Kate FerreiraA segunda-feira parecia prometer um daqueles dias intermináveis. Desde cedo, a sala estava cheia de papéis, planilhas e uma tonelada de tarefas esperando por mim. As viagens e eventos recentes deixaram um acúmulo de trabalho, e o e-mail não parava de apitar com mensagens urgentes. Eu estava focada, mergulhada nas ideias de marketing para os novos produtos do Sex Shop, até que o relógio indicou a hora da reunião semanal.Com os documentos em mãos e meu tablet pronto para anotações, segui para a sala de reuniões. Já sabia que o clima seria tenso, mas estava preparada para isso. Pelo menos era o que eu pensava.Assim que entrei, todos já estavam lá, inclusive Ricardo. Ele estava impecável como sempre, de terno escuro, a barba feita, e os olhos fixos em alguns papéis que tinha à sua frente. Não me deu nem um olhar quando entrei, e isso já foi um sinal do que estava por vir.A reunião começou normalmente, com o time apresentando ideias e discutindo propostas para novos lançam
Ricardo SantanaEstava sentado em minha sala, os cotovelos apoiados na mesa e as mãos entrelaçadas, sustentando a cabeça cheia de pensamentos. Os números da empresa estavam despencando, e as ideias apresentadas na reunião mais cedo eram, no mínimo, medíocres. Mas o que mais me incomodava era Kate.Eu fui um idiota.Durante a reunião, a tratei com frieza e sarcasmo, mais como um reflexo da minha frustração do que por qualquer erro dela. Kate era brilhante, sua mente criativa era o que movia parte do sucesso da empresa. Ainda assim, deixei meu ego e meus sentimentos mal resolvidos contaminarem o ambiente profissional.A verdade era que o afastamento entre nós estava me corroendo. Eu sentia falta dela. Sentia falta das conversas leves, do brilho nos olhos dela ao falar de um novo projeto, da forma como ela enchia a sala com sua presença, mesmo sem perceber. Mas, em vez de lidar com isso como um adulto, descontei nela.Respirei fundo, massageando as têmporas. Eu precisava me desculpar.Qu
Kate FerreiraApós ler a mensagem de Ricardo, resolvi ignorá-lo e apenas enviei outro email com a carta de demissão, assim que apertei o botão de "enviar", a sensação de vazio me atingiu com força. Sentei no sofá do meu apartamento, abraçando meus joelhos, enquanto lágrimas grossas escorriam pelo meu rosto. Eu não sabia se estava fazendo a coisa certa, mas sabia que continuar naquele lugar estava me destruindo.As palavras que ouvi naquela empresa ecoavam na minha mente como um pesadelo recorrente. "Não tem nada de atrativo fisicamente." "Eu até comeria ela, só pela experiência." Cada sílaba cravava uma nova ferida. Como alguém pode ser tão cruel?Minha garganta estava apertada, o coração parecia esmagado. Eu me sentia sozinha, pequena, e... cansada. Cansada de lutar contra julgamentos, cansada de provar meu valor, cansada de me sentir inadequada em um lugar onde eu deveria brilhar.No fundo, o que eu queria agora era o colo da minha família. O cheiro do café que minha mãe fazia à noi
Kate FerreiraAcordei com um leve toque no ombro e a voz animada de Júlia.— Kate, vamos pra praia? — ela perguntou, com um sorriso enorme no rosto.Esfreguei os olhos e olhei para o relógio no criado-mudo. Era cedo, mas a luz do sol entrando pela janela já anunciava que o dia seria bonito.— Agora? — murmurei, ainda sonolenta.— Sim, agora! Anda, você não veio pra cá só pra dormir!Apesar do cansaço, o entusiasmo dela era contagiante. Dei um suspiro e concordei, me espreguiçando.— Tá bom, tá bom. Me dá uns minutos, chata!Júlia saiu do quarto saltitando, e eu levantei preguiçosamente. Caminhei até o banheiro e tomei um banho rápido. A água morna ajudou a me despertar, e quando terminei, escolhi um biquíni que fazia tempo que não usava e vesti uma saída de praia por cima. Ao me olhar no espelho, senti uma pontada de insegurança, mas rapidamente afastei o pensamento.Ao sair do quarto, o cheiro do café da manhã me envolveu. Minha mãe já estava na cozinha, colocando pães na mesa, enqua
