Samuel Encaro a porta fechada a minha frente, já sentindo um nervo pulsar em minha testa. A responsável por fechar com tudo a porta bem na minha cara, foi uma senhora de um pouco mais de um metro e fala ferina. Mas que criatura difícil.Olho para Nina, que segura a risada como pode.— Acho que não era quem procurávamos. — Ela comenta o óbvio, as bochechas tremendo com a vontade de rir.Se eu não estivesse tão preocupado com Sarah nesse momento, talvez eu até entrasse na sua brincadeira, mas essa constante sensação de que algo está errado em meu peito, desde que nos separamos é demais para mim agora.— Sim Nina, obrigado por me lembrar. — Respondo, um pouco mais ácido do que gostaria.Nina revira os olhos para o meu mau humor, já estando acostumada com meu jeito irritadiço.Nós descemos o pequeno lance de escadas, tentando ver a casa por onde Sarah entrou, mas a distância agora já não me permite tanto.Por qual motivo, eu me sinto tão estranho?As próximas duas casas que entramos são
Nina“Meus passos nos corredores do hospital eram agitados, o peso em minha bolsa parecendo muito maior do que era realmente. Eu sabia que estava agindo errado, que o motivo da minha alta naquela tarde, era para tratar justamente o meu problema, mas eu estava afoita por algo que me tirasse aquela dor do peito. Eu queria estar imersa.A porta se abriu e aquela foi a primeira vez que vi Sarah, seus cabelos na época, batendo só um pouco abaixo das orelhas.Lembro-me que ela parecia uma fada, o vestido rodado na cintura, os tênis brancos e confortáveis, a bolsa lateral, que ela sempre usava quando estava nos estágios. Ela estava no último ano da faculdade.Nossos olhares se travaram por alguns instantes e eu sei o que ela viu. Uma mulher com o corpo no limite, em uma clínica de reabilitação.Eu nem me lembro o que ela fora fazer naquele lugar, mas sei que devia estar preparando algum artigo para os estudos.— Senhorita Reddy. — O diretor havia me cumprimentado, o tom desgostoso na voz, t
SamuelCaminho pela rua, fora do hospital, minhas mãos nos bolsos e olhar nos meus pés. Desde que saí de minha cidade natal, eu achei que tinha mudado, que tinha dominado essa minha parte instável, mas mesmo agora, eu me vejo a beira de um ataque de pânico.Um filho.Eu nunca tinha parado e realmente pensado, em uma criança. Uma vida que dependeria de mim para tudo, uma parte de mim e de Sarah.Deus... e se tivessem a levado? Qual teria sido o destino dos dois?Eu não consigo nem pensar nisso, sem tremer de raiva.Ouço passos apressados as minhas costas e me viro, um pouco mais atento do que normalmente fico, ainda mais depois de tudo que nos aconteceu.Vejo Dylan diminuir o passo, os olhos arregalados e mãos para cima.— Sou eu, cara. — Ele me diz.Respiro fundo e recomeço a andar, sem nem saber ainda para onde estou indo.Dylan me segue passo a passo, sem me perguntar o motivo de eu estar andando a esmo ou quando vou parar com isso e acho sua atitude estranhamente reconfortante.Mi
Samuel— Seu detetive conseguiu alguma informação? — Pergunto, me lembrando do que ele me dissera mais cedo.— Estou no aguardo do seu contato. — Ele me responde, terminando sua garrafa de água.— Dobre os recursos se necessário, faça subornos, mais desenterre o quanto conseguir dos podres de Demétrio. Ele, assim como Carlos, sabia o que era feito a Laura e compactuou com isso. Esse miserável é tão perigoso quanto esse Liam, talvez até mais, considerando que ele agora é quem toma conta dos negócios. — Eu conjecturo.Dylan confirma com a cabeça.Penso em tudo que Dylan me disse, em tudo que conversamos desde que chegamos a esse bar e percebo como devo ter passado uma ideia errada para Sarah. Ela deve ter achado que eu não gostei da notícia, quando era o exato contrário.É como receber algo tão precioso, que tem medo de deixar que se parta.Vou fazer todo o possível para que eles fiquem bem, nem que isso me custe tudo.Olho para o rosto de Dylan, vendo como seu rosto parece cansado.— O
