A noite de Roma era um fantasma que se arrastava sobre a cidade, densa e carregada de promessas de sangue. O motor do carro ronronava enquanto atravessávamos as ruas estreitas, cada cruzamento trazendo uma nova sombra, um novo olhar furtivo que eu ignorava. Meu mundo já não era feito de luz.Matia estava ao meu lado, o olhar fixo na estrada. Atrás de nós, outros três carros seguiam como predadores na escuridão. Meus homens estavam prontos. Todos sabiam o que estava em jogo.Eu sabia o que estava em jogo.Elena.Minha mandíbula estava travada desde que deixamos a mansão Marcheti. O ódio dentro de mim não era uma chama. Era um incêndio. Um veneno queimando meu sangue, me impulsionando adiante sem espaço para dúvidas ou hesitação.Matteo havia cometido um erro. Ele achava que podia me ferir. Achava que podia tocar nela e sobreviver para contar a história.Ele estava errado.— Quanto tempo até chegarmos ao local? — perguntei, minha voz áspera como lâmina contra pedra.— Dois minutos — Mat
O rangido da porta me fez encolher instintivamente. Meus braços estavam fracos, cada músculo gritando em protesto após tanto tempo presa naquele quarto úmido e escuro. Matteo surgiu no vão da porta, seu olhar duro como pedra, e acenou com a cabeça para um de seus homens.— Levem-na para a cozinha. Ela precisa comer. — Sua voz carregava um desdém que fazia minha pele arrepiar.O soldado me agarrou pelo braço e me ergueu sem qualquer delicadeza. Minhas pernas quase cederam sob o peso do próprio corpo, mas me forcei a andar, mesmo que fosse apenas para não demonstrar fraqueza.O corredor era curto e mal iluminado, as paredes de pedra denunciando que aquele lugar era antigo. Quando chegamos à cozinha, o cheiro de pão amanhecido e carne fria encheu minhas narinas. Havia uma mesa simples no centro, uma janela pequena no alto, por onde um feixe de luz filtrava a penumbra do ambiente.Eu não sabia onde estava, mas a arquitetura, os móveis envelhecidos e o silêncio absoluto ao redor me faziam
A visão de Matteo congelado na janela foi minha deixa. Com um sinal rápido, meus homens tomaram posição e abriram fogo. Os primeiros disparos ecoaram na noite, estilhaçando vidraças e ricocheteando contra as paredes de pedra do casarão. Os soldados de Matteo caíram um a um, sem tempo para reagir. Pietro e Matia avançaram comigo, movendo-se com precisão letal, silenciando qualquer resistência que surgisse.Matteo se virou em um rompante de fúria, puxando a arma do coldre, mas eu já estava sobre ele. O golpe do meu punho contra seu rosto foi rápido e brutal, fazendo-o cambalear para trás. A arma caiu de sua mão, deslizando pelo chão de madeira. Matteo tentou se recuperar, mas antes que pudesse reagir, pressionei o cano da minha pistola contra sua têmpora, forçando-o contra a parede.— O único erro que você cometeu, Matteo — rosnei, minha voz um sussurro mortal — foi subestimar o poder da Cosa Nostra. Você esqueceu que nós mandamos em tudo. Até na polícia que rastreou esse maldito celula
A sala do Conselho de Honra era um túmulo de pedra e silêncio. O ar era pesado, carregado de fumaça de charuto e o cheiro metálico de sangue seco. A única iluminação vinha do candelabro acima de nossas cabeças, suas chamas tremulando e lançando sombras disformes nas paredes frias.No centro da sala, ajoelhado no chão de mármore escuro, Matteo Ricci. Suas mãos estavam amarradas às costas, os pulsos cortados pelos grilhões apertados. Seu rosto era uma tela de hematomas e cortes abertos, a pele manchada pelo próprio sangue que escorria lentamente do canto de sua boca. Seus olhos, no entanto, traíam tudo—o medo, o arrependimento, o desespero mascarado por uma expressão de falsa arrogância.Sentei-me à cabeceira da mesa longa de carvalho maciço, ladeado pelos homens que sustentavam o peso da Cosa Nostra. À minha direita, meu irmão Matia, as feições endurecidas, os olhos fixos em Matteo como se já o visse morto. À minha esquerda, Pietro, a postura relaxada, mas o olhar afiado e atento. Ele
A noite estava quieta, mas meu coração não. Desde o sequestro, desde aquela sala escura onde Matteo me tocou, me ameaçou, me fez sentir tão pequena e impotente, eu não conseguia encontrar paz. As sombras no quarto pareciam ganhar vida, se esticando pelas paredes como monstros que me espreitavam, e cada barulho fazia meu corpo se contrair, como se estivesse sempre à beira de outro pesadelo.Luca estava ao meu lado, como sempre. Ele me abraçava com uma força quase possessiva, sussurrando que eu estava segura, mas eu sabia que ele também lutava contra seus próprios demônios. Ele havia matado, ordenado execuções, cometido atrocidades das quais nunca falava. As cicatrizes que ele carregava eram profundas, e, ainda assim, eu o amava com uma intensidade desesperadora. Ele era minha perdição e minha salvação.Naquela noite, ele entrou no quarto com um olhar distante, sombrio. Seus ombros estavam rígidos, como se uma tempestade estivesse prestes a romper. Ele se aproximou da cama, e a tensão n
Matia e Pietro estavam comigo no escritório, o ambiente pesado com o peso do que estava por vir. O cheiro de café amargo misturava-se com o cheiro de papel e tinta, enquanto os mapas e documentos se espalhavam sobre a mesa, como se cada detalhe pudesse significar a diferença entre vida e morte. A sala estava silenciosa, apenas o som de nossas respirações e o farfalhar dos papéis quebrando a tensão no ar.O plano era simples, mas não menos mortal: atacar o esconderijo do pai de Elena, forçá-lo a confessar sua traição, fazer ele pagar por tudo o que fizera com a filha, e acabar com essa guerra de uma vez por todas.— Ele está bem guardado — disse Pietro, seus dedos longos e habilidosos apontando para o mapa, traçando uma linha com uma precisão implac&
Luca me chamou para o escritório naquela noite, seu rosto sério, mais sombrio do que o normal. Seus olhos estavam carregados de uma preocupação que ele fazia questão de esconder, mas eu podia ver. Eu sabia que algo grande, algo que mudaria tudo, estava prestes a acontecer.— Elena — ele começou, sua voz suave, mas carregada de uma firmeza que não deixava margem para dúvidas. — Nós temos um plano para acabar com isso. Mas... ele envolve você.Aquelas palavras caíram como pedras pesadas no meu estômago. Eu sabia que ele estava me preparando para algo perigoso, mas ainda assim, ouvir isso de sua boca fez meu coração acelerar. Me sentei à mesa, meus olhos fixos nos mapas e documentos espalhados, tentando absorver o que estava por vir, tentando enten
A preparação para a missão estava chegando ao seu clímax. O plano estava desenhado, as peças se encaixando lentamente, mas o mais difícil estava por vir. Os soldados estavam reunidos na sala, os rostos sérios e focados, prontos para a operação que mudaria tudo para nós. No centro da sala, Pietro estava de pé, olhando para os homens e mulheres que haviam sido escolhidos para esta missão. Eles estavam prontos, mas sabiam que essa não seria uma missão qualquer. O pai de Elena não poderia ser morto. Ele precisava ser mantido vivo, interrogado, desmembrado em suas mentiras até a última gota de verdade ser extraída dele.Pietro ergueu a mão, chamando a atenção de todos.— Escutem, isso não vai ser como qualquer