O som insuportável da campainha me arranca do sono profundo. Eu olho para o relógio de cabeceira: 2h34 da manhã. Quem estaria me perturbando nessa hora? Com um suspiro pesado, me arrasto até a porta, ainda meio atordoado. Ao abrir, encontro Damien parado ali, com a expressão fechada, como se estivesse carregando o peso do mundo.— O que aconteceu? — Pergunto, tentando esconder a irritação pela madrugada interrompida. — Isso é uma emergência?— Pode me deixar entrar? — Ele quase implora, a voz baixa, quase inaudível.— Claro, entra logo. — Falo, cedendo à sua pressão, mas meu olhar ainda é desconfiado.Damien entra, tira o casaco e se joga no sofá. Ele parece em frangalhos, e isso me deixa ainda mais confuso.— Então, o que houve? — Sento ao lado dele e coloco um copo de uísque nas suas mãos. — Eu sei que você não está aqui só porque está com sede, então o que está acontecendo?Ele pega o copo, mas não o levanta até os lábios. Fica olhando o líquido por um momento, como se estivesse te
– Amor, você está bem? – A voz de Joseph ecoou pela sala de estar enquanto ele entrava segurando um buquê de rosas vermelhas. O arranjo era impecável, e, mais uma vez, ele havia escolhido rosas sem espinhos. Era o seu jeito de demonstrar cuidado, algo que nunca mudou ao longo dos anos. Mesmo nos dias mais difíceis, esses pequenos gestos conseguiam arrancar um sorriso meu.Eu me virei para ele, tentando parecer tranquila.– Estou – respondi, mas minha voz soou hesitante. A verdade era outra. Nos últimos dias, minha mente estava repleta de pensamentos incessantes sobre nossos filhos e o futuro da família.Joseph arqueou as sobrancelhas, claramente não convencido. Ele caminhou até o sofá, colocando o buquê delicadamente sobre a mesa antes de se sentar ao meu lado. Seus olhos me estudaram, como sempre faziam quando ele sabia que havia algo errado.– Não parece – ele insistiu, sua voz calma, mas firme.Suspirei profundamente, desistindo de esconder. Ele me conhecia bem demais para que eu p
Mais uma vez, estava no escritório, mergulhado no trabalho. Era a única coisa que conseguia fazer ultimamente para afastar o caos que se formava na minha mente. Desde a conversa com Ronan naquela madrugada, não consegui encontrar paz. Eu sabia o que deveria fazer: me aproximar de Olivia, criar um vínculo, tentar reverter a situação antes que nosso casamento se tornasse insustentável. Mas a prática era bem mais complicada do que a teoria. Por isso, mantive-me distante, fingindo que nada estava errado. Nosso casamento estava próximo. A festa de noivado seria amanhã, e a cerimônia na próxima semana. Em breve, viveríamos sob o mesmo teto. A ideia deveria me animar, mas, na verdade, só aumentava minha ansiedade. Como eu poderia consertar algo que parecia tão quebrado? Meus pensamentos foram interrompidos por duas batidas na porta. – Entre – disse, levantando o olhar. Parks entrou na sala com seu bloco de notas em mãos, como sempre. – Damien, consegui o que você pediu. Devo enviar para
Por um momento, achei que os preparativos para o casamento seriam o maior dos meus problemas. Mas, considerando a situação entre mim e Damien, parece que minha vida inteira virou um emaranhado de frustrações e dúvidas. Desde o dia no restaurante, nossas conversas não passaram de trocas rápidas e protocolares, e o silêncio entre nós só serviu para aumentar minha frustração. Eu entendia as motivações dele e o passado complicado com Easton, mas Damien precisava compreender que ninguém ao seu redor deveria pagar o preço pelas feridas que ele se recusa a curar. Ele era um homem adulto e, ainda assim, agia como se estivesse preso no tempo. Lembrar da última vez em que estivemos juntos só aumentava meu desconforto. Ele me deixou sozinha na estrada, exigiu que eu o enxergasse da mesma forma que via Easton, e depois me beijou como se tivesse todo o direito. Antes que eu pudesse processar qualquer coisa, ele simplesmente foi embora, me deixando com um turbilhão de emoções. Easton, Ofélia e D
