Capitulo 3

Tudo aconteceu tão rápido, num piscar de olhos, e de repente, um casal que testemunhou o acidente se prontificou a ajudar. A mulher ligou para o socorro enquanto eu, completamente paralisada, mal conseguia formar palavras. Minhas mãos tremiam incontrolavelmente, e um estado de choque tomou conta de mim. A moça me envolveu em um abraço consolador, tentando me acalmar, mas tudo que eu conseguia pensar era: Por quê, meu Deus? Por que isso aconteceu? Estávamos na nossa lua de mel, era para ser um momento de pura felicidade. Será que o Senhor me odeia tanto assim? Entramos na ambulância, os paramédicos se esforçavam ao máximo para manter Igor vivo, e eu só conseguia chorar, desesperada, implorando a Deus para não tirá-lo de mim.

— Valentina, vai ficar tudo bem, ele vai sair dessa — disse a moça, cuja identidade eu desconhecia, enquanto tentava me consolar. No fundo, eu sabia que as coisas não estavam bem, e tive que pedir a ela que ligasse para a família de Igor, especialmente para Daniel, o único naquela família que talvez não quisesse me matar após o ocorrido.

— Que Deus te ouça! — respondi, olhando para ela com total desespero, abraçando meu próprio corpo, como se isso pudesse me proteger do caos que se desenrolava.

Chegamos rapidamente ao hospital, e Igor foi levado diretamente para a sala de cirurgia. Enquanto esperávamos naquele corredor gelado, o meu mundo parecia desmoronar a cada segundo que passava. Não sei quanto tempo ficamos ali, mas para mim, foram horas torturantes, até que uma voz rouca e carregada de raiva ecoou pelos corredores, atingindo meus ouvidos como um trovão.

— Alguém pode me explicar que merda você fez com meu irmão?! — Christopher, o irmão de Igor, surgiu diante de mim com os olhos inflamados de ódio. Levantei-me em pânico, mas a moça que estava ao meu lado rapidamente se colocou entre nós, como um escudo protetor.

— Não fale com ela desse jeito, você não percebe que ela está sofrendo? Foi um acidente, senhor — disse ela, com a voz trêmula, tentando manter a compostura diante da postura intimidadora dele.

— Sofrendo é o mínimo que ela merece! Eu não sei quem você é, mas conheço bem o tipo de mulher que ela é. É muita conveniência que meu irmão tenha sofrido esse acidente logo após se casar com você. Eu achei que demoraria mais para você tentar colocar as mãos na herança dele, mas você me surpreendeu — a frieza e o desprezo em suas palavras me atingiram como uma corrente elétrica. Meu corpo inteiro formigou, e antes que pudesse pensar, minha mão já estava no ar, acertando o rosto dele com força.

— Não fale do que você não sabe, seu cretino! Você não tem o direito de medir o meu amor pelo seu irmão. Porque você nunca soube o que é isso, e certamente, nenhuma mulher seria capaz de amar um ser tão repugnante como você — falei, com os dentes trincados, antes de sair correndo em direção à saída, deixando para trás o olhar de puro desprezo e incredulidade de Christopher.

Minhas pernas fraquejaram enquanto eu saía do hospital, buscando apoio próximo aos arbustos. Senti que estava à beira do colapso, quando o marido da mulher, que me ajudara, se aproximou, preocupado.

— A senhorita está bem? Parece nervosa. Onde está minha esposa? — perguntou ele, com a voz cheia de preocupação.

— Está lá dentro — apontei, enquanto a mulher surgia, procurando-me aflita.

— Valentina, você está bem? Eu disse umas verdades para aquele estúpido. Quem ele pensa que é para te tratar assim?

— Christopher Salazar, Anna. Um dos CEOs mais bilionários do Brasil, dono de metade das empresas do país — respondeu o marido dela, com um ar de compreensão, e a mulher arregalou os olhos.

— Você é casada com um dos membros da família Salazar?

— Sim, com Igor Salazar, o mais simpático e gentil de todos. O amor da minha vida — disse, enquanto as lágrimas voltavam a rolar pelo meu rosto.

