Valentina narrando.
A vida é algo engraçado. Nunca sabemos o que o futuro nos reserva, e naquela tarde ensolarada, linda e maravilhosa, poderia ser apenas um dia qualquer em que eu precisava atravessar a cidade para trabalhar como recepcionista no consultório odontológico da família Salazar. Aliás, essa era apenas uma das muitas empresas que tinham o nome Salazar. Suspeito que eles sejam donos de metade da cidade; talvez até a calcinha que eu esteja usando seja da família Salazar. Pensar nisso me pareceu um pouco estranho.
O caso era que eu nunca havia visto a cara deles pessoalmente. Sabia pela imprensa que eram homens extremamente lindos, os três, e as duas irmãs também. Sabia que as personalidades deles eram bem distintas, mas naquele dia, definitivamente, acordei com o pé esquerdo.
Depois de descobrir que a cachorrinha que adotei tinha espalhado suas necessidades pela casa e sair pisando em cocô de cachorro, me atrasei para a consulta, coloquei minha roupa amassada e saí praticamente descabelada, correndo para fora. Ainda precisava tomar um café, então passei rapidamente pela padaria e pedi um cappuccino.
Não sabia por que as pessoas fizeram cara feia assim que cheguei. Quero dizer, apesar de estar parecendo um zumbi descabelada e sem sentir cheiro de nada por causa da minha alergia (exclusivamente porque não deveria ter um cachorro), quem se importa? Quando ele apareceu na minha frente, me olhando com aquela carinha de gato de botas, eu não resisti. O que posso fazer se meu coração é mole? Tão mole quanto o cocô que ele me deixou de presente logo de manhã.
Depois de dois Uber me recusarem pensando que eu fosse uma drogada, finalmente um aceitou. Mas o pior ainda estava por vir.
Enquanto tomava o cappuccino com um canudinho, tentando pensar positivo apesar de hoje não ser meu melhor dia, escutei o motorista me chamar.
— Senhorita? Desculpe a indelicadeza, mas a senhorita tomou banho? Porque está fedendo. — Eu arregalei os olhos.
— Estou tão acabada assim? Quero dizer, por que eu estaria fedendo? Eu tomei banho antes de dormir e passei perfume ao sair. Apesar de não conseguir sentir o cheiro, tenho certeza de que está agradável.
— Na verdade, a senhorita está me intoxicando, e ainda por cima está fedendo. Não sei o que aconteceu, mas algo não cheira bem. — Ele fez uma careta de nojo. — A senhorita não pisou em alguma bosta de cachorro ou algo assim?
Foi então que minha ficha caiu. Droga! Abaixei minha cabeça e verifiquei minhas sandálias.
— Bingo! Eu de fato pisei em cocô de cachorro. Então, o que está fedendo são meus sapatos, não eu. — Expliquei, ofendida. — Me desculpe pelo transtorno, mas saí com pressa e não tive tempo de limpar a casa.
— Deu para perceber, mas não sei onde a senhorita vai, mas se for fedendo assim, com certeza será expulsa.
— O senhor acha? — Fiz uma expressão de frustração.
— Eu vou dar um jeito de limpar esses sapatos antes de entrar no consultório. — Acabei de falar, e ele tossiu, engasgado.
— Consultório?
— Sim, sou assistente odontológica. Algum problema? — Arqueei a sobrancelha, desafiadora.
— Não, nenhum. — Ele balançou a cabeça, claramente surpreso.
Assim que desço do carro, com minhas sandálias nas mãos, procuro um lugar para limpá-las, mas tudo o que encontro são gramados. Sem outra opção, atravesso a rua e começo a esfregar as sandálias na grama, fervorosamente, na esperança de limpá-las. De repente, escuto uma voz grossa soar atrás de mim.
— Senhorita, com licença. — Apenas ignorei. Eu não era uma mendiga, e provavelmente era algum drogado me confundindo com uma vendedora de drogas. Continuei meu serviço, pensando: "Meu Deus, estou mais que atrasada. Calma, Valentina, é melhor chegar atrasada do que fedendo a cocô de cachorro."
— Senhorita!
— Chega! Eu não tenho drogas para vender, estou apenas tentando limpar meus sapatos! — Virei-me exasperada e irritada, deparando-me com um homem de terno que mais parecia ter saído de uma revista. E talvez tivesse saído, porque eu me lembrava daquele rosto de algum lugar. Ele parecia estar segurando o riso.
