Também não foi ele, quando me levou a um ginecologista amigo dele naquela noite. Ele fez com que me examinasse, com ele presente, ele mesmo queria ver o monitor com meu útero vazio. Ele falou sobre um aborto naquela mesma noite, um aborto que não fazia sentido porque… Jesus e eu nunca tínhamos feito sem proteção. Ele me cuidava tanto, e eu o amava tanto. Cada vez que fizemos amor, foi lindo, foi perfeito, foi espiritual. Mas naquele momento… tudo se sentiu tão sujo.Talvez eu devesse protestar, talvez eu devesse tentar escapar, mas eu não era eu. Eu não… conseguia assimilar. Também não conseguia assimilar como Mauro conseguiu me tirar naquele estado e ninguém disse nada. Nenhum funcionário com quem eu troquei olhares me ajudou, nem o médico que me viu machucada fez isso. Ele se limitou a examinar entre minhas pernas.Foi… traumático.Mauro decidiu falar comigo no dia seguinte, ele me enviaria com minha mãe para o exterior. Adeus aos planos de estudar onde eu queria, adeus a Jesus. E qu
Em vez de me esquecer dele, eu investiguei mais e mais para perceber que algo ruim havia acontecido com Jesus. Eu pude comprovar isso ao localizar onde ele morava, ele ainda morava na mesma casa de sempre da mãe dele. Aquela casinha que ele disse que não gostava para a mãe dele, e sonhava em comprar uma maior. Eu fiquei apavorada porque eu não devia estar lá, se Mauro descobrisse, mas eu precisava saber e precisava que Jesus soubesse que eu ia me casar.Ele me tratou mal de novo.E eu pude comprovar, eu não havia me esquecido do que sentia por Jesus.Eu não podia me casar, eu precisava de mais tempo. Mais tempo para explicar minhas ações a Jesus, para que ele me falasse, apenas me falasse sobre o que havia acontecido. No entanto, eu ainda tinha tanto medo de Mauro, que cada vez que tentava me aproximar dele era às escondidas ou de surpresa.Eu também não podia cancelar aquele casamento, Mauro vinha falando sobre isso há anos. Se eu cancelasse… eu temo pela minha vida. Daí surgiu meu pl
Narrado por Emma BianchiTenho que fazer um grande esforço para mover minhas pernas com o peso deste vestido. Mesmo assim, tentei alcançar Jesus nesta loja de noivas.— Espere! Vamos conversar! — peço desesperada.Ele para de andar, se vira para me ver com uma máscara de indiferença.— Não temos nada para conversar, senhorita Emma — ele diz — Volte para sua prova. Vou me retirar por um instante.Jesus tenta continuar andando, mas eu o pego pelo braço. Ele fica impaciente ao olhar para os lados, algumas funcionárias estão nos olhando disfarçadamente, incluindo uma que estava na minha prova, ela está parada na porta, como esperando saber o que vai acontecer.— Eles estão nos vendo — ele sussurra entre dentes.— Que nos vejam o quanto quiserem. Precisamos conversar… — imploro com os olhos marejados.— Do que vamos conversar além do que já conversamos? — ele desvia o olhar, era como se me ver o machucasse.— Talvez de como você me tratou desde que nos reencontramos. De todos os equívocos q
— Deixe-me ajudar, ou você vai acabar caindo com esse vestido… — ela menciona.— Se eu cair, você vai amar… — respondo de má vontade.— Pode ser, eu não preciso de incentivo para te empurrar — ela sorri enquanto voltamos — É para isso que você vai se casar com Loren? Para ir atrás de outro homem que não é ele?— Você sabe de tudo, não é? — sorrio com hipocrisia como ela faz.— Quase, mas eu não sabia do seu passado com ele… — ela olha para onde Jesus está — Ele estava desesperado por conseguir um emprego, e é primo de um dos meus funcionários mais confiáveis. É isso, um funcionário que eu respeito muito.As palavras de Sara me impactam, eu não esperava a última parte, nem que ela dissesse isso parecendo honesta antes de me soltar. Eu a observo enquanto ela vai se sentar, enquanto minhas amigas me perguntam se estou bem. Eu digo que não, que estou muito sobrecarregada com os preparativos e que preciso de um tempo.Elas entendem e nós acabamos adiando este encontro para algumas semanas d
Minha mãe opera em situações de emergência perfeitamente, está acostumada a isso. Ela abaixa a descarga, pega guardanapos e me faz levantar do chão. Ela começa a limpar minha boca.— Você sim pode continuar com isso. Você tem que continuar com isso. Do que nós estávamos falando? — ela diz em um tom suave.— Eu o vi de novo… — eu revelei — Ele me odeia, não quer saber nada de mim.Ela me olha com paciência e um toque de tristeza. Ela termina com o guardanapo.— Minha querida, seu relacionamento com aquele rapaz aconteceu há muitos anos. Foi um amor de juventude. Você o idealizou, deixe-o ir. É o mais conveniente para todos.— Para todos ou para meu pai? Porque se Jesus não tivesse aparecido de novo, eu ainda não queria me casar. Eu sinto que estou me afogando e queria… só queria… parar com isso. O que eu faço? Me jogar na frente de um carro ou pelas escadas? Se eu terminar com as pernas quebradas, Mauro vai entender que eu não quero me casar e vai parar de ameaçar nos bater, nos matar?
