OliverO salão da mansão da família Harrington brilhava com um esplendor que parecia saído de um conto de fadas. Lustres reluziam sobre um chão de mármore impecavelmente polido, e o ar estava carregado com o som suave de uma orquestra ao fundo. Apesar da opulência, havia algo de artificial naquele ambiente — uma tensão subjacente que só era quebrada pelos sorrisos falsos e cumprimentos exagerados.Chegamos exatamente no horário, como sempre. Eu guiava Emily pelo salão, sua mão delicadamente repousando no meu braço. Ela estava deslumbrante, como sempre, mas havia algo mais naquela noite. Ela parecia confiante, decidida, como se cada passo fosse uma declaração de que pertencia àquele mundo, mesmo que muitos ao redor estivessem prontos para questioná-la.— Todos estão olhando. — Disse Emily, sua voz baixa, mas com um sorriso que desafiava qualquer insegurança.— Que olhem. — Respondi, inclinando-me para ela. — Eles estão apenas vendo o que nunca poderão ter.Ela riu suavemente, mas havia
OliverO som das sirenes ecoava no ar frio da noite enquanto a ambulância corria pelas ruas, cortando o trânsito com uma urgência que fazia meu coração bater mais rápido do que eu podia controlar. Emily estava imóvel ao meu lado, seu rosto pálido, os olhos fechados, e cada segundo que passava parecia uma eternidade. A pressão de sua mão na minha havia desaparecido, e isso me aterrorizava mais do que qualquer coisa.— Aguente firme, meu amor. — Murmurei, mais para mim mesmo do que para ela. — Você vai superar isso.O paramédico do outro lado do veículo verificava seus sinais vitais, mantendo uma expressão calma, mas focada. Não conseguia decifrar se aquilo era um bom ou mau sinal.— Ela vai ficar bem? — Minha voz saiu mais trêmula do que eu gostaria.O paramédico ergueu os olhos por um breve momento antes de responder.— Estamos fazendo o possível, senhor. O estado dela é estável por enquanto, mas precisamos levá-la ao hospital o mais rápido possível.Estável. A palavra deveria me traze
EmilyO silêncio do hospital era interrompido apenas pelo som ritmado do monitor cardíaco ao meu lado. Minha mente estava nebulosa, como se uma névoa tivesse tomado conta de tudo. Eu sabia que estava em um hospital, mas os detalhes eram confusos. Tentei abrir os olhos, mas o esforço parecia enorme.Onde estou? E por que tudo está tão quieto?Sons indistintos chegaram aos meus ouvidos. Vozes. Familiar, mas ao mesmo tempo distantes. Tentei me mover, mas uma dor aguda me impediu. Então, lembrei-me.O salão. O tiro. Oliver.Minha respiração ficou mais rápida, e o monitor cardíaco começou a apitar mais alto. Uma mão quente segurou a minha, trazendo-me de volta. Não precisei abrir os olhos para saber quem era.— Emily, estou aqui. Você está segura. — A voz de Oliver era firme, mas carregada de emoção.Eu queria responder, mas meu corpo parecia preso em uma batalha entre a consciência e o desconhecido. Antes que pudesse tentar novamente, senti outra mão tocar minha testa.— Calma, querida. E
OliverEnquanto Emily descansava no hospital, envolta em um silêncio tranquilo, minha mente era um turbilhão. Eu estava sentado ao lado dela, minha mão segurando a dela, mas meus pensamentos estavam a quilômetros de distância. O nome de Fernando ecoava em minha cabeça como um alarme incessante.A porta do quarto abriu silenciosamente, e Alice entrou, carregando um tablet em uma das mãos.— Sr. Blake. — Disse, sua voz baixa para não acordar Emily. — Consegui as informações que você pediu.Levantei-me cuidadosamente, soltando a mão de Emily e seguindo Alice para o corredor. Minha expressão deveria refletir a urgência e o cansaço que eu sentia.— O que temos? — Perguntei, cruzando os braços enquanto Alice me entregava o tablet.Ela hesitou, como se pesasse as palavras antes de falar.— Fernando foi liberado sob fiança. Não há evidências suficientes para mantê-lo preso mais tempo, e, aparentemente, ele já está se movimentando.Meus dentes se apertaram, e eu entreguei o tablet de volta com
