Eu não soube mais o que aconteceu depois disso. Eu evitava aquela família e Lorenzo também nunca mais tocou no assunto. Acho que foi difícil admitir que eu estava certa. Dois meses depois, ele morreu. Estremeci. Afastei meus pensamentos e me troquei. Vesti uma calça jeans e uma camiseta branca, tênis. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo.
Pronto!Sem perda de tempo, saí do quarto e caminhei à procura de Vitor. Alguns empregados lidavam com a casa na sua rotina diária. Uns varriam, outros passavam pano, outros cuidavam do jardim. A casa estava vazia. Só faltava a cozinha. Lá encontrei Don Salvatore sentado em uma cadeira, sorrindo para a matriarca. Felícia quando me viu, fechou a cara.— Deseja alguma coisa, minha jovem? — Don perguntou com simpatia.— O café está servido na mesa de jantar. — Felícia avisou.Eu disfarcei, dizendoDuas semanas se passaram tranquilas... tranquilas até demais. Não consegui falar com Vitor. Ele parecia me evitar a todo custo.Às vezes eu pensava em deixar o passado aonde estava. Mas então, eu me perguntava: isso era justo com Vincent?E esse mau-caráter assumiria os negócios da família, sendo o novo Don?Não! Não estava certo isso!Imagine tê-lo mandando em tudo e todos.Me lembrei da conversa que tive com Vincent alguns dias atrás sobre morarmos aqui em definitivo. Contei que o pai dele tinha me pedido isso e que Felícia estava mais amistosa comigo. E que assim, ele não precisava sair de casa para vir até o quartel-general e nós ficaríamos mais tempo juntinhos. Vincent se surpreendeu com a minha proposta e gostou muito disso.Suspirei e me aconcheguei mais nos braços de Vincent. Sorri quando senti seus braços me envolvendo ma
Aos poucos os homens foram surgindo na área para participarem do churrasco. Eu notei que Vitor ainda não estava entre eles. Voltei meus olhos para Vincent e perguntei:— Já comeu?— Não, vou fazer um prato para mim. Meu estômago está nas costas.Eu sorri.— Ótimo, enquanto você faz isso, eu vou dar uma passadinha no banheiro. — Minha voz oscilou. Não importava quão determinada eu estava para falar com Vitor, mas só de pensar, parecia algo assustador.Ele assentiu para mim e depois de dar um beijo na minha testa se afastou.Que diferença entre esse homem e Lorenzo. Sempre gentil, amoroso. Suspirei. Uma pena ser da mesma família!Entrei na sala caminhando devagar. Nessa hora, a porta fez um ruído e Vitor surgiu. Ele parecia outra pessoa. Seus olhos me olharam com frieza diabólica. Meu passado estava na minha frente. Eu mal co
Caminhei tranquilamente entre as pessoas e sorri quando vi Giovanna numa área mais reservada da casa que tinha um grande balanço. Ela estava longe dos olhos de todos, amamentando meu filho, alheia a tudo que aconteceu.Isso não podia ter me saído melhor!Fui em direção a ela sem pressa, ganhando tempo para que Rodrigues sumisse com Renata.— Giovanna. — Eu a chamei. Giovanna imediatamente se levantou com nosso pimpolho nos braços, estranhando o fato de eu procurá-la, geralmente não nos falávamos muito nas festas. Eu só conversava com ela quando todos iam embora. — Renata passou mal. Você poderia ir até o nosso quarto?— Dio. O que houve? — Ela perguntou, intrigada.— Não sei. Ela estava bem, de repente desmaiou. Vincent está aflito e pediu que você fosse ficar com ela.— Eu irei. Será um prazer.
