Capítulo 3 Ivy

Depois da surra que levei, esperei Deise dormir ela nunca trancava a porta de trás sempre esquecia, dei graças a Deus por isso, já era por volta das 23 horas quando sair sem fazer barulho, já tinha arrumado minha mochila com algumas peças de roupas, coloquei só o essencial, calcinhas, 2 blusas e 2 calças de moletom, creme dental e escova de dente, minha farda da escola e os livros por que mesmo sem saber para onde ir, de uma coisa eu tinha certeza meus estudos não iria me abandonar, peguei uns trocados que Deise deixa em um cofrinho na cozinha, peguei cofre e tudo nem sabia quanto tinha lá, e sai antes de fechar a porta fechei os olhos suspirei e disse "NUNCA MAIS NINGUÉM  VAI ME HULMILHAR, ME FERIR, NUNCA MAIS!! "

Descendo o morro ninguém me parou ou reconheceu, agradeci por isso, cheguei na avenida principal e não sabia para onde seguir, continuei andando, até chegar em uma praça, já era tarde da noite e estava cansada de andar acabei sentando, tirei a mochila da costa estava pesada por conta dos livros, fiquei observando tudo ao redor, tinha umas pessoas por lá, tinha uma senhora muito suja dormindo em cima de papelão, tinha umas mulheres mais à frente na esquina que gritavam toda vez que passava os carros, deviam ser garotas de programas, tinha uns homens fumando um treco fedorento, tirei o capuz e tentei me encostar na árvore, mas minha costa devia estar muito machucada e dolorida não só pela surra mais também pelo peso da mochila, então continuei sentada e uma moça nem muito jovem e nem velha se aproximou.

- Tá perdida? Quer ajuda?

Apenas a ela e não respondo, volto a abaixar a cabeça e não consigo mais me segurar, choro, choro tudo que tenho para chorar, a moça se senta do meu lado.

- Oh pequena não chora, quer ajuda? Me fala! Meu nome é Margarida, mas pode de chamar de Meg.

Ela tenta me abraçar, mas me esquivo porque ela acaba tocando minha costa, ela percebe e tenta olhar, mas não deixo.

- Olha deixa eu te ajudar, dá para ver que alguém te machucou, por favor?

Ainda em silêncio, apenas viro de costas para ela poder ver melhor e pela expressão dela não está nada bom.

- Criança quem foi o monstro que fez isso com você? Vem vou te ajudar.

Mesmo com medo, peguei a mão dela e deixei que ela me levasse sabe lá Deus para onde, não tinha mais nada a perder, já tinha passado por coisas muito piores, então só segui ainda em silêncio, ela perguntou se eu era muda, apenas balancei a cabeça em negativo e ela sorriu, não sei o porquê, mas eu sentia que poderia confiar em Meg.

Chegamos em um prédio abandonado, estava escuro, mesmo assim entramos subimos escada e adentrando mais, quantos mais entrávamos mais assustada ficava, enfim vi uma luz fraca, chegamos em um quarto tinha umas pessoas espelhadas pelo local, Meg acenou para todos e me deixou sentada em um canto onde tinha uma mala, um cobertor e um colchão velho, e sumiu, não a vi mais, devia ser muito tarde pois o sono já estava pesando, ela voltou depois de uns minutos com uma caixinha na mão.

- Vem, vamos cuidar desses ferimentos.

Me viro, Meg me ajuda a tirar a blusa, fico com vergonha pois não estava com sutiã, ela percebeu e me deu o casaco para me cobrir, ela passa a limpar com algodão e algo que acho ser soro, passa um trem que arde bastante, me contorço porque dói demais, choro baixinho.

- Calma criança tudo vai ficar vem agora, vou cuidar de você.

Meg me abraça e continuo a chorar até pegar no sono.

O dia amanhece e não vejo Meg, dou um pulo do colchão e logo ela entra com um pão e café em mãos.

- Não é muito, mas é o que posso te oferecer agora.

Aceito o pão e café, começo a comer, Meg se senta e me observa.

- Quando você estiver pronta para falar, estarei aqui para te escutar ok?

Apenas aceno com a cabeça, e continuo o café, assim que termino, Meg se levanta e diz;

- Olha não sei seu nome.

