É bom ter uma amiga que se preocupe com você. Giana me confirmou isso ao me deixar dormir em seu apartamento no sofá da sala até que eu consiga um lugar para alugar. Teria que fazer malabarismos com meu orçamento e esperar meu novo salário no final do mês para ter uma soma decente. Não é que eu seja ruim com minhas finanças, é que tenho pagado algumas dívidas da minha mãe e meu salário não era muito grande.Eu tinha um lugar para ficar que não fosse um hotel pelas próximas noites. Isso é tranquilizador. Eu estava muito, muito tranquila em relação à minha vida e meu lugar no universo. Disso me convenço no elevador do meu trabalho. Respiro fundo e aperto como se fossem me roubar minha pasta.—Está pensando de novo no desconhecido de ontem à noite? — pergunta Giana divertida.—Não. Estou pensando que hoje será um bom dia — falo com otimismo. Aquele que eu sentia, muito, muito dentro.—Não que eu queira arruinar seu positivismo, mas você não sentiu algo estranho no ambiente da recepção? —
Como a virgem que eu havia sido durante quase toda a minha vida, o constrangimento que estou sentindo por ter tão perto meu companheiro de bebidas e cama é novo para mim. Vale destacar que não planejei dormir com meu novo chefe, igualmente, vale destacar que minha reação instantânea é abaixar o olhar e encolher meu torso nesta cadeira.Se eu me esconder, talvez, só talvez ele não me veja.—Como eu estava dizendo, Luciano está encarregado das operações no setor imobiliário das empresas Brown em nosso país. Junto com sua experiência e os contatos que tem no resto do mundo, esperamos abrir nossas asas. Como tem sido o pedido de uma grande maioria de vocês — meu pai fala com um toque de ressentimento notório.Ele não queria fazer isso por vontade própria, agora que leio os documentos na mesa posso descobrir que dos 60% de investimentos líquidos que possuía, vendeu 50% para Luciano, 4% para a firma de Andrew e os 6% restantes ele conservou.Luciano Brown de alguma forma deu uma oferta melho
Luciano ainda está absorto em muitos documentos espalhados na mesa. Está riscando-os enquanto os analisa com sua caneta. Percebo uma expressão de zombaria. Seus lábios são muito expressivos assim como seus olhos.—Não sou advogado. Nem me considero um senhor. Pelo visto, iniciamos nossa primeira disputa de trabalho — comenta — Você pode me chamar de Luciano, já que entramos em confiança rapidamente.Meu estômago se revira com esse comentário insinuante. Se eu tinha uma breve esperança de que ele não me reconhecesse e tivesse bebido mais do que eu, estava acabada. Dito isso, eu tinha várias opções:Opção A: Aceitar o que havia ocorrido. Implorar por sua discrição e que esquecêssemos o que aconteceu.Opção B: Negar até a morte. Ele pode se lembrar, eu não.—Desculpe, mas deve estar me confundindo com outra pessoa. Não considero que tenhamos "entrado em confiança rapidamente". Não mais rápido do que o senhor possa ter feito com os outros acionistas, é claro — digo escolhendo o caminho da
—Isso é... verdade? Você não está procurando uma desculpa para se vingar de mim? — digo desesperançada.—Por que a filha do fundador desta empresa tem tanta dificuldade em aceitar que isso também joga a seu favor? — indaga curioso.Esse era o problema. Meu pai nunca tinha me favorecido antes. Com exceção de me deixar ser estagiária ou aprovar que eu tentasse vender um edifício em ruínas que ninguém queria vender.—Você deve ter sido educada com grandes expectativas e ambições... — insinua como quem não quer nada — Saberá ao que está se enfrentando. Pode se retirar.Sem palavras abro a porta para sair, embora ele me fale antes de eu sair.—É um projeto ambicioso, gosto de pessoas ambiciosas. Não me decepcione nisso, posso perdoar e aceitar a rejeição. Não perder meu dinheiro — assegura atento aos seus documentos.Nem sei o que dizer a ele. Estou muda de impressão com tantas notícias novas de uma só vez.***Digito com uma força insólita no meu pobre computador de mesa. Estou pesquisando
