Thomaz totalmente desiludido se levanta e vai para o vestiário mancando, no meio do caminho encontra seu melhor e talvez único amigo de verdade na escola, Jonas, um garoto negro franzino que nos dias atuais seria rotulado como “nerd”, frequentava educação física apenas para cumprir a carga horária, mas não participava dos exercícios, ficava em um canto lendo algum livro de química ou física, ele não entendia este amor que a maioria dos meninos tinha pelo futebol, “_Qual a graça de um bando de caras correndo atrás de uma bola?”, mas ele respeitava a paixão de seu amigo Tom.
_Ei cara! Não pode deixar que eles façam isso com você. – Jonas sente compaixão pelo seu amigo.
_Eu sei disso, um dia isso vai acabar. - Tom respondeu com muito desânimo e seguiu seu caminho, entrou no vestiário onde chora muito e revoltado com tudo desfere socos na porta de metal do seu armário. Saindo do vestiário passou pela quadra onde o jogo já havia acabado e parou para ouvir da arquibancada as palavras do professor Mateus:
_Bom, turminha, eu ainda não fechei o time, tenho duas semanas para escolher os jogadores, ou seja, quatro aulas para montar a equipe e estou com muitas dúvidas, faremos outras seletivas, preparem-se ok?
Esta declaração animou Thomaz, ele ficou feliz em saber que talvez ainda tivesse uma chance.Fim do período escolar, Tom entra na Kombi do Tio Zé e parte para casa, olhando pela janela ele vê a dupla de mal – feitores caminhando pela calçada, sentindo muita repulsa, ele encosta a cabeça no banco do veículo e fecha os olhos, imaginando um mundo diferente, onde pudesse simplesmente ser ele mesmo, sem se preocupar com “aqueles” que por algum motivo não gostavam dele. O que mais lhe doía era exatamente este detalhe, não ter ideia do porquê de tanto ódio dos meninos com ele. Por vezes Tom tentava lembrar-se de algo que pudesse ter feito para despertar a raiva da dupla infernal, algo que tivesse feito e ofendido ou de alguma forma prejudicado um deles ou os dois, todavia, nada vinha em sua lembrança, era um mistério que talvez nunca chegasse a desvendar.
Após uma caminhada de quatro quarteirões, Rubens se despede de André e entra em uma rua pequena sem saída, conhecida como “vielinha”, desanimadamente ele abre um pequeno portão e entra em casa, sua mãe de dentro da residência escuta o ranger do portão e dá um grito.
_Rubinho! Querido! Seu almoço está pronto, pode se servir. – Era um grito fino e estridente que arrancou um grande sorriso do rosto de Rubens.
_Valeu mãe! – Ele correu para dentro de casa, fazer o que mais amava nesta vida, comer.
Um quarteirão depois André desce sua rua, e mais dois quarteirões depois chega á sua casa, era bem simples, entrou pelo portão e em seguida subiu dois degraus que davam em uma área coberta, ao abrir a porta de entrada viu seu pai sentado em uma poltrona assistindo tv.
_Porque demorou vagabundo? – Odervan era um homem ignorante e alcoólatra, seu vício o mantinha a maior parte do tempo sem emprego e era comum descontar na esposa e no filho.
_Vim direto da escola pai. – André respondeu enquanto passava em frente de seu pai seguindo para o seu quarto, repentinamente levou um pontapé no traseiro.
_Sai da minha frente cretino! – O homem estava nitidamente embriagado.
Da cozinha sua mãe, Angela, gritou com aflição em sua voz.
_Odervan! Deixe o menino em paz!
O homem enfurecido levantou-se e foi até a cozinha.
_Como é que disse sua vagabunda? – Ele chegou dando um soco na cara dela, André correu para segura-lo.
_Para com isso pai! – neste momento André também levou um soco que lhe acertou as costas.
O homem embriagado virou-se para acertar sua esposa novamente, mas André o empurrou, ele caiu por cima do fogão derrubando duas panelas de comida no chão e batendo a cabeça na pia. Odervan ficou atordoado e consequentemente foi se acalmando, enquanto Angela, mesmo após ser agredida e estar com o olho roxo, foi socorre-lo, André tinha o ódio estampado em seu rosto, chutou uma das panelas que caíra próximo dele e foi para seu quarto.
