Mary Pape
Gatilhos de abuso psicológico, violência doméstica e uso de drogas ilícitas.
Não suporto mais!
É tudo o que me vem a mente olhando para o Donald, que mais uma vez chega em casa e começa a usar suas porcarias na mesa do jantar, sem se importar com o Ravi que estava em seu cadeirão jantando. Não consigo ficar afastada para fazer qualquer outra coisa, já que tenho pavor de que Donald machuque nosso próprio filho.
Hoje foi um dia difícil, quando ele chegou em casa irritado com alguma coisa, descontou a sua fúria em mim, sinto dores em cada parte do meu corpo, e dessa vez tenho certeza que ele conseguiu quebrar o meu pé, não consigo apoiar no chão. Observo enquanto ele usa a última carreira de pó e se ergue da mesa.
Mas para o meu desespero, vejo a sua aproximação, tento me esquivar do seu agarro, mas o primeiro tapa forte o suficiente para me derrubar no chão, o sabor de ferrugem preenche toda a minha boca. Coloco as duas mãos na frente do corpo para implorar que ele não fizesse isso comigo.
Infelizmente Donald é maior e mais forte, não tenho força para impedir que ele me abuse, enquanto choro a dor da sua violação ele me xinga com todo tipu de palavras que tem em seu repertório, enquanto me recordo de um tempo em que ele era um bom marido.
O conheci há seis anos, em uma exposição no Louvre, estava com meu nome em ascensão, estava com dezessete anos, por um acaso uma das minhas professoras de arte gostou de meus quadros e acabei ganhando uma exposição por seis meses em Paris. Em um jantar com jovens artistas o conheci, ele é o filho de um empresário parisiense, não nego que o charme que Donald tem me fez ficar interessada nele, minha professora não gostou de me ver ao lado de Donald, mas por algum motivo ela parou de interferir.
Quando a minha exposição acabou, já havia completado a maioridade e Donald insistiu em vir para Dallas para pedir a minha mão para meus pais, que não se opuseram assim que descobriram que o francês que veio comigo era filho de um empresário. Meus pais foram gananciosos e acabaram praticamente me vendendo ao Donald.
Os primeiros anos vivemos entre Dallas e Paris, a cada ano conseguia ter uma exposição, mas quando engravidei do Ravi as coisas mudaram. Ele ficava, mas tempo em Paris do que comigo em Dallas e sempre que vinha para casa algo acontecia.
As agressões começaram com pequenos insultos, dizendo como estava ficando feia gravida, o quanto estava engordando, que a gravidez estava me deixando preguiçosa e não cuidava da casa como deveria.
Donald ficava uma semana em casa e depois retornava para Paris, sei que existe algo que o faz correr para lá a cada visita, estou decidida a terminar esse casamento assim que Ravi nascer. Mas infelizmente quando nosso filho nasceu as coisas pioram de tal forma que na primeira agressão parei no hospital desacordada, ele provavelmente pagou alguma quantia e nada aconteceu.
Dias depois estava novamente em casa, com um bebê pequeno que precisava proteger da loucura que a minha vida se tornou.
As últimas vezes que ele veio para casa comecei a desconfiar que ele estava casado em Paris e que me tornei o seu fardo, por isso ele enche a mente com cocaína, porque não existe justificativa para o que estava acontecendo nos últimos anos. Ele não era assim, Donald era um homem amoroso e sua forma agressiva, fez com que todo o amor que existia por ele chegasse ao fim.
Mas não queria terminar o meu relacionamento em meio alguma polêmica de agressão, até porque somos pessoas públicas e sempre temos algo referente ao nosso trabalho sendo disseminado na mídia.
Quando acordo vejo que o Ravi acabou cochilando no seu cadeirão, sentia que as dores haviam piorado muito desde a tarde, com esforço consegui me erguer do chão, olhei para a sala e vi que Donald estava apagado no sofá, o que me daria tempo suficiente para sair de casa.
Uns dias antes já havia deixando a bolsa do Ravi arrumada com várias coisas para poder usar enquanto encontro um lugar seguro para fugir do Donald.
No meu carro no porta-malas já tinha uma mala com as roupas minhas e meu documentos, todas as minhas telas que já estavam prontas para a próxima exposição e algumas em branco, vou sim fugir dele, mas não da minha vocação.
Com uma dificuldade enorme, consegui ir para o carro com o meu bebê. Não voltei para a casa, apenas entrei no carro e agradeci mentalmente por ter um carro de câmbio automático, porque não conseguiria passar a marcha. Meu pé sem dúvida estava quebrado e com toda certeza algumas costelas também deveriam estar de alguma forma com alguma luxação.
Minha respiração estava falhando, minha visão estava ficando nublada e via pontinhos pretos sempre que fechava os olhos. Levanto meus olhos e vejo a placa de um hospital, talvez seja isso preciso.
Estávamos parados em um semáforo fechado, havia acabado de dar meia-noite e uma pomba pousou sobre a placa do hospital e vi isso como um sinal da intervenção divina.
— Apenas cuide do meu menino, Senhor misericordioso, ele é inocente. — Digo olhando para espelho retrovisor.
