Capítulo 02

Thomas Kuhn

Não importava que havia um acordo, que o sangue tinha se unido na linhagem da minha mãe, — o que importava para eles, era o fato de estarem recebendo ordens de um estrangeiro, dentro do seu próprio país.  

Claro: isso queria dizer que eu tinha que unir Kuhn e Rossi em uma única vertente. E por isso, tinha desde cedo sido ensinado que a minha vida era mais importante que qualquer outra coisa. Eu era o futuro da família, era aquele que realmente finalizaria o contrato que foi selado com o casamento entre a minha mãe e o meu pai.  

Bella McNight era o “ponto final” e eu sabia disso, todos sabiam. Ela era a minha certeza de encerramento. A força que me faltava para conquistar aqueles anciões idiotas que continuavam a se opor aos negócios de Kuhn na Itália. Ela era a genitora perfeita para os herdeiros da nossa família, mas isso não queria dizer que eu desejava me casar com ela? 

Não! 

Eu via o casamento dos meus pais e eu sabia muito bem, — que uma mulher italiana, não é fácil de ser domada. 

— Thomas… — minha mãe me chamou outra vez, me tirando dos meus pensamentos com aquele tom claro e gentil, aquele que ela sempre usava comigo, — vocês podem acabar se apaixonando um pelo outro, essas coisas… acontecem, — ela disse tentando obviamente me consolar, mas… eu tinha crescido ali, naquela família, e eu sabia bem que o amor não surgia assim.  

Então, sibilei. 

— E por quanto tempo ele espera que eu fique casado com ela? Por quanto tempo o contrato deve durar?  

— Casamentos não são temporários, Tommy… — Minha mãe disse e eu revirei meus olhos, me sentando entre ela e Pietro, que encarava nós dois com nítido interesse. 

Teve uma época na qual acreditei naquelas palavras e até cheguei a acreditar que meus pais se amavam, mas isso foi antes de ver meu pai dando um tapa no rosto da minha mãe. Antes de descobrir que ela o traia e que todo o teatro que faziam de casal feliz, não passava disso: teatro.

 

— Casamentos podem não ser, mas isso é um trato. Um contrato que tem validade, — ressaltei, — então nesse caso, eu quero saber quando vou estar livre dessa ninfeta com a qual ele quer me casar. 

Pietro riu, obviamente se divertindo por não ser ele a ser jogado na forca. 

— Então o Thomas vai se casar com ela, para expandir os negócios da máfia?  

— Não, eu vou me casar com ela, porque o nosso pai não foi capaz de tomar conta dos negócios da família Rossi e Kuhn, sozinho, — ronronei, jogando o meu velho na forca enquanto cortava um pedaço de queijo e comia.  

— Cara, ele te mata se ouvir você falando isso, — Pietro zombou e eu dei de ombros. 

— E ele vai ficar com quem no meu lugar? Você? — Meus lábios se arquearam, — ele não é burro, você precisaria nascer de novo pra ser metade do que eu sou. 

Pietro bufou e mamãe nos encarou com os olhos cheios de raiva. 

— Meninos! Chega! Daqui a pouco o seu pai chega e vocês dois vão estar encrencados, — ela disse parecendo frustrada, jogando os fios loiros para trás enquanto encarava a mesa a frente dela. 

— Sinceramente… — a encarei, havia maquiagem em seu pescoço, e o vestido de manga longa, deixava claro que ela tinha arrumado um novo amante, era o padrão, — eu não sei por que você ainda mantém essa farsa… — desabafei e ela pigarreou. 

— Isso é… só até a Valen ficar maior… — ela disse, como sempre, e eu soltei um riso soprado, que a fez me olhar feio e tirar um envelope que havia sido posto ao lado de seu prato, para me mostrar, — mas veja, voltando ao que é verdadeiramente importante, essa é a sua noiva. 

Encarei aquele retrato de uma garota sorridente, mas era exatamente isso que tinha ali. Uma garota. Não uma mulher, mas uma menina.  

— Eu me recuso a dar uma resposta sobre isso, — falei de forma simplória e o meu pai pigarreou. 

— Do que estão falando? — Ele perguntou, sua voz grave, fazendo todos nós endireitarmos a nossa postura. 

— A mamma estava mostrando uma foto da noiva do Thomas, — Pietro diz, parecendo animado como uma criança que ele ainda era, mesmo já tendo dezoito anos.  

— Ah… Bella! — Meu pai diz com um sorriso de canto, se sentando e me encarando, — viu como ela é tão bonita quanto o nome sugere?  

Ergui uma das sobrancelhas. 

— Se estiver procurando por uma namorada pro Pietro, realmente, — zombei, — mas não me importa a beleza da garota, eu quero saber… até onde vai esse maldito contrato.  

Ele me encara. 

— Achei que nunca perguntaria, — diz sorrindo enquanto a funcionária serve o café em sua xícara, — eternidade está bom pra você? — Pisquei, incrédulo. 

Vater! Das ist verrückt! (Pai! Isso é uma loucura!) — Eu soltei quase gritando e ele riu. 

— Não seja escandaloso, junge. — Ele me diz começando a beber seu café, — os nossos negócios precisam de estabilidade e você não vai foder com tudo com a simples ideia da porra de um divórcio, nem tente cogitar essa ideia idiota. Sibilei. 

— Tem que haver outra opção. 

Os olhos frios e afiados do meu pai pousam sobre mim. 

— E tem, — ele diz enfim, — você matar ela ou ela te matar! 

—  Sem chances! O que ela diz sobre esse contrato?  

Ele não podia esperar que eu dormisse com uma garota tão nova! Ela nem mesmo parecia ter mais de quinze anos! Por acaso aquele velho maldito tinha perdido o pouco juízo que parecia ter restado?  

Todos pareciam ter enlouquecido. 

— Eu não sei, — ele disse de forma direta, dando de ombros, — não me interessa o que ela diz ou deixa de dizer. O acordo que eu tenho com Henry é esse e é apenas isso que me importa.  

Eu senti as veias saltarem em minha testa. Aquele velho tinha enlouquecido.  

— Tommy… — eu ouvi minha mãe me chamar, como se soubesse que eu estava prestes a explodir, mas bem naquele instante, meu celular começou a tocar e eu atendi um Brian furioso. 

— Tommy… é melhor você vir pra cá, o maledetto acabou de entrar.  

— Certo, — respondi com simplicidade e me levantei da cadeira onde estava sentado, desligando o celular e encarando meu pai, — se me dá licença, eu tenho um trabalho pra resolver. 

Tome cuidado com o rosto, — ouvi meu pai dizer, com um sorriso de canto, cheio de zombaria, — a sua festa de noivado vai ser hoje à noite e seria uma pena que a sua noiva te visse deformado. 

Arregalei meus olhos com surpresa e encarei minha mãe, que desviava o olhar com aquela expressão de: eu não sabia como contar.  

Merda. 

Quanto tempo eu tinha até a porra da festa? Oito horas?  

Agora eu realmente queria matar alguém.  

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