Dentro de seu espaço, sentou-se na cama e ligou seu radinho no volume máximo, não queria ouvir nada, estava sentindo o ódio percorrer lhe as veias. Ele não entendia o porquê de sua mãe ser tão maltratada e ainda assim se preocupar com seu pai, um homem ignorante que não respeitava a própria família. Enquanto André estava ali ofegante, remoendo a raiva que sentia, uma voz sinistra e maligna lhe perturbava a mente.
“_Porque você não acaba com a vida desse animal? Vai lá, acaba com ele e seja feliz com sua mãe. Aquele homem faz o que faz porque você é um maricas, medroso, não tem coragem.” – A voz ia inflamando André por dentro até que ele deu um longo grito de horror com as mãos tampando os ouvidos e os olhos arregalados, um urro misturado com desabafo para se livrar daquele tormento.
*
De volta pra casa, Thomaz vai direto para seu quarto, quer ficar isolado de tudo e de todos.
_Filhoooo! Vem almoçar. – Regina está preocupada, mas não pode ir vê-lo, precisa terminar o vestido de uma cliente que está prestes a chegar para experimentar; _O almoço está quente!
No quarto do garoto tem um pequeno gol com traves de plástico, montável, e rede vermelha que fica atrás da porta, um pôster de Pelé em um salto socando o ar com a mística camisa 10 do Santos, e pendurado na cabeceira da cama uma faixa do Santos Campeão Paulista de 1978. Thomaz ainda tinha algumas figurinhas dos jogadores do Santos e de outros times brasileiros, ele era realmente um torcedor apaixonado por este time e pelo esporte. Sobre o criado mudo estava seu álbum de figurinhas do filme E.T. o extraterrestre e um gibi do Recruta Zero que já havia lido, mas ainda estava por ali. Trocou de roupa e colocou a calça rasgada para lavar, sabia que teria que explicar muito sobre o que ocorrera com a calça e ouviria um longo sermão sobre cuidados com a roupa, mas estava chateado demais para receber esta bronca agora, era melhor adiar até quando sua mãe descobrisse por si só. Colocou sua bermuda preta com listras laterais brancas e sua camiseta com uma estampa no peito da cara do Spok e ao fundo a nave Interprise. Ele se aproximou da janela do seu quarto que tinha os vidros forrados de adesivos com o tema futebol, olhou para o céu com lágrimas nos olhos e pediu:
“_Deus, preciso de sua ajuda, não aguento mais o que aqueles meninos fazem comigo, eles são maus, eu achava que toda criança tinha um anjo da guarda, mas já vi que isso é lorota, ou o meu anjo da guarda está de férias; eu quero tanto entrar para o time de futebol, mas sem apanhar, se o senhor realmente me ama pede para o meu anjo da guarda acordar e vir me socorrer, amém.”
Thomaz saiu da janela e desceu para almoçar.
Após o almoço o garoto fez seu dever de casa e foi para o quintal treinar, na parede dos fundos da casa ele pintou as traves de um gol, eram traços improvisados e tortos, a meta não era muito grande, porém o suficiente para simular um gol de futebol de salão. O chão era cimentado e sua bola de capotão, que havia ganhado de aniversário do seu tio Rogério, para ele era o suficiente, além de que aquele treino o ajudaria a melhorar seus chutes a gol, isso lhe dava esperança que iria melhorar.
À noite, durante o jantar o clima estava tenso entre seus pais, mas Tom não fazia ideia do que estava acontecendo e após terminar de jantar, como de costume, subiu para seu quarto para assistir uma de suas séries favoritas, “The Monkeys” e levou Aninha consigo. Enquanto a série não começava ele ficou deitado na cama jogando Aquaplay de pescaria. Sua TV era uma Telefunken de vinte polegadas que pertencera a sua finada avó, mãe de seu pai, e o Aquaplay era outro presente importado do Paraguai que ganhara de seu tio. Aninha se deitou na cama de Tom e rapidamente adormeceu agarrada com sua boneca, logo Tom a leva para seu quarto e a coloca na cama, lentamente, com muito cuidado ele a cobre com um edredom florido, sai do quarto da menina sorrateiramente e deixa a porta semiaberta para entrar um feixe de luz do corredor.
