Assim que fecho a porta principal de casa, meu olhar acompanha Cami, que depois de jogar sua bolsa no sofá, caminha em direção a cozinha, faço menção de acompanha-la com o propósito de retomar a conversa que iniciamos na clínica, mas meu celular toca interrompendo-me, minha mulher olha para mim brevemente, mas logo volta sua atenção para o que fosse que estivesse fazendo. Apanho meu aparelho celular no bolso da calça, e sorrio por ver que é minha mãe.
— Oi mãe, tudo bem? — Indago com um sorriso em minha face, busco os olhos de Cami mais uma vez, eles me fitam, seus lábios curvam-se em um sorriso ameno.
— Se está tudo bem? Como tem coragem de me perguntar isso depois de me abandonar? — Tento controlar minha risada por ver que apesar de estar fazendo seu drama rotineiro, minha mãe fala sério, uma risada e ela com certeza m
— Cara, você está péssimo. — Gustavo, meu sócio do escritório murmura assim que adentra minha sala, sem bater, por sinal. Desvio minha atenção da tela do computador e arqueio as sobrancelhas. — Invade meu escritório para falar de minha aparência? Sério Gustavo? — Ele ri se jogando todo esparramado na cadeira a minha frente, o observo por um tempo, então bufo sabendo o que provavelmente o levara em minha sala. — O que houve dessa vez? — Pergunto, afrouxando minha gravata, meu amigo ri nervoso então deita a cabeça em minha mesa. — A mulher está louca cara — Diz, se referindo sua mulher, que só aceitou assinar o divórcio deles, se o mesmo lhe pagasse uma quantia absurda de indenização (qual deixaria a conta bancária do meu amigo limpa), por que segundo ela, a parte que pede divorcio se
Rejeitada. Palavra e sensação que desde muito nova odiei. Com as intermináveis brigas de meus pais, eu me sentia assim corriqueiramente, não podia fazer nada, mas esse fato não me impediam de me por entre eles quando se empurravam, agrediam entre si, ambos gritavam comigo, mas ao invés de me amuar em algum canto, eu permanecia ali, em fogo cruzado, e essas minhas ações me proporcionou uma coleção de roxos – quais eu tentava sempre cobrir com as maquiagens de minha progenitora. Apanhei muito acreditando que um dia poderia fazê-los parar de brigar, fazê-los me amar, porém, conforme os anos foram passando, e minha mente foi amadurecendo, aprendi que nada os faria me amar, me aceitar. Aprendi que ser rejeitado por quem deveria nos acolher, embora por muito tempo pareça, não é nossa culpa, não é minha culpa. Mas esse meu saber não impede que eu me sinta assim agora na fase adulta, e embora c
Um sorriso estica meus lábios, com a imagem de meus pais rindo de algo no jardim, mamãe como de costume quando vem para o chalé está com um chapéu exageradamente grande cobrindo sua cabeça do sol, suas mãos habilidosas cortam algumas ervas daninha no meio de suas roseiras. Papai a assiste como se ela fosse o seu entretenimento preferido, vejo amor em seu olhar, muito amor, que chega ser um tanto que contagiante a energia que os dois emana sempre que estão juntos, faço uma busca rápida em minhas lembranças, e eu não consigo lembrar de algum momento ter sido diferente, nem mesmo na época que mamãe ficara debilitada, e eu um jovem festeiro. O companheirismo que os acompanha no decorrer de suas vidas é invejável, com certeza. Me pergunto se Cami e eu teremos algo semelhante em alguma fase de nossas vidas, a um certo tempo pude jurar estar no caminho certo, no caminho de um casamento quão bonito quanto ao dos meus progenitores, porém agora sin
