Kate Ferreira A viagem para Santos foi surpreendentemente tranquila, o que era um alívio considerando minha ansiedade em apresentar Ricardo à minha família. O caminho foi preenchido com conversas leves e nostálgicas sobre nossas infâncias, relembrando tempos mais simples, quando brincar na rua até anoitecer era a maior das preocupações. Falamos sobre como tudo mudou, sobre como hoje em dia as crianças vivem mais conectadas aos celulares do que aos amigos do bairro, e nos questionamos se a nova geração saberia o que era ralar o joelho no asfalto e continuar brincando como se nada tivesse acontecido.— Eu ainda sinto falta daquela época — comentei, apoiando a cabeça no encosto do banco e observando a estrada.— Eu também — Ricardo concordou, mantendo uma das mãos no volante e a outra pousada casualmente sobre minha coxa, um gesto carinhoso que ele fazia sem perceber. — E pode ter certeza de que, quando tivermos filhos, eles vão saber o que é brincar na rua.Aquela frase pegou-me de sur
Kate FerreiraO dia passou mais rápido do que imaginávamos. Talvez fosse o clima descontraído, a sensação de estar em casa ou simplesmente o fato de que passamos horas mergulhados em conversas, risadas e histórias.Depois de um almoço farto e delicioso — cortesia da minha mãe, que parecia determinada a conquistar Ricardo pelo estômago —, nos reunimos na sala para a sobremesa. A mesa estava repleta de doces caseiros, mas o que realmente dominou o ambiente foi a conversa, especialmente sobre Ricardo.Meu pai, sempre observador, começou a fazer perguntas casuais, tentando conhecer melhor o homem que estava ao meu lado. Até que, inevitavelmente, a grande questão surgiu:— E aí, rapaz, qual é o seu time?Ricardo me lançou um olhar brincalhão, claramente ciente da importância daquela resposta. Eu sabia que ele poderia muito bem tentar desviar do assunto ou suavizar a resposta, mas, sendo quem era, ele preferiu a honestidade.— Corinthians — disse com um meio sorriso, esperando a reação.Meu
Kate Ferreira Voltar à realidade frenética de São Paulo depois de um fim de semana tranquilo e acolhedor em Santos foi um choque maior do que eu esperava. O barulho incessante da cidade, os prazos apertados, as reuniões, tudo parecia ainda mais intenso depois de dias cercada pelo carinho da minha família. Mas eu me esforçava para não me deixar levar pela saudade. O trabalho exigia minha atenção total, e com o desfile se aproximando, a correria na empresa só aumentava. Além disso, em breve lançaríamos uma nova linha de produtos íntimos—lubrificantes, perfumes afrodisíacos, géis comestíveis e outras novidades—o que significava mais pressão e mais responsabilidades.Não havia tempo para distrações ou escapadas para Santos. Mas pelo menos, eu tinha Ricardo comigo.Desde que voltamos da viagem, ele permaneceu aqui em casa, e dormimos juntos. Agora, ele ainda dormia tranquilamente ao meu lado, enquanto eu, já desperta, me pegava admirando cada detalhe dele. O peito subindo e descendo em um
Ricardo Santana Ao entrar na minha sala, fui imediatamente engolido pela realidade de ser o CEO de uma empresa. A pilha de documentos sobre a mesa parecia ter dobrado desde ontem, e, ao ligar o computador, fui recebido por uma enxurrada de e-mails não lidos. Suspirei profundamente, sentindo o peso da responsabilidade nos ombros, e desfiz o primeiro botão da camisa. O dia seria longo.Sem perder tempo, mergulhei no trabalho. Relatórios precisavam ser revisados, contratos analisados, e decisões tomadas. O lançamento da nova linha, Picantes, estava na reta final, e o evento, que acontecerá na sexta-feira aqui em São Paulo prometia ser um marco para a empresa. Várias lojas de sex shop se reuniriam para palestras de empreendedorismo, lançamentos e trocas de ideias com o público. Além de liderar nossa equipe no evento, eu também daria uma palestra sobre empreendedorismo, o que só adicionava mais pressão à lista de afazeres.O tempo passou voando, e eu já havia lidado com metade dos documen
