Lara não continuou porque precisava falar de si, suas próprias feridas já estavam curadas, foram lambidas uma a uma pela pessoa que ela menos esperou qualquer tipo de sentimento.Ainda se lembrava de um momento no tempo em que tudo que tinha para falar de Muralha era o quanto ele era feio, causava asco, um traidor infiltrado, um retardado!Foram tantas palavras horríveis e que simplesmente deixaram de fazer sentido no instante em que ela se permitiu enxergar o homem que existia por trás daquele silêncio perturbador, da grosseria quase violenta e das cicatrizes.Estava casada com um dos soldados mais assustadores da máfia, o homem que era visto por muitos como a última porta antes do inferno, mas se o conhecessem como ela conhecia, jamais falariam algo assim.Continuou porque conhecia o medo e ele podia ser devastador.— Vou refazer a pergunta, como você está, ratinha?Olívia levantou o ombro direito e abaixou a cabeça sem saber se realmente queria falar sobre aquele assunto, então fez
Sara que estava perguntando de Zuri ficou sem entender absolutamente nada, não tinha ouvido o choro de Olívia, ela não ouviu, mas Nick ouviria aquele choro ainda que estivesse há quilômetros. Os soluços da namorada entraram em seu peito como facas, nada doía tanto quanto aquele ruído, quanto imaginar quantas vezes ela chorou sem que ele estivesse perto para ajudar. Encontrou Lara com o braço ainda estendido e ficou tão cego de ódio que a voz saiu rouca e forte como que pudesse matá-la apenas com o grito. — SAI DE PERTO DELA SUA... Teria terminado da pior forma, mas Olívia gritou do sofá. — Nick não! Ela não fez nada, para. Ela nem mesmo teve chance de se levantar antes que o rapaz se sentasse ao seu lado e a puxasse para o colo como faria com uma criança. Apertou a menina contra o peito com tanta força que Olíe sentiu os ombros doerem, mas não se afastou. — Então o que foi, o que foi minha ratinha? Quem fez isso com você? Lara revirou os olhos apesar de ver alguma beleza naquel
O menino assentiu apenas com a cabeça e Nick saiu do quarto de mão dada com o filho, Olívia estava preparando café e Lara parecia ajudar com alguma coisa, preferiu não perguntar nada, apenas beijou os lábios na namorada.— Eu te amo, minha ratinha.Olíe sorriu, mas Lara provocou.— Um babacão apaixonado, grande vantagem!A menina olhou para a médica e mostrou a língua divertida, Nick precisou se segurar para não a puxar para ele, amava aquele sorriso, sentiu o coração aquecer e os olhos responderem a sensação.— Só o bolo?— Não estou com fome.Nick estava começando a se incomodar com aquilo, desde que saíram da Índia só tinha visto a namorada comer alguns pedaços de chocolate que ele colocou na boca dela enquanto assistiam a um filme.— Só o bolo e um queijo, então, anotado.Tentou brincar, beijou a namorada mais uma vez e chamou pela filha antes de sair.— Vamos lindinha?— Minha avó disse que tem um montão de doces na casa dela e que eu não preciso ir com vocês se eu não quiser.Ar
Enquanto Nick lidava com o assunto dos filhos, a mulher que ele amava estava mexendo nas panelas se sentindo meio perdida. Demorou para achar o lixo, não conseguiu encontrar uma garrafa para descartar o restante do óleo e por fim, nem mesmo os ovos. Começou a revirar tudo. — Tem que estar aqui, a Kyara achou eu tenho que achar! eu preciso achar. Lara se aproximou da menina e a abraçou. — Não tem que provar nada para ninguém. — Eu só queria os ovos, não consigo nem achar a merda dos ovos! Reclamou quase chorando como se o assunto fosse o mais importante do mundo. — Ele já está aceitando coisas demais para eu não conseguir nem fazer um omelete! Você não entende! — Ele não está aceitando nada! Para com isso. O babacão do seu namorado está no céu só de olhar para você. Não está fazendo sacrifício nenhum, aliás ninguém está. Só você, então se quer alguém para cuidar, começa por aqui. Falou batendo de leve o indicador na lateral da cabeça da menina. — Você não e