— Agora entendo porque aquele homem é tão arrogante. Valentina, não importa quem ele seja, não o deixe te tratar assim. Você é a esposa do irmão dele, e ele tem que respeitá-la — a mulher me disse, com firmeza, enquanto me segurava pelos ombros, tentando me reconfortar.

................................................................................................................................................................

Não demorou para que carros pretos lotassem o local, trazendo seguranças e a imprensa. Somente nesses momentos eu compreendia a magnitude do mundo no qual eu estava inserida. Quando aquela mulher desceu do carro, com sua postura impecável, ela foi escoltada por Daniel e acompanhada por suas filhas, que choravam sem parar. Eu me senti pequena, insignificante, à medida que ela se aproximava. Seus olhos encontraram os meus com puro desprezo e ódio. Apesar dos óculos escuros que ela usava, eu podia sentir a repulsa que emanava dela. Ela parou bem na minha frente.

— Escuta aqui, Valentina, se meu filho morrer por sua causa, farei da sua vida um inferno. Está me ouvindo? — Ela agarrou meu braço com força, causando uma dor aguda no local.

— Sinto muito! Eu... eu não queria... — murmurei, com a voz trêmula, sob o peso dos olhares que me condenavam naquele momento, inclusive os das irmãs de Igor. Então, ela me soltou de forma fria e entrou no hospital.

— Não foi culpa sua — sussurrou Daniel, tentando me confortar. Assim que eles entraram, minhas pernas fraquejaram e eu caí de joelhos no chão, chorando sem parar. Eu estava perdida, e sabia disso.

— Valentina, acalme-se. Aquela mulher parece uma pedra de gelo, de tão fria. Como ela pode ter tempo de te ameaçar sabendo do estado do filho? Você não vai ficar aqui. Tem o direito de estar naquele hospital, assim como todos. — Anna me ajudou a levantar e me conduziu até o corredor. À medida que eu entrava, todos os olhares se voltavam para mim. Inclusive o de Christopher, que parecia querer minha cabeça servida em uma bandeja. Já era a segunda vez que eu levantava a mão para ele, e de alguma forma eu sabia que, assim como eu, ele estava contando.

Sentei-me em uma cadeira ao lado de Anna, que tentava me consolar. No entanto, eu ainda sentia o olhar de Christopher queimando em minha direção. Ele estava encostado na parede, vestido de terno, com as mãos nos bolsos e uma expressão impenetrável. No momento em que decidi me casar com Igor Salazar, eu entrei em um verdadeiro covil de leões, ávidos por me destroçar, mesmo sem motivo. Agora, com o acidente de Igor, independentemente de ele sobreviver ou não, eu sabia que minha vida nunca mais seria a mesma. Christopher, com seus cabelos castanhos, olhos escuros, sobrancelhas grossas e mandíbula marcada, era um homem capaz de intimidar qualquer pessoa, e eu estava no centro de seu desprezo.

Uma correria se formou no centro do hospital, médicos correndo de um lado para outro sem parar, os irmãos do Igor buscavam informações, mas nada lhe era informado, ate 'que tudo se aquietou, e então um medico saiu, e pela sua expressão eu pude esperar o pior.

 __ Senhor Salazar, eu sinto muito, não conseguimos salvar seu irmão. - nesse momento tudo ao minha volta pareceu girar, a mãe do Igor desmaiou nos braços do irmão. 

 __Nãoo! - praticamente gritei para todos ouvires. Sentindo meu coração se rasgar em mil pedaços. 

__ Me diz que é mentira por favor? - perguntei ao casal que estava ao meu lado tentando me consolar. Como um filme cada lembrança do Igor começou a atravessar minha mente, seu sorriso, suas brincadeiras, eu não posso acreditar que estou perdendo tudo isso, o que será da minha vida agora, o mundo parecia caótico e não somente por fora, pelo choro ou a gritaria mais principalmente dentro de mim, minha vida havia virado de cabeça para baixo de uma hora para outra e eu não sabia o que fazer.  

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo