Mais um dia se passou, no total, foram 4 e eu estava pronta para seguir em frente, sem continuar questionando ou relutando com a minha nova vida. Quero aproveitar essa oportunidade, mesmo eu não acreditando muito nessa situação em que estou enfiada.
Disse para minha babá Agatha, que estava disposta a me socializar com o mundo outra vez. A desculpa para eu me isolar esses dias em meu quarto, foi a minha saúde, que ainda estava duvidosa.
– Lis!
Eu estava na sacada do meu quarto, vislumbrando o vasto jardim da mansão em que agora é minha.
– Lis?
Alice tinha uma vida bem humilde e agora, pareço viver em um mundo em que minha vida é estravagante. Como vou lidar com tanta mudança assim?
Aqui parece ser um passado, é nítido, pelas roupas e decorações coloniais. A tecnologia aqui nunca existiu, então não sei como passar o tempo ou consegui sobreviver longe de meu celular e da internet.
– Lissandra!
Sinto uma pesada mão em meu ombro e uma voz grossa me chamando. Assusto-me e desperto do meu transe. Surpreendida, viro-me e fito os azulados olhos do homem loiro e bonito que estava com a mãe da Lissandra quando vieram me ver assim que despertei.
– Existe algo que te incomoda? – Ele me pergunta preocupado. – Eu te chamei algumas vezes...
Ele é o pai da Lissandra. Abel, o Duque de Griffin e também é o Primeiro Ministro deste país, Vangalô.
– Nad... nada não... – Balanço a cabeça nervosa em resposta.
É por isso que eu moro em uma mansão tão grande.
– Estou preocupado, se algo te incomoda. – Ele insiste e parece ficar muito sério.
O observo bem e sinto que ele está tão ansioso quanto eu.
O que devo fazer? Como Lissandra faria isso?
– É que você está tão calma e tranquila.
Agora eu sei como ela se comportaria. De forma mimada ou até mesmo agitada e estressada com tudo, mas eu não sou assim.
– Parece que você mudou de corpo com outra pessoa. – Ele tenta brincar para mudar um pouco o clima, mas não ajudou em nada, porque foi exatamente isso que aconteceu.
– De maneira nenhuma! Isso não poderia acontecer. – Respondo tremula e rindo de nervosa.
Ele sorri aliviado.
É tão difícil mentir...
– Lis! – Ele fala sério comigo. – Deixe-me saber tudo o que te preocupa. – Ele murmura e se inclina um pouco para ficar a minha altura.
Seus olhos azuis estão mais pertos de mim e consigo ver melhor. São lindos.
– Pode ser... – Falo envergonhada.
Meu pai estala os dedos e em um sobressalto, fala exaltado.
– É culpa da garota que você me contou da última vez, a filha do Conde de Ransey?
O que eu devo falar?
– Ela te incomodou de novo?
“Não! Ela é inocente.” Falo comigo mesma, com muita vontade de exteriorizar isso. Eu queria poder olhar no fundo dos seus olhos azuis e dizer que a única que estava incomodando os outros é a sua filha preciosa.
Agora eu consigo compreender porque a personalidade dela é tão deplorável... ele a mima demais.
Lissandra é uma verdadeira filhinha do papai.
Sinto um aperto em meu coração porque começo a lembrar dos meus pais, quando eu ainda era a Alice. Consigo ouvir em minha cabeça a voz da minha mãe me repreendendo apenas para fazer bonito na frente do meu pai, um homem escroto.
“Como se atreve a comer apenas o que você quer? Você é apenas uma menina!!” Ela dizia.
Meus pais tinham uma forte tradição de preferirem filhos acima das filhas, então eu era a escória da família.
“Você deve comer os acompanhamentos que seu marido deixar, quando você se casar.” Minha mãe me criava para ser a perfeita dona de casa, submissa ao marido.
Mesmo depois de me formar no ensino fundamental, eu não podia comer com meu irmão mais novo na mesa principal e sim na cozinha, sozinha.
Eu fui para longe estudar na faculdade como desculpa, porque eu queria morar sozinha, longe da minha família e por essa razão, eles não pagaram meus custos de mensalidades ou manutenção. Tive que estudar e trabalhar duro.
Sinto uma mão acariciar minha cabeça.
É o Abel.
– Eu não sei o que está acontecendo, mas como seu pai, eu sempre estarei do seu lado. – Ele sussurra cheio de orgulho e me acaricia mais. – Minha filhinha.
