Ao ver Xavier entrar na sala, Andressa sente uma pontada aguda no peito, como se a simples presença dele fosse suficiente para reviver todos os erros e arrependimentos que a atormentavam. O homem diante dela mal parecia aquele com quem se envolvera tempos atrás. A expressão envelhecida, marcada pela dureza da prisão e pela desgraça que ele próprio havia provocado, alimentava um peso quase insuportável de encarar.Seus olhos tentam desviar, mas a culpa a mantém presa àquele momento. A aparência desgastada de Xavier a assusta de uma maneira que ela não consegue explicar. Não era apenas o que ele havia se tornado fisicamente, mas tudo o que ele simbolizava em sua vida: a traição, as mentiras e o rastro de destruição que ela ajudou a construir, mesmo sem perceber na época.Dentro dela, um turbilhão de sentimentos conflitantes se agita, fazendo-a se sentir ainda mais vulnerável. Ela sabia que era cúmplice, mesmo que indiretamente, do caos que desmoronou sobre a família Ferraz. O envolvimen
O juiz direciona sua atenção aos réus.— Senhora Joana Ferraz, senhor Xavier Ferraz, os senhores estão cientes das acusações que lhes foram imputadas?Joana assente, respondendo com a voz baixa:— Sim, meritíssimo.Xavier apenas inclina levemente a cabeça, murmurando um “sim” quase inaudível.— Muito bem — prossegue o juiz, olhando para os advogados de acusação e defesa.— Promotoria, está pronta para apresentar o caso?O promotor, um homem de olhar intenso e postura confiante, se levanta e ajeita os papéis.— Sim, meritíssimo. Este caso trata de uma conspiração que expôs o lado mais sombrio de uma família poderosa. Apresentaremos evidências incontestáveis que comprovam a intenção deliberada dos réus de causar danos diretos e irreparáveis às vítimas.O juiz se volta para os advogados de defesa.— Defesa, estão prontos para responder às acusações?O advogado de Joana se levanta e responde, transparecendo calma.— Sim, meritíssimo. Nossa cliente lamenta profundamente os eventos e trabal
Enquanto está sentada vendo seu advogado interrogar Marina, Joana não consegue desviar o olhar de Victor, que está sentado do outro lado da sala, próximo à promotoria. Ele permanece firme, com a postura ereta e o olhar fixo nos depoimentos que se desenrolam. Sua presença imponente só aumenta o peso da culpa que ela tenta reprimir.Por mais que quisesse, Joana sabia que não podia se aproximar dele. A frieza no olhar de seu filho, aquele mesmo olhar que outrora a enchia de orgulho, agora a perfurava como lâminas, deixando claro o abismo que havia entre eles. Sua vontade de correr até ele, abraçá-lo e implorar por perdão é esmagada pela realidade de suas ações e pela barreira intransponível que ela mesma construiu.Enquanto a voz de seu advogado ecoa pelo tribunal, Joana sente o peito apertar. Lembra-se de quando Victor era apenas um garoto, sempre ao seu lado, buscando sua aprovação em tudo. Aquele era o mesmo filho que agora a olhava como uma estranha, talvez até como uma inimiga. O qu
Um burburinho atravessa a sala do tribunal e o juiz bate o martelo para restabelecer a ordem.O advogado de defesa de Xavier levanta uma sobrancelha, surpreso por ouvi-la dizer a verdade.— Então, senhora Souza — ele insiste. — A senhora admite que essas fotos foram tiradas sem o conhecimento do meu cliente?— Sim, ele não estava ciente inicialmente. No entanto, após eu enviar as fotos, o Xavier as utilizou de maneira estratégica, manipulando toda a situação para que sua família, especialmente o Victor, acreditasse que Marina era, de fato, sua amante.Do outro lado da sala, Leonel solta um longo suspiro, visivelmente aliviado ao vê-la optar pela verdade. No entanto, a leve sensação de alívio é rapidamente substituída por um peso esmagador em seu peito. A mulher diante dele, que um dia foi uma garota doce e generosa, agora parecia irreconhecível. A transformação dela em alguém capaz de trair uma amiga de forma tão fria e cometer atos tão cruéis o deixava com o coração partido.Por outr
