O som da sirene ecoou pelos corredores do Hospital São Lucas, um aviso urgente de que algo grave havia acontecido. Quando a equipe de emergência trouxe a paciente, uma mulher chamada Ayla Navarro, meu coração disparou. Eu sabia que as sirenes anunciavam não apenas a gravidade do caso, mas também o peso emocional que um acidente poderia trazer. Aqueles momentos, que pareciam durar uma eternidade, eram apenas uma fração do que ainda estava por vir.— O que temos? — perguntei rapidamente à equipe que já se preparava para a cirurgia.— Acidente de carro. Ela está em estado crítico, e parece que as duas crianças que estavam com ela não sobreviveram — disse um dos enfermeiros, a expressão grave e tensa.O ar ao meu redor pareceu pesar, e eu sentia o nó se formar em minha garganta. A informação caiu sobre mim como uma pedra. A ideia de duas vidas jovens perdidas em um instante me atingiu como um soco no estômago. A gravidez me tornava mais sensível a esse tipo de notícia, e a perda de uma mã
A luz da manhã filtrava-se pelas janelas do nosso apartamento, banhando a cozinha com um brilho suave. O aroma do café fresco preenchia o ar, misturando-se ao cheirinho de pão de queijo assando no forno. Enquanto a água fervia na panela, eu observava Ian, nosso pequeno de já quase três anos, sentado à mesa. Ele estava concentrado em seu tablet infantil, jogando um jogo educativo que ensinava formas e cores. O jeito como ele mordia o lábio inferior enquanto pensava me fazia sorrir.— Mamãe, olha! — Ian exclamou, levantando o tablet para me mostrar uma forma que havia conseguido juntar. Seu sorriso radiante e a alegria pura em seus olhos iluminavam meu dia.— Muito bem, meu amor! Você é um grande solucionador de problemas! — eu disse, inclinando-me para dar-lhe um beijo na bochecha, sentindo seu cheirinho de frutas e sabonete infantil. Aquele momento era tudo o que eu sempre sonhei: um lar cheio de amor e risadas.Bernardo entrou na cozinha, ainda em seu pijama, com os cabelos bagunçado
Assim que entrei no escritório, a atmosfera mudou instantaneamente. O aroma do café fresco ainda estava no ar, mas a leveza da manhã foi substituída pela pressão que permeava o ambiente. Renato estava de pé, olhando para as telas de dados do computador, seu semblante sério refletindo a gravidade da situação.— Precisamos ser rápidos, Bernardo — disse Renato, sua voz firme. — As falhas nos sistemas de segurança estão criando um caos, e a confiança dos clientes está em jogo.Eu sabia que estávamos diante de um problema colossal. A crise na Orsini Tech não era apenas um desafio temporário, era uma ameaça real que poderia causar um rombo significativo nas finanças da empresa. Enquanto analisava os gráficos projetados na tela, percebi que os números eram alarmantes. A perda de dados e as reclamações de clientes estavam aumentando exponencialmente.— Se não agirmos rápido, poderemos perder mais do que apenas clientes — respondi, já formulando estratégias em minha mente. — Precisamos garanti
Os dias passaram, e, à medida que o tempo avançava, a pressão em meu peito aumentava. A conversa que ouvi de Bernardo, onde ele expressou suas inseguranças sobre ser pai, sufocava minha esperança de um futuro radiante. A insegurança crescia a cada dia, como uma sombra que se estendia, obscurecendo cada momento de felicidade que eu tentava cultivar.Para afastar esses pensamentos perturbadores, eu me jogava de cabeça no trabalho. Quando estava imersa em cirurgias e atendendo meus pacientes, era mais fácil esquecer a inquietação que me consumia. A rotina se transformava em uma sequência de procedimentos, onde a vida de outras pessoas estava em minhas mãos. Essa responsabilidade me dava uma sensação de controle que faltava em minha vida pessoal.Certa manhã, após cerca de um mês em coma, Ayla, a paciente que salvei após o trágico acidente de carro, finalmente acordou. O que encontrei ao entrar em seu quarto foi extremamente doloroso. Ayla estava ali, devastada, com o olhar perdido e a ex