— Desculpe, eu não estou à procura de drogas, apenas de informações. — Disse ele, tirando sarro.
— E o que o senhor precisa saber?
— Estou procurando o consultório odontológico Salazar. Poderia me informar onde fica?
"Não! Não poderia ser pior", pensei. "Por que esse homem modelo está procurando justo o lugar onde eu trabalho?"
— Não?
— Quero dizer, sim, fica por ali. — Apontei para um lugar qualquer, na verdade, o oposto de onde ele realmente deveria ir.
— Tem certeza? Porque me disseram que era por outro lado. — Falou, agora bem atrás de mim.
— Se sabe onde é, por que está perguntando? — Virei-me bruscamente, e minha sandália esbarrou em seu terno novo, sujando-o de merda!
O homem olhou para o terno, depois para mim, e eu quis que a terra me engolisse. Ele respirou fundo, visivelmente tentando manter a calma.
— Bom, acho que agora estou realmente no lugar errado. — Ele disse, tentando não rir.
— Me desculpe! — Gemi, mortificada. — Foi um acidente, eu juro!
Ele finalmente riu, um riso genuíno que me surpreendeu.
— Não se preocupe, senhorita. Acontece. Agora, se puder me indicar o caminho certo...
Suspirei, derrotada, e apontei na direção correta.
— É ali, logo depois daquela esquina.
Ele sorriu, ainda rindo um pouco, e começou a se afastar.
— Obrigado. E boa sorte com seus sapatos!
Assisti enquanto ele se afastava, sentindo meu rosto queimar de vergonha. Definitivamente, aquele dia não poderia ficar mais estranho.
Depois de finalmente conseguir limpar meus sapatos (graças a uma garrafa de água de uma jovem senhora que ficou com pena de mim), passei perfume e segui para o consultório. Porém, assim que cheguei na porta, me deparei com ninguém menos que o homem modelo que eu tive o desprazer de sujar. E pior, vi a assistente toda atrapalhada limpando o terno dele e o chamando de...
— Não se preocupe, senhor Salazar, eu vou deixar seu terno limpo como novo agora mesmo.
— Não tem necessidade, eu mesmo posso limpar, apenas me dê o lenço — ele pediu gentilmente, tentando impedi-la.
"Espera, ela disse Salazar?", pensei, congelando no lugar.
Meu coração disparou. O homem lindo, agora com o terno manchado graças a mim, era ninguém menos que Igor Salazar. Eu queria desaparecer.
Decidi tentar me esgueirar pelos fundos, abaixada, na esperança de não ser vista. Mas, claro, a vida não é tão fácil.
— Senhorita! — Ele me chamou, notando minha presença.
Eu congelei, metade abaixada atrás de uma planta.
— Ah, oi... Desculpe de novo pelo terno. Prometo que não sou sempre assim tão desastrada — disse, tentando me levantar com alguma dignidade.
Igor riu, um riso caloroso que fez meu rosto ficar ainda mais vermelho.
— Vou acreditar em você. E, por favor, não se preocupe. — Ele se virou para a assistente. — Está tudo bem, realmente, eu mesmo limpo. — Ele pegou o lenço da assistente, que parecia aliviada por não ter que continuar esfregando.
Eu aproveitei a oportunidade para tentar me esgueirar para o banheiro. Depois de me arrumar com um pouco mais de dignidade, finalmente entrei no consultório. Não sem antes notar meu chefe me lançando um olhar feio, enquanto Igor parecia se divertir limpando seus dentes.
Assim que terminamos, Igor se aproximou de mim, ainda com um sorriso no rosto.
— Valentina, não se preocupe, você não será demitida — disse ele, sua voz suave e tranquilizadora. — E, por favor, não fique constrangida.
Eu olhei para ele, surpresa e um pouco aliviada, mas ainda com uma pitada de vergonha.
— Sabe, eu tenho medo de dentistas. — Igor continuou, rindo um pouco. — Mas sua situação hoje realmente me tranquilizou. Nunca imaginei que um dia no consultório odontológico poderia ser tão... interessante.
Eu não consegui evitar um sorriso. Ele realmente estava tentando me fazer sentir melhor, e estava funcionando.
— Bem, fico feliz que pude ajudar de alguma forma — respondi, tentando não parecer tão nervosa quanto me sentia.
