A manhã estava silenciosa na ala que agora chamava de minha. O cheiro do café fresco se misturava ao aroma salgado do mar, invadindo a ampla cozinha privativa. Eu estava sozinha. Luca havia saído cedo, sem me acordar, e o espaço que ele deixara na cama ainda estava quente quando despertei. Peguei minha xícara, apreciando o calor reconfortante entre os dedos, e fui até a varanda.A vista dali era deslumbrante. O sol nascia no horizonte, tingindo as águas do Mediterrâneo com tons dourados e alaranjados. O vento soprava suave, agitando meus cabelos enquanto eu respirava fundo. Eu precisava me acostumar com essa nova realidade, com essa nova vida. Mas ainda me sentia um peixe fora d'água.O som do elevador se abrindo me tirou dos meus devaneios. Virei-me e vi Pietro entrando no espaço, sua expressão neutra, mas os olhos avaliadores como sempre. Ele não era um homem de muitas palavras, mas sua presença sempre parecia dominar qualquer ambiente.— Bom dia — ele disse simplesmente, inclinando
O cansaço pesava sobre meus ombros quando entrei no quarto. Minhas mãos ainda doíam pelo impacto repetitivo da pistola, e meu corpo estava exausto depois de horas de treinamento com Pietro. O gosto amargo da pólvora ainda parecia impregnar minha língua, misturado com a inquietação que me acompanhava desde que pisei naquele armazém.Eu não estava acostumada com armas. Com a violência. Com essa nova realidade que Luca trouxe para minha vida. E, no entanto, havia algo dentro de mim que se recusava a recuar.Passei os dedos pelos cabelos, soltando um suspiro pesado enquanto desabotoava a jaqueta e a jogava sobre a poltrona. O chuveiro quente parecia a melhor opção para lavar não apenas o suor, mas também a tensão do dia.Antes que pudesse me mover, a porta do quarto se abriu. Luca entrou sem pressa, vestindo apenas uma calça de moletom escura, o peito nu revelando os traços definidos e as cicatrizes discretas que contavam histórias de batalhas passadas. Seu olhar encontrou o meu, avaliado
A noite estava quieta, apenas o som suave das ondas quebrando na praia abaixo da janela preenchendo o silêncio. Eu estava deitado na cama, Elena aconchegada ao meu lado, sua cabeça repousada no meu peito. Meus dedos traçavam círculos lentos em seu ombro, sentindo a maciez de sua pele sob minha mão. Ela estava calma, mas eu conhecia aquela quietude dela. Era o tipo de silêncio que vinha antes de uma pergunta importante.A lua estava alta, iluminando o quarto com uma luz prateada que fazia seus olhos brilharem quando ela finalmente se virou para me encarar. Seus dedos brincavam com os pelos do meu peito, e eu sabia que ela estava pensando em algo. Algo que a perturbava.— Luca... — ela começou, sua voz suave, quase hesitante. — Já pensou em ter filhos?A pergunta me pegou de surpresa, mas não deveria. Era natural que ela pensasse nisso, especialmente agora que estávamos juntos, que ela estava mergulhando cada vez mais fundo no meu mundo. Eu me virei de lado, apoiando a cabeça na mão, e
O cheiro do café fresco enchia o ar da varanda, misturando-se com a brisa suave que vinha do mar. Elena estava sentada à minha frente, seus dedos envoltos em torno da xícara, seus olhos perdidos no horizonte. Ela parecia calma, mas eu conhecia aquela expressão. Era o tipo de quietude que vinha antes de uma tempestade. Eu queria perguntar o que estava passando pela cabeça dela, mas antes que eu pudesse dizer algo, meu telefone vibrou sobre a mesa. Olhei para a tela. Era Matia, meu irmão mais novo. Ele não ligava a menos que fosse algo importante. Atendi, mantendo a voz baixa. — Fala. — Luca, preciso falar com você. Agora. — A voz dele estava tensa, quase urgente. — Onde você está? — perguntei, já sentindo o peso daquela ligação. — Estou na frente da casa. Posso subir? Olhei para Elena, que agora estava me observando com uma sobrancelha levantada. Ela sabia que algo estava acontecendo. Eu balancei a cabeça, dando a ela um sinal de que estava tudo bem, mas ela não parecia convencida
