Ricardo Santana O sol da manhã brilhava no horizonte quando saímos de casa rumo ao Aeroporto de Guarulhos. O dia estava apenas começando, mas a ansiedade já pesava no meu peito. Não apenas por reencontrar Erick depois de tanto tempo, mas também porque essa viagem significava algo maior: apresentar Kate à minha família.Kate estava ao meu lado no carro, os olhos fechados, o rosto relaxado em um sono tranquilo. Dirigia com uma das mãos no volante e a outra descansando em sua coxa, sentindo seu calor mesmo através do tecido fino da calça. Sempre que podia, desviava o olhar para ela, admirando a forma como seus cílios longos lançavam sombras delicadas sobre a pele macia, o jeito como sua boca entreaberta deixava escapar um suspiro ocasional. Ela parecia um anjo dormindo.A estrada até Guarulhos estava livre, o trânsito surpreendentemente tranquilo para um domingo de manhã. Dirigir sem pressa, sentindo o ronronar do motor e a brisa leve que entrava pela janela entreaberta, trouxe um raro
Kate Ferreira Sentados à mesa do restaurante, eu me sentia cada vez mais à vontade com a família de Ricardo. O ambiente era aconchegante, com uma iluminação suave e uma decoração rústica que trazia uma sensação de conforto. O aroma de comida caseira pairava no ar, aguçando meu apetite e me fazendo sentir ainda mais bem-vinda.Ricardo estava ao meu lado, sua mão descansava sobre minha coxa em um toque discreto e reconfortante. Erick e Felipe discutiam animadamente sobre um jogo de futebol, enquanto Alexia, a namorada de Felipe, me puxava para a conversa.— Então, Kate, Ricardo já te contou sobre as peripécias dele quando era adolescente? — Alexia perguntou com um sorriso travesso.Olhei para Ricardo, que soltou um suspiro resignado e revirou os olhos.— Tenho certeza de que algumas histórias ele deixou de fora — respondi, me divertindo com a expressão de culpa no rosto dele.— Pode apostar que sim! — O pai de Ricardo, seu Carlos, entrou na conversa com um sorriso orgulhoso. — Meu filh
Kate FerreiraO trajeto de volta para São Paulo foi marcado por conversas nostálgicas entre mim e Ricardo. A experiência de passar o domingo com a família dele havia sido incrível. No início, eu estava tomada pela ansiedade, temendo que eles não gostassem de mim ou que houvesse algum desconforto. No entanto, todas as minhas incertezas se dissiparam assim que conheci melhor os irmãos dele e o carinho genuíno do pai. O ambiente caótico, mas cheio de amor, me conquistou de uma maneira que eu não esperava. Agora, a saudade já apertava no peito, e eu já podia imaginar como sentiria falta das brincadeiras dos irmãos e das histórias do senhor Santana.— Tenho certeza que meu pai vai se tornar melhor amigo do seu — comentei, olhando para Ricardo com um sorriso.Ele soltou uma risada baixa e meneou a cabeça.— Eu também acho. Já até imagino os dois discutindo sobre futebol.A imagem mental me fez rir, e assenti, concordando. Nossos pais, tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão parecidos na paix
Kate Ferreira Assim que deixei a empresa para trás, minha mente começou a girar em torno da possibilidade de estar grávida. O pensamento, que a princípio me deixara em choque, agora se desenrolava de uma forma diferente dentro de mim.Sempre quis ter uma família, sempre me imaginei sendo mãe… Mas, até então, essa ideia parecia algo distante, quase irreal. O medo sempre falava mais alto—o medo de não ser uma boa mãe, de não ter um parceiro que estivesse verdadeiramente ao meu lado, de acabar sozinha nessa jornada. E se tudo desse errado? E se eu não fosse capaz?Mas agora…Agora, a ideia de construir uma família com Ricardo tornava tudo diferente. O medo ainda existia, mas ele já não me paralisava. Porque, pela primeira vez, a felicidade superava o receio. Pela primeira vez, a ideia de segurar um filho nos braços parecia algo real e até… desejável.Engoli em seco, sentindo meu coração acelerar com essa nova percepção.Perdida nesses pensamentos, quase não percebi quando estacionei o c