Igor então, com um brilho divertido nos olhos, disse:
— Já que você me ajudou tanto hoje, que tal sairmos algum dia para tomar um café? Eu prometo não aparecer com um terno manchado de cocô de cachorro.
Eu ri, mas balancei a cabeça.
— Obrigada, Igor, mas acho que já causamos confusão suficiente por um dia. Talvez outro dia... quem sabe.
Igor sorriu, entendendo.
— Claro, sem pressão. Mas se mudar de ideia, sabe onde me encontrar.
Apesar de Igor ter sido compreensivo e gentil, eu ainda estava decidida a manter uma distância profissional. Afinal, éramos de mundos completamente diferentes. Enquanto eu me via como uma pessoa racional, focada em meu trabalho no mundo real, Igor Salazar parecia pertencer a um universo de glamour e privilégios que eu mal entendia.
No entanto, mesmo depois daquele incidente constrangedor, Igor começou a aparecer com frequência no consultório odontológico, sempre com desculpas um tanto bobas. Às vezes era uma consulta de emergência por um pequeno desconforto, outras vezes ele aparecia com perguntas triviais sobre cuidados bucais que ele poderia facilmente resolver em casa.
Cada vez que ele surgia, minha equipe parecia um pouco mais animada e curiosa, enquanto eu tentava manter minha compostura profissional. Igor, por sua vez, parecia determinado a quebrar qualquer barreira que eu tentasse impor, sempre sorrindo e tentando puxar assunto quando nossos caminhos se cruzavam nos corredores do consultório.
Um dia, ele apareceu com uma sacola de café gourmet para toda a equipe, alegando que estava agradecido pelo excelente atendimento que havia recebido. Eu agradeci educadamente, embora ainda me sentisse um pouco desconfortável com sua insistência.
Enquanto eu observava Igor se afastar depois de mais uma visita, não pude deixar de me perguntar o que ele realmente queria. Talvez ele estivesse apenas sendo gentil, ou talvez houvesse algo mais por trás de seu interesse repentino pelo consultório odontológico.
Num dia particularmente movimentado no consultório, enquanto eu estava ocupada organizando papéis, Igor apareceu mais uma vez, desta vez com uma expressão séria e um ar um tanto desconcertado.
— Valentina, preciso da sua ajuda urgente! — ele exclamou, segurando uma escova de dentes como se fosse um artefato misterioso.
Levantei uma sobrancelha, surpresa com a cena.
— O que aconteceu, Igor? — perguntei, tentando conter um sorriso.
— Eu não sei como fazer isso funcionar! — ele disse, apontando para a escova. — Minha assistente sempre faz isso por mim, mas hoje ela não pôde vir e... bem, estou desesperado!
Eu não pude evitar rir. Igor, o magnata bem-sucedido, parecia genuinamente perdido diante de uma simples escova de dentes.
— Tudo bem, Igor. Primeiro, você aplica o creme dental... — comecei a explicar, enquanto ele observava com atenção exagerada cada passo que eu mostrava.
Depois de alguns minutos, ele finalmente pareceu entender o processo básico da escovação.
— Uau, Valentina, você é uma verdadeira mestra na arte da escovação! — ele brincou, tentando imitar minha voz de instrutora.
Nós dois rimos da situação, e eu me peguei pensando que talvez ele não fosse tão ruim assim.
— Olha, Valentina, sei que tenho aparecido muito por aqui ultimamente, mas... — ele começou, visivelmente hesitante.
— Mas o quê, Igor? — perguntei, já prevendo onde isso ia chegar.
Ele suspirou, parecendo um pouco desconfortável.
— Na verdade, a escova era uma desculpa. — Ele admitiu, olhando-me nos olhos. — Eu queria ter uma chance de conversar mais com você fora do consultório.
Fiquei surpresa com a honestidade dele, e ao mesmo tempo um pouco lisonjeada.
— Bem, então isso explica muita coisa — respondi, sorrindo. — Eu sabia que era uma desculpa. Mas devo admitir, sua interpretação de iniciante na escovação foi convincente.
Ele riu, meio sem jeito.
— Você realmente acreditou que eu não sei escovar os dentes?
— Bem, você parecia bem convencido — brinquei de volta. — Pensei que fosse mais uma situação como aquela do terno de coco de cachorro.
Igor fez uma careta divertida.
