Capítulo 0004
Estou em uma nuvem de prazer da qual não quero descer. Os beijos vão e vêm, assim como as carícias em minhas pernas nuas. Me contorço entre os lençóis brancos e desfruto do calor do homem sobre mim. Não quero que isso nunca acabe.

—Você é linda, Marianne — sussurra ele em meu ouvido.

—Você também é lindo — sussurro eu, soando tão ousada como nunca havia sido.

Mordo seu lábio com delícia e isso o anima a ir mais rápido. A forma como está entrando e saindo do meu corpo me faz soltar muitos gemidos lastimosos que nem sabia que podia fazer.

—Se for demais para você, me diga... — soa contido.

Demais para mim? Que coisas ele dizia? O pequeno incômodo ou a pontada de dor que senti no início? Isso não é nada comparado ao prazer que me domina. O sexo era a melhor coisa do mundo, nem sei do que eu tinha tanto medo.

—Se for pouco para mim também devo te dizer? — digo acariciando seu rosto — Vá mais rápido.

E mais, e mais rápido ele foi.

.....

Acordo rindo. Sim, rindo e com uma terrível dor de cabeça. A pior que já tive em meus 24 anos de vida. O corpo sentia pesado e minhas pálpebras estão tão cansadas que não me atrevo a abri-las. Não que fosse necessário. Me mexo na cama tentando prolongar esse maravilhoso sonho úmido que acabei de ter.

—Quem dera tivesse sido de verdade — rio mais levantando meu braço acima da cabeça — Dar minha virgindade a um desconhecido em vez de tê-la dado a Andrew. Se ele soubesse, choraria como um bebê.

Tenho que parar de rir porque me surpreende estar de tão bom humor fora do meu sonho. Então, faço o esforço de abrir meus olhos para ver o teto que tenho sobre minha cama.

—O teto do meu hotel sempre foi tão alto assim? De onde saiu esse lustre gigante? — pergunto percebendo tal anomalia.

Até onde podia lembrar, o quarto em que eu havia ficado era do tamanho de uma caixa de sapatos. Olho para a direita, há uma porta francesa dupla de aspecto luxuoso; olho para a esquerda, há uma varanda linda que dá para um parque da cidade. Depois olho para baixo.

Estou coberta por um lençol. Um que levanto para verificar como estou.

Nua. Estou nua.

Dou um grito tão forte que sinto minha garganta arder. Em seguida, me levanto da cama envolta no lençol e girando meu pescoço para todos os lados.

—Não pode ser real. Não pode ter sido real. Eu não dormi com um estranho — olho meu reflexo de corpo inteiro em um espelho — Você não dormiu com um estranho. Foi um sonho. Teve que ser um sonho. Concordamos que foi um sonho?

Se eu queria que meu reflexo falasse para me apoiar, quase fala para me dizer o contrário. A superfície refletora me ajuda a perceber que tenho uma marca de chupão no pescoço. Não só isso, meus lábios estão vermelhos e inchados. Costumavam ficar assim por beijos, muitos beijos.

O pior são as manchas avermelhadas que há na cama. Tenho que vê-las mais de perto, e tocá-las para confirmar. Era sangue. Meu período não estava programado para chegar tão cedo. Também não posso ignorar o desconforto do qual estou ciente entre minhas pernas. Se sente estranho. Simplesmente estranho.

Me jogo sentada na cama atônita pelas consequências do álcool. Das minhas três margaritas.

—Eu fiz. Perdi minha virgindade com um desconhecido — digo sem acreditar.

Para completar meu martírio, olho para o criado-mudo, ali há um envelope que tem escrito em uma caligrafia muito bonita: "Para Marianne". Pego o envelope e tiro dele um pequeno cartão com uma mensagem manuscrita.

"Isso foi encantador. Espero que nos encontremos novamente".

Mais abaixo no cartão havia um número de celular. E um post-scriptum.

"Não leve o resto do conteúdo como uma ofensa. É uma recompensa pela minha péssima educação".

Exploro mais o envelope para saber o que havia dentro. Era dinheiro. Ele havia me deixado uns 1000$, como se eu fosse uma prostituta, como se eu tivesse pedido. De raiva jogo o dinheiro na cama e mordo minhas unhas, agonizante pelo que fiz.

.....

Toco com desespero a campainha do apartamento de Giana. Não me basta uma vez. Nem duas, nem três. Aperto por cinco vezes consecutivas.

—Quem quer que esteja tocando minha porta a essa hora, é melhor que tenha uma boa desc...

O tom sonolento de Giana combina com sua aparência ao abrir a porta. Ela está vestindo um pijama largo e seu cabelo está despenteado. Quando me vê, se surpreende e me segura pelos braços assustada.

—O que aconteceu com você ontem à noite? Você está bem? Por que está usando o mesmo vestido de ontem?

—Estou bem, ou acho que estou. Você está sozinha? Posso entrar? — peço cansada.

—Claro que pode entrar. Esta é sua casa e mesmo se eu tivesse trazido alguém ontem à noite, continuaria sendo. Entre — me convida.