Esse era o tratamento que eu realmente merecia dos meus pais, mas nunca tive esse privilegio, que estou tendo agora no corpo na Lissandra.
– Oh! Ou talvez eu... – Abel para de súbito. – Eu fiz algo de ruim para você? – Ele pergunta já lamentando e com lagrimas nos olhos. – Você não me chama de pai desde que você acordou!
Abel parece ser um cara tão legal, mas por que ele pensa isso? Ele faria algo?
Eu não me sinto confortável, porque parece que estou mentindo para ele. Porém, eu agora sou a Lissandra.
– Você não fez nada... – Engulo em seco. – Papai!
Não foi complicado... ele sorriu orgulhoso e me puxou para um abraço.
Eu vou viver o resto da minha vida como Lissandra, a filha do Duque de Griffin, então posso me sentir confortável com isso? Talvez dessa vez eu possa receber amor dos meus pais e ser capaz de viver feliz.
O abraço de volta.
Lentamente um sorriso se forma em meus lábios.
Eu posso viver com essa felicidade?
Claro que posso!
Eu não farei mais nada de mal. Então ninguém vai me chamar de garota malvada novamente.
O Príncipe e a filha do Conde, podem amar um ao outro e eu posso viver pacificamente com os meus pais...
– Ah, tenho boas notícias para você. – Abel, meu pai, fala empolgado desfazendo o abraço. Nos encaramos. – Eu ia te contar no jantar, mas...
Uma boa notícia?
– Você está curiosa? – Ele pergunta cinicamente rindo. Balanço a cabeça em afirmação.
Ele vira o rosto e aproxima sua bochecha do meu rosto. Ele quer um beijo no rosto. Sinto meu rosto arder de vergonha. Beijar os pais? Nunca fiz algo do tipo. Respiro fundo e beijo sua bochecha. Vou deixar isso acontecer, já que ele é muito bonito.
Ele me surpreende com outro abraço, dessa vez mais exagerado.
– Ah, porque eu tenho que m****r minha amada filha para o palácio? Eu definitivamente ficarei triste. – Ele afirma cheio de amor.
O quê? O Palácio? Do que ele está falando? Eu não entendo.
Ele se afasta, segura em meus ombros ainda sorrindo.
– Você foi escolhida para ser uma Magna.
Magna?
O que é isso?
Flashs surgem em minha mente e agora eu sei o que é. Está nas memorias da Lis.
Magna é como uma Imperatriz Preliminar.
O Império Decraberom tem um sistema de hierarquia, mas a habilidade é mais importante que a sua posição. Em sucessão ao trono, a habilidade tem precedência sobre sua posição. Qualquer um que seja filho do Imperador pode ser o próximo monarca, contanto que eles possam testar suas habilidades e reunir apoiadores.
Sob a competição, o Príncipe Herdeiro também é frequentemente substituído. Nesse caso, outros irmãos e irmãs são os próximos na fila para o trono. É claro, a Imperatriz é escolhida através dessa intensa competição. Isso porque, junto com o seu marido, a Imperatriz escolhida se torna a governante do Império.
Tornar-se Magna é o primeiro passo do longo processo para se tornar a próxima Imperatriz.
Em outras palavras... eu estou condenada!
Meu corpo estremece e fica nítido em minha cara, meu desespero com tudo isso que está acontecendo. Meu pai percebe e fica também desesperado.
– Você... você não parece feliz, Lis...
Eu só quero viver uma vida pacifica, mas... meu futuro promissor me assombra.
– Eu me esforcei para que você pudesse ser escolhida, tem alguém que não quer você lá. Eu tive que fazer muitas coisas para inclui-la na lista. – Abel explica.
Minha cabeça começa a doer por causa de tantas informações que estou recebendo de uma só vez. Eu preciso administrar duas cabeças, a minha e a da Lissandra. São pensamentos e mundos diferentes e tudo está como uma maldita bola de lã, em que eu preciso desembaraçar rapidamente para continuar fazendo parte disso tudo, sem levantarem suspeitas ou me chamarem de louca.
Olho para todos os lados em busca de alguma resposta ou salvação, mas estou presa nesse mundo, nesse corpo e principalmente, nessa situação e agora tenho que usar todo o conhecimento das Lis e suas malditas memorias, para sobreviver.
Abel, meu pai, parece triste com minha reação. É como se eu estivesse nesse exato momento, jogando toda sua luta para me incluir na lista, no lixo. Talvez seja minha vontade, mas ver o homem que faz todas as minhas vontades com essa carinha de cachorro sem dono, acaba comigo.
