Marina suspira, ainda sem saber se ri da situação ou se se sente intimidada pelo gesto extravagante. Mas, no fundo, ela sabe que não é só sobre o sapato. O presente representa muito mais do que isso: é um reconhecimento, um gesto de gratidão que, vindo de Victor, é algo raro.— Bem, se for por isso, eu aceito e agradeço mesmo por ter a atenção de comprá-los para mim — declara, deixando um leve sorriso brotar, tentando esconder o misto de emoções que sente.— Parece que combinam com você — diz ele, satisfeito ao ver o brilho nos olhos dela. — Elegantes, fortes… e irresistíveis…Marina engole em seco, sem saber como reagir às palavras de Victor. Ele se aproxima, deixando o espaço entre eles decrescente, e, de repente, fica de joelhos diante dela.Aquela cena a deixa completamente desconcertada. Ver Victor Ferraz, um homem sempre tão dominador e seguro, de joelhos à sua frente, é algo que ela nunca imaginou presenciar. Ele pega os sapatos e, sem dizer mais nada, calça os pés dela com uma
Victor observa Rebecca caminhar pelo quarto com uma familiaridade que o incomoda. Ela se movimenta como se o espaço fosse seu, sem a menor preocupação em mascarar a atitude de alguém que se sente no controle.Ele permanece em silêncio por alguns instantes, recostado na parede ao lado da porta, seus braços estão cruzados e seus olhos estão fixos na direção da saída por onde Marina havia passado rapidamente, claramente abalada. Uma irritação crescente começa a tomar conta dele, mas não pelo motivo que gostaria de admitir para si.Rebecca, com o vestido vermelho colado ao corpo, anda lentamente pelo quarto, como se estivesse estudando cada detalhe. Seus saltos ecoam pelo chão, um som que normalmente seria sedutor, mas que, naquele momento, faz os nervos de Victor se apertarem ainda mais.— Eu não sabia que você dava presentes para mulheres, Victor — ela comenta com desdém, ao ver a caixa recém-aberta com o nome “Christian Louboutin”. Ela levanta uma das sobrancelhas, claramente intrigada
Victor percorre os corredores do hotel com passos rápidos e firmes, sentindo o desconforto crescente em seu peito ao perceber que Marina estava demorando muito para voltar ao quarto.O desconforto se transforma em um leve nervosismo, algo que ele raramente sente. Ele passa pelos elegantes e silenciosos corredores, com suas mãos nos bolsos da calça, enquanto seus olhos escaneiam o local à procura de qualquer sinal dela.Conforme desce até o lobby, começa a perguntar aos funcionários que encontra pelo caminho se viram Marina. A descrição dela — jovem, loira, bonita, usando sapatos Louboutin — faz com que todos logo a reconheçam. Após ser questionado, um dos atendentes apontou para a área da piscina e disse que a viu passar por ali há algum tempo.Victor segue para a área da piscina, suas emoções estão num turbilhão dentro de si. Ele não sabe ao certo o que o incomoda mais: o fato de Marina ter saído abruptamente ou o desconforto que sentiu quando Rebecca invadiu seu espaço sem permissão
Quando Marina abre os olhos, a luz suave do amanhecer já começa a penetrar pelas cortinas do quarto. O primeiro som que ela escuta é o leve ressoar da respiração de Victor ao seu lado, mas, ao virar a cabeça para observá-lo, percebe que ele está deitado a uma boa distância. Isso a faz suspirar de alívio. O alívio, porém, é mais uma defesa emocional do que qualquer outra coisa. Ela não quer mais aquele tipo de proximidade que, nos últimos dias, havia começado a se formar entre eles.Marina se levanta lentamente, com cuidado para não acordá-lo. Ela caminha até o banheiro, faz sua higiene matinal e se encara no espelho por um momento mais longo do que o habitual. Seu rosto está cansado, reflexo das noites mal dormidas e das emoções turbulentas dos últimos dias. Mas, por trás desse cansaço, algo novo se insinua: uma decisão. Não vai mais se deixar levar por aquela montanha-russa emocional.Ao terminar, decide que tomar o café da manhã no quarto, ao lado de Victor, seria insuportável. Por