Kate Ferreira Depois de quatro dias ao lado da minha família, a volta para casa tinha um gosto agridoce. Por um lado, me sentia mais leve e revigorada, mas por outro, sabia que assim que cruzasse a porta do meu apartamento, a realidade bateria à porta novamente.Merlin miava dentro da caixinha de viagem desde o momento em que saímos de Santos, como se soubesse que estávamos nos distanciando do calor e da tranquilidade que encontramos lá. Assim que estacionei o carro e subi com ele para o apartamento, mal consegui colocar a bolsa no chão antes de soltá-lo.— Pronto, pequeno, você tá livre — murmurei, abrindo a portinha da caixa.Ele saiu imediatamente, sacudindo o pelo e me olhando com aqueles olhos julgadores. Logo depois, começou a miar de novo, caminhando até o canto onde costumava comer.— Já entendi, faminto. Calma.Fui até a cozinha, servi um pouco da ração e coloquei água fresca na tigela dele. Enquanto Merlin comia, peguei minha mala e a levei para o quarto. Precisava de um ba
Ricardo SantanaNos afastamos do beijo, ofegantes, mas nossos corpos ainda permaneciam colados, tão próximos que eu podia ouvir o coração dela martelando no mesmo ritmo frenético que o meu. A tensão entre nós era densa, quase tangível, como se qualquer movimento fosse capaz de incendiar o que já estava prestes a explodir.Eu ainda sentia o sabor dos lábios dela, quente, doce e impossível de esquecer. Era um vício imediato, como se uma única vez nunca fosse suficiente. Não fazia ideia do que tinha me dado para agir assim, mas resistir a Kate era simplesmente inimaginável.Sem conseguir me conter, voltei a beijá-la, dessa vez com ainda mais intensidade. Minhas mãos firmaram-se na cintura dela, enquanto ela enlaçava meus ombros, puxando-me para ainda mais perto. Sua entrega era irresistível, um convite que eu jamais seria capaz de recusar. Instintivamente, inclinei-me e a tomei no colo, sentindo o calor do corpo dela contra o meu.— Ricardo! — Kate ofegou, se afastando do beijo, surpresa
Kate FerreiraClara estava sentada no meu sofá, com as pernas cruzadas, analisando-me como se eu fosse algum tipo de experimento científico. Seus olhos brilhavam com curiosidade, e o sorriso malicioso no canto da boca dela deixava claro que não ia sair dali sem respostas.— Então... — ela começou, arrastando a palavra e me encarando com intensidade. — Quer me contar o que está acontecendo entre você e o Ricardo?Tentei disfarçar o rubor que subiu para o meu rosto, desviando o olhar enquanto mexia no cabelo, nervosa.— Clara, não tem nada acontecendo.Ela soltou uma risada incrédula.— Ah, por favor, Kate! Eu não sou idiota. Eu vi o Ricardo aqui, você toda descabelada, ele com aquela cara de quem estava bem... animado, se é que você me entende. — Clara arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. — Vocês estão transando?Quase engasguei com a pergunta direta.— O quê?! — respondi, arregalando os olhos. — Claro que não!— Sério? — Ela me lançou um olhar duvidoso. — Porque a tensão entre
Ricardo SantanaEu nunca fui do tipo que planejava encontros, mas com Kate... tudo parecia diferente. Havia algo nela que bagunçava minha mente, me fazia querer fazer as coisas certas, ainda que eu não soubesse exatamente o que era “certo” quando se tratava dela.Foi por isso que, naquela noite, me vi parado diante da porta do apartamento dela, segurando uma única rosa vermelha em mãos—uma tentativa de gesto simples, mas sincero.Queria me desculpar com ela, queria tentar ser bom, queria fazer ela voltar atrás da decisão da demissão.Bati na porta e, poucos segundos depois, ela abriu.E eu congelei.Kate estava linda. Linda era pouco. O vestido vinho abraçava suas curvas de um jeito hipnotizante, o decote na medida certa, os cabelos soltos caindo pelos ombros. Eu sabia que estava encarando, mas não conseguia evitar.— O quê? — Ela perguntou, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha, parecendo levemente desconfortável com meu olhar fixo.— Você está... maravilhosa. — Minha voz sai