– Eu acho que alguém conspira conta você... – Ele sugere preocupado e pensativo.
Eu acho que esse alguém está certo.
– Ou talvez você tenha ouvido as noticias sobre a Família Ransey? – Ele pergunta com cautela.
Ransey é... lembro-me do príncipe herdeiro ao lado de uma outra mulher... sua companheira, sua namorada. A Condessa de Ransey, Danielle. Ela foi escolhida também como uma Magna.
Faz sentido porque o Príncipe Herdeiro a quer, mesmo se sua família não vem de uma família respeitável. Isso não importa muito.
Beleza excepcional e um caráter amável e muito dedicada, Danielle é a melhor candidata para ser a Imperatriz.
O problema sou eu quem será deixada para trás.
Se eu não for selecionada como Magna, eu não poderia ir ao Palácio, mas eu não acho que há uma chance de eu me tornar a Imperatriz.
Fico imaginando o Príncipe e a Danielle juntinhos, trocando caricias e muito amor. Eu preciso morar com eles... como a segunda esposa?!
Meu corpo estremece.
De jeito nenhum!
– Eu acho que você foi rejeitada por causa daquela garota... – Ele fala um pouco decepcionado. – Bem, eu tentei o meu melhor porquê... – Paro de brigar comigo mesma internamente e presto atenção no Abel. – Você realmente queria ser... claro, nós realmente não queríamos m****r você para o Palácio, mas... – Ele foge do meu olhar e fica triste.
Seguro sua mão, o surpreendendo.
– Papai, não! – Afirmo convicta. – Estou muito feliz! – Minto. Ele abre um largo sorriso que alegra meu coração.
– É sério? – Ele questiona. Assinto sem graça.
Eu fui escolhida por uma ordem Imperial. Eu não posso recusar, mesmo que eu queria. Além disso, mesmo sabendo que ele vai ter o despeito dos outros. Ele conseguiu a oportunidade para mim... embora eu não quisesse.
É inevitável!
– Então vamos nos preparar para a visita imediatamente! – Meu pai falou todo empolgado saindo do quarto
Novos vestidos, joias... eu estou começando a gostar disso.
Hoje é um grande dia... para os outros, porque para mim é uma verdadeira tragedia. Os únicos contatos que tive após ser jogada nesse mundo, foram com os familiares da Lis e os funcionários da mansão. Agora, terei que me socializar com o restante do mundo, nessa festa em que as candidatas à Magna serão anunciadas.Talvez seja uma oportunidade excelente para conhecer do Príncipe Herdeiro e a Danielle. Eu tenho que restaurar minha relação com eles e também com outras pessoas que eu já tratei mal.Encaro a mim mesma no espelho, certa de que vou fazer tudo certinho e ter uma vida tranquila, sem peso na consciência, pelos pecados da Lissandra.– Como está, Milady? – Minha babá pergunta me despertando do transe, mas ao me ver melhor, acabo entrando em outro.Minha beleza...! Na verdade, é a beleza da Lissandra. Ela é de fato mu
Dia 22 do Mês 04.– Hmm... O que é isso? Por que você é tão gentil comigo? Normalmente, você não é assim... – Lissandra falou para sua amiga, na frente do seu pretendente, destruindo a sua chance de se casar.Dia 15 do Mês 05.– Se eu não estou errada, nós duas não tiramos sarro dela no passado? Como vocês são amigas agora? – Lissandra perguntou descaradamente quando viu sua amiga com uma dama, destruindo a amizade delas.E mais uma vez... Dia 03 do Mês 06.– Não interfira! Vamos lá! Diga isso de novo!Ela esbravejava com um rapaz. Não é incomum para Lissandra ficar com raiva na frente de seus amigos.Eram lembranças dolorosas para mim.– Lissandra, porque você não pode ficar de boca fechada? – Eu pergunto para mim mesma, desesperada, s
Muitas coisas ainda vão acontecer por aqui e eu não estou muito preparada para enfrentar o que estar por vir, então, antes, quero tentar, pelo menos, me acertar com quem é preciso. Danielle!Após vê-la no jardim com o Brand, mais que nunca eu julgo necessário termos uma conversa, mas parece que Agatha não vai deixar.Em um momento seu de descuido, enquanto prepara meu banho quente, caminho cuidadosamente nas pontas dos pés até a porta principal do meu aposento. Mas quando a abro, ela range bem alto e minha babá aparece atrás de mim.– Milady! – Assusto-me. – Milady, aonde você está indo sozinha?Viro-me um pouco constrangida, como uma criança que acabou de ser flagrada aprontando.– Err... que... Onde vou... – Eu não consigo formar nenhuma resposta para ela.– Você não vai se encontrar
