cap: 128— Lavínia está apresentando sinais da doença hereditária da mãe. — O médico começou, sua expressão grave. — Não esperávamos que os sintomas pudessem surgir antes mesmo de ela completar trinta anos. Se eu tivesse previsto isso... talvez tivéssemos iniciado o tratamento antes, para tentar inibir os efeitos.— O que quer dizer? — Zen perguntou, a tensão evidente em sua voz.— Que, aos poucos, Lavínia pode começar a se esquecer de quem é, do que sabe, do que é capaz. Seus neurônios podem começar a se degradar e...— Mas e a mãe dela? — Zen o interrompeu, confuso. — A mãe dela durou anos, certo?— Não... Não é bem assim. — O médico suspirou. — A mãe de Lavínia passou por um período extremamente difícil no início. A doença, em sua fase inicial, se apresenta de forma muito agressiva, até que o corpo se adapta às mudanças. Mas, quando isso acontece, a pessoa já não é mais a mesma. Ela inicia uma caminhada lenta, porém irreversível, para a morte, desde o momento em que os sintomas sur
cap: 129:— Eu quero ler, mas também quero que você fique aqui e me explique cada coisa. Não me peça para ir ligando os pontos como um quebra-cabeça demorado, por favor... — Zen pediu, o olhar preocupado fixo em Valmont.— Apenas leia, e depois você vai entender o que está acontecendo. — Valmont respondeu, firme.Zen pegou o primeiro envelope, sem entender o motivo de estar ali. Eram os exames de Zara. Ele não compreendia por que o médico também tinha entregado aquilo a Valmont, mas, assim que abriu, a resposta ficou clara.— Como assim Zara tem leucemia?— Sim. — Valmont confirmou, suspirando profundamente enquanto descansava as costas na cadeira com uma postura resiliente.— Aqui tem dados dela, mas não entendo... — Zen começou a folhear os documentos, a confusão aumentando. — E doadores? Zara tem um tipo de sangue pouco comum, e... Ela tinha uma única doadora que era... — Ele ergueu os olhos, surpreso. — Minha mãe?— Sim. Um dos motivos pelos quais Zara ainda está viva é exatamente
Cap:130— Não sei... pura coincidência, algumas vezes um golpe de sorte. Ela tem muita sorte. — Zen comentou, pensativo, mas sem muita convicção.— Não, alguém está te empurrando para ela desde o começo. — A voz soou firme e calculada. — Tem alguém calculista o suficiente para planejar cada um dos passos de vocês dois. Alguém que te viu esperando Lavínia do lado de fora da recepção, alguém que colocou um homem suspeito na empresa, só para ser percebido por você. Um manipulador que te manteve em alerta em relação à Lavínia, enquanto finge fazer coisas para matá-la, sabendo que você vai impedir. O que acha disso?Samuel ficou em silêncio por um instante, o peso da teoria pairando no ar.— O que está dizendo? — questionou, sua expressão oscilando entre ceticismo e desconforto.— Justamente o que você ouviu.Zen suspirou, desviando o olhar por um breve momento antes de responder.— Ah... sim, pode ser. — respondeu, de repente demonstrando uma indiferença que contrastava com o assunto.Sam
Cap: 131— Não é o que você está pensando! — Zara disse de forma abrupta, usando o pouco de força que tinha para empurrá-lo. Em seguida, apoiou-se na pia, sem conseguir se manter de pé.Lavínia recuou, pensando em ir embora, mas voltou de vez.— Não! Isso não, ok? — disse, esbaforida. — Eu sei que estamos como se fôssemos inimigos, mas você também não vai estragar minha relação com a única amiga que tenho! Já basta não poder confiar em ninguém, e agora você quer estragar minha relação com ela?— Do que está falando? Eu não estava fazendo nada! Ela que desmaiou! Eu só a segurei como um bom funcionário encarregado de ser um faz-tudo nessa merda! — ele retrucou, ríspido.— Por que você está irritado? Eu que acabei de presenciar uma traição... ou pensei que presenciei.— Está ficando louca?— Não... Eu preciso sair, não estou me sentindo bem. — Zara avisou, passando rapidamente entre eles, como se estivesse fugindo de Lavínia.— Zara! — Lavínia a chamou, na intenção de ir atrás dela, mas Z