EmilyO hospital era silencioso naquela manhã, exceto pelo som ocasional de passos no corredor ou do bip suave dos monitores ao meu lado. Oliver tinha saído para uma reunião rápida com o médico, deixando-me sozinha com meus pensamentos. Algo que, ultimamente, parecia mais difícil do que qualquer dor física.Olhei pela janela do quarto, observando o céu nublado e as árvores se movendo suavemente com o vento. O mundo lá fora parecia tão simples, tão distante do caos que havia tomado conta da minha vida. Fechei os olhos, tentando organizar meus pensamentos, mas era inútil. Tudo parecia um redemoinho: o atentado, o hospital, o bebê.O bebê. Só de pensar nisso, meu coração apertava e se enchia de um amor que eu ainda estava aprendendo a compreender. Eu sabia que o médico tinha dito que tudo estava estável por enquanto, mas a incerteza era aterrorizante. E se eu falhasse em protegê-lo? E se algo acontecesse por causa de tudo isso que aconteceu?Enquanto lutava contra essas emoções, ouvi a p
OliverA noite estava tranquila, e o silêncio do hospital era cortado apenas pelo som baixo dos monitores no quarto de Emily. Ela dormia, exausta pelos últimos dias, e eu observava seu rosto, procurando qualquer sinal de desconforto. Ainda que ela estivesse repousando, eu sabia que sua mente carregava mais peso do que ela admitia. E agora, mais do que nunca, eu queria aliviar esse fardo.Havia passado as últimas horas planejando algo especial. Não era grandioso nem elaborado, mas tinha que ser perfeito. Emily precisava de um lembrete de que, apesar de tudo, estávamos juntos e que nosso futuro, por mais incerto que parecesse, seria construído lado a lado.Olhei para o relógio. Era quase meia-noite. Levantei-me da poltrona e comecei a organizar o quarto da maneira que planejei. Tirei da sacola as pequenas luzes de LED que comprei e as prendi ao redor da cabeceira da cama, criando um brilho quente e acolhedor. Peguei o buquê de flores frescas — suas favoritas, lírios brancos — e coloquei
Oliver Quando o médico finalmente deu alta para Emily, senti uma onda de alívio e ansiedade ao mesmo tempo. Alívio porque ela poderia sair daquele ambiente frio e clínico, mas ansiedade porque sabia que a recuperação dela exigiria cuidado constante. E eu não estava disposto a arriscar.— Finalmente, em casa. — Emily disse com um sorriso cansado quando cruzamos a porta da entrada.Ela ainda estava visivelmente fraca, mas havia um brilho de alívio em seus olhos. Eu a segui de perto, segurando sua mão enquanto a ajudava a se acomodar no sofá da sala. A luz natural inundava o espaço, tornando-o acolhedor, mas minha mente já estava em movimento, planejando os próximos passos.— Não se acostume com isso. — Disse, tentando manter um tom leve, mas minha voz ainda carregava um toque de preocupação.— Não me acostumar com o quê? — Emily perguntou, erguendo uma sobrancelha.Sentei-me ao lado dela, olhando diretamente em seus olhos.— Com qualquer tipo de esforço. — Respondi, pegando sua mão. —
Emily O dia começou como qualquer outro desde que voltei para casa. Oliver saíra cedo para a coletiva de imprensa que mencionara na noite anterior, prometendo que voltaria o mais rápido possível. Eu ainda estava tentando me acostumar com a presença constante das enfermeiras e da equipe contratada para me ajudar, mas naquele momento, a casa estava tranquila.Estava na sala, folheando um livro, quando meu telefone vibrou na mesa ao meu lado. Peguei-o automaticamente, esperando uma mensagem de Oliver. No entanto, o que vi fez meu coração parar.Era uma mensagem de um número desconhecido."Eu sinto muito, jamais faria qualquer coisa para te machucar. – F"Meu sangue gelou. Havia apenas uma pessoa que poderia assinar daquela forma: Fernando.Larguei o telefone, sentindo meu coração disparar. Respirei fundo, tentando manter a calma. Não podia deixar que o pânico tomasse conta. Decidi que precisava contar a Oliver imediatamente. Não havia como esconder algo assim dele, especialmente agora.