SarahUm som estridente, me tira da névoa de sono em que me envolvi. Aperto os olhos, os reabrindo e percebendo que cochilei depois de conversar com Nina.A médica me disse que eu dormiria.Sento-me, sentindo meus músculos pesados de sono e vejo Nina atender o telefone. Acendo a luz ao meu lado, assistindo os olhos de Nina se arregalarem um pouco e ela se levanta.Mantenho-me quieta, mesmo que minha vontade seja lhe exigir por respostas e considerando a forma como ela desvia os olhos para mim com rapidez, tenho quase certeza de que o assunto tratado na linha agora, sou eu.— Certo. Sim. Vou fazer. — Ela vai respondendo em sequência.Nina encerra a ligação e se adianta para a porta, a trancando como se nossas vidas dependessem disso.Espero que não seja o caso.— O que ta acontecendo? — Pergunto, retirando os lençóis de cima de mim e tirando as pernas da cama.— Merda... não levanta, pode te prejudicar! — ela me repreende e lhe direciono um olhar impaciente.— Eu só estou em observação
SarahA viagem de volta para casa foi o que eu posso chamar de estranha. Fomos separados por casal, após eu assinar o termo de responsabilidade, Dylan, mesmo que a contragosto, sendo guiado pra um carro com Nina e Samuel e eu indo para outro. Até onde eu entendi, os dois veículos contavam com no mínimo dois seguranças cada.Ren ou Pixie, como ele disse que gostaria que eu o chamasse, mudou da água para o vinho após sairmos do hospital, assumindo uma postura mais séria, perigosa até. Quando eu parei para prestar um pouco atenção, percebi que ele estava todo equipado por debaixo do sobretudo.Foi estranho e levemente frustrante, saber que a partir de agora não conseguirei dar um passo sem Pixie ou qualquer outro na minha cola, mas com o pouco que conheci do segurança, algo se acalentou em meu peito, pois o homem exala vida.Ao entrarmos no carro, fui enlaçada pelos braços de Samuel e mesmo ainda um pouco magoada com ele, deitei minha cabeça em seu peito e adormeci, só acordando algumas
SarahFito o closet, ainda indecisa sobre o que colocar na minha mala, pois considerando a pouca informação que Samuel me deu, eu poderia estar indo para o Caribe ou Antártida. Passo as mãos nos cabelos, me lembrando da noite quente e cheia de carinhos que nos embalamos ontem, após a nossa conversa. Como movida pela lembrança, minha mão alcança o pingente, o metal quente pelo contato com minha pele.Tudo no gesto de ontem me encantou de formas que ele talvez nunca perceba. Toda a história por trás do ato, as palavras dele e a certeza de que Samuel realmente está comigo nessa. Tocando no pingente, um remorso vai me impelindo, ao me lembrar de que eu perdi o apito que Samuel havia comprado para mim. Em algum momento de toda aquela loucura com Nicolas, eu perdi o objeto.Ou aquele maluco o levou.Estremeço, não querendo lembrar de nada daquilo, agora.Um barulho no cômodo ao lado, que sei ser o closet de Samuel chama minha atenção e eu me aproximo, temendo ser Xerez destruindo alguma c
Sarah O jardineiro, um senhor atarracado e de olhos castanhos claros, que agora sei se chamar Sandro, me olha como se eu tivesse acabado de criar chifres. — A senhora quer o que? — ele guincha, os olhos se desviando para a terra pronta que ele estava para mexer. — Jogar as cinzas, no canteiro que está preparando. Eu pesquisei, é possível. — Digo, tentando não soar desesperada. Rui ao meu lado se remexe, um pouco impaciente. — Senhora... tem certeza? — ele me indaga, o sotaque mal trabalhado do que acredito ser um italiano bem enraizado. — Deixe de ter teimoso homem! — Rui brada com o outro, me assustando — A casa é dela e se ela quiser pôr fogo nessas flores, ela vai fazer. O rosto de Sandro vai ficando vermelho de um jeito preocupante e eu me sinto um pouco mal por ele. Não é justo eu ficar me intrometendo em seu serviço. — Minha mãe era uma amante das flores e teve pouquíssimas chances ou nenhuma, para ser bem sincera, de apreciar as coisas belas da vida. — Pauso, controla