— Toquei num ponto sensível, não é? — provoquei, rindo junto com ele.
— Completamente. Mas, falando sério agora, sobre sair para um café... eu acho que seria uma boa ideia.
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A tarde tinha sido repleta de risadas e momentos divertidos pela cidade, até que uma chuva repentina nos pegou desprevenidos. Corremos para o apartamento de Igor, mas já estávamos completamente encharcados. Meus cabelos grudavam no rosto, e minhas roupas pareciam ter triplicado de peso com toda a água.
Igor ria ao fechar a porta atrás de nós, seus olhos brilhando com uma mistura de diversão e admiração por eu estar tão desajeitada e molhada.
__Bem, isso foi inesperado __ ele comentou, sacudindo os cabelos molhados.
__Pelo menos não estamos derretendo."
Eu não pude evitar rir com ele. __Verdade, pelo menos temos isso a nosso favor __ concordei, enquanto tentava inutilmente ajeitar minha roupa encharcada.
Ele se aproximou, seus olhos cinzentos brilhando com uma ideia travessa.
__Sempre quis tentar dançar na chuva __ confessou, com um sorriso irresistível.
Encarei-o por um momento, ponderando a ideia.
__Por que não? __ acabei concordando, deixando-me guiar até o meio da sala molhada.
A música suave ao fundo combinava perfeitamente com o clima, e nós começamos a dançar desajeitadamente, escorregando um pouco no chão molhado. Cada movimento era acompanhado por risos e trocas de olhares cheios de significado.
Entre uma risada e outra, senti o calor do corpo de Igor se aproximando do meu. Suas mãos firmes encontraram meu rosto, segurando-o com ternura, e por um momento, o mundo lá fora desapareceu. Estávamos apenas nós dois, compartilhando aquele momento íntimo e cheio de emoção.
Finalmente, ele puxou-me suavemente para um beijo, e o gesto foi tão espontâneo quanto cheio de desejo. Ali, naquela sala iluminada pelas velas e pelo brilho da chuva lá fora, descobrimos uma conexão que ia além da simples atração física.
E assim, entre risos, carícias e olhares que diziam mais que palavras, descobrimos que até mesmo um dia chuvoso e imprevisto poderia se transformar em um momento de magia e paixão compartilhada.
Nunca imaginei que meu relacionamento com Igor Salazar me levaria a uma situação tão constrangedora e desagradável. Eu estava na elegante sala da mansão Salazar, enfrentando Christopher, o irmão mais velho de Igor. Seus olhos frios e penetrantes examinavam cada expressão minha com desconfiança e desdém, como se eu fosse apenas mais uma intrusa em busca de benefícios.
__Então, você é a garota por quem meu irmão está apaixonado __começou Christopher com um tom cáustico.
___O que exatamente você espera ganhar com tudo isso?
Tentei manter a calma, sabendo que qualquer palavra errada poderia piorar as coisas.
__Eu amo seu irmão, Christopher. Não é sobre ganhar alguma coisa.
Ele riu sarcasticamente.
__Amor? Você sabe que é isso que todas elas dizem, não é? Até que consigam o que querem.
A tensão era quase palpável no ar, e eu me sentia cada vez mais desconfortável sob seu olhar incisivo. Eu sabia que ele não confiava em mim, que via apenas uma oportunista querendo se aproveitar da família Salazar.
__Eu não tenho que provar nada para você, Christopher__eu disse, tentando manter minha voz firme.
__Ah, não? __ Ele se aproximou com uma presença ameaçadora, seu tom agora baixo e perigoso.
___Eu sei exatamente quem você é. Uma interesseira que está aqui por dinheiro e status. Talvez seja hora de colocar isso à prova.
Sem esperar por uma resposta, Christopher abriu a gaveta de uma mesa próxima e retirou uma pasta de couro. Com um gesto teatral, ele a abriu, revelando uma pilha de notas de dinheiro.
__Veja só, Valentina. Aqui está o que você quer, não é? Dinheiro. Diga quanto precisa para desaparecer da vida do meu irmão, e eu me asseguro de que você suma para sempre.
Eu estava atônita, furiosa com aquela humilhação pública. Num impulso, ergui minha mão e dei um tapa forte no rosto de Christopher, o som ecoando pelo salão silencioso.
Ele recuou, surpreso, tocando o rosto onde a marca vermelha começava a aparecer.