Acho que a Emma se deu mal, lá a vejo indo embora apoiada por seu séquito de amigas, e cabe a mim fazer isso. Voltar para meu carro, aquele onde Jesus está me esperando dentro. Algo diferente acontece em nossa dinâmica. Sempre que viajamos juntos no meu carro, ao entrarmos, ele espera que eu entre para abrir a porta para mim, depois ele entra.Eu não pedi, mas Jesus é tão ele que faz por vontade própria. Mesmo assim, hoje não é um desses dias. Infelizmente, ele está trancado no meu carro, devo imaginar que está passando mal. Tenho que bater no vidro para que ele me abra.Ele termina de fazer isso, e eu de entrar ao seu lado. Quando entro, o vejo com um lenço de papel amassado na mão e a ponta do nariz vermelha.— Desculpe por não tê-la visto, senhorita Sara, tenho alergia — ele diz.Eu não acredito. Acho que o pobre estava chorando.— Alergia? A que você é alérgico para não se submeter mais ao que quer que desencadeie sua alergia? — pergunto suavemente.— A poeira, pólen, gatos e cacho
Aqui Jesus fica sério, diria que fica chateado, embora controle.— Que tipo de futuro ou proteção eu posso oferecer a Emma se ela decidir me escolher? Você não pensou nisso? Eu não sou ninguém neste momento.Eu contenho um som de impotência na minha garganta, olho para o teto estressada, depois para Jesus.— Trabalhar para aquele Mauro te danificou a cabeça, claro que você é alguém, todos nós somos alguém, não importa quanto dinheiro temos nas contas bancárias — argumento.Isso o machuca mais, ele para de me olhar, não quer falar e eu entendo desta vez. Chegamos ao local indicado por mim, que não era nada menos que a mansão Brown. Tão congelada no tempo e de aparência encantadora como sempre, a que um dia foi a casa da minha avó Leonor, e hoje é a casa dos meus tios-avós, primos e meus tios Leandro e Lúcia, nos recebe.Uma propriedade tão grande respira sozinha, há uma grande organização e sistema de funcionários nela, por isso assim que descemos do carro, um funcionário vem me receber
— Aqui está, a planta de hortelã que você pediu, Lúcia — diz meu tio Luciano entrando com um pequeno vaso nas mãos — São 10 dólares mais gorjeta pelo serviço de entrega.— Essa deve ser a tarifa mais alta cobrada por subir e descer de elevador para uma estufa — responde sem se deixar vencer minha tia.— Você mora em uma casa com elevador e reclama de 10 dólares? Terrível — reclama ironicamente meu tio, ele se concentra em mim, sorri e deixa o vaso perto.— Como está sua visão, sobrinha? — ele toca minha cabeça com uma mão, a outra ele coloca no meu rosto — Quantos dedos tem aqui? Não quero adivinhações.Eu o olho como se não fosse engraçado, quando na verdade é muito engraçado. Meu tio Luciano é ridiculamente engraçado e o melhor contador de histórias do universo.— Quatro — respondo o óbvio.Ele vai se jogar no sofá à nossa frente.— Ufa. Eu já estava me preparando para ter uma cega na família… — ele diz “preocupado”.— Luciano… — Lúcia o repreende.— Fique tranquila, tia. Não temos u