Assim que terminamos de lavar a louça, Olivia sentou-se à mesa com um bloco de notas, concentrada em revisar algo. Permaneci em silêncio, observando-a enquanto ela trabalhava. Não era a primeira vez que ficava impressionado com sua beleza. Olivia tinha uma presença magnética, um jeito natural de capturar a atenção de todos ao seu redor, mesmo sem querer. – Damien, está me ouvindo? – A voz dela me despertou dos pensamentos. – Sim, claro. – Respondi, mesmo sem ter ideia do que ela estava falando. Ela inclinou a cabeça, estudando meu rosto, e então cruzei os braços, confessando: – Perdão, não ouvi. Estava distraído. – Perguntei onde acha que deveríamos passar a lua de mel… ou se prefere cancelar. E quanto tempo deve durar? – Sua voz era neutra, mas havia um toque de curiosidade. – Existe algum lugar que você gostaria de ir? – devolvi a pergunta. – Pensei em um país onde seja verão. Nosso casamento será em dezembro, e provavelmente passaremos o Natal durante a viagem. Prefiro algo
A casa estava impecável. A decoração, uma mistura perfeita de tons creme e dourado, transformava a mansão em um cenário digno de um conto de fadas. As flores delicadas estavam espalhadas pelas mesas e os lustres pendiam do teto, lançando uma luz suave e acolhedora. Cada canto parecia cuidadosamente pensado para criar um ambiente de festa, mas para mim, havia algo desajeitado, uma sensação de desconforto que pairava no ar. O peso no meu peito parecia crescer a cada minuto que passava ali, cercada por risos e conversas que soavam distantes. Ao meu lado, Damien estava imperturbável. Ele parecia completamente à vontade em meio aos convidados. Seu sorriso nunca vacilava, e ele cumprimentava todos com a mesma naturalidade, como se fosse um homem completamente confortável no seu papel de noivo, como se nada estivesse fora do lugar. Era algo que eu não conseguia entender. Como ele fazia isso parecer tão fácil? Como alguém tão distante de mim em termos emocionais podia navegar tão bem nesse m
Fazia pouco mais de alguns minutos que eu havia chegado ao escritório de advocacia de Orlando. Desde a entrada, os funcionários me cumprimentaram com sorrisos educados e reverências que misturavam respeito e curiosidade. Não era novidade que meu nome ainda carregava certo prestígio, mesmo após o divórcio. Ser a ex-esposa de Orlando Montenegro não era algo que se apagava facilmente. No entanto, havia um incômodo crescente. A última vez que estive aqui não parecia tão distante, mas, agora, o ambiente estava diferente.Caminhei até a recepção e, para minha surpresa, Narcisa, a secretária fiel de Orlando por tantos anos, não estava em seu lugar. Em seu lugar, havia uma mulher que parecia deslocada, tanto pela aparência quanto pela postura. Seus cabelos castanhos estavam presos de maneira desleixada, e as roupas simples não condiziam com a sofisticação do ambiente. Por um instante, achei que estava na sala errada.– Você aí – chamei, cruzando os braços, minha voz carregada de impaciência.
Na noite anterior, eu não consegui entregar o presente para Olivia. Esse detalhe, por menor que fosse, não me deixava relaxar. Passei a madrugada acordado, revisitando os momentos do noivado e pensando no quanto ela estava bonita. No entanto, algo me incomodava profundamente. Não era a primeira vez que percebia Olivia agindo de maneira distante, como se sua mente estivesse em outro lugar.Primeiro foi no leilão, depois no jantar em que anunciamos nosso namoro, e ontem, durante a festa de noivado, ela parecia tão distante que mal parecia estar presente. Era como se estivesse travando uma batalha interna. Será que era algo como um transtorno dissociativo? Era delicado demais questionar isso diretamente, mas não conseguia ignorar a sensação de que havia algo a mais ali.Quando os primeiros raios de sol começaram a atravessar a janela, levantei-me. Fiz minha higiene pessoal, vesti uma calça e uma camisa polo. Decidi que hoje trabalharia de casa, mas antes queria cuidar de Olivia. Desci at