O silêncio era quase absoluto na mansão, exceto pelo leve estalar da madeira quando meus pés descalços tocavam o chão polido do corredor. A noite em Palermo era sempre quente, mas dentro da casa, um frio incômodo se espalhava pelos longos corredores vazios. Luca havia saído para uma reunião com o Conselho da Cosa Nostra, e eu estava sozinha.Ou quase.Quando disse a ele que gostaria de ajudar e descobrir mais sobre toda a traição que tínhamos sofrido, estava falando sério. Mas para isso eu precisava saber mais, precisava ir além da relação com meu marido, e descobrir segredos que as paredes dessa mansão guardavam.Minha pele se arrepiou quando passei pela saída lateral, onde a luz fraca de um poste do lado de fora jogava sombras alongadas contra as paredes. A mansão era grande demais para uma única pessoa, e o silêncio fazia minha mente criar ruídos inexistentes. Respirei fundo e continuei descendo até a cozinha.O aroma de ervas frescas e pão recém-assado me envolveu assim que entrei
Meus passos ecoavam pelo corredor silencioso enquanto eu me afastava da cozinha. O que Glória acabara de me contar ainda girava em minha mente, como uma peça de um quebra-cabeça que não se encaixava completamente. Luca havia sido moldado pelo pai para ser um líder cruel e impiedoso. Mas por quê? O que havia acontecido para que essa mentalidade fosse tão enraizada na família Marchetti?Eu precisava saber mais.Passei pela grande sala de estar e cheguei ao escritório de Luca. A porta estava destrancada, como sempre, pois ele sabia que eu não tinha interesse em me envolver demais nos assuntos da máfia. Mas a verdade era que eu já estava envolvida. E não havia mais como voltar atrás.A penumbra do escritório parecia me engolir assim que entrei. O cheiro do couro dos livros antigos e do uísque sutilmente impregnado no ar tornava o ambiente ainda mais sufocante. Meus olhos correram pelas estantes até pararem no ponto exato onde, dias antes, eu havia encontrado o fundo falso.Respirei fundo
O silêncio dentro do carro era denso, cortado apenas pelo som distante das ondas batendo contra os pilares do cais. Do lado de fora, o porto parecia adornado sob a escuridão da noite, iluminado apenas pelos poucos postes espalhados ao longo do píer.Eu nunca gostei de tocaia. Nunca tive paciência para esperar na sombra enquanto outros faziam o trabalho sujo. Mas, dessa vez, era diferente. Dessa vez, minha esposa estava envolvida.Matia estava ao meu lado, o olhar afiado fixo no iate ancorado a poucos metros dali. Ele segurava um cigarro entre os dedos, mas nem se deu ao trabalho de acendê-lo. Seu foco estava todo na movimentação ao redor do barco.— Isso me cheira a merda — ele murmurou, a voz baixa, porém firme.— Não me importo com o cheiro — respondi, sem tirar os olhos do alvo. — Quero respostas. — Acha que eles são os responsáveis por entregar Elena?Apertei as mãos no volante, sentindo a raiva me percorrer. — Precisariam ter acesso a nossa casa para isso. Ou pelo menos ajuda.
Minha cabeça pesava como se carregasse o mundo inteiro nos ombros. As informações que Vicenti me dera ainda ecoavam em minha mente, cada palavra uma facada que me lembrava de quanto a traição estava enraizada na minha vida. Eu não queria acreditar que tudo tinha começado por causa de um caso entre meu pai e a mãe de Elena. Mas as peças estavam se encaixando, e o quadro que se formava era mais sombrio do que eu poderia imaginar.Quando abri a porta da mansão, o silêncio da casa me envolveu. Esperava encontrar Elena dormindo, ou talvez lendo em nosso quarto, como de costume. Mas não foi isso que vi.Ela estava sentada no sofá da sala de estar, a luz do fogo crepitando na lareira refletindo em seu rosto. Seus olhos estavam fixos em mim, e ao redor dela, espalhados pela mesa de centro, havia papéis. Cartas. Fotos. Meu coração parou por um instante quando reconheci o conteúdo.Ela havia encontrado a caixa.— Luca — ela disse, a voz fria e cortante como uma lâmina. — Você sabia?Eu fechei a