MARK CONELY NASCEU em Chicago, era filho de um taxista quase falido e alcoólatra do pior nível que a vida proporcionou até aquele momento na história da humanidade. Sua mãe era – em tempos áureos –, uma respeitada professora de piano clássico, hoje em dia apenas uma mulher que tentava manter o filho na chama-viva em seu sonho desde seus avós...
De ter um músico famoso na família... e de preferência rico também...
Sua mãe nunca reclamava de nada, e o fato de não ter sido uma musicista de alcance mundial, nem de sucesso e muito menos financeiramente, foi uma escolha sua ao abdicar da carreira por sua família, mais especialmente, por seu marido.
MARGARETH BURNS NASCEU em um lar tranquilo, seus pais eram músicos da Filarmônica de Chicago e se apresentavam em média quatro vezes por semana, o que a obrigou a se criar sozinha, estudava piano sob orientações do pai quando chegava à noite, mas em uma festa na escola conheceu Noah Conely e foi amor à primeira- vista.
É com ele que irei me casar...
Ela só não sabia que a única coisa boa que viria do casamento seria o talentosíssimo filho, Mark.
Nada mais, nada menos...
Pois o amor tinha sido à primeira vista somente da parte dela, seu marido sequer nutria uma atração física, quiçá de almas.
DESDE MUITO CEDO, Mark respirava música em sua casa, até mesmo seu pai já foi músico, um frustrado violonista de boca de boteco que achou que ganharia a vida na noite de Chicago tocando de bar em bar sonhando que algum olheiro de alguma gravadora qualquer o contratasse e ele se deparasse com o sucesso, mas a única sorte que teve na vida boêmia naqueles dias envergando um violão na mão foi conhecer sua maravilhosa esposa, Margareth Burns, e ter um lindo filho com ela.
O que veio após isso por consequência da música foi puro azar ou falta de sorte...
Quem sabe os dois juntos...
ELES SE CASARAM e a vida estava muito boa para ambos, principalmente depois de alguns meses descobriram que Margareth estava grávida. Infelizmente, eles não sabiam que seria uma gravidez de alto risco, mas como tinham alguma fé em Deus que tudo sairia bem, tudo acabou bem...
De certa forma...
Porém, Margareth perdeu seu emprego e dedicou-se exclusivamente ao filho e Noah começou a trabalhar com taxi para levantar algum dinheiro a mais que as noites não traziam.
Margareth não era uma musicista completa e muito menos brilhante, mas era uma professora dedicada e disciplinada, seus alunos depois de dois anos, quase todos já tocavam melhor que ela – o que a deixava feliz com o dom que tinha, porém, devido a isso sabia que alunos em suas mãos eram apenas temporários, por mais que gostassem dela, para crescerem na música tinha que fazer aulas com pessoas melhores.
Seus pais ficaram muito frustrados por ela ter abandonado os estudos e uma bolsa que ganhou devido aos contatos que tinham nas mais renomadas universidades por onde tocavam com a Orquestra Filarmônica de Chicago, mas Margareth tinha encontrado o grande amor da sua vida, tinha um filho lindo, isso era tudo, não importava a opinião de ninguém, pois a felicidade se resumia nisso.
Ela se sentia realizada por isso, porém, a única pessoa que nunca conseguia se desenvolver era ela. A vida tinha lhe dado diversos talentos, mas não aquele que tanto sonhava e isso a frustrava como pessoa, sempre sonhava que um dia tocaria na frente de uma enorme plateia, mas por fim, acabava encarando seu grande pesadelo.
MARGARETH NUNCA CONSEGUIU encarar de frente uma plateia, a experiência de ver a escola toda rindo dela em sua primeira apresentação quando tinha apenas doze anos de idade a deixou perturbadoramente abalada pelo resto da vida, mesmo quando dava aula, Margareth tinha que fechar os olhos para não ver que o aluno estava olhando em sua direção enquanto digitava as notas no piano.
Com o tempo, acabou percebendo que era muito melhor enxergar a música de olhos fechados e o coração aberto.
