Eu sabia que o tempo era crucial. Quando entrei na biblioteca novamente, encontrei Fiorella e Elena sentadas, ainda em silêncio. Matia estava ao lado, com a expressão fechada, enquanto ele mantinha um olhar atento para a porta, como se estivesse esperando que algo mais acontecesse. A tensão no ambiente era palpável.Antes de entrar, dei ordens claras a Matia. Ele sabia o que fazer.— Matia, leve os pais dela de volta ao quarto. — Eu falei, com um tom que não aceitava resposta. Ele assentiu, imediatamente se afastando para cumprir o que eu havia pedido. Era uma medida necessária, ainda mais agora que sabia da traição do meu sogro. Ele não fazia parte dessa conversa. Não ainda.Ao entrar na sala, percebi a quietude de Elena. Ela olhou para mim com um olhar indecifrável, mas ainda era óbvio que ela estava absorvendo tudo de maneira lenta e cuidadosa. Fiorella, no entanto, tinha uma expressão diferente: firme, séria, como se estivesse tentando processar o que acabara de acontecer.Uma empr
A tensão na sala ainda era palpável quando Matia falou, quebrando o silêncio com sua voz firme.— Vamos dar um jeito de adiantar a cerimônia para este final de semana — ele disse, olhando diretamente para mim. — Não temos tempo a perder. E Elena... ela deve ser apresentada como matriarca da família na mesma noite.Fiorella se virou para Matia, com uma expressão de surpresa misturada à preocupação. Antes que ela pudesse responder, eu interrompi, firme.— Não há outra opção. A cerimônia será adiantada, e Elena será apresentada. Não podemos mais esperar. A segurança da minha mulher está em primeiro lugar.O tom de minha voz d
A tensão entre nós parecia ter diminuído, mas a atmosfera ainda estava carregada de algo mais profundo, algo que eu não conseguia exatamente nomear. Ela me olhou com aqueles olhos verdes, e por um momento, tudo ao nosso redor desapareceu. A única coisa que importava era ela.Fui atraído para mais perto, o impulso em meu corpo difícil de conter. Sem dizer uma palavra, levei a mão dela até meu peito, o toque suave, como se fosse algo inevitável. E então, quase sem perceber, meus lábios se moveram até os dela.Foi um beijo rápido, leve, mas carregado de uma intensidade que me pegou de surpresa. Por alguns segundos, apenas o som de nossa respiração preencheu o espaço, e no instante em que me afastei, pude sentir o gosto do que acabava de acontecer.
A água morna da banheira envolvia meu corpo, mas não era suficiente para acalmar a agitação que tomava conta de mim. A véspera do casamento deveria ser um momento de preparação, de reflexão tranquila, mas minha mente estava longe de ser pacífica. Em vez disso, ela vagava incessantemente para ele.Meus dedos traçaram círculos na superfície da água, distraídos, enquanto meus pensamentos mergulhavam mais fundo. O beijo. Aquele beijo. Era tudo o que eu conseguia pensar. Nunca havia sido beijada antes, nunca havia sentido algo tão... intenso. E agora, cada detalhe daqueles poucos segundos estava gravado em mim, como uma marca que não poderia ser apagada.Eu fechei os olhos, deixando a memória tomar conta. Seus lábios tocando os meus, suaves, mas carregados de uma promessa que eu não sabia decifrar. Aquele momento foi breve, mas mudou algo em mim. Algo que eu não sabia que existia. E quando ele se afastou, eu ainda conseguia sentir o calor do seu toque, o sabor dele em meus lábios, como se e
O dia estava apenas começando quando saímos da mansão e nos dirigimos ao spa que Fiorella havia escolhido. O ar fresco da manhã ajudava a aliviar um pouco da tensão que ainda pesava sobre meus ombros, mas era impossível afastá-la completamente.Fiorella, no entanto, parecia determinada a transformar o dia em algo leve e agradável. Assim que chegamos, fomos recebidas com toalhas felpudas, chás aromáticos e uma agenda completa de tratamentos de beleza e relaxamento.— Primeiro, uma boa massagem para tirar essa tensão toda — Fiorella disse, piscando para mim. — Não queremos uma noiva estressada no altar.Sorri, um pouco tímida, e a segui para a sala de massagens. Assim que me deitei na maca e senti as mãos experientes da massagista começarem a desfazer os nós nos meus ombros, soltei um suspiro de alívio.— Melhor, não? — Fiorella perguntou da maca ao lado.— Muito — murmurei, fechando os olhos por um instante.— Sabe, isso me lembra do dia antes do meu casamento com Giovanni.Abri os olho
O subsolo da catedral de Palermo estava iluminado apenas pelas velas dispostas ao redor da grande mesa de mogno. O cheiro de incenso e pedra antiga misturava-se ao aroma sutil do vinho nas taças. Meus irmãos, Pietro e Matia, estavam ao meu lado, enquanto os chefes das famílias aliadas ocupavam seus lugares, aguardando minha palavra.Respirei fundo antes de falar, minha voz saindo firme e carregada de raiva contida.— Sofremos um ataque em minha casa. Entraram em meu território, violaram minha segurança. Isso não foi obra de qualquer um. Alguém entre nós traiu a Cosa Nostra.O murmúrio que se seguiu foi imediato. Homens experientes, alguns mais velhos que meu pai quando governava esta mesa, olhavam-se com expressões de incredulidade.— Impossível! — um deles exclamou. — Todos aqui são leais!Pietro
O galpão estava escuro e abafado, as paredes de concreto impregnadas com o cheiro de umidade e sujeira. O som dos nossos passos ecoava na imensidão do espaço vazio, enquanto as lâmpadas de luz fria piscavam intermitentemente, criando uma atmosfera ainda mais opressiva. Matia e Pietro seguiam atrás de mim, os olhos fixos no caminho à nossa frente, cientes do que viria. O peso da decisão pesava no ar, mas a determinação em meu peito me impedia de hesitar.Dentro do galpão, dois homens estavam presos a cadeias de ferro, seus corpos pendendo para frente, exaustos e sujos. Seus olhos estavam inchados, provavelmente das pancadas que haviam recebido antes de nossa chegada, mas ainda havia uma chama de desespero neles. Eles sabiam que estavam em nossas mãos agora.Matia se aproximou de um deles, sua expressão fria e calculista.— Está pronto para começar? — ele perguntou, sua voz baixa, mas firme.Eu não olhei para Matia. Minha atenção estava totalmente voltada para os dois homens à minha fren
O espelho reflete uma imagem que ainda não consigo reconhecer completamente. Eu, Elena Santoro, vestida de noiva, cercada por um turbilhão de pessoas que orbitam ao meu redor como estrelas em uma galáxia distante. As maquiadoras, com seus pincéis suaves, deslizam sobre minha pele como se estivessem pintando uma tela frágil. As cabeleireiras ajustam cada fio do meu cabelo, trançando e prendendo com delicadeza, enquanto minha mãe observa tudo com um sorriso tenso, tentando disfarçar a preocupação que vejo nos cantos de seus olhos.O vestido branco, imaculado, pesa mais do que deveria. Não é o tecido, é o significado. Cada bordado, cada pérola, parece carregar uma promessa que não sei se conseguirei cumprir. Luca Grecco, o Don da Cosa Nostra, meu noivo, meu protetor, meu... algo que ainda não consigo definir completamente. Ele prometeu que nada me aconteceria, que estaria a salvo em suas mãos. Mas as sombras da ameaça que paira sobre nós são como uma névoa espessa, impossível de ignorar.