Desde a hora do almoço Cami está aérea. Conversamos brevemente quando decidimos subir para descansar um pouco antes de descer para jantar, e quando descemos novamente, suas palavras poderiam ser contadas de tão poucas. Meu olhar não a deixava um se quer segundo, mas não disse nada, enquanto papai conversava animadamente, dizendo o quanto iria mimar a primeira neta, minha mulher estava contida, e muitas vezes se perdia na conversa, podia ver que ela fazia um esforço para acompanha-lo, mas como se estivesse fora de seu controle, ela falhava. Mas o mais estranho de tudo era, minha mãe também, estava mais quieta do que o normal, seus olhos estudavam a nora sempre que podia, e uma vez ou outra a pegava olhando em minha direção, me perguntei se Cami havia finalmente falado com alguém além de Sara sobre o ocorrido de algumas semanas. Deixei que o jantar seguisse de maneira mais natural possível, e quando vi uma pequena brecha disse que Cami e eu
Sorrio me aproximando da janela da cozinha, podendo ver Rafa e Miguel rirem de algo no jardim. — É incrível como ele parece tão bem, mesmo um tanto inseguro. — Minha sogra para ao meu lado, esticando o copo com chocolate quente, o pego sem me pronunciar, enquanto meu olhar ainda está do lado de fora. Meu marido toca o ombro do pai e mais uma vez ri de algo que ele provavelmente falou, meu sogro não demora para acompanhar meu marido, a leveza, cumplicidade entre os dois me deixa feliz, o final de semana apesar de me fazer sentir amedrontada, envergonhada pela culpa latente em minha cabeça, foi útil, pois meu marido parece feliz apesar dos pesares, e isso me deixa feliz por que sei que ele, mais do que ninguém merece isso. — Uma das coisas que eu mais amo nele, é sua capacidade de tirar algo bom de um momento ruim. — Murmuro em resposta
O choro estridente de um bebe é o único som que ouço em meio a escuridão que me engole, não consigo entender o que está havendo, não consigo identificar o lugar onde me encontro ... de repente o choro cessa, deixando por hora apenas uns zumbido em meus ouvidos acompanhando um barulho idêntico ao balançar de arvores, dou uma volta de quase trezentos e sessenta graus procurando por alguma luz, mas nada, absolutamente nada é visível, nem mesmo o céu que vive cheios de estrelas, o breu é minha única companhia. Começo a caminhar, mesmo não tendo a mínima ideia para onde essa rota que tomei a cega possa me levar, e de um instante para o outro, assim como se foi o choro agudo volta, com mais intensidade, carregado de desespero, súplica. No entanto, não sei de onde ele vem, ele ecoa por toda parte, por todos os lados, me deixando completamente confusa, é real? Me pergunto.
Bocejo sentindo-me cansado depois de dirigir exatas três horas sem parar, desvio por um instante meu olhar para o banco ao meu lado e aprecio Cami envolvida em um sono profundo, suas mãos estão pousadas sobre o ventre, sorrio voltando a olhar para estrada, e me perco por mais alguns minutos em uma música qualquer tocando no rádio. — Não — Cami grita, me fazendo desacelerar o carro, e olhá-la assustado. Seus olhos continuam fechados, fazendo me supor que está tendo mais um de seus pesadelos, enquanto uma mão continua no volante, a outra toca sua perna coberta por uma manta, massageio o local em uma tentativa de acalmá-la. — Cami — Com a voz baixa a chamo, seus olhos não abrem, e seu semblante chega ser um pouco perturbado. — Não por favor, meu bebê não — Sua voz sai exasperada, e
Sara digita algo em seu computador, enquanto não paro quieta na cadeira a sua frente, o barulho do ventilador me irrita profundamente, e saber que Rafa está na sala de espera depois ter insistido muito em me acompanhar alegando ter tirado o dia para nós, me deixa apreensiva. Ainda estou surpresa comigo mesmo por ter contado meu pesadelo a ele, antes diria que fora apenas um pesadelo, e que estava tudo bem, mesmo não sendo a verdade. Porém ontem, senti como se eu lhe devesse aquilo, e quando terminei de contar por fim olhando em seus olhos, me senti tão acolhida e ele parecia feliz, seu semblante já não era confuso, nem mesmo desapontado quando o afastava de mim, e algumas de suas palavras me fizeram ter a certeza de que por mais que eu não houvesse sido especifica quanto aos meus receios, ele havia descoberto tudo, todos os meus medos sufocados nos últimos meses, vi que se eu permitisse ele os enfrentaria comigo, e o mais estranho de tudo