QUANDO MARK FEZ seis anos de idade, seu pai comprou um violino de segunda mão – não era dos melhores, porém já dava para começar, e outra, aquele violino fora o único presente que ganhou de seu pai em toda sua vida – e ele começou a fazer aulas com um amigo da orquestra que seus avós tocavam.
Um amigo tão frustrado e falido quanto ela...
Coincidência ou não, existia um ditado na periferia dos músicos que dizia:
Os músicos sem talentos se atraem e se distraem...
Sua mãe lhe ensinara a ler partitura antes mesmo dele saber ler e escrever o próprio nome, com o tempo acabou descobrindo que era muito mais fácil ler aquele monte de rabiscos que só ele entendia.
ONDE QUER QUE FOSSE, Mark levava seu violino, até lhe deu um nome: “Pastorius...”
Na escola, em vez de brincar de futebol ou outra brincadeira com os garotos, Mark ficava estudando música, escalas e harmonia. Muitas garotas adoravam vê-lo tocar – apesar de ser um garoto um pouco feinho e magricela – comparado aos atletas e bad boys da turma –, a música ajudava um pouco sua autoimagem, mas muitos garotos o odiavam por aquela frescura toda por causa de um pedaço de pau com corda.
Mas Mark vivia em seu próprio mundo particular, um mundo onde as melodias faziam com que esquecesse que tinha um pai alcóolatra, uma mãe falida e sem talento, esquecia as inúmeras noites em que ia dormir com o estômago roncando de fome e até mesmo as paixões que nem se dava ao luxo de ter, pois se não tinha nem dinheiro para comer sozinho, quiçá convidar alguém para jantar em sua companhia, só lhe restava sonhar e estudar para ter as asas que seus sonhos diziam que ele tinha.
CERTO DIA, um dos brutamontes da escola, Kevin McCain, quebrou a vara de seu violino em suas costas, a marca ficou presa em sua pele feito uma tatuagem por duas longas semanas, mas o rancor passou no dia seguinte, esse era seu maior defeito e ao mesmo tempo sua maior qualidade:
Ele não conseguia ficar guardando mágoa de absolutamente ninguém...
Mark se levantou e continuou digitando as notas nas casas sem a vara, com a técnica two hands, pois sabia que o mais importante no estudo era a mão que digitava as notas e não a mão que fazia a melodia.
Pelo menos para ele era assim que imaginava...
A diretora da escola disse:
— A culpa é toda sua, Mark, por trazer um instrumento musical para a escola, aqui é lugar de estudar o que todo mundo estuda e não de trazer um instrumento tão caro como esse, e outra, você tem que interagir com outras pessoas, a vida é assim, tudo começa na escola. Em minha opinião, nem nasceu para a vida ainda, garoto.
Em nenhum momento Mark abriu a boca para reclamar, questionar ou se defender enquanto ouvia o falatório inútil daquela mulher que visivelmente se arrastava vida afora sem sonhos .
Quem disse que quero a sua opinião... – pensou Mark se chateando cada vez mais com a bruaca da diretora.
Ele assentiu e disse:
— Peço desculpas pelo transtorno que causei à senhora.
E saiu da sala como se nada tivesse acontecido, porque na verdade era assim que se sentia, pois se não fosse uma coordenadora que tinha visto a situação, ele nem teria feito nada contra o agressor, simplesmente o ignoraria e seguiria em frente com sua vida.
Simples assim...
No dia seguinte, Mark estava com uma vara novinha em folha que sua mãe comprou vendendo o rádio que tinham e continuava a tocar seu violino nos intervalos e nas aulas que ele menos gostava...
Que eram quase todas...
AS NOTAS DE MARK eram as mais altas da escola, por incrível que pareça, já que ninguém nunca o vira estudando em momento algum – a não ser música –, muito menos em casa.
O que muitas pessoas desconheciam é que a música é pura matemática, as escalas todas seguiam uma lógica complexa e ao ver os problemas matemáticos, física e química, simplesmente conseguia enxergar no ar suas fórmulas como se fossem escalas harmônicas.