Cap:132Ela parou em frente à casa, olhando ao redor, quando o portão da casa ao lado abriu e uma senhora saiu.— Menina... — ela suspirou, caminhando em sua direção com expressão de preocupação.— Onde está aquele rapaz que mora aqui?— Como assim? — Lavínia perguntou, alarmada.— Alguns homens têm vindo diariamente procurá-lo, os homens que tinham a ver com aquela menina... — ela sussurrou, cautelosa.— Como assim? — Lavínia repetiu, confusa.— Vamos entrar. Não é seguro ficar aqui fora se aquele rapaz não estiver por perto. — a senhora avisou, puxando Lavínia para dentro.Já na sala, Lavínia insistiu:— Não entendo, o que está acontecendo? E de que menina a senhora está falando?— Você não sabe? O caso da aluna que foi abusada e morta no banheiro abandonado. Ela era muito amiga daquele rapaz. — A voz da senhora tremia enquanto falava.— De Zen?— Sim. Depois daquele problema, ele começou a andar com a irmã mais velha de Lucy, mas depois... — ela pausou, comprimindo os lábios com re
Cap:133O clima ficou tenso por alguns segundos até que Lavínia tentou encontrar palavras. Ainda assim, o peso da informação a fez tremer.Uma das empregadas entrou na sala trazendo uma bandeja com chá. Mas Lavínia já conhecia Bowen. Apesar dele jurar que não faria nada, ele nunca foi confiável e não seria agora. Ainda assim, a situação parecia ainda mais estranha, principalmente com a empregada que trouxe a bandeja. Ela usava máscara, sem falar nos outros empregados que estavam nos corredores. Parecia que todos estavam com uma expressão de preocupação.— Você sabe quem poderia ser? — ela perguntou, se recompondo, ao mesmo tempo que percebeu o último olhar da empregada, como se demonstrasse alguma preocupação.— Tenho minhas suspeitas, mas prefiro não jogar informações ao vento como se fossem certas — ele disse de forma meticulosa, enquanto a observava encarar com receio a xícara de café. — Pode beber, não tem nada aí.— Onde está minha mãe? — ela perguntou, demonstrando pressa.— Ah,
Cap:134— o que quer dizer com isso? — Bowen perguntou alarmado.— quero dizer que você tem que escolher, se calar por espontânea vontade, ou se calar... com meus métodos! — ele disse com um sorriso sombrio, o rosto de Bowen estava ensanguentado, seu nariz agora pingava sangue.— não me mate, por favor! — ele pediu desesperado.— você sabe quem eu sou, certo? Com um estalo de dedo, eu consigo me livrar de qualquer problema, pode acontecer o mesmo se eu acabar com você agora.— Por favor, por favor! — ele berrou aos prantos.Lavínia mantinha o olhar fixo em Bowen, mesmo enquanto seu coração parecia bater acelerado pelo efeito da adrenalina. O ar ao redor deles estava carregado, denso, como se qualquer movimento pudesse romper o equilíbrio frágil da situação.— Se ajoelhe e implore! — Zen ordenou com um tom sombrio, sua voz carregada de uma raiva contida que Lavínia nunca havia presenciado nele.O comando foi como um golpe seco. A cena que se desenrolava era patética o suficiente para c
Cap:135Ele acordou minutos antes dela, olhando ao redor e percebendo que a noite já os havia alcançado. Praticamente eram os únicos naquele estacionamento.Foi sua oportunidade de ler os documentos que estavam no envelope pardo. A cada linha lida, ele entendia um pouco mais o motivo de Lavínia não assinar o divórcio e por que Bowen queria tanto que ela o assinasse.— O que está fazendo?! — Lavínia acordou de forma abrupta, pegando o papel da mão dele.— Eu já li, não adianta mais. — Ele disse em tom de ironia.— Por que você está sempre se metendo onde não é chamado?— Por que você está sempre se colocando onde não devia estar? Quantas vezes mais você quer passar por isso?— Eu nunca quis passar por isso... — Ela confessou, mantendo a cabeça baixa.— Por que você não faz algo? Você é advogada, é tão capaz quanto ele.— Não sou a única que tem uma carta na manga, então não posso agir por impulso. Eu posso derrubá-lo, mas ele pode me levar junto. — Ela confessou com as mãos trêmulas, e