Engoli em seco e embora tivesse sentido vontade de chorar, decidi que não havia mais sentido em ficar me debulhando em lágrimas. Teria que superar... Assim como superei tantas outras coisas que achei que seriam insuperáveis.
Levantei a mão na direção dele, ensaiando um aceno de despedida. David retribuiu e logo voltou a falar com o médico, como se eu fosse somente a foda da vez.
Virei as costas e saí, parecendo que o ar me faltava e o lugar tivesse ficado incrivelmente minúsculo.
Estava tão atordoada que quando fui passar pela porta, bati em alguém. Fui desculpar-me quando me deparei com...
- Eliardo? – Fiquei completamente surpresa.
- Duda? – ele sorriu, como se fosse um velho conhecido – Não acredito que é você! – Me abraçou.
Mal consegui retribuir o toque, confusa. Eliardo estava bem diferente de quando est&aacut
O que eu não esperava era encontrar David Dulevsky, Élida Dulevsky e Maria Dolores presentes no evento. As mesas redondas estavam muito bem decoradas com parte das flores das notas olfativas usadas nos perfumes de cada um dos perfumistas concorrentes.Fiquei um tempo imóvel, sentindo minhas pernas trêmulas, certa do motivo: a presença do CEO da D.D., que eu não via há algum tempo. Depois do ocorrido no hospital, ele respeitou meu pedido e me deu o tempo que solicitei. E por mais que eu soubesse que aquilo era necessário, a dor da saudade feria imensamente. Esperei que David tomasse uma decisão quanto a me perdoar ou não e me procurasse, mas aquilo não aconteceu. Embora eu tivesse noção de que tinha que tirar aquele homem da minha cabeça, o coração recusava-se a obedecer.Nossos olhos se encontraram e senti como se tivesse sido incendiada por dentro. Até
- Tudo isto é nervosismo? Você vai ficar com vontade de fazer xixi se ficar muito tempo lá em cima. – Verbena lembrou-me.- Eu sempre amei jasmins... Nunca me passou pela cabeça enjoar com meu aroma favorito. Deve ser o nervosismo. – Observei.Não sei se algum momento poderia ser mais tenso do que aquele, que era o anúncio dos três finalistas. E então chamaram para subir ao palco eu, Ashley e Milo Alantis, um velho conhecido no ramo do perfume, que sempre concorria, mas nunca havia levado o prêmio.Milo era a aposta principal dos perfumistas mais renomados, por conta de sua experiência. Ashley e eu, certamente uma surpresa para todos... Até mesmo para mim, que praticamente concorria comigo mesma, já que tinha bem dizer criado toda a fragrância do Flor da Lua.Quando me encaminhei ao palco, tentando subir os degraus altos com meu vestido longo justíssim
- Então quando criei a fragrância do perfume que depois Ashley nomeou flor da lua... – o silêncio transformou-se em várias pessoas falando ao mesmo tempo.Eu poderia simplesmente pegar meu troféu, ir embora e seguir minha vida sendo uma perfumista renomada e requisitada. Mas Ashley optou por continuar tentando me derrubar. E já não era de agora que eu estava bem cansada de todos que me faziam sofrer, principalmente ela.Cheguei a pensar em poupá-la daquele vexame, porque perder o troféu de primeiro lugar, por si só, já a deixaria completamente no chão e teria que cumprir um contrato que assinou às cegas comigo. Mas ela não merecia um pingo de pena.Continuei falando em meio ao burburinho. Quem quisesse ouvir a verdade, que se calasse. Ashley tentou pegar o microfone da minha mão, mas David impediu com firmeza, segurando-a pelo braço.Dei um
