-Apreciando a vista, Srta. Watkins? ― a voz familiar soprou perto de si.Waverly de repente tinha certeza sobre três coisas.Primeira: o universo estava conspirando contra ela.Segunda: Hansey merecia uma medalha brilhante na posição de "vilão".E terceira: se ela perdesse o equilíbrio e suas mãos derrapassem mais meio centímetro pelas paredes externas abaixo da janela, ela despencaria para uma queda de mais o menos nove andares. E só havia uma pessoa que poderia ajudá-la naquele momento.E esta pessoa, em questão, havia se recostado confortavelmente na coluna ao lado da janela enquanto Waverly balançava as pernas no ar, numa linha horizontal, por estar, claro, com quase metade do corpo projetado para fora.Ah, e ela também tinha certeza sobre mais uma pequena coisa: nunca, em toda a sua vida no convento, sentira tão derradeira necessidade de chutar a canela de alguém com força suficiente para deixá-la manca. Mas parecia haver algum atrativo especial nessa parte em particular da compl
Waverly se desestabilizou por um momento, fulminando o pirata com seu pior olhar ameaçador.― Oh, você não... ― ela estancou, sem conseguir encontrar palavras ― Você vai arder no inferno por isso! Então era por isso que queria se passar por Aaron? Por medo da forca? De repente os pecados de Hansey se tornaram grandes demais para serem remediados, a menos que ele fingisse ser um príncipe de renome?Hansey estendeu um passo, violando a distância entre eles com um olhar provocante pairando no rosto ainda mais provocante. Tudo nele parecia disposto a testar todos os seus níveis de controle. E Waverly mentiria se dissesse que não estava funcionando. O negrume esfumaçado ao redor de seus olhos apenas intensificava o verde cruel se interpondo nas nuances profundas de suas íris, e a camisa com as primeiras casas dos cordões desamarradas apenas reforçavam sua imagem... Selvagem.Bem... Uma vez pirata, sempre pirata.― E o que você entende sobre pecados, pequena devota? Seria mesmo capaz de com
― Por favor, Wave! Pense um pouco sobre isso, está bem? ― Kate estava agarrada à sua saia, seguindo-a pelo corredor espaçoso enquanto tentava convencê-la a parar ― Você não pode fazer isso! Vai ser pega! E o problema de ser pega por aquele pirata, é que, pirataria à parte, ele é o príncipe!!! Porque, ele tem de ser, não tem? Se ele não fosse, como ele saberia sobre quase toda a sua infância!?" Sim, Waverly! Como? Como ele saberia? Huh?".― Ele pode muito bem ter pago alguém para conseguir essas informações, Kate! Não seja tão inocente!― Pago alguém? Tipo, quem!? Seu pai? Não consigo pensar em mais ninguém que saberia de cor cada uma das suas... ― Kate fechou a boca bruscamente quando Waverly parou de repente. A princesa tapou a boca de forma arrependida enquanto seus olhos cresciam nas órbitas. ― Oh, não, não não... espere, Wave. Eu não quis dizer, de nenhuma forma...-― Dizer o quê? A verdade? ― Waverly cruzou os braços, enviando um olhar desafiador à princesa. ― Pode dizer, Kate.
