é experiente e ganha dois mil dólares por noite, uma quantia que trabalhando como auxiliar de enfermagem eu só iria conseguir ganhar depois de um mês inteirinho de trabalho.

Enquanto nos arrumávamos em meu apartamento, Cat me olhou nos olhos e disse:

—Às vezes você precisa ser mais forte que já é, sei que vai valer a pena esse sacrifício medonho.

— Amiga, não tem nada melhor que ganhar dinheiro com isso! É maravilhoso, você vai ver que no início você vai ter medo, mas depois você vai sentir só prazer!

—Cat você só pode está ficando louca! — Respondi — Como é que eu vou ter prazer com um desconhecido? Gente, isso só pode ser doença!

—Eu não sou louca, eu gosto de dar e daí? Dou o que é meu! Antes dava de graça e eu só levava chifre. Tudo bem que às vezes a gente pega cada velho babacento que dá até nojo, mas é o sacrifício do nosso ofício!

— Eu nunca pensei em ser uma prostituta! Nunca passou pela minha cabeça perder a minha virgindade com qualquer um. Eu tenho um sonho de ter a minha própria família, um homem que me ame de verdade e agora isso tudo está indo pelo ralo!

Dou uma olhada no espelho e estou vestida pra matar, igual diz a cat. Estou com um vestido preto sensual e colado no corpo e pretendo usar uma máscara para esconder o meu rosto.

— Outros sonhos, outra vivência, outra vida, e muito mais dinheiro amiga! Só assim você vai conseguir a guarda definitiva da sua irmãzinha, aquela que tens o dever de oferecer dias de paz.

Sob a minha pena de morte, eu me sinto assim indo pra terceira guerra mundial!

Enquanto a Catarina me arrumava, fiquei olhando a figura refletida no espelho e me senti irreconhecível. Estava usando cílios postiços, batom vermelho e mais um quilo de maquiagem, tão pesada e artificial, que eu mal conseguia me reconhecer.

O perfume era francês, adocicado e enjoativo, e o meu cabelo foi preso em um coque bagunçado. A roupa se resumia em uma lingerie preta, bastante sensual e um corpete trançado em minhas costas. A calcinha fio dental que eu estava usando desaparecia em meu traseiro avantajado e privilegiado e mesmo sendo virgem, eu sabia que os homens se enlouqueciam com mulheres do bumbum grande.

Ela me ajudou a colocar um vestido tomara que caia preto, que ficava um pouco abaixo dos joelhos e que tinha uma fenda na perna. Calcei os saltos agulha 15 e mal consegui me equilibrar em cima deles. Para finalizar, coloquei em meu rosto uma máscara preta com detalhes prateados.

Dou uma olhadinha no espelho antes de sair.

A Catarina está vestida de vermelho, chorando de emoção enquanto eu apenas fico estática. Não consigo esboçar nenhuma reação e em silêncio, saímos do meu apartamento, pegamos um táxi e chegamos na boate em cima da hora.

Minha amiga era a primeira atração da noite e eu estava tão nervosa que não consegui prestar atenção em seu show. A música alta se misturava às conversas paralelas dos clientes enquanto Cat era aplaudida e observada por grande parte dos convidados ali presentes. As bebidas iam e vinham de todos os lugares, as luzes fortes e coloridas piscavam na escuridão e eu estava com tanto medo que mal escutei o meu nome sendo anunciado. Eu era a próxima.

Rapidamente subi ao palco e observei todos aqueles homens me devorando com o olhar, como se fossem predadores famintos. Ignorei o tremor que acometia os meus músculos e comecei a dançar de forma sensual enquanto usava o pau do poli dance.

Tirando peça por peça, joguei algumas roupas na direção da plateia causando grande comoção. Alguns convidados ficaram babando com o meu show e começaram a jogar dinheiro no palco enquanto eu girava o meu corpo contra o bastão. Ondulei o meu quadril no ritmo da música e tentei esquecer toda a ansiedade pairando sob a minha mente. Eu precisava ser forte, pela jujuba e por todo o problema do aluguel.

Joguei meus cabelos para o lado e encarei a platéia enquanto já me preparava para o fim do meu show. Apertei a barra contra as minhas mãos e desci em espiral, preparada para fazer o último movimento do meu número.

Assim que o barulho cessou, desci as escadas dando de cara com a piriguete velha rabugenta da Salete, que veio logo me apresentando o meu primeiro cliente. Percebi que ele ficou deslumbrado com a minha beleza. Ele me perguntou o meu nome e sem pensar direito, respondi que era "Dark" o que significava Sombrio. Este também era o apelido da Dakota Johnson, uma das minhas atrizes preferidas. Algumas pessoas dizem que eu me pareço com ela, mas eu não acredito nisso, pois ela é a diva da gucci.

Ele se apresentou como Tom eu e automaticamente me lembrei do Tom Cruise, porém o homem que se encontrava parado na minha frente era muito mais lindo do que o ator de Hollywood. O homem era alto, forte, bonito e usava um terno e gravata impecáveis. Mas o que mais me afetou foi o seu olhar. Ele tinha os olhos azuis petróleo e um olhar envolvente e indecifrável, tão intenso,  que ele parecia conseguir enxergar a minha alma e decifrar todos os meus enigmas.

"O amor sempre prevalece, vence todos os obstáculos e aumenta a cada nova dificuldade encontrada pelo caminho.

Por isso, ultrapasse as barreiras e vá além.

Acredite que é possível e alcance, nunca desista!

Você é bem mais capaz do que imagina".

Nesse momento eu lembrei das palavras da minha mãe e subindo as escadas para ir de encontro à um sacrifício com um desconhecido, me senti indo direto para a minha pena de morte!

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