Do interior do carro, Victor observa a cena que se desenrola diante de seus olhos e, sem que perceba, seus olhos se estreitam. Sua expressão permanece impenetrável, como uma máscara fria e inabalável, mas, por dentro, uma onda de incômodo o atinge com força. Ele não consegue explicar por que a visão de Marina nos braços de outro homem o afeta tanto, mas sente algo visceral. Suas mandíbulas travam e seus punhos se fecham com força, sem emitir som, mantendo a compostura externa enquanto assiste à assistente compartilhar um beijo longo e íntimo com o namorado.Marina, por sua vez, se afasta de Sávio depois do beijo. E, por um instante, seus olhos se voltam para o carro onde Victor permanece, imóvel. Quando seus olhares se encontram, uma eletricidade quase palpável passa entre os dois. Marina sente uma mistura amarga de vitória e culpa. Embora sinta um triunfo momentâneo, ao perceber que sua provocação surtiu algum efeito, não consegue escapar do peso da culpa que começa a se formar. Afin
Victor dirige pelas ruas, com o som do motor ecoando no silêncio de seus pensamentos. Tudo o que ele quer é afastar o estresse e o tumulto mental que parecem não lhe dar um segundo de paz desde que Marina entrou em sua vida. Desde o primeiro dia em que cruzaram caminhos, ele percebe que perdeu o controle completo da tranquilidade que antes reinava.Seus dias se tornaram tensos, cheios de questionamentos, e o pior de tudo: a semana que passaram juntos no Rio de Janeiro pareceu amplificar ainda mais sua confusão.Ao chegar em casa, estaciona o carro de qualquer jeito, refletindo sua frustração interna. Entrando pela porta principal, encontra seus pais sentados na sala, conversando em um tom baixo.— Boa noite — diz ele, tentando soar casual, enquanto luta para manter a mente longe da imagem de Marina.— Boa noite, filho — responde Xavier, com um sorriso leve. Ele está satisfeito por resolver o pequeno atrito que tiveram no jantar anterior, embora ainda sinta certo distanciamento da part
Marina sai de sua casa segurando a caixa dos sapatos que Victor havia lhe presenteado durante a viagem ao Rio. Seus passos lentos e a cabeça baixa mostram claramente o quanto está desconcertada com o que está prestes a fazer.Quando se aproxima do carro, Victor a observa atentamente, desligando as chaves e se acomodando no banco, preparando-se para o que quer que estivesse por vir.— Me desculpa por te ligar assim, de repente — diz Marina, com a voz trêmula, ao se aproximar da janela do passageiro. Ela segura a caixa com firmeza, mas evita o olhar de Victor. — Eu só preciso te devolver isso — continua, estendendo a caixa em sua direção.Victor a observa por um segundo, confuso e impaciente. Seus olhos se estreitam levemente enquanto avalia seu gesto.— E por que está devolvendo? — pergunta, com a voz mais fria do que o normal, escondendo a preocupação que começa a se formar em sua mente.Marina inspira, antes de responder, sentindo o peso de suas próprias palavras.— Não posso ficar co
Ao sentir os lábios de Victor, Marina sente algo diferente em seu toque. As mãos dele, que em outros momentos haviam sido apressadas e dominadoras, agora se movem com uma ternura surpreendente. Cada movimento é delicado, respeitoso, como se ele estivesse redescobrindo cada parte dela. Ele desliza as mãos suavemente por seu corpo, sentindo o contorno de sua cintura com um carinho que a faz tremer de leve. Não há pressa, apenas um desejo profundo de prolongar aquele momento.Victor a envolve com seus braços, trazendo-a para mais perto de si, com uma delicadeza inesperada. Sua mão direita desliza até a caixa que Marina segurava, jogando-a com suavidade para o banco de trás do carro, liberando o espaço entre eles, sem cortar o contato de seus lábios.Victor quer senti-la por inteiro, sem qualquer barreira. O corpo de Marina se encaixa perfeitamente ao seu colo, como se fossem feitos para estarem juntos daquele jeito. A respiração de ambos está pesada, mas há uma calma no gesto de Victor, c
