Manaus. Meu apartamento. Ivan e G.E.S.S. conversam, mas minha mente está em outro lugar. Faz dias que penso nisso. Lutar contra as corporações, agir pelo povo. Mas como? Um nome, uma identidade, um plano... Ainda não tenho nada disso. Então, o interfone toca. Me levanto, atendo sem pensar muito. Mas a voz do outro lado me faz congelar. — Teresa? Eu só a vi uma vez, mas sei quem ela é. E sei com quem ela anda. Teresa é uma mídia e também era namorada de Chang Liu. O que diabos ela quer comigo? Teresa entra no meu apartamento como se fosse a dona do pedaço. Nem pede permissão, só passa pela porta com aquela atitude de quem acha que o mundo gira ao seu redor. Reviro os olhos. Não entendo o que acontece com a mulherada hoje em dia. Isso me faz lembrar de Lucy—ela também agia como se mandasse aqui. Um leve ressentimento me atravessa. Passamos dias juntos e, de repente, ela morreu. E Dragon... Esse eu evito pensar. As lembranças dele vêm carregadas de coisas que prefiro deixar enterra
Quando abro a porta, me deparo com a última pessoa que imaginei ver novamente. Mas, depois de todas as revelações de hoje, já nem sei mais o que é possível ou não. A cobaia que "resgatamos" na Europa está bem ali, diante de mim. Diferente da última vez que a vi, agora ela parece uma adolescente comum—saia plissada, camiseta branca de gola, um colete por cima. Mas, observando melhor, percebo que ela é uma adolescente. Não deve ter mais do que dezesseis anos. Antes que eu possa reagir, ela simplesmente entra, como se já fosse parte do ambiente. Mais uma vez, me pego pensando sobre essa estranha confiança que certas mulheres parecem ter ao invadir moradias alheias. — Então é aqui que você se esconde. — Sua voz carrega um tom casual, como se fôssemos velhos conhecidos. Ela se vira para mim, estendendo a mão com naturalidade. — Prazer, eu sou Analisa. Antes que eu possa responder, um vulto se move rapidamente ao meu lado. G.E.S.S. surge como um raio entre nós dois, apertando a mão del
Passamos um tempo organizando o espaço para passarmos a noite ali. Encontramos alguns colchonetes largados pelo lugar, demos uma boa limpada e os espalhamos pelo chão. Já era noite, bem tarde, e o cansaço pesava nos nossos corpos. Enquanto arrumávamos tudo, G.E.S.S se encarregou de pedir comida—estávamos famintos, exaustos e com alguns machucados. Aproveitei um momento de pausa para entrar em contato com Teresa. Sentia que podia confiar nela, então pedi que viesse nos encontrar na manhã seguinte e passei o endereço. Na manhã seguinte, acordamos espalhados pelos colchonetes. O ambiente parecia ainda mais estranho à luz do dia. Analisa estava sentada na posição de lótus, imóvel, como se estivesse em transe. Observei seus olhos; não havia nada de incomum neles, mas a expressão vazia entregava o que estava acontecendo—ela estava conectada à rede. Pouco depois, conforme combinado, Teresa chegou. Carregava uma sacola com pães e um tubo de pasta que parecia ser algum tipo de patê de soja—o
Analisa sorri, um sorriso cínico, quase divertido. Teresa e eu trocamos olhares, nossas mentes trabalhando a mil por hora. Se são irmãs, então traçar o perfil familiar e descobrir as origens de Kira será muito mais fácil. Teresa parece hesitante, sem querer interromper o que, aparentemente, é um reencontro familiar. Mas minha mente já está processando informações rápido demais para ignorar a discrepância. Nos arquivos da Europa, quando invadimos a Vortoli e resgatamos Analisa, descobrimos que ela era uma cobaia havia pelo menos dez anos. Já Kira… segundo os registros, ela foi cobaia por apenas quatro anos. Algo não b**e. Kira é mais velha que Analisa. Se os dados estiverem corretos, isso significaria que ela foi capturada quando tinha apenas seis anos. Minha cabeça entra em parafuso. O estômago revira. As informações se embaralham na minha mente como peças de um quebra-cabeça que simplesmente não se encaixam. Algo está muito errado nessa história. Teresa percebe meu olhar perdido