VincentJá passava da meia noite quando voltei para casa. Cansado de rodar tudo e entrar em cada hotel que ficava nas redondezas. A princípio, trabalhei como se ela tivesse fugido, a mando do meu pai. Mas nada! Nem sinal dela. Eu não tinha palavras para descrever o que eu senti nesse dia. Estava arrasado. Ódio, tristeza me inundavam por dentro. Agradeci aos céus quando Vitor disse que me ajudaria.Dio Santo, eu ainda me perguntava: como pode acontecer tudo aquilo debaixo do meu nariz? E tinham muitos narizes no churrasco, e ela sumiu do nada. O ódio intenso e súbito me fizeram crispar minhas mãos.Sim! Eles a tiraram de mim! A despeito do que pensam, sei que ela não fugiu.Homens meus estavam de tocaia em frente à casa de Raul Sebastian. Mãos de policiais, delegados foram molhadas para ignorarem os próximos acontecimentos.Bebi de um gole só meu uísque e e
VitorEu ainda não tinha conseguido ir até Renata, tudo estava muito tenso ainda. Vincent parecia um louco. Revirando a cidade atrás dela. Todo cuidado era pouco. Eu estava mantendo-a com vida, esperando que ele desistisse. Eu queria matá-la pessoalmente, mas claro, não antes de tirar uma casquinha.Agora eu estava tranquilo, sentado com meu pai no sofá, quando Vincent entrou na sala que se encheu com seus homens e os meus. Um velho ensanguentado preso pelo colarinho nas mãos dele.Empalideci. Não é que ele conseguiu!Tentávamos pegar Raul Sebastian há muito tempo, desde a morte de Lorenzo. Não sei se isso seria bom.— Chame Rubens, o interrogatório vai começar.Eu engoli em seco quando vi a cara de Vincent segurando Raul. Meu irmão nem parecia o mesmo. Há cinco dias ele não fazia a barba. Sua barba estava descuidada e grand
RenataTriste o que acontece quando você sabe que tudo está se encaminhando para sua morte. A vida que eu tinha deixado para trás parecia estar a milhas de distância, numa realidade diferente. Eu me sentia imunda, estava cheirando mal, minhas fezes num canto deixavam tudo pior.O lugar me sufocava, tudo era tenebroso. Eu já tinha percorrido o espaço por horas e horas, em busca de uma saída, mas não havia nada. Então, eu parei de lutar por uma saída há bom tempo. Minha esperança se esvaneceu nesse sentido. Eu orava para Deus, esperava que Ele ouvisse minhas preces e de alguma forma Vincent me achasse. Eu ainda não tinha aceitado meu destino, ainda me resignava e chorava toda noite quando o lugar ficava escuro. Agora estava escurecendo e a única coisa que eu via era a luz do luar que entrava por aquela pequena janela. Isso quando tinha lua. Senão, era tudo preto. Escu
Acordei com a luz solar que fluía através da janela, o outro lado da cama ainda estava vazio, era terrível isso. Passavam-se os dias e a sensação era sempre a mesma. Renata estava em algum lugar, presa, sofrendo, enquanto eu dormia numa cama macia. Eu comia bem, eu podia tomar banho a hora que eu quisesse. E ela? Como estaria?Eu não aceitava isso. Eu permanecia em negação. Eu me sentiria triste o dia inteiro pensando nisso, mas a esperança de encontrá-la me impulsionava a me levantar todos os dias da cama.Limpei minhas lágrimas, com aquela dor da angústia no meu peito. Agora eu ficaria tentando me convencer o dia inteiro que eu iria encontrá-la, e foi com esse sentimento que me forcei a me levantar da cama.Fiquei pensando em Renata o dia inteiro, mesmo enquanto resolvia assuntos pendentes. Era só minha mente encontrar uma brecha, ela se voltava para a imagem da mulher
RenataInfelizmente ele se calou. Isso me preocupou, pois enquanto ele falava e eu retrucava, eu tinha esperanças de fazê-lo mudar de ideia. E eu olhava para ele agora, mas não via sombra de mudança em seu rosto. Não via nada além de da sua determinação em me estuprar.— Vitor... meu Deus. Não faça isso.Ele não sentia merda nenhuma, mesmo que eu implorasse. Então eu desabei na frente dele, comecei a chorar. Uma grande tristeza me visitou como nunca senti antes, me engolindo feito um tsunami, me tirando todo o meu fôlego. Ele sorriu e me abraçou. Eu estava o tempo todo consciente que aquele momento de compaixão vinha de um homem sádico, que sentia prazer em ser bom quando queria ou mau ao extremo. E isso me deu arrepios. Minha vontade era dar um empurrão nele, gritar com ele, mas eu tinha medo dele, e não consegui. E comecei a chorar nos se