~ BERNARDO ~Assim que cheguei ao hospital, uma raiva fervilhava dentro de mim, misturada a uma ansiedade avassaladora. A imagem de Alice internada me deixava inquieto, o coração acelerado em um ritmo frenético. Cada passo que dava parecia levar uma eternidade. O que minha mulher estava fazendo aqui, e por que eu era o último a saber? A incerteza corroía minha mente, enquanto eu tentava imaginar o que poderia ter acontecido. A necessidade de estar ao lado dela crescia a cada segundo.Encontrei Jonas do lado de fora do quarto. Era interessante pensar que, de alguma forma, eu e o ex-namorado de Alice, aquele com quem já havia trocado socos em um momento de ciúmes, tínhamos nos tornado algo próximo de amigos. O tempo e as circunstâncias haviam suavizado as arestas de nossa rivalidade. Até mesmo saímos juntos em casal algumas vezes, já que Alice e Tina eram inseparáveis. A estranha conexão que desenvolvemos me fazia perceber que, por trás de todo o conflito, havia um respeito mútuo que ti
O dia tinha começado perfeito. Bernardo havia planejado um final de semana romântico no Hotel Milani Serrano, e eu mal podia esperar para aproveitar um tempo a sós com ele, longe das pressões do trabalho e das obrigações diárias. O carro estava cheio de nossas coisas, incluindo algumas guloseimas e um vinho especial que ele escolheu para a ocasião.O clima ensolarado do final de sexta-feira e a expectativa de um final de semana juntos deixavam o carro cheio de energia positiva. Mas, à medida que seguíamos pela estrada, o céu começou a escurecer com nuvens pesadas, como se algo não estivesse certo. O vento começou a soprar forte, e logo a chuva começou a cair. No começo, eram só algumas gotas, mas logo virou um temporal, dificultando nossa visão da estrada.Enquanto a tempestade aumentava, a estrada à nossa frente desaparecia sob um manto denso de água, e eu me sentia cada vez mais preocupada. Olhei pela janela, tentando enxergar algo além daquela cortina de chuva, mas tudo parecia um
Os dias passaram como um borrão, repletos de trabalho e responsabilidades, mas Bernardo e eu nos comprometemos a manter nossos pequenos momentos de romance. Depois da última grande festa em família, o aniversário de três anos de Ian, que foi um verdadeiro sucesso, mal tive tempo para respirar antes de começarmos a planejar a próxima celebração: o chá revelação do nosso bebê.Por mais que algumas pessoas considerassem essa tradição ultrapassada, decidimos fazer tudo nos conformes. Não tivemos a oportunidade de viver essa experiência com Ian, e queríamos aproveitar cada detalhe dessa vez. A empolgação de descobrir se teríamos uma menina ou um menino tornou tudo ainda mais especial. A ideia de reunir amigos e familiares para compartilhar esse momento nos encheu de alegria.Com cada novo dia, eu e Bernardo nos dedicávamos a organizar o evento. Entre listas de convidados e escolhas de decoração, o que mais me encantava eram as pequenas conversas que compartilhávamos sobre como seria nosso
Os dias passaram como um borrão, e conforme minha barriga crescia, eu percebia como as atividades diárias estavam se tornando cada vez mais desafiadoras. Com a chegada da nossa segunda filha, comecei a reduzir gradualmente minha carga de trabalho no hospital. As longas jornadas e os plantões exaustivos deram lugar a uma rotina mais leve, focando nas cirurgias eletivas e no cuidado dos pacientes em tratamento. A gravidez me ensinou a ser mais atenta a mim mesma e ao que realmente importava. E no momento, o que importava era a minha família.Era uma tarde tranquila quando Ian começou a apresentar os primeiros sinais de que não estava se sentindo bem. Sua energia habitual deu lugar a um semblante abatido, e a febre logo se instalou. Enquanto tentava distraí-lo com seu novo avião de brinquedo — um modelo moderno, cheio de luzes e sons —, eu monitorava seus sintomas básicos. Com o termômetro na mão, verifiquei sua temperatura e anotei no caderno que mantinha ao lado.— Está tudo bem, meu p