O sol nascente tingia o céu com tons de laranja e rosa, refletindo nas águas calmas do mar. Sentado no deck do iate, segurava uma xícara de café entre as mãos, mas minha mente estava longe dali. Estava presa na noite anterior. Em Elena. No jeito que ela se entregou a mim completamente, confiando de uma forma que ninguém jamais confiou.Eu não queria sentir isso por ela. Não deveria. Sentimentos são uma fraqueza, e fraquezas são luxos que homens como eu não podem se permitir. Mas Elena... Ela não é como os outros. Forte, mas vulnerável. Inocente, mas corajosa. E, por algum motivo que eu não consigo explicar, ela me faz querer ser mais do que sou.Fecho os olhos por um instante, deixando o som das ondas me envolver. A imagem dela vem à minha mente com uma
O vento salgado acaricia meu rosto enquanto Luca acelera o jetski sobre as águas cristalinas. Eu seguro firme em sua cintura, sentindo o calor do seu corpo mesmo através do tecido leve da camisa que ele veste. É a primeira vez em dias que me sinto completamente leve, como se o peso das expectativas e do futuro incerto simplesmente tivessem ficado para trás, dissolvidos pelo sol e pelo mar.Luca pilota com habilidade, cortando as ondas com suavidade, e eu me pego sorrindo, rindo até, conforme a brisa bagunça meus cabelos. Nunca pensei que poderia gostar tanto disso. Nunca imaginei que estaria aqui, sentindo essa liberdade.Mas talvez o mais inesperado seja o homem à minha frente.Luca tem sido... diferente do que eu esperava. Cuidadoso. Atento. Como nesta manhã, quan
O som das ondas quebrando na praia ecoa suavemente pelo quarto, acompanhado pelo balanço das cortinas brancas que dançam com a brisa noturna. Estou deitada na cama, o corpo ainda quente e relaxado após o banho de hidromassagem, mas minha mente não para de girar. Luca está ao meu lado, respirando calmamente, mas eu sei que ele não está dormindo. Há algo no ar, uma tensão que não consigo nomear.Ele se vira de lado, seus olhos escuros encontrando os meus no escuro.— Não consegue dormir? — pergunta, sua voz rouca e suave como o mar lá fora.— Não — admito, sentando-me na cama. — Você também não.Ele sorri, mas é um sorriso curto, quase distraído. Levanta-se e caminha até a janela, olhando para o oceano. A luz da lua ilumina seu perfil, destacando a tensão em seus ombros.— Vamos fazer algo — ele sugere de repente, voltando-se para mim. — Que tal prepararmos o jantar juntos?Concordo com a cabeça, mesmo sentindo que há algo mais por trás dessa proposta. Deslizo para fora da cama e o sigo
A chuva fina tamborilava no vidro da janela, misturando-se ao som suave das ondas quebrando na praia. Meu peito subia e descia devagar, tentando acompanhar a calma ao meu redor, mas a verdade era que dentro de mim tudo parecia desmoronar.Matia entrou na casa com passos firmes, seus olhos varrendo o ambiente antes de pousarem em mim. Ele me cumprimentou com um aceno de cabeça, respeitoso, e foi nesse momento que percebi o peso do que estava prestes a acontecer. Eu não era mais apenas Elena, eu era a matriarca da Cosa Nostra. E seja lá o que estava por vir, exigiria mais de mim do que eu poderia imaginar.Os três nos sentamos à mesa da cozinha. Luca estava tenso ao meu lado, os dedos entrelaçados sobre a superfície de madeira como se precisasse de algo para se agarrar. Matia manteve-se impassível, mas eu percebia a sombra em seu olhar. Do lado de fora, os soldados permaneciam atentos, suas silhuetas rígidas contra a escuridão da noite.— O que está acontecendo? — minha voz cortou o sil
