Enquanto esperam o voo no aeroporto, Marina sente um frio na barriga ao se lembrar de que é sua primeira vez viajando de avião. O pensamento de enfrentar essa experiência sozinha a deixa ainda mais ansiosa, especialmente sabendo que não pode contar com Victor para nenhum tipo de apoio. Sentada ao lado dele, aguardando o embarque, tenta se concentrar em outra coisa, mas seu nervosismo é visível. Victor, por sua vez, observa a mala que Marina carrega. Ele olha com atenção, analisando cada detalhe. A mala parece de grife, mas algo não b**e. Ele deduz que não passa de uma imitação bem-feita, já que acredita que Marina não teria condições de comprar uma peça original — exceto se… Aquela linha de pensamento o incomoda mais do que gostaria de admitir. A ideia de onde ela poderia ter conseguido aquela mala o deixa desconfortável, e, por mais que tente afastar esse pensamento, não consegue. A dúvida se insinua em sua mente, incomodando-o de maneira sutil, mas persistente.— Eu já volto — diz
Quando o avião pousa no Rio de Janeiro, já é madrugada. Marina sente o cansaço invadindo seu corpo, mas tenta não transparecer. Ela não sabe exatamente o que esperar dali em diante, pois, desde que entraram no avião, ela e Victor mal trocaram palavras.— Iremos para qual hotel? — pergunta, enquanto caminha ao lado dele em direção à saída do aeroporto.— Não ficaremos num hotel, e sim em meu apartamento que tenho aqui — responde ele, sem quebrar o ritmo dos passos, com a naturalidade de quem já tinha decidido tudo. Marina para bruscamente, surpresa com a resposta de Victor. Ficar no mesmo apartamento? Sozinhos? A ideia a deixa inquieta. Não é exatamente medo do que poderia acontecer, mas o simples fato de dividirem o mesmo espaço durante uma semana a deixa desconfortável.— Não acha que seria melhor me deixar em um hotel? — sugere, ainda tentando aceitar a situação.Victor para de andar e a encara, seu olhar volta a ficar carregado de uma provocação que ela já conhece bem.— Estamos
Os raios de sol que atravessam a janela fazem com que Marina abra os olhos lentamente. Por um instante, ela se sente desorientada, estranhando o ambiente, mas sua mente logo a faz lembrar dos acontecimentos que a trouxeram até ali. Pegando o celular, percebe que ainda são sete da manhã. Embora seu corpo queira mais descanso, seu estômago, faminto, a trai com um rugido, avisando que não poderia esperar por muito tempo.Levantando-se da cama, vai até o banheiro para fazer sua higiene matinal. Ela deduz que Victor continua dormindo; por isso, decide explorar o apartamento à procura da cozinha. Entretanto, ao passar pela sala, surpreende-se ao vê-lo já acordado, sentado na varanda, lendo alguns papéis.Ele levanta o olhar quando percebe sua presença. Os olhos de Victor percorrem pelo corpo de Marina, que usa um pijama curto, revelando suas coxas bem torneadas. Quando ele volta o olhar mais para cima, quase de imediato, o sorriso sarcástico que é sua marca registrada surge em seus lábios.
