_Sim, e sabe de uma coisa? – Ela falava sem olhar para ele, parecia estar um pouco envergonhada. _Eu aprendi esta frase hoje, quando chamei a atenção de Tom por retornar todo machucado. - Gabriel entendeu o recado. _Eu me preocupo demais com meus filhos, o mundo está mudando, a violência está aumentando e de repente ele aprende um valor como este, de enfrentar quem o oprime, mas não retribuindo com violência e sim com esforço e sacrifício, mostrando aos amigos que mais vale a força de vontade e superação do que a truculência. – Regina olha nos olhos de Gabriel. _O pai dele nunca nem deu atenção, quanto mais lhe ensinou algo tão nobre, obrigada Gabriel.
_Eu entendo. – Gabriel apoia as mãos na pia e respira fundo. _Peço desculpas, eu não queria fazer o papel de pai,
Regina acorda com os primeiros raios de sol que invadem as frestas da janela e da cortina de seu quarto e descansam em seu rosto, ela enruga o nariz fazendo uma careta reprovando a ideia de acordar naquele momento, coloca o travesseiro sobre a cabeça, rola de um lado à outro, mas já é tarde, não consegue mais voltar à dormir, vencida pela claridade ela se levanta e vai direto ao banheiro, percebe que as crianças ainda estão dormindo. Enquanto escova os dentes escuta um barulho no quintal, após alguns passos se aproxima da janelinha do banheiro e se estica na ponta dos pés para observar o que está acontecendo lá fora, constata que se trata de Gabriel, ele está com um rolo de tinta pintando as paredes do quintal. Por um instante ela fica parada olhando a cena com a escova de dentes na boca, volta à realidade quando escorre uma baba de creme dental pela boca, ela corre para pia com uma das
Após o almoço eles passaram parte daquela tarde preguiçosa de domingo no quintal, as crianças jogando dominó Disney, pega varetas e outros brinquedos na varanda da edícula e os adultos na varanda da casa principal, conversando. Por vezes Gabriel flagrou Regina lhe encarando com um olhar que não era de amiga ou de parente e sim de uma mulher para um homem, isso o preocupava, era preciso fazer algo e rápido, não podia ficar esperando somente pela ajuda do cupido. Seus pensamentos foram abruptamente interrompidos por Alejandro: _Acorda-te cabrón! – Foi um berro. _Caramba! Ticano louco!_Responda-me. – Alejandro falava como se Gabriel tivesse ouvido o que perguntara na primeira vez. 
Thomaz chega à escola apreensivo e para sua surpresa não vê a dupla de chatos metidos a valentões, ele anda olhando de um lado para outro com passos apressados até que esbarra em um adulto que estava parado mais ao seu lado direito de costas, era o professor Mateus que estava conversando com uma secretária da escola, Tom levou um susto e tropeçou, mas não chegou a cair enquanto que o professor assustado correu para socorrer o menino achando que ele iria cair, segurou-o pelo braço esquerdo. _Tudo bem Tom? _Tudo professor. _Que susto hein garoto? – Mateus tem uma atenção especial com Tom por saber das dificuldades dele no dia á dia na escola. _Se cuida, e se concentra porque hoje
Rapidamente o garoto foi levado para a enfermaria da escola até que a ambulância chegasse, lá recebeu os primeiros cuidados da enfermeira, Sra. Mercedez, muito experiente, constatou a torção no tornozelo que estava muito inchado e roxo, então ela colocou uma tala para imobilizar até chegar ao hospital, havia a possibilidade de fratura devido ao estalo que os garotos ouviram no momento do acidente e ela percebeu também que Tom estava debilitado, talvez sofresse de uma possível anemia, o que seria a explicação para o desmaio,. Pouco tempo depois chegou a ambulância, Tom estava retomando a consciência e bastante atordoado, mas seu batimento cardíaco e pressão estavam estáveis, colocaram ele na maca em seguida na viatura e seguiram para o Hospital Municipal da Vila Matilde, as sirenes soavam no ritmo da velocidade da ambulância.&n
Quinze dias se passaram até a retirada do gesso, Thomaz aos poucos vai apoiando o pé para andar, com cautela e um medo normal após o trauma. Foram dias difíceis, não fosse a presença da família e de Gabriel para lhe dar força e fazê-lo sorrir, certamente o garoto teria entrado em depressão. Ele já estava conformado de que não entraria mais para o time de futebol da escola, que, aliás, já estava formado e na próxima semana iria fazer a primeira partida do campeonato interescolar. Alguns poucos dias depois e Tom já consegue andar sem apoio, porem ainda sentia receio de correr. Na verdade ele já está pronto para iniciar alguma atividade física moderada, por ser jovem a recuperação é rápida. Na escola as pessoas evitam no assunto com ele, o tratam como se n
_Eram mendigos? – Gabriel cortou a história. _Não! Eram pessoas normais, mas que enfrentavam algo muito horrível, eles sofriam muito. _Talvez fosse uma guerra? – Gabriel novamente interrompe. _Sim, acho que era uma guerra, mas não como as que conhecemos, era uma guerra diferente, como se a humanidade estivesse acabando. – Tom respira fundo, com as mãos em palmas ele coloca entre as pernas e se encolhe. _De repente essas pessoas começaram a me pedir ajuda, eles esticavam as mãos, como se eu pudesse ajuda-los. _E você não podia? _Como poderia?
Na manhã de sábado, ainda muito cedo, por volta das cinco horas, o sol nem havia contemplado o dia, mas a campainha da casa passou a gritar incessantemente. Regina resiste em despertar, luta contra o travesseiro, se estica de um lado da cama, se encolhe do outro. A campainha é incansável, parece entrar no meio do cérebro dela que está a um ponto de estourar e ver seus miolos espalhados na cama, ela se estica abruptamente socando a cama e grita. _Já vai! – Após gritar sentiu um grande alívio, sua mente relaxou e a campainha parou. Lentamente a mulher ia se levantando da cama, enquanto vestia seu hobby surge na porta do quarto Aninha, toda torta com os cabelos em pé e esfregando os olhos. _O
Todos se encontraram na divisa entre a água e a areia seca, Gabriel olhou rapidamente para os olhos de Regina, mas não falou nada, seguiu em frente, escutou Tom dizer algo para Aninha, porém estava tão impressionado com o que presenciara que não fez força para entender o comentário entre as crianças. Em seguida Regina cruzou com Alejandro, este sem papas na língua e sem modos não escondeu sua surpresa com a beleza da mulher. _Estás mui bela senhorita! – O ticano falou encarando e medindo Regina da cabeça aos pés. _Obrigada! – Regina respondeu de forma seca e seguiu em frente. O ticano ainda ficou por ali um tempinho, admirando a beleza singular de Regina com cara