Assim que a série começa uma discussão se inicia lá embaixo na cozinha, ele abaixa o volume para tentar escutar do que se trata.
_Você não me respeita! Não se interessa pela família, tudo aqui sou eu, sozinha tenho que cuidar de tudo. – Regina estava com a voz embargada e irritada.
_Eu trabalho para colocar o pão na mesa, o que mais quer de mim? – Rodrigo falava com muita raiva e superioridade machista.
_Mas isso não basta, as crianças precisam de sua presença.
Tom sai de seu quarto sorrateiramente e vai ao quarto de Aninha ver como ela está, e fica aliviado em ver que a menina está em sono profundo.
_Ou eu trabalho ou dou atenção ás crianças, o que você prefere?
_Prefiro que concilie as duas coisas.
_Mas como mulher? – O homem irritado desfere um soco na mesa fazendo um enorme barulho de pratos e copos saltando na mesa.
_Ao invés de sair do trabalho e ir beber no bar com os amigos ou fazer farra com a mulherada venha para casa, seus filhos precisam de sua presença. – Regina fala muito estressada enquanto acende um cigarro.
Como se as palavras de sua mulher fossem a gota d’agua, Rodrigo dá um salto da cadeira, e sai em direção ao quarto enquanto Regina senta e passa a chorar.
Tom entrou correndo em seu quarto aumentou o som da TV e fingiu estar rindo de alguma cena engraçada. Percebeu que seu pai passara lentamente pela porta do quarto, provavelmente tentando observar o que o menino fazia, preocupado se Tom havia escutado algo.
No dia seguinte Regina acorda e percebe estar sozinha na cama, passa a mão pelo edredom tentando encontrar Rodrigo, mas, encontra apenas um pedaço de papel, um bilhete de despedida, “_Sinto muito querida, mas não posso mais viver dessa forma, preciso ser livre, a vida de casado e compromissos com o lar não me servem, diga às crianças que eu as amo muito, desculpa.”
Regina ficou horrorizada ao ler aquele bilhete, dá um salto da cama e abre o armário, constata que Rodrigo levou suas roupas e sente falta de uma mala de viagem, corre para a cômoda onde há um potinho estilo oriental, no formato de um hexágono onde o casal guarda algumas economias para emergências, e sua suspeita se confirma, o potinho está vazio. Regina senta na cama com o objeto vazio e começa a chorar inconformada com tudo o que estava acontecendo.
Alguns momentos depois, surge Aninha se escorando no batente da porta, com a carinha inchada de sono.
_Bom dia mamãe.
Regina disfarça o choro, passa a mão nos olhos para enxugar as lágrimas.
_Bom dia, minha querida.
_As torradas estão prontas, mamãe?
_Não querida vou lá preparar agora mesmo.
As duas descem para a cozinha, enquanto Regina prepara o café, vai orientando Aninha a se trocar, colocar o uniforme da creche.
_Bom dia mãe! – Tom já está pronto para a aula.
_Bom dia querido, sente-se já vou lhe servir. – Regina tenta esconder o rosto, acima de tudo por se sentir envergonhada por ter sido rejeitada.
_Mãe, porque seus olhos estão inchados e vermelhos? – Tom é muito observador.
_Não é nada filho, talvez uma conjuntivite.
A buzina da Kombi grita três vezes e as crianças saem correndo.
_Cuidado crianças!
Agora sozinha em casa, Regina chora tudo o que tem para chorar, toma um banho e decide ir até o trabalho de Rodrigo, não para pedir que volte, mas para pedir que não volte nunca mais. Ela atravessa a cidade com dois ônibus e ao chegar à construção descobre que ele não foi trabalhar, apenas ligou e informou que estava se demitindo, Regina retornou arrasada para casa.
Na hora do almoço ela sentou junto a Thomaz, mas ambos ficaram em silêncio, o tempo todo, até terminarem de almoçar, Tom sabia que havia algo errado, mesmo que sua mãe não houvesse tocado no assunto, ele se levantou e foi lavar a louça, Regina o observou com um leve sorriso no rosto.
