― Quem vai acabar morta por alguma crise de nervos sou eu se não conseguir te manter o suficiente inocente até seu casamento, Kate. ― ela franziu o cenho, se sentindo uma matrona rabugenta. Uma que suspirava por piratas, céus... ― Você não deve se importar com o que os criados dizem. Criados... hã, apenas gostam, você sabe, de colocar as mãos em baixo das saias das criadas por costume. É como se fosse... típico. Quero dizer, um código secreto que eles utilizam quando eles querem conversar... em particular.Kate estreitou seus amendoados olhos azuis com cautela.― Então eles... conversam através de códigos assim?Waverly sentiu seu rosto pinicar com vermelho incandescente.― Uh, sim. Algo como isso.Kate deu de ombros.― Puxa, que emocionante. Eu não fazia ideia.Waverly murmurou uma imprecação em pensamentos.― Aposto mesmo que não.Mas passaram-se apenas uns poucos segundos antes as engrenagens da mente de Kate passassem a trabalhar novamente e ela acabasse tendo seus gigantescos olh
Waverly se forçou a expulsar a comprometedora imagem de sua mente antes que perdesse o foco.Ela passou o indicador pelo próprio pescoço num gesto violento.― Forca, Kate. Forca! Você sabe, o Queen's Hansey não faz corso. E capitão Hansey não é nenhum corsário legalizado, mas um pirata sem lei. ― ela pausou ao pressupor que na verdade, nenhum pirata tinha lei. Oh. Ela já não estava mais conseguindo soar persuasiva nem para si mesma, no entanto, continuou ― Um pirata temido. Um assassino que simplesmente não PODE ser um príncipe.― E ainda assim, ele voltou. ― Kate cruzou os braços, teimosa ― Porque o temível Capitão Hansey arriscaria uma forca quando poderia continuar com suas pilhagens? Ele não me parece com alguém que precise de amparo, tão pouco.Waverly quis amaldiçoar qualquer coisa. Ela tinha um maldito bom ponto.― E como é que eu vou saber como é que as coisas acontecem na cabeça de um pirata, Kate? ― Waverly sufocou um esgar surpreso quando a ideia lhe ocorreu, vinda de repen
-Apreciando a vista, Srta. Watkins? ― a voz familiar soprou perto de si.Waverly de repente tinha certeza sobre três coisas.Primeira: o universo estava conspirando contra ela.Segunda: Hansey merecia uma medalha brilhante na posição de "vilão".E terceira: se ela perdesse o equilíbrio e suas mãos derrapassem mais meio centímetro pelas paredes externas abaixo da janela, ela despencaria para uma queda de mais o menos nove andares. E só havia uma pessoa que poderia ajudá-la naquele momento.E esta pessoa, em questão, havia se recostado confortavelmente na coluna ao lado da janela enquanto Waverly balançava as pernas no ar, numa linha horizontal, por estar, claro, com quase metade do corpo projetado para fora.Ah, e ela também tinha certeza sobre mais uma pequena coisa: nunca, em toda a sua vida no convento, sentira tão derradeira necessidade de chutar a canela de alguém com força suficiente para deixá-la manca. Mas parecia haver algum atrativo especial nessa parte em particular da compl
Waverly se desestabilizou por um momento, fulminando o pirata com seu pior olhar ameaçador.― Oh, você não... ― ela estancou, sem conseguir encontrar palavras ― Você vai arder no inferno por isso! Então era por isso que queria se passar por Aaron? Por medo da forca? De repente os pecados de Hansey se tornaram grandes demais para serem remediados, a menos que ele fingisse ser um príncipe de renome?Hansey estendeu um passo, violando a distância entre eles com um olhar provocante pairando no rosto ainda mais provocante. Tudo nele parecia disposto a testar todos os seus níveis de controle. E Waverly mentiria se dissesse que não estava funcionando. O negrume esfumaçado ao redor de seus olhos apenas intensificava o verde cruel se interpondo nas nuances profundas de suas íris, e a camisa com as primeiras casas dos cordões desamarradas apenas reforçavam sua imagem... Selvagem.Bem... Uma vez pirata, sempre pirata.― E o que você entende sobre pecados, pequena devota? Seria mesmo capaz de com
― Por favor, Wave! Pense um pouco sobre isso, está bem? ― Kate estava agarrada à sua saia, seguindo-a pelo corredor espaçoso enquanto tentava convencê-la a parar ― Você não pode fazer isso! Vai ser pega! E o problema de ser pega por aquele pirata, é que, pirataria à parte, ele é o príncipe!!! Porque, ele tem de ser, não tem? Se ele não fosse, como ele saberia sobre quase toda a sua infância!?" Sim, Waverly! Como? Como ele saberia? Huh?".― Ele pode muito bem ter pago alguém para conseguir essas informações, Kate! Não seja tão inocente!― Pago alguém? Tipo, quem!? Seu pai? Não consigo pensar em mais ninguém que saberia de cor cada uma das suas... ― Kate fechou a boca bruscamente quando Waverly parou de repente. A princesa tapou a boca de forma arrependida enquanto seus olhos cresciam nas órbitas. ― Oh, não, não não... espere, Wave. Eu não quis dizer, de nenhuma forma...-― Dizer o quê? A verdade? ― Waverly cruzou os braços, enviando um olhar desafiador à princesa. ― Pode dizer, Kate.
