(Gabriela)
Meu celular no criado mudo está tocando sem parar já faz alguns minutos. Nem sei que horas são.
— Alô? – Atendo com preguiça.
— Gabriela Calheiros?
Torço o nariz, é uma voz feminina, tiro o cobertor de cima de mim.
— Sim, sou eu.
— Eu falo do SPA La Luna, meu nome é Emily, tudo bem com a senhorita?
SPA? Estou devendo a um spa? Se Nanda ou Duda fizeram alguma dívida no meu nome em um spa eu nem sei o que sou capaz de fazer.
— Hã, tudo bem... – Respondo sem graça.
— Estou ligando para confirmar seu horário, seu pacote está disponível a partir das nove, um motorista irá encontrá-la no seu endereço em meia hora. É um serviço que inauguramos há pouco tempo mas que será oferecido com excel&
(Ryan)Seis meses.Esse é tempo que o doutor Gonzales disse que minha mãe tem de vida a partir de agora. Tento encontrar forças para me levantar da cama depois de largar o telefone no colchão. Não consigo aceitar o que o doutor acabou de me confirmar em uma mísera ligação que não levou nem dez minutos.Sinto falta de ar só em pensar em ficar sem minha mãe, o doutor me disse que não há muito mais o que fazer, utilizamos todos os recursos, químio e radioterapia, cirurgia e tratamentos alternativos e experimentais. Nada adiantou, a maldita doença sempre volta no mesmo lugar.Me sento na beira do colchão e me pergunto por que ela. Helena é a mulher mais incrível que já conheci na vida, nunca foi menos carinhosa comigo por conta do caos que meu pai trazia para casa junto com seu maldito vício em ál
(Gabriela) Sete e trinta e cinco! Dou um pulo da cama me perguntando por que meu celular não despertou? Meu Deus, isso nunca aconteceu antes! Estou frita, frita e atrasada. Tomo o banho mais rápido da minha vida e coloco o uniforme da loja. Faço uma maquiagem simples e seco os cabelos fazendo algumas ondas leves. Exigências do emprego, boa aparência, sempre.Chamo um carro pelo aplicativo, não vai dar para esperar o ônibus mesmo. Passo por Beth que está na cozinha preparando algo com cheiro maravilhoso mas que não vou poder comer, ela me entrega um pote cheio de pedaços de bolo e eu beijo sua bochecha, agradecendo por ter salvado meu café da manhã.Assim que entro no carro me permito respirar aliviada, ou quase, ainda estou atrasada, mas a caminho. Chego 15 minutos atrasada, por sorte nenhum dos meus supervisores me vêem chegar e as meninas ainda estão arrumando a loja para abrir. Tomo meu lugar atrás do balcão, é um emprego simp
(Gabriela)Hoje é dia de fazer os exames, passamos o dia fora até mais ou menos quatro da tarde, ela ainda está cansada, pergunto se está sentindo alguma coisa e ela diz que não, mas cada dia que se passa mais preocupada fico.Também liguei para Nanda, após um pequeno desgaste ela concordou em ajudar para que a mãe não precise mais trabalhar, ela tem condições, sei disso. Jamais faria isso se não tivesse certeza de que ela pode muito bem ajudar, afinal é pelo bem da nossa mãe. Falei com Duda também, ela ficou mais preocupada que Nanda e prometeu ajudar mais, entrarmos em acordo sobre valores e falamos com Beth.Talvez fosse bom eu procurar um segundo emprego a noite, mas seria impossível sobreviver sem tempo para dormir. Decidi continuar as horas extras, tudo vai ficar bem. Preparo um café reforçado para ela
(Ryan)— O que quer, cara? — Bernardo me olha desconfiado.— Não posso te chamar para beber casualmente? – Pergunto franzindo as sobrancelhas, ele ri virando todo o conteúdo do copo de uma vez. Estamos em um bar bem conceituado e perto da empresa.— Acha mesmo que vou acreditar que sacrificou seu tempo para ficar aqui de boa comigo?Fale logo, não vim aqui atoa.— Bernardo dobra os punhos da camisa social.Pedimos outra bebida que não demora a chegar. — É o seguinte, preciso da sua ajuda. – Empurro o copo vazio para o centro da mesa. Chega, não posso chegar em casa bêbado. — Preciso que encontre algumas mulheres para mim.Bernardo explode em gargalhadas que levam minha paciência pelos ares. Leva alguns minutos para que consiga parar.— Desde quando precisa de ajuda? Está tão enferrujado assim? — Seu tom é de deboche.&nb
(Ryan)Mais uma semana e mais uma maldita seleção, de novo não tirei uma candidata descente desse monte de mulher. Ligo para Bernardo.— Fala. – Ele atende no quinto toque.— Temos que cancelar a seleção de sexta, já é a terceira, Bernardo. Não aguento mais.– Ando em círculos em cima do tapete, mais um pouco e abriria um buraco.— Olha cara, sei o quanto isso é importante para você, mas temos que ser pacientes, prudentes e focados se quisermos encontrar a mulher certa.– Abaixo a cabeça, estou impaciente mas sei que ele tem razão.— Vou cancelar a seleção de sexta, mas vamos nos encontrar amanhã de manhã fora da empresa. Quem sabe assim temos novas idéias.
