O silêncio era quase absoluto na mansão, exceto pelo leve estalar da madeira quando meus pés descalços tocavam o chão polido do corredor. A noite em Palermo era sempre quente, mas dentro da casa, um frio incômodo se espalhava pelos longos corredores vazios. Luca havia saído para uma reunião com o Conselho da Cosa Nostra, e eu estava sozinha.Ou quase.Quando disse a ele que gostaria de ajudar e descobrir mais sobre toda a traição que tínhamos sofrido, estava falando sério. Mas para isso eu precisava saber mais, precisava ir além da relação com meu marido, e descobrir segredos que as paredes dessa mansão guardavam.Minha pele se arrepiou quando passei pela saída lateral, onde a luz fraca de um poste do lado de fora jogava sombras alongadas contra as paredes. A mansão era grande demais para uma única pessoa, e o silêncio fazia minha mente criar ruídos inexistentes. Respirei fundo e continuei descendo até a cozinha.O aroma de ervas frescas e pão recém-assado me envolveu assim que entrei
Meus passos ecoavam pelo corredor silencioso enquanto eu me afastava da cozinha. O que Glória acabara de me contar ainda girava em minha mente, como uma peça de um quebra-cabeça que não se encaixava completamente. Luca havia sido moldado pelo pai para ser um líder cruel e impiedoso. Mas por quê? O que havia acontecido para que essa mentalidade fosse tão enraizada na família Marchetti?Eu precisava saber mais.Passei pela grande sala de estar e cheguei ao escritório de Luca. A porta estava destrancada, como sempre, pois ele sabia que eu não tinha interesse em me envolver demais nos assuntos da máfia. Mas a verdade era que eu já estava envolvida. E não havia mais como voltar atrás.A penumbra do escritório parecia me engolir assim que entrei. O cheiro do couro dos livros antigos e do uísque sutilmente impregnado no ar tornava o ambiente ainda mais sufocante. Meus olhos correram pelas estantes até pararem no ponto exato onde, dias antes, eu havia encontrado o fundo falso.Respirei fundo
O silêncio dentro do carro era denso, cortado apenas pelo som distante das ondas batendo contra os pilares do cais. Do lado de fora, o porto parecia adornado sob a escuridão da noite, iluminado apenas pelos poucos postes espalhados ao longo do píer.Eu nunca gostei de tocaia. Nunca tive paciência para esperar na sombra enquanto outros faziam o trabalho sujo. Mas, dessa vez, era diferente. Dessa vez, minha esposa estava envolvida.Matia estava ao meu lado, o olhar afiado fixo no iate ancorado a poucos metros dali. Ele segurava um cigarro entre os dedos, mas nem se deu ao trabalho de acendê-lo. Seu foco estava todo na movimentação ao redor do barco.— Isso me cheira a merda — ele murmurou, a voz baixa, porém firme.— Não me importo com o cheiro — respondi, sem tirar os olhos do alvo. — Quero respostas. — Acha que eles são os responsáveis por entregar Elena?Apertei as mãos no volante, sentindo a raiva me percorrer. — Precisariam ter acesso a nossa casa para isso. Ou pelo menos ajuda.