— Me desculpe por ter saído praticamente correndo mais cedo. — Digo me aproximando de minha sogra que está na pia da cozinha lavando algo, suas mãos vão até a torneira fechando-a, e logo ela apanha o pano de prato para enxugar as mãos, abaixo a cabeça envergonhada assim que seu olhar entra em contado com o meu. — É que, tem sido... — Filtro minhas palavras antes de continuar, Beatriz me espera pacientemente, como sempre fez — Dias difíceis, diferente do que imaginei, a alguns meses, anos atrás. — Me escoro no balcão, Beatriz observa meus movimentos atentamente, como se meus gestos fossem revelar o que minha consciência impedia de meus lábios proferirem, tenho medo de seu olhar. O que me leva a refletir se Rafa contou a Sara do ocorrido, por ele não contaria aos pais, que ele sempre considerou seus amigos? Abaixo a cabeça, esperando de alguma forma que ela me acuse, ou quem sabe grite, brigue comigo, não iria debater, pois sei que a única
Desde a hora do almoço Cami está aérea. Conversamos brevemente quando decidimos subir para descansar um pouco antes de descer para jantar, e quando descemos novamente, suas palavras poderiam ser contadas de tão poucas. Meu olhar não a deixava um se quer segundo, mas não disse nada, enquanto papai conversava animadamente, dizendo o quanto iria mimar a primeira neta, minha mulher estava contida, e muitas vezes se perdia na conversa, podia ver que ela fazia um esforço para acompanha-lo, mas como se estivesse fora de seu controle, ela falhava. Mas o mais estranho de tudo era, minha mãe também, estava mais quieta do que o normal, seus olhos estudavam a nora sempre que podia, e uma vez ou outra a pegava olhando em minha direção, me perguntei se Cami havia finalmente falado com alguém além de Sara sobre o ocorrido de algumas semanas. Deixei que o jantar seguisse de maneira mais natural possível, e quando vi uma pequena brecha disse que Cami e eu
Sorrio me aproximando da janela da cozinha, podendo ver Rafa e Miguel rirem de algo no jardim. — É incrível como ele parece tão bem, mesmo um tanto inseguro. — Minha sogra para ao meu lado, esticando o copo com chocolate quente, o pego sem me pronunciar, enquanto meu olhar ainda está do lado de fora. Meu marido toca o ombro do pai e mais uma vez ri de algo que ele provavelmente falou, meu sogro não demora para acompanhar meu marido, a leveza, cumplicidade entre os dois me deixa feliz, o final de semana apesar de me fazer sentir amedrontada, envergonhada pela culpa latente em minha cabeça, foi útil, pois meu marido parece feliz apesar dos pesares, e isso me deixa feliz por que sei que ele, mais do que ninguém merece isso. — Uma das coisas que eu mais amo nele, é sua capacidade de tirar algo bom de um momento ruim. — Murmuro em resposta
O choro estridente de um bebe é o único som que ouço em meio a escuridão que me engole, não consigo entender o que está havendo, não consigo identificar o lugar onde me encontro ... de repente o choro cessa, deixando por hora apenas uns zumbido em meus ouvidos acompanhando um barulho idêntico ao balançar de arvores, dou uma volta de quase trezentos e sessenta graus procurando por alguma luz, mas nada, absolutamente nada é visível, nem mesmo o céu que vive cheios de estrelas, o breu é minha única companhia. Começo a caminhar, mesmo não tendo a mínima ideia para onde essa rota que tomei a cega possa me levar, e de um instante para o outro, assim como se foi o choro agudo volta, com mais intensidade, carregado de desespero, súplica. No entanto, não sei de onde ele vem, ele ecoa por toda parte, por todos os lados, me deixando completamente confusa, é real? Me pergunto.
Bocejo sentindo-me cansado depois de dirigir exatas três horas sem parar, desvio por um instante meu olhar para o banco ao meu lado e aprecio Cami envolvida em um sono profundo, suas mãos estão pousadas sobre o ventre, sorrio voltando a olhar para estrada, e me perco por mais alguns minutos em uma música qualquer tocando no rádio. — Não — Cami grita, me fazendo desacelerar o carro, e olhá-la assustado. Seus olhos continuam fechados, fazendo me supor que está tendo mais um de seus pesadelos, enquanto uma mão continua no volante, a outra toca sua perna coberta por uma manta, massageio o local em uma tentativa de acalmá-la. — Cami — Com a voz baixa a chamo, seus olhos não abrem, e seu semblante chega ser um pouco perturbado. — Não por favor, meu bebê não — Sua voz sai exasperada, e