SarahHá uma cacofonia insistente em meus ouvidos. Eu cubro meu rosto com o travesseiro, mas mesmo fechando os olhos com força e me concentrando, nada me faz sair disso.É horrível. É assustador. E é o que me faz não partir de vez, o fino fio que me liga a realidade nesse momento.Faz uma quantidade razoável de tempo, que eu corri para o meu quarto e me tranquei nele. Eu ouvi Samuel me suplicar para abrir a porta, para deixa-lo ficar comigo, mas a única resposta que consegui lhe dar foi: “— Por favor Sam, eu só preciso de um tempo.”Ele não insistiu após aquilo. Samuel me conhece bem o suficiente para saber que eu estava lhe dizendo a verdade.Morta. A palavra começa a perder o sentido, de tantas vezes que eu já a repeti em minha cabeça. Eu nem consegui perguntar a Dylan, o que aconteceu ou como aconteceu. Minha única reação foi ficar lá, plantada e vendo que o desespero no rosto do jovem advogado, só poderia prover da realidade horrível em que estamos.Tento fazer com que as lágri
SarahA pele dela foi limpa, maquiada e preparada para ser tão bela quanto já foi um dia. Estou em pé, aqui nessa sala esterilizada, vendo a mulher que me ensinou o melhor e o pior que eu poderia conhecer, estou aqui a cerca de meia hora.Minhas mãos trêmulas tocam em seus cabelos escuros com carinho, cada sentimento que antes se mantinham a margem, agora borbulhando para fora, me estimulando a permitir sentir tudo, cada pedaço.Duas mãos fortes seguram com força meus ombros, me mantendo ali, me dizendo que está tudo bem desabar agora.As lágrimas começam a descer finalmente e aos poucos. Cada armadura que minha mente havia criado para não me permitir sentir, agora ruindo. A raiva que antes eu nutria com esperanças de me manter firme, agora se desfazem como um banco de areia.Ela realmente se foi. Depois de mais de dez anos, essa é a primeira vez que eu a toco e sua pele está tão fria quanto meu mundo sem a sua presença.Meu pacotinho...Ela adorava me chamar assim... como se eu fosse
Sarah Os cavalgar de Patrono é selvagem. Sei que meus músculos inferiores das coxas vão estar em frangalhos amanhã, mas eu aprecio essa distração que o cavalo poderoso me propõe. A saudade constante em meu íntimo, a ideia crua de que agora eu não terei nem as chances parcas de vê-la uma vez ou outra e a certeza de que alguém armou isso tudo tem me atormentado a semana inteira. Eu sei que o luto é um processo longo e cruel, pois eu mesma já auxiliei muitas famílias nessa situação, mas de alguma forma todo o conhecimento que tenho se torna um pouco inútil, quando os sentimentos a serem trabalhados são os meus. Estar sobrecarregada com tantos sentimentos ruins é como estar sob um constante mira. Tenho tentando processar coisa por coisa, fase por fase. Samuel, Silos e Lucas tem estado comigo essa semana, me acompanhando em cada passo. Amanhã eles terão que voltar para seus empregos, entretanto. Por um lado, eu estou triste, sabendo que a saudade deles de alguma forma será mais um go
Sarah Paro o meu Mustang em frente ao grande centro hospitalar da cidade, sem entender muito bem. Após o meu banho apressado, encontrei Silos e Samuel me esperando no hall da casa. Confusa, eu fitei Samuel, que só deu de ombros. A decisão de vir no meu carro, foi puramente minha, pois eu estava com saudades de dirigir meu carro. Fui seguindo o caminho que Samuel me indicou e demorei a perceber que estávamos nos encaminhando para o centro médico. Que diabos de surpresa é essa? — Muito bem... seja lá qual for o segredinho entre vocês dois, eu espero ser atualizada e já. — Alerto. Ao meu lado Samuel sorri, como se ele gostasse de me ver despejando ordens. — Mandona, não é? — Silos brinca, se dirigindo ao filho. — Só um pouco. — Samuel retruca, uma piscada cretina para mim. Meu centro pulsa em resposta, o desejo permeando meu corpo, ao entender que ele claramente faz uma menção aos nossos momentos a sós. — Gente! — Ralho com os dois, quando recupero a minha capacidade de racioci