__Você acha que pode me comprar, Christopher? Você não tem ideia do que é amor. E não vai me afastar de Igor com seu dinheiro sujo", disse eu com determinação, meus olhos faiscando de indignação.
Christopher me encarou por um momento, sua expressão oscilando entre raiva e um leve respeito pela minha audácia.
__Você vai se arrepender disso__, ele murmurou antes de virar as costas e sair do salão, deixando-me ali, com o coração acelerado e a sensação de ter cruzado um limiar perigoso na família Salazar.
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Eu estava no meu quarto, vestida de noiva, finalizando os últimos detalhes antes de caminhar até o altar. O ambiente estava tranquilo, até que a porta se abriu com força, revelando Christopher. Seus olhos escuros me estudaram com uma intensidade que fez meu coração acelerar.
Ele se aproximou rapidamente, puxando-me pela cintura com firmeza. Meus instintos de autopreservação entraram em alerta, e eu tentei me soltar, confusa e assustada.
__Christopher, o que está fazendo aqui? __ perguntei, minha voz vacilando enquanto tentava conter as lágrimas que ameaçavam escapar.
Ele me encarou com uma seriedade penetrante. "
__Valentina, eu amo meu irmão mais do que qualquer coisa. Se você o fizer infeliz...
Sua voz era dura, cheia de uma ameaça mal disfarçada. __Eu não hesitarei em destruir você.
As palavras atingiram como um soco no estômago. Eu sabia que Christopher tinha um lado implacável, mas vê-lo tão determinado a proteger Igor, mesmo que fosse contra mim, era devastador.
__Christopher, você não entende...", comecei, minha voz vacilando diante da torrente de emoções. __Eu amo Igor. Eu jamais faria algo para machucá-lo."
Ele soltou-me abruptamente, seu olhar ainda duro e desconfiado. __Espero que seja verdade, Valentina. Porque se não for... Ele deixou a frase pairar no ar, cheia de significados sombrios.
Assim que ele saiu do quarto, senti-me frágil e vulnerável, os sentimentos tumultuando dentro de mim. O vestido branco que eu havia escolhido com tanto cuidado de repente parecia uma armadura pesada, simbolizando não apenas o amor, mas também as complicações e os desafios que vinham com ele.
Valentina narrando. O dia do casamento finalmente chegou, e eu estava determinada a não deixar nada dar errado. Apesar das implicâncias do irmão mais velho de Igor, eu consegui segurar a barra. Sabia que a família do Igor não ia muito com a minha cara, exceto uma de suas irmãs e o outro irmão, Daniel Salazar, que veio de outro país só para nos parabenizar pelo casamento. Daniel era tão diferente dos outros irmãos. Para falar a verdade, todos eram distintos, mas percebi que ele não era o tipo que fazia julgamentos precipitados.Daniel era reservado, usava óculos grandes e estava sempre com um livro debaixo do braço, o que lhe dava um ar de intelectual que contrastava com a seriedade dos outros irmãos. Tivemos uma conversa muito agradável antes de finalmente entrarmos no salão. Ele, claro, me pediu para cuidar do irmão dele, mas de um jeito muito mais amigável.__ Valentina – Daniel começou, ajustando os óculos. __ Sei que a família pode ser... complicada. __ Isso é um eufemismo – ri,
Tudo aconteceu tão rápido, num piscar de olhos, e de repente, um casal que testemunhou o acidente se prontificou a ajudar. A mulher ligou para o socorro enquanto eu, completamente paralisada, mal conseguia formar palavras. Minhas mãos tremiam incontrolavelmente, e um estado de choque tomou conta de mim. A moça me envolveu em um abraço consolador, tentando me acalmar, mas tudo que eu conseguia pensar era: Por quê, meu Deus? Por que isso aconteceu? Estávamos na nossa lua de mel, era para ser um momento de pura felicidade. Será que o Senhor me odeia tanto assim? Entramos na ambulância, os paramédicos se esforçavam ao máximo para manter Igor vivo, e eu só conseguia chorar, desesperada, implorando a Deus para não tirá-lo de mim.— Valentina, vai ficar tudo bem, ele vai sair dessa — disse a moça, cuja identidade eu desconhecia, enquanto tentava me consolar. No fundo, eu sabia que as coisas não estavam bem, e tive que pedir a ela que ligasse para a família de Igor, especialmente para Daniel,