Assim que a picape passa rente a um beco escuro, Kira aproveita o momento. Com um movimento preciso, ela se solta das ferragens e se impulsiona para fora, jogando o corpo no ar antes de rolar sobre o chão áspero. O impacto levanta poeira e arranha sua jaqueta, mas ela se recupera rapidamente, deslizando para uma posição segura dentro da sombra dos prédios.Killey, mesmo sentindo o ombro latejar, sabe que precisa fazer o mesmo. Com menos elegância e muito mais gemidos de dor, ele se solta e cai pesadamente no chão. O choque do impacto arranca um grunhido de sua garganta enquanto ele rola algumas vezes antes de finalmente parar, ofegante.Kira se aproxima dele com um olhar analítico.— Se você gemer mais alto, vão achar que estou te matando.Killey estreita os olhos, respirando fundo para conter a dor.— Me sinto quase morto… Então, tecnicamente, não estaria errado.Ela ignora a piada e inspeciona o ferimento. O corte no ombro é profundo, mas nada que vá matá-lo. Ainda assim, se não for
Kira não conhecia bem o local. Trouxera dinheiro, mas não muito. Além disso, não tinha tempo para um planejamento elaborado. O leilão de escravos aconteceria em uma feira itinerante, onde também estariam sendo negociados armamentos. Isso lhe dava uma oportunidade.Estava armada apenas com sua monokatana. Dependendo da segurança do evento, poderia não haver outra opção senão "entrar metendo os dois pés na porta".Ela e Killey caminhavam pelas ruas movimentadas da cidade quando Kira avistou uma feira, repleta de mercadores vendendo desde alimentos exóticos até equipamentos militares. Uma banca em particular chamou sua atenção: explosivos.Os olhos dela brilharam. Explosivos eram sua paixão. Sem hesitar, aproximou-se e fez uma compra rápida e discreta: um quilo de C6, um explosivo plástico moldável, além de um temporizador.— O que pretende fazer com isso? — perguntou Killey, desconfiado.Kira deu um sorriso malicioso enquanto verificava a carga.— Criar uma distração. Se quero me aproxi
Kira rolou para o lado, mas sentiu o impacto de mais balas atingindo sua armadura. O colete absorveu a maioria, mas uma perfurou seu flanco esquerdo. Ela sentiu o sangue quente escorrer, mas não parou.Jair O Leão rugiu e se lançou sobre o mercenário, agarrando a arma antes que ele pudesse virar para Killey. A força do impacto foi suficiente para empurrar o mercenário para trás, mas ele não caiu. Com um movimento brutal, o homem ergueu Jair e o arremessou contra um poste metálico.Killey puxou a irmã de Barney para fora da jaula enquanto Kira se levantava, monokatana em mãos.— Sua vez, filha da puta.Ela disparou em velocidade máxima, desviando das balas restantes e deslizando sob o mercenário. A lâmina cortou profundamente a articulação do joelho cibernético. O homem gritou e caiu, e antes que pudesse reagir, Kira cravou a katana em seu pescoço.Silêncio.Então, o corpo tombou.Kira arfou, o sangue pingando de seu ferimento.— Vamos. Antes que mandem reforços. Enquanto corriam para
Após uma longa conversa entre Jair, Kira, Killey e "Ghost" — o apelido do amigo de Jair —, Kira descobre que ele está aliado a uma força de resistência. O objetivo do grupo é livrar a Cidade da Sucata das garras dos bandidos, mafiosos e contrabandistas que ditam as regras e controlam as leis e normas da região.Essa não é uma simples incursão. Mais de quinhentas pessoas estão sendo mobilizadas para um ataque em grande escala contra a Cidade da Sucata. A resistência está determinada a desmantelar a estrutura criminosa que governa o lugar, e para isso, cada peça do plano precisa se encaixar com precisão.Kira entende perfeitamente o que Jair espera dela. Ele precisa de alguém capaz de liderar a equipe que invadirá o Castelo de Dentuço — o coração do império criminoso que controla a cidade. Esse será o golpe decisivo, o ponto de ruptura que pode garantir a vitória da resistência.Ela respira fundo, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Liderar uma missão como essa não se