- Ivy Lima Soares - digo, e ela sorrir -

- Oh que nome lindo, bom como agora já sei seu nome, mas não sei como veio parar na rua, mas sinto no meu coração que tenho que te proteger, e é isso que farei, então querida a partir de hoje estarei ao seu lado, farei de tudo para te ensinar tudo, como se proteger, se defender, a sobreviver na rua tudo bem?

- Sim - falo determinada conto tudo que passei esses anos, desde lá da dona Lúcia tudo o que lembrava daquela época, até os dias atuais com a Deise.

- E você só tem 12 anos?... Meu Deus como existe gente cruel nesse mundo se eu topasse com essa Deise e esse João juro por Deus que mataria esses dois com minhas próprias mãos vem cá criança.

Meg me abraça devagar para não machucar minha costa e eu apenas choro, agradeço mentalmente a Deus por ainda não ter me esquecido e ter colocado Meg na minha vida.

Os dias foram passando, minha costa foi se curando, e disse para Meg que queria voltar para a escola, ela ficou meio receosa pois provavelmente Deise deve ter ir lá para notificar meu desaparecimento, mas mesmo assim quis ir, Meg também teve uma vida difícil, conheceu um homem na cidade dela que prometeu mundos e fundos, e a trouxe para o RJ, chegando ela percebeu que não era o mar de rosas que ele prometeu muito pelo contrário foi um verdadeiro inferno, o homem era casado e a mulher dele era o próprio diabo, fez da vida da Meg um inferno, o homem a deixou, na verdade mandou ela embora sem nada, sem dinheiro, sem documentos, ela estava sozinha numa cidade desconhecida, acabou que a rua se tornou seu lar, se tornou garota de programa para sobreviver, ela tentou não se envolver com coisas erradas, mas quando não se tem opções a gente aceita o que se oferece, hoje ela faz o que for necessário para sobreviver.

Assim que chegamos próximo a escola Meg me abraça e diz que estará aqui do lado de fora caso precise dela.

Entro na escola e logo de cara encontro a pedagoga, ela me olha estranho mas não diz nada, passo por ela e sigo para sala, uns minutos depois sou chamada na secretaria, a pedagoga queria falar comigo, me dirijo até lá e aguardo que a mesma peça para entrar, assim que entro na sala Lígia pergunta o motivo de ter faltado a semana inteira, sendo que não ouve nenhum comunicado a escola, sinto um alívio imenso em saber que Deise não apareceu aqui, digo que estive doente e na correria da semana minha suposta "mãe " não teve tempo de comunicar a escola, mas que já estava tudo bem e não teria mais que faltar, ela acreditou ainda bem, agora só vou ter que correr para pegar as matérias que perdi.

O resto da manhã foi tranquila perto da hora da saída uma colega de classe pergunta se quero ajuda com as matérias perdidas e me empresta seu caderno para copiar, fico mais que feliz, pois não irei perder nada, saio da escola e encontro Meg sentada na calçada me esperando, nem acredito que ela realmente passou a manhã toda aqui.

De certa forma me sinto feliz, andamos por um tempo até chegarmos no prédio abandonado, entramos e ficamos olhando uma para outra.

- Como foi seu dia na escola? tem lição?

Isso enche meu coração de amor, ninguém nunca me fez essa pergunta, nunca tiveram preocupação comigo e saber que agora tenho uma pessoa que apesar de todos os problemas e complicações me quis e se preocupa comigo, abraço Meg bem apertado.

- Obrigada, obrigada, não tenho nem palavras para expressar a enorme gratidão que tenho por VOCÊ Meg, as vezes acreditava que Deus não gostava de mim, que ele tinha me esquecido, mas aí vem você e me prova o contrário.

- AHH PRINCESA eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo e muito menos o melhor exemplo, mas prometo que vou tentar de tudo para ser a melhor para você, nossa situação não é das melhores, mas é o que temos, vamos sobreviver juntas tá bom!

- TÁ BOM!!!

E assim selamos nossa história, eu e Meg contra o mundo.

Ao longo desses anos conheci muita gente, umas boas outras ruins, mais Ruins que boas, quando se vive na rua estamos sujeitos a tudo, escapei de muita coisa, de estrupo a morte, muitas pessoas se aproximavam apenas para fazer o mal, graças aos ensinamentos da vida hoje estou pé.