Os etimologistas e estudiosos aos quais Waverly estava habituada afirmavam que a palavra "pirata" podia ser rapidamente traduzida para "Sedutor Maligno" ou "Canalha Notório", dentre outros substantivos derivados indiscutivelmente indizíveis para a sociedade civilizada. No entanto, enquanto repassava seu recente encontro com Hansey, Waverly só conseguia pensar em como facilmente encheria várias folhas de velino apenas dissertando possíveis sinônimos, antônimos, ditongos e polinômios, quem sabe até epítetos. E ela se sentia uma pessoa extremamente culta enquanto os repassava mentalmente, quase criando um novo dialeto à lá Waverly Piratarie'.Os adjetivos eram muitos.No entanto, nenhum deles era muito carinhoso.A fonte negligente e prosaica de seus estímulos tinha um nome. Aliás, dois nomes. Ambos carregados até a borda do poder ultrajante de fazer os cabelos de sua nuca formigarem ao mesmo tempo em que incitavam seus punhos a coçarem, famintos por atrito: com mandíbulas, um nariz,
― Foi com o propósito único de que eles me alertassem quando algum criado passasse! ― Kate se defendeu com um apertar de olhos ― E você não pode dizer que não funcionou.― No meu ponto de vista, deu bastante errado quando, no escuro, uma criada saiu gritando a todos pulmões que o castelo estava sendo invadido por criaturas rastejantes que gritavam.Kate deu de ombros.― Fui bastante rápida ao recolher as provas do crime antes que papai chegasse, alegando que todos no castelo estavam ficando mais loucos do que o habitual. ― Kate deu uma fungada dramática enquanto tremelicava os cílios ― O que não é nenhuma anormalidade no cronograma diário da vida na realeza. Todo dia alguém, hipoteticamente, precisa ser chamado de louco para estar dentro dos padrões decentes. Vamos lá, Wave. Você sabe que eu sempre tenho as melhores ideias, de forma que você não poderia ter arranjado uma aliada melhor... ― ela se abanou com o leque ― E está quente como o diabo aqui, não é?Nesse momento, as cortinas s
― Estão, ainda, nos navios.Waverly não poderia ter se surpreendido mais com a resposta.― Nos navios? Como assim? Estiveram lá o tempo todo?Chase deu de ombros.― Eles foram bastante espertos. Logicamente, a frota foi distinguida quando estava a algumas léguas de distância da costa, no entanto, o tempo que os soldados levaram para descer ao reino foi todo o tempo que os piratas precisaram para abortar e descer, criando uma armadilha muito eficaz para os saldados, que foram rendidos assim que chegaram. E como os soldados enviados não voltavam, mais foram enviados, sendo também coagidos numa emboscada ludibriosa. Não muito justa, Hansey fez questão de deixar claro com um sorriso maquiavélico.Waverly praguejou. Não precisava se esforçar muito para se lembrar daquele sorriso zombeteiro.― E porque?― Para que Hansey tivesse o caminho livre para o castelo, obviamente. ― Chase deu de ombros. ― Enquanto os soldados estavam sendo entretidos, ele teria todo o tempo do mundo para chegar pelo
Estar de quatro diante de um homem como Hansey, era, de fato, uma atitude um tanto quanto escandalosa. Waverly sentia em seus nervos.E foi sondando esse pensamento com afinco que ela de repente se deu conta.Hansey.Em sua mente, ele era Hansey. Simplesmente. Absolutamente Hansey. Waverly se negava apensar nele como Aaron. Até porque, por mais que olhasse, não conseguia ver nada do príncipe naquele espécime exótico masculino e bronzeado de temperamento volátil e perigoso. E o fato de estar de quatro perante ele só piorava a situação numa escala de graus e números.Porque não havia, definitivamente, nada de principesco nas órbitas esverdeadas daquele olhar sobre ela naquele dado momento.Nada, absolutamente nada.Sua mente, geralmente, lhe ofereceria o percentual de mais o menos vinte respostas diferentes e espirituosas para usar como desculpa para o fato de estar rastejando em baixo de um cortinado. E as probabilidades e variações numéricas de que algumas delas fossem convincentes er
― Tenha cuidado com suas escolhas de palavras, milady. Talvez eles acabem servindo também para assassinatos e omissão de corpos. Tudo exclusivo para ladys. ― ele murmurou os puxando para dentro de um cômodo, cujo teto altaneiro e brocado se erguia como uma abôbada em vergas arqueadas, vitrais coloridos e de formatos variados cobrindo o âmbito e criando um efeito claro e ao mesmo tempo colorido.A tapeçaria pesada das paredes era ornada com famosas pinturas provincianas, e a saleta estava infestada com esculturas de mármore e gesso em tamanho real, bustos de poetas enfeitando os alpendres e vasos de flores decorando o recinto, lhe rendendo um cheiro adocicado temperado com as notas rústicas dos materias dispostos pelo âmbito. Cinco janelões arcados se dispunham nas paredes dos fundos, arejando o espaço e deixando entrar leves seixos brilhantes de raios solares. Cortinas leves de matim davam voltas pela parte de cima delas num ar refinado.Ora, nem mesmo Waverly conhecia a coleção de es