_Obrigada pela força filho.
_Não é nada mãe.
_Tom, preciso te dizer uma coisa muito séria e conto com a sua compreensão.
_É algo com o papai?
_Sim, aconteceu uma coisa muito grave e séria.
_Ele está bem? – Tom conversava sem parar de enxugar a louça.
_Esse é o problema filho, não faço ideia de como ele está, ele nos abandonou e não disse pra onde foi, nem deixou um telefone de contato, nada.
Tom coloca a última louça no escorredor de pratos e se aproxima de sua mãe, dá um abraço apertado nela enquanto diz em seu ouvido:
_Ele nunca esteve aqui, vamos seguir bem sem ele mãe.
Regina desaba em choro novamente, aperta Tom com força pressionando a cabeça do menino em seu peito:
_Obrigada filho, ficaremos juntos sempre, um pelo outro, unidos como os três Mosqueteiros.
_Sim mãe, vamos superar isso e mostrar pra ele que não precisamos dele para ser feliz.
Juntos, eles levantam a mão direita de cada um acima da cabeça e batem as palmas de suas mãos com o grito de guerra dos Mosqueteiros:
_Um por todos e todos por um!
Eles riem muito juntos enquanto Tom pega os talheres de Regina e vai lavar.
_Vai descansar mãe, tira o dia de folga, amanhã tudo volta ao normal.
Regina sorri, se levanta e segue para seu quarto onde irá chorar mais um pouco pelo sentimento de rejeição, e depois planejar como será a vida da família daquele momento em diante.
Tom termina de lavar a louça lentamente olhando pela janela, sente uma grande tristeza invadir seu peito, uma mistura de perda e medo que lhe percorre a espinha. A vida era muito difícil, mesmo seu pai sendo ausente, ao menos ele ajudava com alguma porção financeira, e agora o que já era difícil se tornaria ainda pior. O garoto também se preocupava com sua mãe, não sabia se ela suportaria toda aquela situação, uma pressão muito grande se abatera sobre ela e talvez ele tenha que ajudar de alguma forma, quem sabe até abandonando os estudos para trabalhar.
“_Se eu fosse um jogador de futebol famoso resolveria tudo, poderia dar uma vida melhor para minha família.” – Tom pensou mantendo os olhos fixos na janela.
Sentado em uma pedra á beira de uma nascente de água límpida, está um garoto de nariz avantajado, olhos caídos, cabeça oval e um sorriso terno observando o caminhar daquele líquido transparente por entre pedras de várias formas e tamanhos, uma verdadeira obra de Deus que além da beleza física o som da correnteza transmite paz e tranquilidade á alma, o garoto usa uma calça jeans desbotada, uma camiseta branca com a face de Darth Vader, e nos pés um par de Bamba azul, também usava um par de fones de ouvido ligado a um walkman que tocava a música Super Fantástico, da Turma do Balão Mágico, ás margens do pequeno córrego borboletas de diversas cores e tamanhos bailam entre si, alguns pássaros e passarinhos também se aproximam da margem em busc
_Muito bem Tom! – Gabriel como sempre brincalhão e sarcástico, assim que o garoto inicia a escalada pela escada ele completa: _Sinta-se em casa. Tom deu uma parada rápida para escutar a “piadinha” de Gabriel e sem demonstrar se gostou ou não, continuou subindo seguindo para seu quarto, o garoto realmente estava muito desconfiado, na cozinha o casal se entreolha, sorriem e continuam a preparar o almoço. Momentos depois o arroz quentinho está na mesa, ao lado uma linda salada de alface e tomates, Regina coloca uma combuquinha com feijão fresquinho e logo Gabriel coloca uma travessa com sardinhas fritas, elas estão abertas e crocantes, para finalizar ele espreme um limão por cima. Regina chama Tom que está na sala assistindo o programa musical de vídeo clips, Super Special que é apresentado por Mr. Sam,