Os etimologistas e estudiosos aos quais Waverly estava habituada afirmavam que a palavra "pirata" podia ser rapidamente traduzida para "Sedutor Maligno" ou "Canalha Notório", dentre outros substantivos derivados indiscutivelmente indizíveis para a sociedade civilizada. No entanto, enquanto repassava seu recente encontro com Hansey, Waverly só conseguia pensar em como facilmente encheria várias folhas de velino apenas dissertando possíveis sinônimos, antônimos, ditongos e polinômios, quem sabe até epítetos. E ela se sentia uma pessoa extremamente culta enquanto os repassava mentalmente, quase criando um novo dialeto à lá Waverly Piratarie'.Os adjetivos eram muitos.No entanto, nenhum deles era muito carinhoso.A fonte negligente e prosaica de seus estímulos tinha um nome. Aliás, dois nomes. Ambos carregados até a borda do poder ultrajante de fazer os cabelos de sua nuca formigarem ao mesmo tempo em que incitavam seus punhos a coçarem, famintos por atrito: com mandíbulas, um nariz,
― Foi com o propósito único de que eles me alertassem quando algum criado passasse! ― Kate se defendeu com um apertar de olhos ― E você não pode dizer que não funcionou.― No meu ponto de vista, deu bastante errado quando, no escuro, uma criada saiu gritando a todos pulmões que o castelo estava sendo invadido por criaturas rastejantes que gritavam.Kate deu de ombros.― Fui bastante rápida ao recolher as provas do crime antes que papai chegasse, alegando que todos no castelo estavam ficando mais loucos do que o habitual. ― Kate deu uma fungada dramática enquanto tremelicava os cílios ― O que não é nenhuma anormalidade no cronograma diário da vida na realeza. Todo dia alguém, hipoteticamente, precisa ser chamado de louco para estar dentro dos padrões decentes. Vamos lá, Wave. Você sabe que eu sempre tenho as melhores ideias, de forma que você não poderia ter arranjado uma aliada melhor... ― ela se abanou com o leque ― E está quente como o diabo aqui, não é?Nesse momento, as cortinas s
― Estão, ainda, nos navios.Waverly não poderia ter se surpreendido mais com a resposta.― Nos navios? Como assim? Estiveram lá o tempo todo?Chase deu de ombros.― Eles foram bastante espertos. Logicamente, a frota foi distinguida quando estava a algumas léguas de distância da costa, no entanto, o tempo que os soldados levaram para descer ao reino foi todo o tempo que os piratas precisaram para abortar e descer, criando uma armadilha muito eficaz para os saldados, que foram rendidos assim que chegaram. E como os soldados enviados não voltavam, mais foram enviados, sendo também coagidos numa emboscada ludibriosa. Não muito justa, Hansey fez questão de deixar claro com um sorriso maquiavélico.Waverly praguejou. Não precisava se esforçar muito para se lembrar daquele sorriso zombeteiro.― E porque?― Para que Hansey tivesse o caminho livre para o castelo, obviamente. ― Chase deu de ombros. ― Enquanto os soldados estavam sendo entretidos, ele teria todo o tempo do mundo para chegar pelo