Já faz uma semana desde que cheguei ao Palácio, mas não há uma única companhia para mim. Baseado na lei do Palácio, minha atividade é restrita e eu costumo passar quase todo o meu tempo no meu quarto.Depois de pensar novamente sobre a apresentação da lista de nomes das damas de Companhia. Depois de conversar com a minha babá Agatha, as coisas que eu nunca pensei, são cada vez mais visíveis.Quando alguém é a Dama de Companhia de uma Magna, isso significa que a sua família vai apoiar essa magna também.Talvez Ransey não possa derrotar Griffin quando se trata de poder, mas o que acontece quando outras famílias como os Volkov apoiam a Ransey? E se outras famílias poderosas apoiarem Ransey...?O príncipe Herdeiro insiste em capacitar a Família Ransey e coloca a Griffin em uma posição perigosa. Eu tam
Ainda no Palácio do Príncipe Herdeiro.– É sobre minha filha! – Abel afirma sentindo arrepios em todo seu corpo. De repente, ele tem um mau pressentimento. – Espero que minha filha possa ter uma Dama de Companhia imediatamente. – Ele fala rispidamente. – Lembro-me de dar-lhe uma lista com nomes várias vezes.O Príncipe Brand ajeita-se em sua cadeira. – Eu entendo... peço desculpas, mas... – Ele tenta dar uma explicação, mas o Duque Griffin e também primeiro ministro o interrompe. – Claro, eu sei que você tem estado ocupado cuidando do problema enfrentado pelo Império, mas há mais pessoas cuidando desse problema.Brand lança um olhar semicerrado para o Abel e por um breve momento, os dois ficam se encarando em silêncio.
Enquanto isso, na Capital do Império de Decraberom. Residência principal da Família Griffin. – Como o Duque de Griffin, eu concedo-lhe o honroso título de Baronesa.Agatha, como prometido, recebe seu título honorário e após assinar os papeis formalizando a nomeação, comemora com gritinhos. Abel, o Primeiro-ministro, gargalha junto com sua esposa. – Por favor, cuide da Lissandra no futuro. – Ele pede a ela. – Desculpe-me por te dar seu título tão tarde. – Ah, por favor, eu não me importo. – Agatha responde corada. – Eu nunca pensei que o Sr. E a Sra. Griffin me parabenizassem diretamente. – Ela sente-se feliz. – Eu não poderia ser mais grata. – Ah. Não tem problema. – Sra. Griffin fala meigamente. – Por favor, conte-nos como est&aa
– Sua Alteza, eu terminei de preparar seu banho. – Marina afirma surgindo do banheiro.– Hmmm? – Desperto de um transe mental.Ah, certo! O banho... eu tinha esquecido disso.Encaro a Marina.– Está bem. – Assinto.Me levanto e caminho até o banheiro. Olho por alguns instantes para a banheira soltando uma fumacinha deliciosa. Adoro banho quente. Viro-me e vejo que minhas Damas de Companhia estão na porta, me observando e esperando alguma ordem minha para começarem a me ajudar no banho, mas dessa vez, farei diferente.– Eu quero ficar sozinha, vocês podem sair. – Ordeno, pegando todas elas de surpresa.– Mas, Sua Alteza... – Marina tenta protestar.– Nós devemos obedecer ao que sua alteza disse, então vamos. – Lúcia retifica com um sorriso patético na cara.– Nós entendemos. &n
Danielle fica encarando a Lúcia esperando alguma resposta. Lúcia treme com medo e é notório seu papel de submissão. Eu nesse momento quero me jogar nas duas e bater muito nelas.– Eu sei que não deveria aparecer, mas eu tenho que mostrar isso a você. – Ela responde tremulando, entregando a carta para Danielle... a minha carta, como eu pensei.– O que é isso? – Danielle questiona curiosa pegando o envelope.– É uma carta para o quinto Príncipe. – Lúcia responde em um sussurro.– Para o quinto Príncipe? – Ela parece confusa. – Para que...? – Analisa o envelope todo, frente e verso. Ao ver meu nome, ela pensa. – Hum, certo. Ela me disse que seus sentimentos pelo Príncipe Brand haviam mudado...– E o quinto Príncipe pediu a Lady Lissandra para dançar na festa de apresentaç