Quando fez seu primeiro teste de Q.I. os professores ficaram assustados, pois conhecia matemática mais do que muitos deles.
Seu único problema mesmo era a oratória, pois quando Mark abria a boca em frente a uma plateia com mais de três pessoas sem seu instrumento para lhe encorajar, ele travava, não saía absolutamente nada, nem um único som. Até mesmo no dia-a-dia tinha uma leve gagueira – somente quando estava muito nervoso.
Ele queria todas as qualidades de sua mãe e não seu defeito...
Com o tempo Mark foi aprendendo e se adaptando às suas imperfeições, principalmente depois que fez amizade com Anthony, um garoto que desde criança sonhava em ser um grande ator em Hollywood, sua fama na escola já lhe fazia jus a isso desde os primeiros dias, era bonito, elegante e adorava falar em público, todas as garotas o adoravam.
E ele as adorava reciprocamente...
A amizade se fortaleceu ainda mais quando Josie apareceu em suas vidas, pouco tempo depois de se conhecerem, realmente, eles nunca mais foram os mesmos...
Nenhum dos três foi...
O TIME DA ESCOLA tinha chegado às finais do Estadual e pela primeira vez Josie era a líder de torcida principal.Esse é o meu momento de glória e vou aproveitar cada instante...- Passei... passei – apareceu ela gritando quando Mark e Anthony estavam no refeitório matando aula discutindo como havia sido o jogo.- Parabéns – disse Anthony sem saber sobre o que estava falando, na verdade, nunca se interessava por nada que ela falava, fingia se interessar, ganhava alguns beijos e amassos e seguia o barco como se nada tivesse- Passou em quê? – perguntou Mark com a mais absoluta honestidade e interesse, característicos dele, o que fazia dele quase uma melhor amiga de Josie, o que gerava críticas severas de Anthony dizendo para parar com aquilo, pois o obrigava a ficar ouvindo-a falar sem- Sou a nova líder de torcida da escola, eu tinha falado para
ANTHONY ERA O QUE TODOS conheciam como um showman, desde criança estava no centro de toda a atenção que podia, era um garoto lindo, tinha uma voz doce e um olhar sedutor. Apesar de não conhecer seu pai, sua mãe o criou completamente largado no mundo enquanto tentava ganhar a vida.Desde que se conhecia por gente, nunca soube o que era amor materno, paterno ou qualquer tipo de amor familiar, certa vez enquanto aprontava pela rua, um padre passou por ele enquanto falava um palavrão.- Olha a boca, menino!- Vai se foder, homem com saia.- Sou um sacerdote de Deus, mais respeito comigo, garoto, sua mãe não te deu educação não?Caroline observava o filho de longe.Esse maldito está aqui.- Qual é o problema, padre? – Gritou- Esse garoto é seu filho?- Sim, qual o problema?- O menino n&atild
MESMO SENDO uma criança feia – talvez por causa dos óculos fundo de garrafa que usava para acertar seus olhos para que quando crescesse não fosse estrábica –, com o passar do tempo, Josie se tornou uma das garotas mais lindas da cidade, líder de torcida e a pessoa mais conhecida da escola, juntamente com Anthony, seu par em todas as festas.Ninguém conseguia entender porque ela insistia em andar com aquele perdedor do Mark Conely.Mas ela sabia por que andava com ele, e era isso que importava, a pessoa extraordinária que ele era para ela, simples assim.E por mais que tentasse esconder, tinha um carinho muito especial por aquele garoto estranho desde o primeiro momento em que o viu, ele era sensível, talentoso, um amigo fiel...Além de ser uma pessoa atraente.DA PRIMEIRA VEZ que o tinha visto, ela estava chorando po