O jipe avança em alta velocidade, derrapando pelo terreno enquanto se aproxima de Kira. Sem hesitação, ela salta de volta para dentro do veículo em movimento, deslizando suavemente para uma posição de combate. O grupo segue em frente, avançando para mais um posto de bloqueio.Desta vez, a ameaça é ainda maior: duas máquinas de combate blindadas aguardam, e diferente dos modelos anteriores, estas são tripuladas, tornando qualquer tentativa de hackeamento inútil. Kira analisa rapidamente suas configurações. Uma delas empunha uma imensa motosserra rotativa, enquanto a outra carrega um lançador de granadas cilíndrico. Seus olhos experientes logo reconhecem o tipo de munição—granadas de pulso debilitantes.— Visores para anti-ofuscante, agora! — ela ordena, a voz cortante em meio ao caos.Sem hesitar, os membros do grupo ativam o filtro especial. Segundos depois, a granada detona, emitindo um clarão intenso. A explosão luminosa se espalha como um raio ofuscante, mas graças à antecipação de
Sem um meio de transporte, Kira, Killey, Ghost e Micael avançam com urgência, procurando qualquer alternativa para escapar. O calor intenso e o cheiro químico tornam o ar quase irrespirável, enquanto o céu brilha com colunas de fogo.No horizonte, mais chuvas de napalm caem sobre a cidade, incendiando tudo ao redor. Explosões ecoam à distância, e gritos de desespero se misturam ao caos. Pessoas tentam fugir, mas muitas caem vítimas do estireno liberado pela queima do poliestireno no napalm, que envenena o ar, rouba o oxigênio e provoca asfixia e tontura.Kira segue à frente, seu olhar analisando rapidamente as opções de fuga. Killey se mantém ao seu lado, pronto para agir. Micael avança com postura de combate, atento a qualquer ameaça. Ghost, ferido e respirando com dificuldade por causa das queimaduras, luta para continuar, precisando de apoio, mas determinado a não ser um fardo. Cada segundo conta, e ficar parado não é uma opção.Tiros, gritos, correria, caos. O inferno se desenrola
Estamos dentro de um bairro nobre, algo entre classe média alta e alta. O asfalto cobre todas as vias, os meio-fios são pintados, e algumas casas possuem jardins bem cuidados, muros altos e cercas elétricas. O cheiro da terra molhada da chuva ainda paira no ar, misturando-se com a névoa da madrugada.Kira caminha com passos firmes, os olhos sempre atentos ao ambiente ao redor. Seu tom de voz é tranquilo, sem pressa, mas carregado de uma certeza inabalável.— Vamos precisar de um meio de transporte. Já são uma hora e quarenta e quatro minutos, e a madrugada está enevoada por conta da chuva.Ela pausa por um instante, franzindo levemente a testa ao sentir algo. Seu olhar se torna mais afiado, e um sorriso seco surge em seus lábios.— E como não há nada tão ruim que não possa piorar…A frase vem carregada de sarcasmo. Kira não precisa ver para saber. As vibrações no solo denunciam — um comboio inteiro se aproxima em velocidade. Seus sentidos treinados captam os padrões do deslocamento: v
Eu desperto.Calor. Chamas. O cheiro acre de carne queimada e metal retorcido.Os gritos parecem distantes, como ecos de um pesadelo. Tiros. Explosões. O mundo ainda treme. Tudo é barulho, caos e morte.Minha visão se ajusta. Meu corpo está coberto de apêndices metálicos, filamentos vivos de polímeros reforçados que se agarram aos destroços ao redor, puxando matéria para reconstruir meu braço arrancado. A estrutura se refaz camada por camada, até que os dedos finalmente respondem ao meu comando.Ainda estou fraca.Me arrasto, os músculos pesados, a pele latejando onde os nanoides ainda trabalham para fechar os ferimentos. Meu gancho. O vejo jogado a alguns metros de mim. Preciso dele.Forço o corpo para frente, cada movimento um esforço brutal. O calor faz o ar vibrar, dificultando a respiração. Quando finalmente alcanço o dispositivo, agarro-o com a mão recém-formada. Sem perder tempo, o conecto ao braço.A estrutura se ajusta, tudo se alinha novamente.Acho que se passaram apenas al