(Bernardo)Ponho o celular no balcão, é uma boa hora para pedir algo. Procuro a atendente com os olhos mas ao invés disso vejo uma mulher se aproximar do balcão há uns dois bancos de distância do meu, ela está encharcada da cabeça aos pés e o rastro de água denuncia toda sua trajetória. Olho em direção a porta e constato a chuva forte do lado de fora, mas voltando a olhar para a garota percebo que há algo errado. Ela puxa o banco e se senta, apoiando o antebraço no balcão. Ela está tremendo, não tenho certeza se é de frio pois a tempura não está tão baixa, por outro lado não sei como está a temperatura lá fora.A atendente se aproxima, mas ao invés de vir até mim se aproxima dela. Desvio o olhar mas continuo ouvindo atentamente.— Bom dia, vai pedir, senhorita?– A voz da atendente soa cautelosa.— E-eu... É... Café.– A resposta da atendente é o silêncio.— Café com cre
Gabriela— O que vai acontecer agora? – Pergunto a Bernando depois de passar algumas horas aprendendo as atribuições do cargo de secretária com a atual funcionária simpática chamada Lívia, ela trabalha para o sócio de Bernando.— Vamos almoçar. Não está com fome?Bom, agora que ele mencionou meu estômago deu o ar da graça.— Acho que sim.— Então vamos. – Bernardo dirige até um restaurante de luxo.Ele conversa com a recepcionista enquanto repasso em minha mente as regras de etiqueta, se eu comer aqui do jeito que como em casa vão me pegar pelos cabelos e me jogar na rua. Eu não me sinto nem um pouco confortável em ambientes assim.— Como foi com a experiência com Lívia? – Bernardo pergunta fechando o cardápio, não demorou nem um minuto olhando o dele e eu ainda nem olhei um terço do meu. Até agora isso é só um amontoado de letras, não faço idéia das coisas que estão escritas aqui, muitas nunca ouvi falar.
(Bernardo)Abro a porta de casa já sem a gravata e a blusa desabotoada pela metade. Vanda está de saída.— Já vai me abandonar? – Franzo o cenho fingindo uma careta. Dá de ombros.— Tenho uma vida viu, menino. — Ela abre a bolsa e começa a tentar encontrar algo. — Tem sanduíche pronto porque sei que não gosta muito de jantar. Até amanhã. – Ela se vai batendo a porta depois de me dar um beijo no rosto.Observo a vista do apartamento ao me aproximar da parede de vidro que antecede a varanda, abro a porta sendo recebido pelo ar fresco e o barulho da cidade ao longe.— Não te esperei para jantar. – Bia avisa e viro para encontrá-la de braços cruzados atrás de mim.— Tudo bem. – Dou de ombros, voltando a olhar a vista. Ela quer conversar, sei disso, ela caminha lentamente pela varanda até finalmente parar ao meu lado. — Por que chegou tão tarde?— Fui levar Gabriela em casa. – Sua expressão muda e ela sorri.— Hmmm. Em