Capitulo 4

A reforma do Bucanero‘s não podia acontecer em pior hora, as contas de Ella estavam próximas ao vermelho, ela não poderia arcar com o aumento de tudo, mensalidades, condomínio, a saúde de Miah que consumiu boa parte de suas reservas. E agora ela precisava conseguir aulas extras e talvez encontrar um substituto temporário para o Bucanero‘s. Daniella se recusou a aceitar o dinheiro oferecido pelo capitão, ele disse que era para ela se manter até a reinauguração, mas ela não se sentiu à vontade em aceitar dinheiro dele, por mais que gostasse dele e de sua mulher Sonia.

— O que vamos fazer, Miah, acho que vou ter que alugar você por hora, ainda faltam seis meses até o término do curso, tenho que pagar a formatura. — ela resmungou conversando com a gata que estava aninhada em seu colo balançando levemente o rabo para lembrar que não estava feliz com o falatório e choro da dona.

Como Miah não estava a fim de sair para correr em uma manhã fria e com garoa, ela continuou deitada em sua caminha macia e felpuda. Ella calçou os tênis, e se alongou o suficiente para encarar sua preciosa corrida matinal. Uma hora depois ela estava exausta e parou para se hidratar e se alongar novamente.

— Ei Ella! — sua vizinha Júlia chamou vindo ao seu encontro — Preciso te fazer uma proposta.

— Proposta? Do que se trata — perguntou curiosa tentando controlar a respiração.

— Minha banda toca clássicos em alguns eventos e nossa violoncelista está grávida e não pode tocar no próximo evento e a substituta está com dengue, seria muito azar perder esse lance, então eu me lembrei de que você toca violoncelo no Holiday, o que acha de substituí-la por um tempo?

— Eu não sei, tenho que ver o repertório de vocês, talvez com alguns ensaios. — respondeu tentando esconder o desespero em sua voz, essa poderia ser a salvação dela, pelo menos até o Buca‘s voltar a funcionar.

— Ella, a grana é boa, eu juro, vamos subir e eu vou te contar os detalhes.

Ella acenou e seguiu Júlia em direção ao prédio onde moravam. Ela sabia que Tanto Júlia quanto João, o namorado dela, faziam parte de um grupo de musicistas clássicos. Ella já havia assistido a um concerto deles no auditório da faculdade no primeiro ano de curso. E sabia que eles tocavam em casamentos e festas de luxo. Seria muito bom para o seu currículo tocar com eles, mesmo que fosse por uma ou duas apresentações.

No apartamento de João e Júlia estavam todos os outros músicos, Júlia pediu que ela pegasse o cello para dar uma demonstração para o restante da banda e ela foi apresentada a todos.

— João toca violão, você já sabe, o Fred toca baixo acústico, Áurea e o Pedro tocam violinos, o velhote gente boa é ali é o Alfredo ele toca sanfona e piano, eu toco flauta e canto e a Bea toca cello e canta também, mas eu já te falei ela está grávida do papai Fred ali e não pode estar com a gente nos próximos eventos.

— É impressão minha ou tem mais coisa aí? — ela perguntou desconfiada. Pois todos pareciam sérios demais. — Que tipo de evento é esse?

— Acho que ela não vai servir Ju, olha para ela! — Fred, o baixista apontou para Ella deixando-a desconfortável.

— Cara, não temos tempo para conseguir alguém, você vai querer mudar todo o repertório?

— Qual é o mistério em tudo isso, pelo visto não é com a minha música que estão preocupados e nem com a minha habilidade em tocar o instrumento, então o que é?

— Ella, senta aí! — Júlia indicou o assento da única cadeira vazia — a gente toca uma vez por semana em um evento super-seleto. Coisa de gente grande com gostos estranhos. — Ella ergueu-se de repente e Júlia riu.

— Relaxa gatinha, a gente não faz nada indecente ou fora da lei, é só música, a nossa plateia é que é muito louca.

— Tipo drogas? — perguntou cada vez mais assustada.

— Não, Ella, é um clube de gente muito rica com gostos peculiares, mas não tem nada a ver com a gente, nosso lugar é no palco, eles não vêm até nós e nós não vamos até eles. Simples assim — respondeu João batendo na coxa dela com carinho.