Meg me deixou só perto de completar 18 anos, não que ela tenha me deixado e sim por que foi tirada de mim de uma forma muito cruel, ela foi cruelmente assinada e ninguém nunca descobriu quem a matou, a polícia fez pouco caso pois ela era prostituta de rua, como eles disseram, não valia a pena desvendar o crime, ela foi enterrada como indigente, sempre que posso vou lá no cemitério dizer que estou bem e agradecer tudo o que ela fez por mim e pedir que ela olhe por mim lá de cima.

Ainda vivo no prédio abandonado, criei laços nesse lugar, já tive dinheiro o suficiente para alugar um quartinho, mas tem pessoas aqui nesse lugar que precisam de mim, tipo o seu Domingos ele é um senhorzinho muito gentil que foi expulso de sua casa pelos próprios filhos, ele sofre de Alzheimer com sintomas leve ainda, quem cuidaria dele se fosse embora? Compraria os remédios que ele precisa ou o alimentaria?, também a Júlia ela tá na faixa dos 40 e poucos anos, ela é bem fechada não é de conversar, é mais na dela mas é gente boa sempre que pode me ajuda com seu Domingos, faz os corres dela, ganha o dinheirinho e sempre volta pra cá, tem o Gil, a Carla e a Vick, eles são uma família, pai ,mãe e filha não conheço muito da história deles, mas pelo que sei eles também estão lutando para sobreviver a cada dia, tem outras pessoas nos outros andares mas não tenho muito convívio, a grande maiores são viciados mas eles são na deles não mexem com ninguém aqui dentro.

Todo aqui tem seu canto, ninguém mexer nada de ninguém é Lei, não consegui terminar meus estudos, no meu último ano descobriram que tinha fugido de casa e estava morando na rua, até que demoraram bastante para descobrirem, então decidi não voltar mais, tudo o que aprendi foi sozinha, com livros de doações ou da biblioteca pública, sempre que podia ia numa lan-house e aprendia alguma coisa online, hoje falo fluente 5 línguas, inglês, espanhol, alemão, francês e mandarim é minha gente mandarim nunca se sabe quando se pode precisar né.

Também faço meus corre, mas nada ilícito ou errado, faço de tudo um pouco, vendo água, bala, pão de mel no sinal, o fato de falar outras línguas também me dão um trocado a mais, sempre aparece um turista querendo informação ou dica de hotel quando percebem que falo o idioma e isso me rende uns trocadinhos, já sou conhecida por isso.

Mudei pouco ao longo desses antes, ganhei corpo de mulher, mas continuo baixinha, para sobreviver tive que mudar minhas vestimentas, a maiorias das minhas roupas são masculinas, blusão, calça de moletom, faço de tudo para não chamar atenção, na maioria das vezes acham que sou lésbica, mas não ligo muito não sabe, eu sei o que sou e para mim isso basta, meu temperamento mudou muito também, não sou de levar desaforo para casa, bato de frente mesmo seja quem for.

Por esses dias, passei por uma situação que só Jesus na causa, meu Deus pensei que dessa vez não ia conseguir escapar e realmente quase não consegui,

Estava indo na distribuidora comprar o fardo de água mineral, durante o caminho percebi que estava sendo seguida, já fiquei em alerta, comecei a caminhar rápido praticamente quase correndo e o homem mal-encarado também, nem percebi o momento que realmente comecei a correr, correndo e olhando para atrás não vi o carro dobrando o cruzamento, só senti o impacto e em seguida a escuridão.

Acordei dentro de um hospital toda dolorida, com a cabeça doendo, e com um homem que nunca vi na vida sentado em uma poltrona todo desengonçado dormindo, o observo, ele parece ser bem bonito, tem os cabelos claros, assim como a barba por fazer, parece ser bem alto também, e forte, ele parece está tendo um sono agitado, se mexe algumas vezes, se assusta e acorda.

Quando ele abre os olhos, puta merda esse posso dizer com toda certeza, se dormindo ele já era bonito, acordando então, é o homem mais bonito que meus olhos já viram, continuo o observando, ele me percebe e franze o cenho, mas também me olha e não diz nada, ficamos assim por alguns segundos, eu que quebro o olhar e tento me levantar, mas ele é mais rápido...

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