No dia seguinte, Marina e Victor voltam ao apartamento em que estavam hospedados no Rio de Janeiro. O clima entre eles está visivelmente frio e distante, bem diferente do início da viagem. As trocas de olhares, as conversas penetrantes e até os momentos de estresse que anteriormente carregavam uma faísca de algo mais, agora são apenas ecos distantes de um relacionamento profissional, com barreiras claramente definidas.Os próximos três dias que passam no Rio são monótonos e repletos de formalidades. Marina se ocupa com as tarefas rotineiras, revisando documentos e finalizando relatórios pendentes. Victor, por sua vez, mergulha em reuniões e encontros relacionados ao caso.Cada vez que se cruzam no apartamento, trocam poucas palavras, e o que antes era uma tensão mal contida agora se transforma em uma indiferença mútua. Ambos mantêm a fachada de profissionais dedicados, e o que quer que tenha existido entre eles parece ter ficado enterrado nos dias de trabalho intenso. No terceiro dia,
Marina está à mesa da cozinha, distraída com seus pensamentos, quando ouve passos se aproximando. Ela levanta o olhar e vê Sávio entrando no cômodo. Ele parece diferente. Embora o mesmo sorriso amigável de sempre esteja presente, há algo em seu semblante que o torna mais maduro e sério do que da última vez que o viu.— Oi, Mari — diz ele, com a voz mais profunda e firme, enquanto seus olhos a observam com um misto de curiosidade e apreensão.— Sávio? Que surpresa — responde, sem entender o motivo de sua visita tão repentina. Uma parte dela se sente nervosa, mas, ao mesmo tempo, confortada por vê-lo.— Seu pai me disse que você havia chegado, e eu não resisti. Precisava te ver — confessa, com um olhar que transmite mais do que suas palavras revelam.Daniela, que observa ambos conversando, sorri ao ver o rapaz ali. Ela sabe o quanto Sávio gosta de sua filha e torce para que Marina finalmente lhe dê uma chance. Com ele por perto, se sentiria mais tranquila, especialmente depois dos dias
Em casa, Victor está deitado em sua cama, com uma expressão séria e frustrada. Ele olha para o teto, tentando relaxar, mas há algo que o incomoda por dentro, algo mais forte que qualquer coisa. É como se uma inquietação tomasse conta de todo o seu corpo, pulsando em suas veias e não lhe dando trégua.“Que diabos é isso?” se questiona, jogando o travesseiro no chão com raiva. Seus pensamentos viajam em direção a uma jovem de cabelos loiros e olhos azuis penetrantes, um olhar que o faz perder o controle da situação toda vez que surge em sua mente.— Ah, loirinha… — sussurra, deixando escapar uma respiração pesada.Seu corpo começa a reagir ao se lembrar dela, e o calor invade cada músculo. Victor engole em seco, quando a imagem de Marina com aquele baby-doll curto com a frase “Queridinha da Mamãe” vem à tona.O cheiro do perfume dela continua vivo em sua memória, um aroma delicado que o inebria e o faz desejar reviver aqueles momentos no Rio de Janeiro. Fechando os olhos, ele tenta busc
O clima pesado que se instala à mesa deixa todos desconcertados, com olhares cruzando o espaço, revelando o constrangimento que ninguém sabe como dissipar. O silêncio é espesso, quase palpável. Joana, percebendo que Victor está deixando seus sentimentos expostos demais, decide intervir. Ela se levanta com elegância, pedindo licença aos presentes e anunciando com voz firme:— Vou conversar com o Victor. Volto em breve.Rodrigo franze a testa ao ver a mãe saindo dali, claramente preocupado com o comportamento do irmão.— O que está acontecendo com ele? — pergunta, sentindo uma mistura de inquietação e curiosidade.Xavier permanece em silêncio, com os olhos fixos no prato, como se o mundo ao redor tivesse se apagado. Ele é um homem experiente, que já enfrentou situações delicadas na vida, e percebeu cada indireta que Victor lhe lançou, mesmo que os outros não tenham percebido.— Você mencionou que o caso no Rio de Janeiro era bastante complexo e até perigoso, talvez o estresse dele venha