— Olha só, são dois mil e quinhentos por evento para cada um, para tocar por 6 horas de trabalho, é puxado, tem que ensaiar muito, mas vale muito a pena também.

— Eu não vou me envolver com nada estranho?

— Não, é tudo sobre música, — respondeu o homem mais velho da banda. — mas é um clube de sexo, pessoas fazem de tudo e mais um pouco na plateia, é só se concentrar na sua música e deixa a festa rolar.

—  A gente tem um repertório próprio para esses eventos, mas às vezes um ou outro, paga um extra para gente tocar o que eles querem ouvir.

— A plateia fica nua? Assim sem roupa? — perguntou envergonhada, seu rosto estava da cor do seu cabelo e todos caíram na gargalhada diante do espanto puritano dela.

  — Sim, amiga, eles só escondem o rosto, todo o resto, é como veio ao mundo — Júlia respondeu pacientemente — Ella você é boa e a gente precisa de você, isso aqui é São Paulo e você já devia estar acostumada, não se deve se espantar ou se escandalizar com nada em uma cidade como essa, principalmente quando tem muito dinheiro envolvido.

— Ok, eu preciso da grana e eu topo, eu tenho que usar máscara também?

— Sim, todos nós usamos, mas não se preocupe, nós não tiramos a roupa e nem fazemos sexo com ninguém. A menos que você queira, é claro. — Pedro sorriu e deu uma piscadinha para ela.

Pedro tinha a pele negra e usava o cabelo afro e barba curta, Ella o achou lindo, ela nunca tinha visto uma sintonia tão perfeita entre cor da pele, dos olhos e sorriso perfeito. Mas o que mais a encantou foi a covinhas na bochecha quando ele riu para ela. Mais tarde Júlia e João a aconselharam a ficar longe dele, o cara era certeza de lágrimas futuras, e Ella teve a mesma impressão.

— Ella, você não deve se impressionar com nada do que veja nesse evento, no primeiro dia eu fiquei horrorizada também, errei as primeiras notas, mas então pensei na grana, na mensalidade da faculdade então todo o resto perdeu a importância.

— Eu entendi, e vou conseguir, eu prometo. — repetiu pelo menos duas vezes a frase para convencer a si mesma.

— Não se preocupe, mais tarde eu vou ao seu apartamento e a gente vê alguns vídeos de coisas que rolam nesses eventos, assim você vai ter uma ideia do que esperar. Ella ficou feliz pela ajuda de Júlia e agradeceu aos céus pelo trabalho extra.

Chocada, foi eufemismo diante do que ela sentiu ao assistir uma sessão de BDSM, Boybang, Gangbang, Ménage à trois, Grupal, entre outras coisas que deixaram Ella espantada, e em alguns momentos curiosa. Ela nunca tinha visto nada daquilo, dois homens e uma mulher, duas mulheres e um homem, vários homens fazendo coisas incríveis com uma mulher e vice e versa.

— É isso que acontece lá? — perguntou corada como um pimentão.

— É muito mais intenso pessoalmente, mas eles mal percebem que a gente está lá, a não ser quando pedem uma música ou outra. — Júlia explicou — você vai tirar de letra, pensa que é um filme e que quando ele acabar você vai voltar para casa com a grana e pronto.

Ella estava determinada a vencer os seus tabus e dar o melhor de si para conseguir fazer esse trabalho — trabalho, é apenas trabalho —  repetiu para si mesma.

A semana foi intensa, com uma carga de ensaios extenuante, mas todos se esforçaram para ajudá-la a pegar todas as músicas.

Ella cresceu ouvindo a maioria das canções que faziam parte do repertório da banda, e abrir o show tocando João e Maria, era um presente, pois a deixaria muito à vontade no palco. — pelo menos foi o que ela pensou.

Ademais, ela era uma garota de cidade grande agora, não seria um monde de homens pelados, excitados, fazendo sexo com mulheres amarradas, amordaçadas — e aquelas expressões em seus rostos? — Ella percebeu que não eram os jogos que a tinham deixado impressionada, ela não podia dormir, pois, não parava de pensar no prazer estampado nos rostos daquelas mulheres.

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