O ar dentro da cozinha parecia rarefeito, como se o peso daquela revelação tivesse drenado todo o oxigênio do ambiente. Meu peito subia e descia em um ritmo errático, e, por um momento, tudo ao meu redor ficou turvo. Precisava sair dali. Precisava de ar. De espaço. De silêncio.Levantei-me de súbito, a cadeira arrastando no chão com um ruído agudo. Luca e Matia me observaram, alertas, mas não disseram nada. Apenas deixaram que eu passasse pela porta da cozinha e saísse para a varanda, onde a chuva fina ainda caía sobre o mar agitado.A brisa fria bateu contra meu rosto, e fechei os olhos, tentando me ancorar na sensação. Mas nada parecia real. Nada fazia sentido.Meu pai… não era meu pai. Eu não era quem pensei ser a minha vida inteira. Eu era filha de um inimigo, de um homem que estava disposto a me usar como
Quando o barco finalmente tocou o cais de Palermo, senti a tensão crescer. O ar salgado da baía parecia mais pesado do que nunca, como se o destino estivesse prestes a se abrir com toda a sua brutalidade. Elena estava ao meu lado, silenciosa, mas seu corpo estava tenso, provavelmente sentindo o mesmo que eu. Quando os carros da máfia se aproximaram, cercados por nossos soldados, o peso de tudo o que estava acontecendo parecia cair sobre meus ombros, mais uma vez.Antes de entrar no carro, preciso falar com um dos soldados. Ele se mudou com cautela, e eu vi o nervosismo em seus olhos. Ele sabia, assim como eu, o que estava prestes a vir. Nossos sogros tinham usado a filha deles como moeda de troca, jogada com a vida dela, e agora tinham um ponto de desmascará-los, expor toda a verdade. Minha raiva era uma chama que queimava por dentro, e, se eles ainda estivessem
A escuridão foi se dissipando aos poucos, dando lugar a uma luz fraca e um zunido incômodo nos meus ouvidos. Meu corpo parecia pesado, como se estivesse coberto por um cobertor de chumbo, e levei alguns segundos para reconhecer o cheiro forte de antisséptico ao meu redor. Hospital.Pisquei devagar, tentando me situar, sentindo um peso incômodo no peito. As imagens voltaram de forma fragmentada — tiros, gritos, sangue no chão frio. Meu estômago revirou. Virei o rosto para o lado, sentindo a pele sensível, e foi quando o vi.Luca estava sentado em uma poltrona ao lado da cama, cotovelos apoiados nos joelhos, a cabeça baixa. Seus dedos estavam entrelaçados, os nós brancos de tanta força. Quando ele ergueu o rosto, seus olhos azul-escuros me analisaram com intensidade. Um alívio contido passou por suas feições antes que voltasse a assumir aquela expressão fria e controlada.— Você acordou.Minha garganta estava seca. Tentei engolir, mas parecia que tinha engolido areia. Luca se levantou i
O ronco do motor soava alto no silêncio da madrugada enquanto eu dirigia pelas estradas desertas. Meus dedos estavam apertados ao volante, a tensão ainda pulsando no meu corpo. Deixei Elena no hospital com minha mãe e Fiorella, mas minha mente não conseguia descansar. A promessa que fiz a ela ecoava na minha cabeça: ensiná-la a se defender. Proteger Elena não era uma opção. Era uma necessidade.Mas, antes disso, eu precisava de respostas.Pietro e Matia já estariam me esperando. Eu sabia que eles haviam conseguido capturar um dos desgraçados que atacaram o carro de Elena. O russo ainda estava vivo. Por enquanto.Quando cheguei ao barracão abandonado, o cheiro de ferrugem e umidade se misturava com o leve odor metálico de sangue. Saí do carro e caminhei para dentro do galpão escuro, iluminado apenas por algumas lâmpadas penduradas. O ar era denso, carregado de algo primitivo. Um som de respiração pesada e gemidos baixos veio da frente.— Até que enfim — Matia murmurou, encostado em uma