Na manhã seguinte, Marina segue sua rotina habitual. Ao descer para a padaria, já pronta para ir ao trabalho, encontra sua mãe, que lhe lança um olhar reprovador assim que a vê.— Para onde pensa que vai? — pergunta Daniela, sem disfarçar o tom de desaprovação.— Para o trabalho — responde com firmeza, tentando manter a calma.Daniela para de atender o cliente e vira-se para encarar a filha diretamente, a expressão de desagrado fica evidente em seu rosto.— Por acaso esqueceu da conversa que tivemos ontem? — questiona, cruzando os braços, esperando uma resposta convincente.Respirando fundo, Marina tenta organizar seus pensamentos.— Não, mãe, não me esqueci — responde tranquila. — Mas tudo o que vocês falaram ontem não faz sentido.— Não faz sentido? — Daniela ergue a sobrancelha, claramente indignada.Antes que pudesse continuar a discussão, o som de um carro chama a atenção de ambas. Do lado de fora, o carro de Victor Ferraz estaciona em frente à padaria. Ele sai do veículo com sua
A expressão de ciúmes no rosto de Sávio é clara e intensa. Ele se aproxima rapidamente de Marina e a segura pelo braço, forçando-a a desistir de entrar no carro. Victor, que já havia dado a volta e estava com a porta aberta para entrar no veículo, para por um momento, observando a cena de longe, curioso para ver como Marina lidará com a situação.— Para com isso, Sávio, não diga o que não sabe — pede Marina, tentando manter a calma, mas visivelmente desconcertada.— Por que esse homem está sempre aqui? Nunca vi um chefe tão “dedicado” quanto o seu. Será que sou eu que estou exagerando ou tem algo estranho nisso tudo? — questiona, ainda segurando o braço dela com firmeza.— Sim, você está exagerando — responde Marina, puxando o braço e ajeitando sua postura. — Algumas coisas aconteceram e o senhor Ferraz veio conversar com o meu pai, só isso. Estou aproveitando a carona para ir ao trabalho.— Você não vai com ele! — declara Sávio, em um tom ríspido, lançando um olhar de desafio para Vi
Ao chegar ao andar onde trabalha, Marina sente todas as palavras de Katrina ecoando em sua mente. Mesmo sem ter nada com Victor, a provocação a deixa desconcertada e levemente incomodada.“Pare de pensar demais, Marina”, seu pensamento a incomoda, obrigando-a a se concentrar em outra coisa. Mas a ideia se instala de forma incômoda, difícil de ignorar.Caminhando pelo corredor que leva à sua sala, tenta focar apenas em seu trabalho e no seu relacionamento.Durante o trajeto no carro com Sávio, percebeu o quanto o estava negligenciando, além de se questionar sobre seu próprio comportamento quando estava longe dele. Por isso, prometeu a si mesma que se afastaria de Victor em qualquer conversa que não fosse estritamente sobre trabalho. Como Katrina havia dito, ela conhecia Victor há mais tempo e sabia que ele era um “galinha” em relação a mulheres.“Você não deveria querer beijá-lo, nem mesmo solteira. Para Victor, você não passa de mais uma mulher comum entre milhares”, conclui, lutando p
Ao perceber o erro que havia cometido, Victor se levanta bruscamente, deslizando a mão pelos cabelos em um gesto nervoso, tentando recuperar o controle da situação.— Me desculpe — diz, tentando manter a compostura.Katrina o observa, ainda incrédula com o que acabara de ouvir. Seu rosto demonstra ofensa clara.— Você me chamou de Marina — comenta, visivelmente ferida.— É porque os nomes de vocês duas são parecidos, só isso — tenta explicar, mas até para ele essa desculpa soa fraca. — Não foi de propósito.— Não acredito nisso — responde, cruzando os braços e assumindo uma postura defensiva. — O que está acontecendo entre vocês? — questiona, deixando a voz carregada de uma dúvida que já não conseguia mais ignorar.— Não está acontecendo nada, que pergunta tola é essa? — Victor reage bruscamente, sem perceber o quanto isso alimentava mais as suspeitas de Katrina.— Então, por que a trouxe para trabalhar com você? — insiste com seus olhos fixos nele, buscando qualquer sinal que confirm