Os dias passam e a rotina vai se estabelecendo na casa de Regina, Aninha sente a falta da presença do pai, mas aos poucos vai se acostumando com a situação, ela acha que Rodrigo saiu para um longo trabalho longe de casa e que um dia retornará, aos poucos Regina vai desencorajando a ideia da filha preparando-a para uma realidade bem diferente, mas não quer de forma alguma que sua filha sinta algum tipo de culpa pelo o que aconteceu, é um momento delicado e difícil na vida de Regina, porém ela conta com a ajuda inesperada de Tom, seu filho de ouro, juntos eles vão atravessando o mar de inseguranças com a certeza que os três estarão sempre juntos. Com o passar dos anos o bairro se tornou um pouco mais violento em relação à é
No dia seguinte Regina retorna com as crianças para casa, já são 09:00hs da manhã e eles perderam o horário da aula, apesar disso ela não está chateada nem preocupada com as faltas, quer apenas que as crianças descansem enquanto ela arruma a confusão da noite anterior. Varrendo a sala, recolhe os cacos de vidro de um porta-retratos que certamente o invasor derrubou, ela se agacha e pega a foto caída onde estão Tom e Aninha juntos cada qual com seu largo sorriso no rosto, a foto fora tirada em um passeio no parque do Ibirapuera em 1980, Regina senta-se no sofá com a foto nas mãos, e relembra bons momentos vividos, as lágrimas descem involuntariamente, ela passa a mão para enxugar o rosto, coloca a foto sobre o rack e continua a limpeza. A mulher sabia que as dificuldades seriam diversas, mesmo assim faria de tudo por seus filhos, em sua concepção, não precisav
O Treinamento Capítulo- 4 - Nos dias seguintes Tom teve sossego na escola, os dois encrenqueiros pareciam estar desconfiados de que algo estava errado, assim, naturalmente se comportaram com um pouco mais de decência em relação a Thomaz. Em casa, incrivelmente Gabriel produziu duas dezenas de peças em madeira, eram carrinhos, casinhas, piões, ioiôs, aviõezinhos, tabuleiro de Damas e Xadrez, uma variedade de produtos com ótima qualidade que eram oferecidos para as clientes de Regina e ficavam em exposição na garagem para quem passasse na rua. Rapidamente metade dos objetos foram vendidos e Gabriel ofertou todo o valor recebido à Regina, para ajudar com as despesas da casa. As coisas parecia
Imediatamente Gabriel respondeu ao pensamento do garoto: _Então é assim? _Como? – As palavras de Gabriel o acordam do transe. _Você simplesmente acha que não pode com eles e desiste sem ao menos tentar? _Eles são muito bons. _Mas o carinha que te impediu de jogar é muito grosso, você ganha dele fácil. _O que quer dizer Gabriel? _Negocie com ele, desafie o carrancudo e mostre que é melhor, ganhe seu passe.
EncontrosCapítulo- 5 - O restante do sábado foi num clima tenso para Thomaz, Regina enlouquecera quando viu o garoto naquele estado, achou um absurdo ele apanhar tanto e pior, Gabriel estava presente e não fez nada para impedir que aquilo acontecesse. A mãe de Tom começou a ter um sentimento de arrependimento em confiar tanto em seu primo distante, mas algo naquele homem era diferente, o suficiente para ela não sentir nada ruim em relação á ele, nada além de um possível arrependimento, de qualquer forma, na tarde daquele sábado cada um ficou no seu canto, Tom no seu quarto, hora assistindo TV, hora brincando com Aninha, hora ambos assistindo TV. Regina passou a tarde limpando a casa e Gabriel ficou recluso em sua edícula.<
_Sim, e sabe de uma coisa? – Ela falava sem olhar para ele, parecia estar um pouco envergonhada. _Eu aprendi esta frase hoje, quando chamei a atenção de Tom por retornar todo machucado. - Gabriel entendeu o recado. _Eu me preocupo demais com meus filhos, o mundo está mudando, a violência está aumentando e de repente ele aprende um valor como este, de enfrentar quem o oprime, mas não retribuindo com violência e sim com esforço e sacrifício, mostrando aos amigos que mais vale a força de vontade e superação do que a truculência. – Regina olha nos olhos de Gabriel. _O pai dele nunca nem deu atenção, quanto mais lhe ensinou algo tão nobre, obrigada Gabriel. _Eu entendo. – Gabriel apoia as mãos na pia e respira fundo. _Peço desculpas, eu não queria fazer o papel de pai,