Ricardo Santana A manhã na empresa tinha sido um verdadeiro caos. Assim que cheguei, antes mesmo de conseguir tomar um café direito, já fui bombardeado com relatórios para analisar. Eram documentos extensos, detalhados, cheios de números e projeções que exigiam minha total atenção. Cada decisão que eu tomava ali poderia afetar diretamente o andamento do desfile e os próximos passos da empresa. E eu não podia cometer erros. Depois de me debruçar sobre esses relatórios por horas, fui direto para a primeira reunião do dia: com o setor administrativo. Ajustes precisavam ser feitos, prazos estavam apertados, e era necessário garantir que tudo estivesse dentro do cronograma. A conversa foi produtiva, mas exaustiva. Logo depois, sem tempo sequer para respirar direito, segui para outra reunião, dessa vez com o setor financeiro. Os números precisavam bater, os investimentos no desfile estavam altos, e eu precisava garantir que tudo fosse executado sem ultrapassar o orçamento. A manhã seg
Kate Ferreira Antes de ir para a casa de Ricardo, resolvi passar no supermercado. Queria preparar algo especial para o jantar. Depois de tudo que eu precisava contar, merecíamos uma noite memorável. Uma comemoração só nossa, antes que tudo mudasse para sempre.Escolhi fazer lasanha, um dos pratos preferidos dele. Peguei a massa, molho, carne moída e exagerei no queijo, porque sabia o quanto ele gostava. Para completar, escolhi uma champanhe sem álcool, apenas para simbolizar o momento. Com tudo no carrinho, segui para o caixa, apenas para encontrar uma fila absurdamente longa. Meu pé batia impaciente no chão enquanto esperava. Quinze minutos depois, finalmente paguei as compras e segui para o carro, jogando as sacolas no porta-malas antes de entrar e dar partida.O trânsito estava surpreendentemente leve, e em menos de vinte minutos cheguei ao prédio de Ricardo. Estacionei em uma das vagas destinadas aos visitantes e, enquanto pegava minhas coisas, meu celular vibrou.Por um momento,
Ricardo Santana Ainda meio atordoado, a realidade começou a se encaixar na minha mente, e a raiva veio com força total. Meu sangue fervia, cada músculo do meu corpo tensionado pelo ódio crescente. Peguei o elevador de volta ao meu andar e entrei no apartamento com passos pesados, sentindo a fúria pulsar em cada batida do meu coração.Eliana estava ali, terminando de se vestir, ajeitando os cabelos diante do espelho como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse acabado de destruir a única coisa que realmente importava para mim.Atravessar o cômodo até ela foi instintivo. Eu podia sentir o calor da minha própria ira queimando dentro do peito.— Eu não sei o que você fez, mas eu vou descobrir — rosnei entre dentes, a voz baixa, mas carregada de ameaça. — E juro por Deus, Eliana, se a Kate não me perdoar por causa da sua armação, eu acabo com a sua vida!Ela se virou lentamente, e, para a minha completa revolta, deu um risinho cínico, cruzando os braços como se minha fúria não pas
Kate Ferreira Cheguei na casa da Clara em prantos, com o coração em frangalhos e o corpo trêmulo como se estivesse saído de um acidente. Assim que ela abriu a porta e me viu daquele jeito, não disse nada. Apenas me puxou para dentro e me envolveu num abraço apertado, daqueles que dizem “tô aqui” sem precisar de nenhuma palavra.— O que aconteceu, meu Deus? — ela sussurrou no meu cabelo, enquanto me embalava como uma criança assustada.Eu não consegui responder. Só chorava. Chorei até faltar o ar, até minha garganta doer e meus olhos queimarem. Clara me conduziu até o sofá, pegou um cobertor, me envolveu nele e ficou ali do meu lado, em silêncio, me dando o tempo que eu precisava. Esse era o tipo de amizade que eu valorizava: aquela que entendia o silêncio, que não exigia explicações imediatas.Quando finalmente consegui respirar com um pouco mais de calma, me sentei mais ereta, embora o peso no peito continuasse esmagador.— Eu vi ele com ela, Clara… — minha voz saiu num fio. — Com a