A respiração de Nick mudou assim que o filho terminou a pergunta. Foi a primeira vez que ele realmente sentiu raiva da mãe. Não conseguia entender como alguém podia ter coragem de dizer algo assim a uma criança.Se abaixou em frente ao filho, apesar da dor que estava sentindo. Ouvir aquelas palavras vindas da voz que mais o tinha fortalecido naquele último ano foi como levar outra pancada na cabeça, mas dessa vez quem segurava o taco de beisebol era Sara.— Quando ela disse isso, campeão?— Eu estava na casa daquela moça bem bonita que faz bolinhos. As duas estavam conversando e eu ouvi quando ela disse que tinha medo de você não aguentar. Eu sou muito pesado?O sorriso de Nick se misturou com a vontade de chorar. Ele abraçou o filho, e Zuri, ficou ao lado querendo participar, mas sem saber como interromper. Nick não precisou nem olhar para ela para saber o que a filha queria.Apenas abriu o braço direito enquanto ainda mantinha Arjun preso no outro.Zuri aproveitou a oportunidade e s
Lara ficou satisfeita por não precisar insistir muito para convencer Olívia a fazer os exames. No fundo, ela sabia que a dúvida era muito pior que qualquer resposta. Não saber corrói mais do que ouvir qualquer verdade.No caminho, Olívia, estava olhando para baixo como se procurasse pela coragem de que precisava, ainda assim perguntou sobre as coisas que a médica tinha dito, como quem pisa em cacos de vidro.— Tem certeza de que é normal?— O quê? Sentir desejo pelo babacão? Acho bem anormal, mas gosto não se discute.— Não fala assim!— Boa! Já tá dando a sua opinião. É um bom primeiro passo, ratinha. Agora só falta fazer isso por você mesma e não pelos outros. E, respondendo à sua pergunta, seu corpo precisa dessa lubrificação pra receber o seu homem. Isso mostra que você o quer tanto quanto ele te quer. Não tem nada mais gostoso que fazer amor com quem o nosso corpo reconhece. Dizem que é química, mas eu ouso desafiar a ciência e chamar de amor. Nunca tinha me sentido atraída pelo
Lara ficou sem reação, se pudesse escolher jamais teria se colocado naquela situação, Jocelyn era oficialmente a médica da organização, ainda que houvesse outros, quem cuidava do comando era ela, então oficialmente, Lara estava usurpando aquele lugar ao examinar a namorada de Nick.Descobriu que boas intenções podem ser penalizadas, preferia mil vezes que os exames da menina estivessem alterados.— O que foi? Por que está desse jeito? É muito grave?— Não, Olívia. Você está ótima, muito bem mesmo. Só preciso pegar seus exames de sangue e já conversamos.Lara saiu porque simplesmente não sabia o que fazer, precisava tomar um ar. Foi ao laboratório, a maior parte dos exames já estavam prontos, por sorte tinham o melhor que a tecnologia podia oferecer.Chamou uma das antigas colegas e explicou o que precisava.— Preciso que explique o resultado desses exames para a minha paciente.— Ué, por quê, Lara? Você sempre disse que não gosta de deixar outra pessoa com as suas crianças.Lara dific
Não pretendia, não sabia o que fazer, nem o que pensar, o estômago revirava e doía. Por mais que Nick apertasse o punho fechado na barriga a dor não cedia.Forçou um sorriso que não chegou aos olhos.— Estragar tudo?A piada surgiu na mente de Nick, debochada e sem piedade.Não tem mais o que estragar!Pensou, mas disse o oposto.— Estou feliz Lara, não era a melhor hora, mas a gente vai ter outro filho, isso é bom não é?As pessoas passavam por eles e cumprimentavam o rapaz com respeito, o retorno do filho do Fera. Todos, sem exceção deviam muito a Ivan e acompanharam a história de uma adolescente sem futuro que conquistou o coração do solteiro mais cobiçado da máfia.Para quem não pertencia ao comando, parecia uma história de amor que tinha acabado de ganhar o seu final feliz, para os outros, uma saga quase interminável de vingança, injustiça e maldade, mas para Nick, para aquele rapaz parado na porta larga de um centro médico, era só a sua vida em um turbilhão que parecia nunca ter