QUANDO JOSIE FEZ QUINZE anos de idade, algo muito especial aconteceu bem no dia em que o time jogou as finais.Após a apresentação, uma mulher de aparentemente quarenta anos de idade, de uma beleza arrebatadora, com sotaque arrastado chegou até ela e falou:- Qual o seu nome, garota?- Josie... Josie McMillan- Tem um nome forte, garota, gostei, e dança muito bem também. É preciso muito treino para fazer o que faz.- Eu amo dançar.- Eu também. Fui a primeira bailarina do ballet de Moscou.Josie sabia que os bailarinos russos eram os melhores do mundo- Uau! Qual o seu nome?- Ivana Baryshnikov.Os olhos de Josie brilharam naquele momento.- Sei que é um tanto quanto inesperado, mas gostaria de fazer uma audição com você. Tem uma escola aqui perto que uma amiga minha é a proprietária e professora
A NOTÍCIA DE JOSIE veio como uma bomba na relação deles, porém Anthony já sabia que mais dia, menos dia, aquilo aconteceria, pois os três eram talentosos, mas tinham caminhos diferentes a seguir e por mais que entristecia ter que se separar das pessoas que fizeram sua vida ter sentido, aquele era o momento ideal.Anthony sabia que se não fizessem isso naquele momento, talvez se moldassem ao que a vida lhes obrigaria, teriam que escolher uma profissão qualquer e ter uma vida qualquer...E isso era tudo o que Anthony acreditava que não era, uma pessoa qualquer... ele nasceu para ser a grande estrela e Hollywood o esperava de braços abertos.E era nisso que Anthony acreditava.Sua mãe tinha conseguido também uma audição em uma peça de teatro para ele e ao ver a atuação de Anthony, tinha parecido perfeita, poré
MARK CHEGOU NA CASA de Tony e o chamou, seu padrasto saiu e disse com sua habitual rudeza:- Tony não mora mais aqui garoto, vai embora e não enche mais o meu saco. Está me entendendo?Mark se desculpou e foi embora.O caminho para casa naquele dia foi mais longo do que era, ele sentou-se na praça em que normalmente os três se reuniam e ficou digitando aleatoriamente as escalas, não importava que música tocasse, a solidão tinha chegado em estágio terminal e da forma mais cruel que alguém a pode sentir.Perdendo seus amigos mais preciosos.AO CONTRÁRIO DE JOSIE, Anthony foi embora sem se despedir, Mark sabia que algo assim aconteceria, não era muito do feitio dele despedidas, simplesmente fazia o que lhe dava na telha e não estava nem aí para o que acontecesse ou o que falassem dele.Qualquer hora aparece aqui com aquele
JOSIE FICOU MARAVILHADA ao pisar na Praça Vermelha em Moscou, ela sabia que teria uma vida extremamente regrada e não muito divertida, muito pelo contrário, sentiria muito mais dor do que poderia imaginar ou sonhar, iriam massacrar seu corpo franzino até que fosse puro músculo para suportar as mais diversas manobras que uma bailarina conseguiria suportar.Cara... é muita loucura... eu realmente estou aqui.Ela percebeu que tinha canhões enterrados no chão e passou graciosamente o pé sobre eles e sentiu que possuíam uma história oculta, estavam ali por algum motivo e Ivana percebendo que a garota tinha reparado neles tratou de contar a história que eram de Napoleão Bonaparte e estavam ali como um símbolo da grandiosa vitória sobre o maior general do mundo.Ao contrário do que imaginava, a praça era extremamente linda, c
MÃE DE ANTHONY, Caroline J. Melthow, deixou as malas no chão e se jogou na cama King Size que tinha naquele quarto quase luxuoso, se não fosse uma espelunca, que a companhia de teatro estava bancando para o seu jovem talento.- Nem acredito que nos livramos daquele desgraçado – declarou Caroline sorrindo de volta.Anthony sabia que mais dia ou menos dia arranjaria outro traste desgraçado igualzinho ao anterior para colocar em sua cama, por incrível que pareça, ela tinha o dom de arranjar os piores homens disponíveis ao seu redor, quiçá da Terra.Sua mãe era uma mulher de 35 anos de idade com um corpo de 18 anos, agora que ele era adolescente, quase adulto, não era difícil entender porque arranjava tantos homens assim, só não entendia como a natureza tinha sido tão gentil com ela se ficava desperdiçando tudo aquil