SarahA nossa trajetória de volta para a mansão começa silenciosa e acredito que muito disso se deva a carga emocional que foi posta em nós quando saímos daquele hospital.Samuel encantou as senhoras daquele lugar por motivos além de óbvios. Já Silos espalhou gentileza por eles como uma onda de calmaria. Em minha mente jovem, eu já cheguei a acreditar que esse homem é algum agente divino nessa terra. Poucas vezes na minha vida, eu tive essa sensação com as pessoas e Silos sempre fora um dos raros que cruzaram meu caminho, só com a boa vontade de ajudar.Um sorriso lento vai se espalhando por meu rosto, quando vejo uma daquelas cafeterias cheias de pompa na esquina que adentramos. Silos finge que não gosta, mas ele é aficionado naqueles cafés de abóbora. Vou parando o carro devagar e Samuel me fita, parecendo entender o que se passa em minha cabeça. Silos levanta a cabeça do celular e olha em volta, um brilho feliz iluminando seus olhos azuis.Céus... como é fácil agradá-lo.— Quer a
Sarah A minha vontade é não sair dos braços de Samuel pelo resto do dia e deixar que qualquer menção ao passado de minha mãe e ao que devo fazer para descobrir isso fique para trás. Eu poderia certo? Fingir que não sei nada e só curtir o meu casamento com Samuel... poderia. Mas não vou fazer isso. Não quero viver a minha vida, sabendo que estou no escuro. Desvencilho-me de Samuel, mesmo que a minha vontade seja o exato oposto e com sua mão na minha nós seguimos até o ponto, onde o jardim começa. Deixo que a visão da mistura de cores das rosas me acalme um pouco. Adoro esse lugar. Nós seguimos por uma trilha de pedra e chegamos a uma área aberta, as flores nos cercando. Vejo que foi posto uma mesa redonda pequena no centro do pátio e que Dylan conversa baixo com Nina, nada na proximidade dos dois denunciando em que pé anda o relacionamento dos dois e mesmo assim, a intimidade entre eles é quase palpável. Espero que dê tudo certo entre eles. Eles percebem a nossa chegada, os r
SamuelOlhar para Sarah agora, é o mesmo que encarar um fantasma. Ela tenta, consigo perceber isso. Ela está tentando com todas as suas forças, mas nem eu sei, se conseguiria lidar com o que havia escrito naquela carta.Quando o caos tomou a mansão com o desmaio de Sarah, eu tive que manter meu controle em uma base de ferro. Depois de cuidar de Sarah e o médico nos indicar que ela havia sofrido um colapso nervoso, ela acordou e perguntou sobre a carta.Nina a havia guardado. Sarah leu aquilo uma vez e de novo. Ela parecia morrer um pouco mais a cada releitura. Depois de algumas horas no quarto silencioso, ela me passou as folhas, o pedido silencioso em seu olhar, me fazendo ler.Eu nunca vi algo mais doentio.Carlos nunca foi o pai dela e sim o irmão. Como se não bastasse a declaração de Laura de que ficou em cárcere por quase sua vida inteira, ainda tem o fato de como tudo terminou. Ele sabia que ela era irmã de sangue e ainda assim.... tudo que ele fez...O que há de errado com ess
Sarah Sinto os olhares em mim, assim que eu entro na cozinha. Nina me olha com um orgulho brilhando neles, algo que eu não compreendo muito bem, mas decido por ignorar por enquanto. Luci é um pouco mais discreta, mas corre para encher a minha caneca com um chocolate quente com uma aparência cremosa que me enche de fome. Faz pouco mais de uma hora que eu tive um dos sexos mais intensos e quentes com meu marido. De certa forma, foi libertador. Foi como acordar de um longo pesadelo. Meus problemas e revelações feitas, ainda estão aqui comigo claro, mas eu consegui sair daquele limbo de dor que havia me enfurnado. Eu queria respostas... bom, agora eu tenho boa parte delas, por mais horríveis que sejam. Tenho que ver um ponto positivo nisso e me agarrar com todas as forças na ideia de que foi melhor saber do que continuar no escuro. É isso ou enlouquecer de vez. Luci começa a me trazer comida de uma forma que me aquece o coração. Ela traz bolo, sanduiches e opções de frutas diversa