Embora não queira se alarmar com a situação, Victor percebe o olhar assustado de Marina e entende que precisa agir.— Não se intimide com isso, tudo bem? Você sabe que advogados passam por esse tipo de coisa o tempo todo — declara, com a intenção de acalmá-la.— Sei — diz ela, tentando se recompor. — Só não esperava que isso fosse acontecer tão cedo.— Melhor não pensar muito nisso. Vista uma roupa e tomaremos café fora. Não confio mais no que nos entregaram — comenta, desamassando o bilhete ameaçador e tirando foto dele, junto da embalagem alterada que entregaram.Marina caminha até seu quarto, escolhendo uma roupa leve, mas formal, já que o dia promete ser quente no Rio. Ao retornar à sala, ela encontra Victor já pronto, vestido impecavelmente.— Vamos — diz ele, abrindo a porta do apartamento, deixando-a segui-lo.Eles descem até o estacionamento, onde Victor destrava um carro estacionado. Em silêncio, entram no carro e os dois seguem pelas ruas da cidade.Mesmo quieta, Victor nota
Ao retornar para a mesa, Marina nota que Victor já não está mais acompanhado de sua “amiga”. Com um suspiro discreto de alívio, ela se senta e decide terminar o café, agora frio.— Por que saiu? — pergunta Victor, com uma sobrancelha arqueada ao vê-la se acomodar novamente.— Aproveitei que você estava ocupado para ligar para os meus pais — responde, tentando soar casual.Victor sorri, aquele sorriso que a faz se sentir constantemente desafiada.— Tem certeza de que foi isso mesmo? Ou saiu daqui porque ficou com ciúme da Rebecca?Marina estreita os olhos, surpresa pela acusação.— Ciúme? — ela solta uma risada breve e incrédula. — Agora é você que está se superestimando, senhor Ferraz. Por que eu sentiria ciúme? — rebate, como se o comentário fosse a coisa mais absurda que já ouviu.Victor sorri de canto, satisfeito com a reação dela, e volta a comer em silêncio. Marina foca no café, sem vontade de prolongar qualquer interação desnecessária.Após alguns minutos de silêncio desconfortá
Para evitar qualquer risco, como o que aconteceu no café da manhã, Victor e Marina decidem parar em um restaurante e pedir comida para levar. Como precisariam esperar um pouco, os dois se acomodam no carro, estacionado em frente ao estabelecimento, e aguardam.— Se comprarmos algumas coisas, posso cozinhar para o jantar nos próximos dias — comenta Marina, casualmente.— Eu não sei o que é mais perigoso: comer a comida adulterada ou o que você poderia preparar na cozinha para mim — Victor ironiza, com um leve sorriso provocador nos lábios.Ela revira os olhos, tentando ignorar o sarcasmo, e se ajeita no banco do carro. O cansaço começa a pesar em seu corpo, resultado de um longo dia sem descanso.— Aí que você se engana, eu sei cozinhar muito bem — responde ela, com um toque de orgulho na voz.— Engraçado… Achei que uma mulher como você não perdesse tempo na cozinha — Victor solta, ainda com seu tom provocativo.Essa não era a primeira vez que ouvia a expressão “uma mulher como você”
A determinação de Marina deixa Daniela um pouco assustada. Ela sempre soube que a filha, desde pequena, dizia querer ser alguém importante na vida e que sair daquele bairro era um de seus maiores sonhos. No entanto, agora que vê a firmeza nas palavras da filha, a dúvida lhe corrói: a que custo conseguirá alcançar esse sonho?— Sei que você está fazendo isso pensando em nós, mas lembre-se de uma coisa, querida — diz Daniela com um tom suave, mas preocupado. — Nem eu, nem seu pai, nos perdoaríamos se soubéssemos que você está sacrificando sua felicidade pela carreira.— Não é só uma carreira, mãe. É um sonho — rebate, com voz firme, mas carregada de emoção. — Quero morar numa casa confortável, num bairro seguro. Quero ver vocês, meus pais, vivendo dias comuns, sem preocupações, presentes. Cresci vendo vocês trabalharem duro, renunciando aos momentos de lazer comigo, apenas para que nada faltasse em casa. Eu não suporto a ideia de vocês terminarem a vida assim.Mesmo com o peso no coraçã
Após conversar com a mãe por um tempo, Marina toma um banho relaxante e se deita na cama. Embora o estômago reclame de fome, o cansaço a domina e ela prefere não sair do quarto para evitar encontrar Victor, especialmente após a estranha conversa que tiveram mais cedo. O relógio marca quase nove da noite, e o sono começa a tomar conta de seu corpo. No entanto, quando está prestes a adormecer, um som alto e repentino na porta a faz pular da cama. Assustada, Marina corre para abrir a porta e se depara com Victor.Ele está com o cabelo molhado e a barba recém-feita. Usa uma toalha em volta do pescoço, evidenciando que acabou de sair do banho. A aparência relaxada e confiante dele lhe deixa fascinada.“Tão sexy”, pensa, embora rapidamente tente afastar essa ideia.Ele observa que os olhos de Marina estão vermelhos, e então resolve questionar:— Estava chorando?Ela sorri, lembrando-se da conversa intensa que teve com a mãe.— Não — diz, querendo evitar entrar em detalhes.— Você não vai ja