Entro em seu apartamento tipo estúdio. É pequeno mas muito aconchegante. Me lembra o que eu tive que alugar quando atingi a maioridade e saí correndo da casa de Sergio. Mamãe morreu quando eu tinha 15 anos, tive que viver 3 anos com Sergio, foi horrível. Depois vivi sozinha até que Andrew me pediu em casamento há alguns meses. Agora parece que vivo em um hotel.

—Quer café? Um remédio? Ligar para alguém? — Giana soa muito preocupada.

—Estou com uma aparência tão ruim assim?

—Não, é que ontem à noite você foi embora sem avisar para onde. Não respondeu nem minha mensagem, nem minhas ligações. Estava mais ou menos preocupada. Me preocupei à toa?

Era complicado explicar meu paradeiro da noite passada, também vergonhoso, muito vergonhoso. Mas precisava fazê-lo, pego Giana pela mão, para que se sente comigo em seu sofá.

—Dormi com um cara que não conheço — confesso aterrorizada.

Giana abre seus olhos como se fossem saltar. Fica irritada imediatamente.

—Ele te forçou!?

Na hora que estive acordada, o resto da noite foi se revelando na minha cabeça aos poucos. Fui com meu atraente estranho por vontade própria, por essa mesma razão acabei com ele em um clube próximo e terminei bebendo mais um par de margaritas. Na pista de dança ele me puxou para seu corpo, me beijou como um animal e me propôs ir com ele.

Ali para as cinco margaritas, decidi que era uma boa ideia ir com um desconhecido para não sabia onde. Acabamos no hotel. Tivemos sexo. Sei que foi sexy, sei que foi bom e sei que me deu muito prazer. Mas... não estava certo por um grande detalhe.

—Ele não me forçou. Fiz porque quis — digo envergonhada.

—Se você fez porque quis. Por que está assim? Ele não se despediu de você ou pediu para você pagar o quarto de hotel?

—Nem uma coisa, nem outra, suponho. Ele me deixou um número e o quarto pago...

Giana não compreende meu sofrimento.

—Durou 20 segundos? Tinha mau hálito? — investiga.

Meu estranho não durou 20 segundos, durou mais, muito mais. Também não tinha mau hálito que eu me lembre, simplesmente cheirava a álcool. Ele também havia bebido como eu. Nego com minha cabeça.

—Então o que aconteceu? — ela de repente parece se dar conta de qual é meu medo — Você se sente culpada por ter tido relações sexuais assim tão de repente depois do seu rompimento com Andrew, não é? Você não tem que se sentir culpada, lembre-se do que ele te fez.

Nego com mais força e à beira das lágrimas.

—Eu era virgem.

—Como? — ela não entende o que eu digo.

—Foi minha primeira vez tendo sexo com um homem — confesso.

Minha amiga não acredita de primeira, na segunda vez analisa melhor e na terceira, ao ver minha cara em um beicinho molhado por minhas lágrimas, ela acredita.

—Você não estava namorando Andrew há um ano? Como podia continuar sendo virgem?

—Ele prometeu que me esperaria até o casamento. O que é esperar um ano e alguns meses quando você ama alguém de verdade? Ele foi o único homem por quem me apaixonei, íamos ter uma família, eu não queria que ele me deixasse por me considerar fácil. Mas fui dormir com outro homem em uma noite após conhecê-lo. Sou fácil.

Desta vez explodo em choro. Minha sorte não podia ser pior a esse ponto. Giana me abraça com força e acaricia minhas costas com afeto. Seu abraço me faz sentir melhor. Era bom ter alguém com quem chorar.

—Minha querida, você não é fácil por ter sexo com um cara bonito. É para isso que serve o sexo. Foi um erro do qual você vai aprender — me consola — Você se protegeu? Diga que sim, senão teremos que ir à farmácia.

Me separo dela secando minhas lágrimas. Faço um esforço para lembrar se houve proteção, e vem à minha mente a imagem dele tirando o preservativo para jogá-lo fora, antes de eu adormecer.

—Sim, ele usou preservativo.

—Bem... não durou alguns segundos, não tinha mau hálito, pagou o hotel, usou camisinha, e... foi bom?

Relembrando as cenas da noite passada, uma sensação estranha percorre minhas pernas. A forma como ele me beijava, tocava e olhava lascivamente, me fazem corar. Giana contém seu sorriso porque meu rosto diz tudo.

—Sim... foi bom...

—Que cara é essa, sua safadinha? Quer repetir? Como ele se chamava?

Me esforço novamente para lembrar seu nome, está na ponta da língua. Sei que ele me disse entre a música do clube. Consigo lembrar.

—Luciano... esse era o nome que ele me deu. Mas não acho que vou contatá-lo novamente, foi muito vergonhoso.

—Luciano? Não me soa familiar. E se você não quer ligar para ele, tudo bem. Você vai ficar bem. Eu prometo.

Giana tinha razão. Eu ficaria bem. Tinha coisas mais importantes com que me preocupar na minha vida diária do que com um desconhecido que não veria nunca mais.

Certo?
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