Quando Killey apareceu sozinho, meu coração já se apertou. Ao me aproximar, ele desabafou: dizia que Kira estava bem, mas algo em sua voz e no brilho evasivo dos olhos denunciava que havia mais por trás daquela afirmação. Mesmo assim, eu sabia que Kira era de fibra inquebrável—implacável e determinada, nunca se deixando abalar. — Killey, por que Kira não voltou com você? — perguntei, intrigado e com uma nota de preocupação que não conseguia disfarçar. — Ela simplesmente se lançou na floresta, lá perto do esconderijo do Dentuço — respondeu, a voz carregada de desdém, como se o episódio fosse apenas mais um detalhe irrelevante. Enquanto ouvia, minha mente fervilhava de questionamentos sobre esses dois personagens tão distintos. Killey, embora não compartilhasse da mesma perícia tática de Kira, demonstrava habilidades bélicas impressionantes. Com seu rifle de assalto, operava com uma precisão quase cirúrgica, e suas manobras no boxe tailandês revelavam uma fluidez e letalidade que tran
Nosso retorno para Manaus foi tranquilo. Jair, Iara, Ghost, Killey e eu seguimos juntos até onde deixei minha moto. Jair já sorri para mim antes mesmo de eu oferecer o capacete extra para ele. — Vem comigo — digo, estendendo o capacete. Ele aceita sem hesitar e o veste, enquanto Iara sobe no bugue com Ghost, enquanto Killey apenas acena com a cabeça antes de montar em sua própria moto e partir. Assim que Jair se acomoda atrás de mim, sinto suas mãos pousarem suavemente na minha cintura. Um aperto leve, seguro. Meu corpo reage instantaneamente. Não sei dizer se já senti isso antes, se já fui tocada assim por outro homem. Minha mente é um quebra-cabeça com peças faltando, e essa é uma delas. Mas uma coisa eu sei: gosto da sensação. Acelero, mantendo o foco na estrada. Destino: Biocom. Preciso entregar o relatório da missão e devolver o projeto recuperado. Mas o melhor de tudo? Trouxe comigo outros projetos que a Dra. Chambers tentava vender. Assim que chego ao prédio, sou chamada se
Cheguei a Manaus e fui direto ao prédio da BioCom. Na minha mente, aquele era o único lugar que realmente conhecia — e eu tinha uma missão a cumprir. Assim que cheguei, retirei dos bolsos os datachips com as gravações, organizei o relatório e segui até a sala de Xiaomei. Anunciei minha presença, ciente de que Kira ainda não havia chegado. Provavelmente, ela estava levando Jair até Logan ou, no mínimo, colocando-o em um táxi para seguir até lá. Assim que recebi autorização, entrei rapidamente. — Srta. Xiaomei, está tudo aqui. Xiaomei pegou os chips sem hesitação, inserindo-os um a um. Seus olhos afiados analisavam cada vídeo com precisão cirúrgica. De repente, sua expressão endureceu, e sua voz veio afiada como uma lâmina: — Há um vídeo em que uma mulher de patins atira no olho cibernético de Kira. No vídeo seguinte, Kira aparece com um olho normal de volta. Como isso aconteceu, Killey? Onde está o vídeo sobre isso? O tom incisivo dela me pegou desprevenido. Seus punhos cerrados de
Adentro a sala de Alessandro. Kira sai, deixando-nos a sós. Esse homem foi um dos poucos que nunca cederam ao meu charme. Muitos já caíram nas minhas provocações, mas ele e Douglas parecem imunes aos meus feromônios e ao meu poder de sedução. Meu corpo foi modificado para ser o objeto de desejo de qualquer homem e até de algumas mulheres. Exalo feromônios que turvam o raciocínio, tornando a conversa mais fluida e deixando-os vulneráveis às minhas sugestões. Uso meu charme pessoal, perfumes estrategicamente escolhidos e roupas que destacam as áreas certas, aquelas que podem distrair qualquer um. Mas Alessandro... Alessandro nunca se importou. Na verdade, ele já reclamou do meu cheiro. Por um tempo, cheguei a pensar que ele fosse homossexual, mas então o vi com Amanda e percebi que não era o caso. Ele gosta de princesinhas. Kira não é uma princesinha. Kira tem uma beleza que beira o irreal, mas seu corpo é forte, musculoso, aprimorado por implantes. Alessandro sempre odiou implantes.