Ela não acredita em mim quando me ouve. Mas minha cara de culpa, vergonha e dor a convence. Eu não costumava mentir, não sobre essas coisas.—Não acredito. Você está mentindo.—O que eu mais queria era estar morta? Não estou — me lamento.—Ele te reconheceu? O que ele disse sobre isso? Vocês poderiam ter conversado! — quer saber agitada.—Não tive nem uma chance de me esconder. Ele me reconheceu na hora. Pediu para falar comigo a sós, para me entregar o projeto e para... insinuar que sabia quem eu era.—O que você respondeu?!—Fingi não conhecê-lo. Ele não gritou ou me ofendeu diretamente, mas disse em poucas palavras que acreditava que eu estava negando para tirar algum proveito mais adiante. Que eu sabia que ele compraria a empresa e usei isso a meu favor. Me chamou de interesseira — explico o motivo da minha amargura.—Que falta de respeito da parte dele — se ofende como se tivessem dito isso a ela.—Foi mesmo. Ele não podia ser mais cavalheiro comigo, não é? Que tal me acordar ante
Eu não tinha pretensões de rainha, foi uma necessidade ficarmos até essa hora, trabalhei desde baixo nesta empresa, também não merecia ser traída pelo meu ex-noivo com minha própria meia-irmã. O que mais me irrita é que tenham me acusado de ser amante de um senhor casado que não fez nada além de ser gentil comigo. Como podiam ser tão cruéis?As portas se abrem de repente. Me dando um segundo para limpar meus olhos, não o suficiente.Luciano está do outro lado do elevador, e percebeu que eu estava chorando. Ele se surpreende ligeiramente com isso, só por um instante. Depois entra e se posiciona ao meu lado, fechando as portas.Isso é, no mínimo, incômodo. Pisco muito para que meus olhos sequem. Não posso tocá-los novamente.—Você costuma sair a esta hora, Marianne? — pergunta para quebrar o silêncio.—Foi uma circunstância especial, desta vez, pelo projeto designado, senhor Brown — respondo.—Oh. Você esteve elaborando uma forma pior de me chamar durante o resto do seu expediente? — diz
Minha vida nestas últimas duas semanas consistia em viver de tragédia em tragédia. Outra prova disso estou vivendo com as batidas constantes que ouço vindo do lado. Não vou ser criativa com adivinhações, é o som que descobri ontem à noite da cabeceira da cama de Giana contra a parede. Sim, ela está fazendo sexo com o rapaz do encontro de sexta-feira passada no quarto dela.Este era um apartamento tipo estúdio, havia uma meia parede dividindo "o único quarto" e esta área com sofá e cozinha. Faltavam paredes, o som flutuava à direita e à esquerda. Digamos que tenho sido uma ouvinte privilegiada de coisas que não quero ouvir.Tento me acomodar em cerca de cinco posições diferentes no sofá da sala e tapar os ouvidos com o travesseiro que tenho. Não consigo, continua se ouvindo tudo claramente, tão claramente, que me sinto uma pervertida.—Derek, vá mais devagar, a cama está fazendo muito barulho — Giana acha que diz em voz baixa.—Não deve estar se ouvindo. Se não sua amiga teria nos dito
—Quem era? — pergunta Giana saindo com um roupão de seda amarrado na cintura.—Finalmente enviaram minhas roupas — digo exausta e procurando um estilete na cozinha para abrir as caixas.—Já era hora, não? Por que Andrew demorou uma semana para enviar suas coisas? Você não tinha falado com a empregada para que embalasse para você? — minha amiga cruza os braços.—Tinha falado. Mas ele é um garoto rancoroso, teve que atrasar o envio. Aposto que, se não tivessem essa festa de pré-noivado hoje à noite, não teria me enviado nada. É bom que eu tenha tido o anel como refém durante esse tempo — explico sentando no chão.—Festa de quê? — ela ergue uma sobrancelha.—"Pré-noivado". Eles querem salvar as aparências me usando, e eu quero encontrar uma forma de dar o que eles merecem. Deve haver alguma maneira — abro minha primeira caixa com cuidado.—Hmmm. Para mim, parece que a melhor forma de se "vingar" é explorando seu talento e se curando por si mesma. Não perca energias com esse tipo de pessoa