- Amor? – Olhei-o, arqueando a sobrancelha e lembrando-me do “futura senhora Dulevsky” que ele havia dito em público.Nos encaramos e só pelo fato de ter os olhos dele nos meus já senti um frio na barriga que pareceu suceder-se por um novo enjoo. Estaria eu tendo náuseas só de olhar para David?- Como vocês conseguiram entrar todos ao mesmo tempo? – perguntei, engolindo a saliva que se acumulava na minha garganta.- Esqueceu que trabalho aqui? – Verbena perguntou – E teoricamente seria minha noite de folga... Mas decidi ver minha melhor amiga ganhar o troféu de perfumista do ano. No entanto ela me fez parar aonde? No hospital, onde eu deveria estar de plantão... Creio que eu não deva tirar folga, já que raramente o faço e sempre que decido trocar a escala, parece que tudo conspira contra mim. – Ela sorriu.- Está nas mãos de
- Isso... É surreal! – ele riu, observando minha barriga.- Quando você acha que engravidei? – franzi a testa, curiosa – Numa tirada na hora H?- Não me interessa quando foi... Só me interessa que aconteceu... Que esta criança está aqui... Dentro de você. E... É nossa! Por mais medo que eu esteja sentindo neste momento, estou feliz.- Minha mãe me deixou e foi embora... Meu pai fingiu ser meu avô para não assumir a paternidade... Sua mãe desistiu da maternidade para viver a vida... Será que podemos ser bons pais, mesmo não tendo bons exemplos? Basta pensar em fazer tudo diferente do que foi feito conosco?- Poucas coisas na vida vêm com manual, não é mesmo? Há quase um ano atrás eu recebi a notícia da morte do meu pai junto com a de que seria o tutor de minha irmã adolescente. Tive medo... Passei
Era a primeira vez que eu sentava à mesa junto aos Dulevsky para o jantar. Fazia pouco tempo que havia trazido minhas coisas para a casa de David. Assim que o jantar foi servido, observei Dodô dando uma averiguada se tudo estava certo, a contento para a família. Quando se certificou que nada havia saído errado, me olhou e sorriu de forma satisfeita:- Tenham um bom jantar!Ela estava se retirando quando David disse:- Dodô?A mulher parou com os braços cruzados à frente do corpo, de forma respeitosa:- Sim, senhor Dulevsky! Algo não ficou do seu agrado? - Franziu a testa, repassando com os olhos tudo que estava à mesa, preocupada.- Realmente algo não ficou do meu agrado... – David disse de forma séria.- O que, senhor?David pôs a mão sobre a minha, que estava à mesa e depois olhou para minha mãe novamente:- N&at
Élida pensou um pouco antes de dizer:- Não tenho certeza do que sinto por ela... Sei que eu era bem implicante... Mas talvez por ciúme dela com David.- E depois que soube que ela também era sua irmã, mudou algo dentro de você? – Perguntei.- Eu não tenho certeza.- E não precisa ter – Dodô foi quem disse – Pode passar a gostar dela, se as atitudes de sua irmã forem boas e gentis.- Ela não era uma pessoa muito legal. – Élida deixou claro.- Mas pessoas podem mudar... – sorri e toquei a mão dela, que ainda estava sobre o terrário – E eu sou a prova disto.A menina me olhou e sorriu. Observei novamente o terrário e vi um pequeno envelope colorido entre as plantas desérticas. Peguei-o e mostrei à Élida:- Tinha visto?- Não... – Ela abriu o minú
Ouvi Alexis Hauser cantando com dificuldade, enquanto sorria encantado para Mabel:“In a little while from nowIf I'm not feeling any less sourI promise myself to treat myselfAnd visit a nearby towerAnd climbing to the topWill throw myself offIn an effort toMake it clear to whoeverWants to know what it's like when you're shattered”“"Daqui a pouco tempoSe não me estiver a sentir menos azedoPrometo a mim mesmo tratar-meE visitar uma torre próximaE subindo ao topoAtirar-me-ei de láNum esforço dePara deixar claro a quemQuerer saber como é quando se está destroçado"Minha mãe limpou as lágrimas e Mabel deitou a cabeça ao lado de seu amado, continuando a música com os olhos fechados, como se realmente estivesse lá, no lugar em que só o