Capítulo
- 5 -
O restante do sábado foi num clima tenso para Thomaz, Regina enlouquecera quando viu o garoto naquele estado, achou um absurdo ele apanhar tanto e pior, Gabriel estava presente e não fez nada para impedir que aquilo acontecesse. A mãe de Tom começou a ter um sentimento de arrependimento em confiar tanto em seu primo distante, mas algo naquele homem era diferente, o suficiente para ela não sentir nada ruim em relação á ele, nada além de um possível arrependimento, de qualquer forma, na tarde daquele sábado cada um ficou no seu canto, Tom no seu quarto, hora assistindo TV, hora brincando com Aninha, hora ambos assistindo TV. Regina passou a tarde limpando a casa e Gabriel ficou recluso em sua edícula.<
_Sim, e sabe de uma coisa? – Ela falava sem olhar para ele, parecia estar um pouco envergonhada. _Eu aprendi esta frase hoje, quando chamei a atenção de Tom por retornar todo machucado. - Gabriel entendeu o recado. _Eu me preocupo demais com meus filhos, o mundo está mudando, a violência está aumentando e de repente ele aprende um valor como este, de enfrentar quem o oprime, mas não retribuindo com violência e sim com esforço e sacrifício, mostrando aos amigos que mais vale a força de vontade e superação do que a truculência. – Regina olha nos olhos de Gabriel. _O pai dele nunca nem deu atenção, quanto mais lhe ensinou algo tão nobre, obrigada Gabriel. _Eu entendo. – Gabriel apoia as mãos na pia e respira fundo. _Peço desculpas, eu não queria fazer o papel de pai,
Regina acorda com os primeiros raios de sol que invadem as frestas da janela e da cortina de seu quarto e descansam em seu rosto, ela enruga o nariz fazendo uma careta reprovando a ideia de acordar naquele momento, coloca o travesseiro sobre a cabeça, rola de um lado à outro, mas já é tarde, não consegue mais voltar à dormir, vencida pela claridade ela se levanta e vai direto ao banheiro, percebe que as crianças ainda estão dormindo. Enquanto escova os dentes escuta um barulho no quintal, após alguns passos se aproxima da janelinha do banheiro e se estica na ponta dos pés para observar o que está acontecendo lá fora, constata que se trata de Gabriel, ele está com um rolo de tinta pintando as paredes do quintal. Por um instante ela fica parada olhando a cena com a escova de dentes na boca, volta à realidade quando escorre uma baba de creme dental pela boca, ela corre para pia com uma das
Após o almoço eles passaram parte daquela tarde preguiçosa de domingo no quintal, as crianças jogando dominó Disney, pega varetas e outros brinquedos na varanda da edícula e os adultos na varanda da casa principal, conversando. Por vezes Gabriel flagrou Regina lhe encarando com um olhar que não era de amiga ou de parente e sim de uma mulher para um homem, isso o preocupava, era preciso fazer algo e rápido, não podia ficar esperando somente pela ajuda do cupido. Seus pensamentos foram abruptamente interrompidos por Alejandro: _Acorda-te cabrón! – Foi um berro. _Caramba! Ticano louco!_Responda-me. – Alejandro falava como se Gabriel tivesse ouvido o que perguntara na primeira vez. 
Thomaz chega à escola apreensivo e para sua surpresa não vê a dupla de chatos metidos a valentões, ele anda olhando de um lado para outro com passos apressados até que esbarra em um adulto que estava parado mais ao seu lado direito de costas, era o professor Mateus que estava conversando com uma secretária da escola, Tom levou um susto e tropeçou, mas não chegou a cair enquanto que o professor assustado correu para socorrer o menino achando que ele iria cair, segurou-o pelo braço esquerdo. _Tudo bem Tom? _Tudo professor. _Que susto hein garoto? – Mateus tem uma atenção especial com Tom por saber das dificuldades dele no dia á dia na escola. _Se cuida, e se concentra porque hoje
Rapidamente o garoto foi levado para a enfermaria da escola até que a ambulância chegasse, lá recebeu os primeiros cuidados da enfermeira, Sra. Mercedez, muito experiente, constatou a torção no tornozelo que estava muito inchado e roxo, então ela colocou uma tala para imobilizar até chegar ao hospital, havia a possibilidade de fratura devido ao estalo que os garotos ouviram no momento do acidente e ela percebeu também que Tom estava debilitado, talvez sofresse de uma possível anemia, o que seria a explicação para o desmaio,. Pouco tempo depois chegou a ambulância, Tom estava retomando a consciência e bastante atordoado, mas seu batimento cardíaco e pressão estavam estáveis, colocaram ele na maca em seguida na viatura e seguiram para o Hospital Municipal da Vila Matilde, as sirenes soavam no ritmo da velocidade da ambulância.&n
Quinze dias se passaram até a retirada do gesso, Thomaz aos poucos vai apoiando o pé para andar, com cautela e um medo normal após o trauma. Foram dias difíceis, não fosse a presença da família e de Gabriel para lhe dar força e fazê-lo sorrir, certamente o garoto teria entrado em depressão. Ele já estava conformado de que não entraria mais para o time de futebol da escola, que, aliás, já estava formado e na próxima semana iria fazer a primeira partida do campeonato interescolar. Alguns poucos dias depois e Tom já consegue andar sem apoio, porem ainda sentia receio de correr. Na verdade ele já está pronto para iniciar alguma atividade física moderada, por ser jovem a recuperação é rápida. Na escola as pessoas evitam no assunto com ele, o tratam como se n
_Eram mendigos? – Gabriel cortou a história. _Não! Eram pessoas normais, mas que enfrentavam algo muito horrível, eles sofriam muito. _Talvez fosse uma guerra? – Gabriel novamente interrompe. _Sim, acho que era uma guerra, mas não como as que conhecemos, era uma guerra diferente, como se a humanidade estivesse acabando. – Tom respira fundo, com as mãos em palmas ele coloca entre as pernas e se encolhe. _De repente essas pessoas começaram a me pedir ajuda, eles esticavam as mãos, como se eu pudesse ajuda-los. _E você não podia? _Como poderia?
Na manhã de sábado, ainda muito cedo, por volta das cinco horas, o sol nem havia contemplado o dia, mas a campainha da casa passou a gritar incessantemente. Regina resiste em despertar, luta contra o travesseiro, se estica de um lado da cama, se encolhe do outro. A campainha é incansável, parece entrar no meio do cérebro dela que está a um ponto de estourar e ver seus miolos espalhados na cama, ela se estica abruptamente socando a cama e grita. _Já vai! – Após gritar sentiu um grande alívio, sua mente relaxou e a campainha parou. Lentamente a mulher ia se levantando da cama, enquanto vestia seu hobby surge na porta do quarto Aninha, toda torta com os cabelos em pé e esfregando os olhos. _O