Kate FerreiraA quinta-feira parecia ter decidido testar todos os limites da equipe, e especialmente os meus. A empresa inteira estava em ritmo frenético, organizando o estande para o evento de amanhã. O local estava tomando forma rapidamente, e eu tinha que admitir: estava ficando incrível. O salão imenso já recebia outras marcas do setor, cada uma montando seus espaços com luzes estratégicas, produtos chamativos e banners impecáveis. O evento prometia ser um dos mais sofisticados e impactantes dos últimos tempos.— Aqui, coloca os lubrificantes nessa prateleira — instrui Alice, apontando para um dos expositores estrategicamente posicionados perto da entrada.Ela assentiu e começou a organizar os frascos, garantindo que ficassem visualmente atraentes. Enquanto isso, me virei para observar Clara, que estava concentrada gravando alguns stories para as redes sociais da empresa. Seu olhar atento capturava os detalhes do estande, as embalagens luxuosas, a iluminação impecável e o clima de
Ricardo SantanaDepois de organizarmos cada detalhe do stand, chamei a equipe para almoçar. O trabalho tinha sido intenso, mas o resultado valia a pena. O ambiente estava impecável, transmitindo exatamente a essência que queríamos para o lançamento. O evento prometia ser um sucesso.Almoçamos juntos e, em seguida, voltamos para a empresa. Embora o stand estivesse pronto, ainda havia ajustes finais para garantir que tudo saísse como planejado. Despedi-me de Kate com relutância, desejando que o dia passasse voando. Meu desejo era simples: chegar logo à noite e sentir o calor do seu corpo contra o meu.Mas o universo parecia conspirar contra mim. As horas no escritório se arrastaram enquanto eu ajustava cada detalhe da minha palestra para o evento de amanhã. Sempre fui perfeccionista, e isso às vezes era um fardo—não aceitava menos do que a perfeição.Depois de tanto tempo encarando a tela do computador, resolvi dar uma pausa. Levantei-me, caminhei até o frigobar e peguei uma garrafa d’á
Kate Ferreira O evento superava todas as minhas expectativas. A atmosfera vibrante pulsava no ar, e a energia contagiante das pessoas tornava o ambiente ainda mais eletrizante. A área do evento estava completamente lotada, com filas serpenteando até a entrada, e todas as pulseiras de acesso haviam se esgotado em tempo recorde.Nosso stand, em particular, era um dos mais movimentados. O fluxo de clientes não diminuía, e cada um que passava levava algo consigo, seja um produto, um brinde ou simplesmente a curiosidade aguçada pelo que havíamos preparado. As prateleiras impecavelmente organizadas exibiam nossa nova linha *Picantes*, e a decoração envolvente de tons vermelhos e dourados atraía olhares fascinados. A equipe estava impecável, abordando cada cliente com simpatia e profissionalismo, garantindo que todos tivessem uma experiência marcante.Enquanto observava o sucesso do lançamento, fiz um rápido check-in com a equipe para garantir que tudo estava funcionando bem.— E aí, como e
Ricardo Santana O sol da manhã brilhava no horizonte quando saímos de casa rumo ao Aeroporto de Guarulhos. O dia estava apenas começando, mas a ansiedade já pesava no meu peito. Não apenas por reencontrar Erick depois de tanto tempo, mas também porque essa viagem significava algo maior: apresentar Kate à minha família.Kate estava ao meu lado no carro, os olhos fechados, o rosto relaxado em um sono tranquilo. Dirigia com uma das mãos no volante e a outra descansando em sua coxa, sentindo seu calor mesmo através do tecido fino da calça. Sempre que podia, desviava o olhar para ela, admirando a forma como seus cílios longos lançavam sombras delicadas sobre a pele macia, o jeito como sua boca entreaberta deixava escapar um suspiro ocasional. Ela parecia um anjo dormindo.A estrada até Guarulhos estava livre, o trânsito surpreendentemente tranquilo para um domingo de manhã. Dirigir sem pressa, sentindo o ronronar do motor e a brisa leve que entrava pela janela entreaberta, trouxe um raro