Algo mudou disso eu tenho absoluta certeza, depois do fim de semana no chalé com meus pais e posteriormente Cami me contar sobre seu pesadelo, tudo tem ganhado uma leveza surreal, além de acompanha-la na psicóloga, o que minha esposa não demonstrou nenhum pouco incomodada quando pedi para lhe fazer companhia, ela me chamou para ir no shopping para finalmente comprar algumas coisa para nossa filha, não é comum um homem apreciar ir as compras com a mulher, mas depois de tudo que passamos, depois de ver Cami afastar-se de mim aos poucos, uma tentativa de aproximação vindo dela me deixou feliz, a ponto de querer soltar fogos de artifícios, sem qualquer exagero. E agora aqui, olhando-a de longe entretida dobrando as pequenas peças de roupas enquanto sorri bobamente para a barriga, é como se fosse uma das sete maravilhas do mundo, e a amo um pouquinho mais.
Os dias começaram a passar rapidamente, o modo como tenho ultimamente enxergado tudo ao meu redor tem me trazido uma nova perspectiva de viva, muitas vezes mesmo cansada do dia corrido consigo sorrir, consigo me sentir feliz, e isso chega a ser estranho, um tanto que assustador, afinal apenas uma escolha, uma ação minha conseguiu dar uma guinada em meu interior, claro que ainda sinto medo de não conseguir me adaptar a minha nova realidade, a realidade de que eu sou mãe, que terei que zelar pela vida de um pequeno serzinho inofensivo, acho que não importa o quão maravilhosa possa estar a vida, a ideia de cuidar de um bebe, nunca deixará de ser absolutamente assustadora para mim.E acho que está tudo bem. Nesse meio tempo Sara me deu alta das sessões alegando que eu finalmente sai da bolha que eu havia construído, disse também que eu só devia continuar caminhando, metaforica
Sentado numa poltrona não muito longe de Cami, minha mão segura a sua, ela intercala sua atenção entre a enfermeira que parecem checar alguma coisa e meu olhar ansioso. Depois de alguns alarmes falsos quanto a vinda de nossa filha, parece que agora finalmente é o momento certo. — Apesar de estar já em trabalho de parto, não está na hora de trazes sua filha ao mundo — Murmura a enfermeira, deixando um sorriso formar em seus lábios — Mas, é normal. Tente andar um pouco, deixe seu corpo em movimento ajuda muito. — Oferecendo um último sorriso, e jogando sua luva no lixo mais próximo sai, alegando ter mais alguns papeis para preencher. — Querida — A chamo, ganho sua atenção facilmente — Estou aqui, com você, por vocês — Meus dedos passam entre os fios de seu cabelo, Camille me oferece um amplo sorriso pela primeira vez desde que adentramo
Realizada, é como me sinto olhando para o seu rosto rechonchudo, enquanto está envolvida em um sono profundo e sereno, como se não tivesse feito eu e seu pai ficar velando seu sono por quase uma madrugada. Claro, ficamos velando seu sono desde que a trouxemos para casa, mas a noite de ontem foi complicada, mas nada, absolutamente nada faz meu amor por ti mudar. A, como eu te amo minha filha. E pensar por tudo que passamos para chegar aqui, todas as vezes que não me senti boa para ser a sua mãe, não me senti capaz de zelar por você, é inacreditável como lembrar daqueles momentos já não dói mais, pelo contrário me dá forças para continuar seguindo, aprendendo um pouco mais com você. Uma certa vez, uma amiga me disse que ser mãe, não era saber de tudo quando seu filho viesse ao mundo, era aprender pouco a pouco a cada momento com ele, e tenho que concordar, desde o seu nascimento tenho apr