Com dificuldade mudo o caminho que estávamos indo, quando me aproximo do prédio do hospital sinto minhas forças se perdendo e apago no volante acelerando o carro.
O solavanco do carro ao atravessar a entrada do hospital, me faz acordar.
Meu olhar vai em direção um homem com um jaleco, com os cabelos grisalhos e com um rosto preocupado olhando para a merda que havia acabado de fazer. Olho pelo retrovisor e meu bebê carente e que as únicas palavras que sabe dizer é mamãe e papai estava acordado.
Pena que o homem que é o pai do meu filho não merece o título que meu menino tão inocente deseja dar a ele.
— Mamãe… — Ele diz melindroso.
Me viro em sua direção e estico a mão para poder acalentá-lo.
— Ravi… — Mas não tenho forças suficientes
Quando acordo novamente, estava em uma maca com diversas pessoas ao redor de mim, não consigo respirar bem, mesmo tendo uma máscara de oxigênio no rosto, ainda não me sentia bem!
Sinto uma pressão ao lado da minha costela e como um milagre minha respiração fica um pouco mais fácil, fecho os olhos por alguns instantes e ouço o choro do Ravi, procuro por sua voz e não consigo virar para nenhum lugar.
Acabo desligando novamente, acordo e vejo que o homem que estava ajudando as pessoas quando entrei no hospital, estava sentado ao meu lado com um sorriso no rosto. Ele olhou por cima dos óculos com um sorriso encantador e por um milagre sentia um sono maravilhoso se aproximando.
Como uma amante deixei que aquela nevoa me levasse para onde quer que fosse, apenas para fugir da dor e desespero que estava sentindo, estava até mesmo feliz caso a morte ceifasse a minha vida.
Mas…
A voz que mais amo na vida me trouxe de volta.
— Papai…
O choro do meu filho estava ali, precisava acorda, precisa dar colo para ele e dizer que ficaremos bem, onde quer que fosse.
Mary Pape Meu corpo está doendo, do topo da cabeça até a sola do pé. Sinto um desconforto enorme no meu peito, forçando que se expanda e contraia conforme a sua vontade. Não consigo abrir os olhos, os sinto com um peso enorme forçando que me mantenha de olhos fechados. Porém, podia ouvir e sentir o toque de outras pessoas no meu corpo, ouvia a conversa de todos eles ao meu redor, sabia que o natal já havia passado e que eles estavam se programando para o ano novo essa noite. Por suas conversas, sábia que um tal de Andreollo e Gagnon estavam patrocinando a diversão deles para essa noite, estava achando divertido o entusiasmo que todos estavam essa noite, mas queria saber sobre o Ravi, elas normalmente sempre falam sobre meu pequeno. “Ele é um médico bonito, mas sei lá…” — Uma delas dizia. “Veja como ela chegou, talvez encontre paz agora, ainda mais se aceitar a segurança que pode receber” — Estranhamente elas hoje resolveram falar em códigos. De alguma forma sei que Ravi estava s
Renan Andreollo Manuela conseguiu realmente tudo o que precisava, como já havia conseguido falar com Lev, sabia que ele carregaria a minha irmã em qualquer loucura que estivesse fazendo. Eles são a minha única família e sabia que por minha felicidade ele fariam de tudo por mim. Principalmente me ajudar a cuidar desse anjinho que nem a mim pertence. No fim do meu plantão fui até a UTI onde a mãe do Ravi estava, para que ele pudesse dar um beijo em sua mãe. Precisarei pensar em como cuidar desse pequeno nas horas que estiver em alguma cirurgia. Ao entrar na UTI, Ravi que já estava acordado reconheceu a sua mãe, o segurei mais apertado no meu peito e deixei que ele beijasse o rosto de sua mamãe. — Não podemos demorar pequeno, ou a tia ali brigará comigo. — Sorrio um pouco mais divertido olhando para a enfermeira da UTI. Me aproximo do ouvido da mãe do Ravi e sussurro ao seu ouvido, até porque não preciso de mais ninguém criando fofocas com meu nome pelos corredores do Hospital Gene
Renan AndreolloSou um médico há muitos anos e a privação de sono é algo que me acompanha desde a época de faculdade, para mim não seria algo demais ficar acordado enquanto organizo as coisas para mais tarde.Tenho certeza de Maurício e Manuela irão convidar muito mais pessoas que apenas os nossos amigos de plantão e particularmente gosto de cada um deles, desde as enfermeiras que participam das cirurgias como dos fisioterapeutas que entram apenas para regular os respiradores.Aproveito que Ravi estava dormindo e desço com a minha sorella para poder organizar a árvore e pedir para a empregada de casa preparar algumas coisas para a nossa ceia.Pego meu celular e vejo que meu aplicativo de mensagem Smoke estava com dois grupos criados e que fui adicionado, um se chamava.Boletim esposa de Renan. Reviro os olhos, isso é arte de Angela, a enfermeira da UTI que deve estar de plantão hoje, mas, na verdade, nem me importo muito, gostei de saber que todos torcem por minha felicidade.Natal de
