Três

Os dias sem a companhia de Breno eram solitários mesmo com a reforma da casa as lembranças fluíam na sua mente, no fundo ela sempre soube que era apaixonada por ele, pelo seu jeito reversado de ser, modo brincalhão e segurança que transitava em Breno. Não parecia ser um botânico — é uma atividade tão sensível para um homem como ele cheio de energia e vigor.

E cada momento que eles passavam juntos era memorável e um consolo para seu amor não correspondido, mas afinal, jamais poderia ter Breno? Apesar de lindo e ter várias mulheres aos seus pés nunca se envolvia com nenhuma mulher, sempre cheio de regra com ele mesmo, dizem que a regra é um sinônimo de uma vida organizada. Para Cléo uma vida com regra era uma vida monótona. Talvez, no fundo, ele poderia ser assim por causa do trauma pelo que havia acontecido com o casamento dos seus pais no seu passado que o fez se esconder na vida militar — aonde bege com bege e branco nos branco.

Se ele fosse um militar ambos nunca seriam amigos, Cléo não suportava arrogância deles muito menos o modo de agir como se fossem superior ao cidadão só porque usam uma farda, por outro lado entendia que o treinamento dele era puxado, arriscava a vida e abria mão de muita coisa em nome da pátria.

Viver com a tensão de voltar ou não para casa o destruía muito, como o seu pai, no fundo ele era o capitão do exército perfeito, mas em casa era bruto, jogava toda adrenalina do trabalho em casa e tudo na sua vida e quando não conseguia, o uísque era sua bomba de escape, mas era porque estava pensado no pai, estas lembranças foram e enterradas com ele, o seu pai, o capitão, como gostava de ser chamado serviu ao seu países melhor do que como foi um pai, nunca ouviu um elogio qualquer, só cobrança. Ele queria que ela tivesse o mesmo senso de organização dele, que fosse perfeita, ela nunca seria um exemplar da perfeição e o seu pai nunca percebeu isto.

O lema dele era coragem acima de tudo.

Mas qual o real significado da palavra coragem? Achavam que ele nunca soube a definição da palavra coragem é o seu sentido. Para Cléo tinha a ver com o coração, o centro da esperança do sentimento e um verdadeiro coração e um coração muito forte então verdadeira coragem era o amor ao próximo, e isto que era visto na carta do Ryan, ele era um militar, mas tinha coragem de amar.

Será que Breno tinha esta mesma coragem do Ryan? Só Deus saberia a resposta.

Mas enquanto estava ali, naquela mansão que agora era sua casa, não conseguia pensar  num método de encontra um lugar no coração de Breno, queria ser mais do que uma simples amiga e esta viagem vinha para atrapalhar tudo, e outro problema: tudo o que faziam juntos era apenas como amigos — café da manhã, cinema, etc. Começou a buscar saídas e a carta do Ryan para Letícia era algo irreal ir ao Brasil, sempre quis saber como um italiano poderia cair no charme de uma brasileira.

— Droga!

E agora, sentada olhando o azul do mar com a brisa suave do vento esvoaçando o seu cabelo iria abri pela primeira vez as cartas do Ryan. Que tipo de mulher era Letícia capaz de fazer nascer um amor tão grande no homem mesmo há distância?

— Quem é você Letícia? — Pensou Cléo no momento que escolhia uma carta do pequeno estojo. Ela então resolveu pegar uma carta às cegas, de olhos fechados, ao escolher se muniu de coragem e começou a ler.

Primeiro de Agosto

Querida Leticia,

O tempo passa e fico a imagina o seu rosto, por que você ainda não me enviou sua foto? Não me importa se é bela ou não. O que sinto por você é algo incompressível, além do limite da minha imaginação, você é a parte que me completa, é razão do meu viver...

Nossas conversas varam as madrugadas e teclar com você virou um vício, eu te amo a cada dia mais. A vida nos fez se apaixona assim, e todas às vezes que falo com você meu coração palpita de emoção. E quando você não está aqui comigo, teclando... sem nossa conversa eu sinto um vazio, pois não estou simplesmente compartilhado o meu dia e noite, mas sim minha vida e você faz parte dela. Ela fica incompleta sem você, porque você é o meu coração e minha alma, a unidade que jamais tinha conhecido.

Ass. Ryan.

Este rapaz era louco, pensou Cléo, como pode se entregar assim a um amor virtual? Sintia pura loucura naquilo, como poderia isto ter acontecido? Já tinha ouvido falar sobre este tipo de relacionamento, mas nunca podia imagina que alguém pudesse viver a base de amor virtual, que é tolamente ilógico, como você vai saber se a outra parte está sendo fiel a você? Não, isto não faz parte da era moderna e sim de uma carência afetiva, ninguém seria capaz de amar outro assim, mas o Ryan era a prova que esta loucura era real e eu tenho que descobri se para a outra parte foi ou não real ou apenas uma brincadeira da juventude. Talvez ele fosse especial ou um maluco mesmo.