Enquanto caminha em direção à padaria dos pais, localizada ao lado de sua casa, Marina ajusta sua camisa branca social. Por mais que sua aparência transmita confiança, ela não pode negar que, por dentro, está nervosa. E não é para menos, afinal, este dia marca o início de sua carreira. Apesar de ser filha de pais humildes, ela estudou com afinco para não seguir o mesmo caminho. Formou-se em Direito e agora está prestes a trabalhar em um dos escritórios mais renomados do país. Embora ainda não seja advogada, o cargo de assistente jurídica é um excelente começo para sua trajetória.— Bom dia, pai — cumprimenta Marina, ao avistar José, que está do outro lado do balcão, reabastecendo o estoque de pães.— Bom dia, Mari. Você está linda, minha querida — responde ele, admirando o modo como ela está vestida. — Sente-se, sua mãe já vai servir o seu café.— Tudo bem. Marina se senta em uma das mesas próximas à porta. Dali, ela pode observar a rua e os clientes que entram na padaria. O local e
Voltando para o interior da padaria, Marina confronta o pai.— Como pôde deixar aquele idiota sair daqui com um olhar vitorioso? — questiona, claramente frustrada.— Para evitar confusão — responde José, enquanto atende outro cliente. — Todos têm seus dias ruins, minha filha. Talvez esse tenha sido o dele.— Aquele homem não estava num dia ruim, ele “é” ruim, isso sim — retruca, com firmeza.Daniela, que está atendendo outro cliente, observa a indignação da filha e decide intervir.— Não estrague o seu dia devido a um homem que você nunca viu antes, filha. Termine seu café, ou perderá o ônibus.— Tudo bem, mãe — responde Marina, bufando de frustração.Após terminar o café, Marina se despede dos pais e sai da padaria, caminhando em direção ao ponto de ônibus. Enquanto anda, não consegue deixar de pensar no idiota que apareceu mais cedo. Marina nunca gostou de pessoas que se acham superiores às outras, e aquele homem claramente era um exemplo perfeito disso.— Mari! — uma voz masculina
“Era só o que me faltava”, pensa Marina, encolhendo-se na cadeira, torcendo para que aquele homem não a notasse ali.— Tudo bem, vou assinar, mas preciso revisar primeiro — responde Rodrigo, pegando o papel das mãos do homem.— Que droga, Rodrigo! Ainda não arranjou uma assistente para fazer isso por você? — questiona o homem, impaciente.— Tem razão — Rodrigo responde, sorridente. — Já arranjei. Na verdade, estou conversando com ela agora mesmo — diz, indicando Marina na cadeira.“Ai meu Deus, eu estou ferrada” pensa Marina, sentindo os olhos negros do homem queimarem sua pele.— Esta é Marina Ferreira, minha nova assistente. Ela acabou de chegar.Ao ver a jovem de cabelos loiros e olhos azuis encolhida na cadeira, Victor sorri com ironia.— Ora, se esse mundo não é pequeno — zomba, ao notar o visível desconforto de Marina com sua presença.— Marina, este é Victor Ferraz, meu irmão e sócio — Rodrigo anuncia.“Sócio?”, Marina pensa, indignada com a revelação. Não pode acreditar que tr
Vendo que Victor está diante dela com o olhar furioso, ela tenta explicar.— Eu disse: é o senhor que manda — declara, torcendo para que ele acredite nisso.— É bom mesmo entender isso — responde, saindo dali e indo para o seu escritório.Victor Ferraz se acomoda em sua imponente cadeira de couro, atrás da mesa meticulosamente organizada de seu escritório. No entanto, seu olhar está distante, fixo na enorme janela de vidro que revela a vista panorâmica da cidade. O ambiente ao seu redor é luxuoso e silencioso, mas sua mente permanece inquieta. Ele se recosta levemente, cruzando os braços sobre o peito, enquanto sua mandíbula tensa e seu semblante fechado revelam traços sutis de sua irritação com os acontecimentos recentes.Marina. Ele não consegue tirar a moça de cabelos loiros de sua cabeça. Em toda sua rotina bem controlada, ninguém jamais havia ousado falar com ele daquela maneira, ainda mais no primeiro dia de trabalho. Victor é um homem acostumado ao controle absoluto, à obediên