Minha cabeça pesava como se carregasse o mundo inteiro nos ombros. As informações que Vicenti me dera ainda ecoavam em minha mente, cada palavra uma facada que me lembrava de quanto a traição estava enraizada na minha vida. Eu não queria acreditar que tudo tinha começado por causa de um caso entre meu pai e a mãe de Elena. Mas as peças estavam se encaixando, e o quadro que se formava era mais sombrio do que eu poderia imaginar.Quando abri a porta da mansão, o silêncio da casa me envolveu. Esperava encontrar Elena dormindo, ou talvez lendo em nosso quarto, como de costume. Mas não foi isso que vi.Ela estava sentada no sofá da sala de estar, a luz do fogo crepitando na lareira refletindo em seu rosto. Seus olhos estavam fixos em mim, e ao redor dela, espalhados pela mesa de centro, havia papéis. Cartas. Fotos. Meu coração parou por um instante quando reconheci o conteúdo.Ela havia encontrado a caixa.— Luca — ela disse, a voz fria e cortante como uma lâmina. — Você sabia?Eu fechei a
A cabeça repousava sobre o peito de Luca, o ritmo calmo de sua respiração preenchendo o silêncio do quarto. Seus dedos deslizavam suavemente pelas minhas costas, em um movimento que era ao mesmo tempo reconfortante e hipnotizante. O calor do corpo dele envolvia o meu, e pela primeira vez em dias, eu me sentia em paz.Ouvir ele dizer que me amara mudara algo dentro de mim. Era como se uma parte de mim que sempre estivera perdida tivesse finalmente encontrado seu lugar. Eu pertencia a ele, e ele a mim. E, naquele momento, nada mais importava.Mas então Luca inspirou fundo, e eu senti o corpo dele se tensionar levemente sob o meu. Algo estava por vir. Algo grande.— Elena — ele começou, a voz suave, mas carregada de um peso que me fez levantar os olhos para ele. — Preciso te contar algo.Eu me apoiei nos cotovelos, olhando para o rosto dele. Seus olhos estavam sérios, quase sombrios, e eu sent
O ar dentro do barracão era quente e denso, o cheiro de suor misturado com o pó do chão desgastado fazia minha respiração pesar ainda mais. Meu corpo inteiro queimava. Cada músculo gritava, pedindo um descanso que eu me recusava a conceder.Pietro me observava com olhos críticos, seu rosto impassível enquanto eu tentava recuperar o fôlego. A ponta do meu punho tremia levemente, mas eu mantinha a postura, esperando sua próxima instrução. Eu não podia falhar. Não agora. Não depois de Luca ter confiado em mim.— De novo — ordenou Pietro, cruzando os braços. — Sua postura está errada. Você precisa ter controle sobre seus golpes, não apenas jogar o corpo para frente.Engoli em seco, assentindo. Levantei os punhos e ataquei. Pietro desviou com facilidade, pegou meu braço e me g
Minha consciência voltou em ondas, trazendo consigo uma dor surda que pulsava em cada fibra do meu corpo. Meu crânio latejava, meus músculos protestavam a cada respiração. Quando abri os olhos, a escuridão densa do cativeiro me envolveu. O ar era áspero, impregnado com o cheiro de madeira velha e ferrugem. Minha boca estava seca, minha garganta áspera como se tivesse engolido vidro.Tentei me mover, mas algo me impediu. Meu corpo estava sentado em uma cama, e meus pulsos estavam presos por cordas apertadas na cabeceira. Meu coração disparou. Instintivamente, testei a firmeza das amarras, sentindo a dor da fibra cortando minha pele.— Merda — sussurrei, tentando manter a calma.Meu peito subia e descia de maneira irregular. Olhei ao redor, buscando algo que pudesse me ajudar. A sala era pequena e mal iluminada, com paredes de concreto cru e uma única porta de ferro. Nenhuma janela. Nenhuma escapatória aparente.— Alguém me tire daqui! — gritei, minha voz ecoando pelo cômodo vazio.O si
O relógio marcava exatamente onze e meia quando encarei o prefeito sentado à minha frente. O homem suava, mesmo com o ar-condicionado gelando a sala. Ele tamborilava os dedos sobre a mesa de mogno, o olhar inquieto se fixando na taça de uísque à sua frente.— O valor vai dobrar no próximo trimestre — anunciei, girando o próprio copo entre os dedos, observando a forma como ele reagia à notícia.O prefeito arregalou os olhos, sua mão vacilando ao pegar a taça.— Dobrar? Luca, eu já estou no meu limite. Há fiscalização federal no meu pescoço! Se aumentarmos mais, vai chamar atenção.Inclinei-me para frente, apoiando os antebraços sobre a mesa, um sorriso sem qualquer traço de humor se formando em meus lábios.— Então você acha que tem escolha? — Minha voz era baixa, porém cortante. — Se não pagar, quem vai fiscalizar sou eu. E posso garantir que meus métodos são muito mais dolorosos do que os do governo.O prefeito empalideceu, engolindo seco. Ele sabia que eu não estava blefando. Se ten