Seu telefone toca tirando-a do seu devaneio. Enquanto pegava outra carta ou fragmento como alguém tivesse rasgado a parte, mais importante. Atendeu lendo o pedaço do papel.

— Alô!

Querida

Amor sem você meus dias ficam perdidos, aonde você está que não me liga? Será que me esqueceu? Sabe, quando ando  na rua procuro encontrar seu rosto no meio da  multidão, eu penso que você está sentindo o mesmo que sinto por você.

Em breve estarei aí com você, será que você vai estar me esperado? Estou morrendo e é por isto que estou longe de você preciso ir para o Brasil o mais rápido possível... Mas será que você ainda me ama?

Pois eu ainda te amo... Você é minha razão de viver, o sol da minha vida.

Já não consigo viver sem o som da sua voz. Você é minha vida...

— Tá incompleta.

— O que tá incompleta? Sou eu Breno, olha a ligação tá ruim.

— Fala como se não conhecesse a tua voz, mas tô te escutando, seu chato. Como você tá, seu chato? — Ambos falaram uníssono.

— Bem! — Respondeu sorrindo.

— Eu tava aqui lendo as cartas do Ryan.

— Estas cartas talvez fossem de um maluco. Foi o que pensei, mas é muito comovente a sua história, Breno agora quero descobri o máximo desse amor ou dessa história. — Estou alguma resposta, mas o outro lado da linha não emitia som algum. — Alô? Breno?

A ligação havia caído, pois o lugar que Breno estava era difícil o acesso, mas esta ligação só o fez ficar mais preocupado com a Cléo, se ela tentasse descobri mais sobre esta história seria terrível. 

Breno não podia deixa que a história de Ryan destruísse a vida de Cléo, assim como destruiu a dele, Ryan fez aquelas últimas viagens para tentar sua cura, mas existiam muitas lacunas abertas na história dele, porque até certo tempo os amigos poderiam acompanhá-lo e visitá-lo durante o tratamento, mas depois Nancy foi a única que ficou perto, e a sua morte foi estranha, ele e Pietro tinham assistido o funeral, mas o porquê de não abrir o caixão? Estavam fartos dos segredos do Ryan, ele era um cara legal, mas o fato de sua família ter desafiado a máfia italiana, não justificava o modo esquisito que Ryan vivia sua vida. Foi ótimo fuzileiro, além da expectativa, mas aquele acidente poderia ser com qualquer um, ele não se entregou, passou dias em coma, mas o motivo dele se entregar para um amor irreal, e por quê deixar rastros desse amor para alguém que nunca viu o fazia se perguntar o que esta pessoa tinha de especial? Pelo que Pietro falou era uma vigarista sem coração, mas por quê Ryan deixou estas pistas que agora ressurgiam das cinzas como uma fênix?

— Não vou deixa que esta história ganhe vida novamente, ela já fez muita vítima no passado. Essa história tem que ficar no passado, e vai ficar, assim que terminar esta operação vou acabar com isto de uma vez. — Resmungou Breno, enquanto observava o mar. O pôr do sol ergueu-se no mar trazendo uma cena belíssima, ele observava e o silêncio envolvia sua mente fazendo-o recordar-se de coisas do passado que nunca tinha notado e a sua preocupação ia além da história do seu amigo. No fundo Breno sabia que Ryan não estava louco, sabia como um amor poderia fazer alguém feliz e ao mesmo tempo destruir, levando ao inferno em questão de segundos, um coração partido jamais seria o mesmo, a lembrança daquele amor deixava marca para toda vida. No fundo ele sabia disto, entendia o seu amigo, pois os que já passaram por uma dor dessas, sabia o que era morrer e ressurgir do inferno e voltar de lá mil vezes até que o paraíso reapareça na manhã como o sol brilhando mostrando a direção que se deve seguir, mas a pessoa muitas vezes não sobrevive e não tem força para lutar e tudo que deseja é sumir, se insolar no seu próprio mundo desejando a morte do que sentir aquela dor dissecando o seu peito.

Ele jamais voltaria a sentir aquela dor novamente e nem deixa que a dor de Ryan votasse à tona, e Letícia jamais saberia o quanto ele sofreu.

E Cléo ia destruir aquele maldito retrato justo com as cartas.

No fundo do coração de uma mulher existe um diamante de duas pontas, uma com uma parte negra e outra branca, mas na maioria dos corações delas era o negro que dominava.

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