Renan AndreolloEm poucas horas a minha casa estava totalmente decorada com muitos enfeites natalinos, embaixo da árvore estava com mais caixas de presente do que a que estava no shopping com um modelo do papai Noel para tirar fotos. Queria muito ter uma foto assim com o Ravi, mas acho que já estou fazendo mais do que a mãe dele aceitará.Quando meus companheiros de plantão chegaram na minha casa o meu celular começou a apitar e com curiosidade apertei para ver o que estava acontecendo e para a minha surpresa o grupo de notícias da mãe do Ravi estava enchendo de mensagens.Boletim esposa de Renan: A futura senhora Andreollo, teve a sua sedação diminuída, diminuímos os parâmetros da ventilação mecânica para ver como está o seu nível de consciência, para o anestesista de plantão, achou satisfatório os estímulos causados.Ela está ativa e reativa, com reflexos em boas condições, funções fisiológicas presentes e acreditamos que no ano novo ela já estará acordada para celebrar o novo ano e
Mary PopeUma semana depois que acordei e conheci o homem maravilhosos que vem cuidando de Ravi, a cada visita que recebo meu pequeno está usando uma roupinha diferente, com cheiro de limpeza e sem contar que ele está sempre feliz.As enfermeiras que estão cuidando de mim sempre me tratam com muito respeito e após verem o Ravi correndo pela UTI todo elétrico em direção de Renan, acredito que devem imaginar que posso ter algum envolvimento com esse médico todo charmoso que está me visitando todo dia.Estava finalmente livre de todos os dispositivos que me conectavam aos vários medicamentos que estava tomando nos últimos dias. Além disso, estava fazendo acompanhamento com uma psicóloga já que entrei com um carro no saguão em um hospital, causando alguns machucados.Mas eles estavam mais preocupados com o fato de que pudesse ser um risco para o Ravi e via a preocupação de todos em relação ao meu filho. Conheci a pediatra que estava cuidando do meu pequeno e pelo que disse causou um peque
Renan AndreolloAssim que consegui convencer a Mary a ficar comigo, deixo Ravi descer do meu colo e correr pelo quarto, observava o quanto ele estava eufórico.Depois de toda a confusão que a Vera fez na minha casa, conversando com todos enquanto olhávamos o Ravi se divertir com os novos brinquedos, decidi que o manter sempre comigo seria o melhor, já que a Vera podia surgir na casa e causar algum mal ao meu pequeno.Então ele está sempre comigo durante os plantões e por sorte nunca recebi nenhuma reclamação, quando eu ou a Thalita estávamos em cirurgia, Manuela ou Oliver estavam cuidando dele, pelo que demonstrava, ele já tinha as suas preferências para fazer bagunça.Com os dias, soube que a Mary iria receber alta e comecei a ficar angustiado, já que ela havia dito que iria embora de Dallas para se afastar do perigo do ex-marido. Um assunto que ela não suporta tocar.Tento respeitar ao máximo, mas quero muito poder ajudar e sem contar que ela ainda precisa de tratamentos, então usei
Mary PopeEstar rodeada por pessoas desconhecidas e, ao mesmo tempo, conhecidas me trouxe uma sensação que nunca senti, mesmo ao lado dos meus pais antes de morar com o Donald. Digo esperar por suas visitas. Estar casada com ele apenas no civil, nunca fez com que realmente me sentisse casada, ainda mais quando ele ia e vinha quando bem entendia. A distância que acabei colocando entre mim e minha família fez apenas que a falta de afeto aumentasse e como já era emancipada desde os dezesseis, sempre tive controle em minhas finanças.Outra coisa que graças a Deus nunca precisarei do Donald, tenho minha renda e sou financeiramente estável, não preciso de nenhum centavo dele para manter o meu filho e farei o meu melhor para nunca ter que pedir nenhum centavo daquele cretino.Olho para o Ravi brincando com o homem enorme que descobri ser um dos pediatras que estão cuidando da saúde do meu filho, que nem percebo a aproximação da Giuliana ao meu lado. Desde quando nos conhecemos no hospital,
Renan Andreollo Ver todos os meus amigo e a minha pequena família recebendo a Mary como uma de nós, foi tão prazeroso. É algo que nunca senti ao lado da Vera, já que ela não aceitava que a nossa casa recebesse os meus companheiros de plantão, com medo de aumentar o risco de trazermos mais bactérias hospitalares. Amava aquela mulher de uma forma que não via o quanto ela realmente era detestável. Agora vendo todos tentando deixa a mãe do Ravi confortável e principalmente fazer com que se sinta segura e uma de nós é maravilhoso. Ela foi aceita por todos eles, principalmente por quem mais era importante na minha vida, Giuliana. Quando a minha irmã pediu para passar a noite com o Ravi, ela me deu a oportunidade de conversar com a Mary e conhecê-la melhor, quem sabe conseguir entender o que fez ela fugir. Claro que sim que seu antigo relacionamento é abusivo e violento, mas nada acontece do dia para a noite. Com esse pensamento preciso realmente entender se ela está na posição de receb