A reforma do Bucanero‘s não podia acontecer em pior hora, as contas de Ella estavam próximas ao vermelho, ela não poderia arcar com o aumento de tudo, mensalidades, condomínio, a saúde de Miah que consumiu boa parte de suas reservas. E agora ela precisava conseguir aulas extras e talvez encontrar um substituto temporário para o Bucanero‘s. Daniella se recusou a aceitar o dinheiro oferecido pelo capitão, ele disse que era para ela se manter até a reinauguração, mas ela não se sentiu à vontade em aceitar dinheiro dele, por mais que gostasse dele e de sua mulher Sonia.
— O que vamos fazer, Miah, acho que vou ter que alugar você por hora, ainda faltam seis meses até o término do curso, tenho que pagar a formatura. — ela resmungou conversando com a gata que estava aninhada em seu colo balançando levemente o rabo para lembrar que não estava feliz com o falatório e choro da dona.
Como Miah não estava a fim de sair para correr em uma manhã fria e com garoa, ela continuou deitada em sua caminha macia e felpuda. Ella calçou os tênis, e se alongou o suficiente para encarar sua preciosa corrida matinal. Uma hora depois ela estava exausta e parou para se hidratar e se alongar novamente.
— Ei Ella! — sua vizinha Júlia chamou vindo ao seu encontro — Preciso te fazer uma proposta.
— Proposta? Do que se trata — perguntou curiosa tentando controlar a respiração.
— Minha banda toca clássicos em alguns eventos e nossa violoncelista está grávida e não pode tocar no próximo evento e a substituta está com dengue, seria muito azar perder esse lance, então eu me lembrei de que você toca violoncelo no Holiday, o que acha de substituí-la por um tempo?
— Eu não sei, tenho que ver o repertório de vocês, talvez com alguns ensaios. — respondeu tentando esconder o desespero em sua voz, essa poderia ser a salvação dela, pelo menos até o Buca‘s voltar a funcionar.
— Ella, a grana é boa, eu juro, vamos subir e eu vou te contar os detalhes.
Ella acenou e seguiu Júlia em direção ao prédio onde moravam. Ela sabia que Tanto Júlia quanto João, o namorado dela, faziam parte de um grupo de musicistas clássicos. Ella já havia assistido a um concerto deles no auditório da faculdade no primeiro ano de curso. E sabia que eles tocavam em casamentos e festas de luxo. Seria muito bom para o seu currículo tocar com eles, mesmo que fosse por uma ou duas apresentações.
No apartamento de João e Júlia estavam todos os outros músicos, Júlia pediu que ela pegasse o cello para dar uma demonstração para o restante da banda e ela foi apresentada a todos.
— João toca violão, você já sabe, o Fred toca baixo acústico, Áurea e o Pedro tocam violinos, o velhote gente boa é ali é o Alfredo ele toca sanfona e piano, eu toco flauta e canto e a Bea toca cello e canta também, mas eu já te falei ela está grávida do papai Fred ali e não pode estar com a gente nos próximos eventos.
— É impressão minha ou tem mais coisa aí? — ela perguntou desconfiada. Pois todos pareciam sérios demais. — Que tipo de evento é esse?
— Acho que ela não vai servir Ju, olha para ela! — Fred, o baixista apontou para Ella deixando-a desconfortável.
— Cara, não temos tempo para conseguir alguém, você vai querer mudar todo o repertório?
— Qual é o mistério em tudo isso, pelo visto não é com a minha música que estão preocupados e nem com a minha habilidade em tocar o instrumento, então o que é?
— Ella, senta aí! — Júlia indicou o assento da única cadeira vazia — a gente toca uma vez por semana em um evento super-seleto. Coisa de gente grande com gostos estranhos. — Ella ergueu-se de repente e Júlia riu.
— Relaxa gatinha, a gente não faz nada indecente ou fora da lei, é só música, a nossa plateia é que é muito louca.
— Tipo drogas? — perguntou cada vez mais assustada.
— Não, Ella, é um clube de gente muito rica com gostos peculiares, mas não tem nada a ver com a gente, nosso lugar é no palco, eles não vêm até nós e nós não vamos até eles. Simples assim — respondeu João batendo na coxa dela com carinho.
— Olha só, são dois mil e quinhentos por evento para cada um, para tocar por 6 horas de trabalho, é puxado, tem que ensaiar muito, mas vale muito a pena também.
— Eu não vou me envolver com nada estranho?
— Não, é tudo sobre música, — respondeu o homem mais velho da banda. — mas é um clube de sexo, pessoas fazem de tudo e mais um pouco na plateia, é só se concentrar na sua música e deixa a festa rolar.
— A gente tem um repertório próprio para esses eventos, mas às vezes um ou outro, paga um extra para gente tocar o que eles querem ouvir.
— A plateia fica nua? Assim sem roupa? — perguntou envergonhada, seu rosto estava da cor do seu cabelo e todos caíram na gargalhada diante do espanto puritano dela.
— Sim, amiga, eles só escondem o rosto, todo o resto, é como veio ao mundo — Júlia respondeu pacientemente — Ella você é boa e a gente precisa de você, isso aqui é São Paulo e você já devia estar acostumada, não se deve se espantar ou se escandalizar com nada em uma cidade como essa, principalmente quando tem muito dinheiro envolvido.
— Ok, eu preciso da grana e eu topo, eu tenho que usar máscara também?
— Sim, todos nós usamos, mas não se preocupe, nós não tiramos a roupa e nem fazemos sexo com ninguém. A menos que você queira, é claro. — Pedro sorriu e deu uma piscadinha para ela.
Pedro tinha a pele negra e usava o cabelo afro e barba curta, Ella o achou lindo, ela nunca tinha visto uma sintonia tão perfeita entre cor da pele, dos olhos e sorriso perfeito. Mas o que mais a encantou foi a covinhas na bochecha quando ele riu para ela. Mais tarde Júlia e João a aconselharam a ficar longe dele, o cara era certeza de lágrimas futuras, e Ella teve a mesma impressão.
— Ella, você não deve se impressionar com nada do que veja nesse evento, no primeiro dia eu fiquei horrorizada também, errei as primeiras notas, mas então pensei na grana, na mensalidade da faculdade então todo o resto perdeu a importância.
— Eu entendi, e vou conseguir, eu prometo. — repetiu pelo menos duas vezes a frase para convencer a si mesma.
— Não se preocupe, mais tarde eu vou ao seu apartamento e a gente vê alguns vídeos de coisas que rolam nesses eventos, assim você vai ter uma ideia do que esperar. Ella ficou feliz pela ajuda de Júlia e agradeceu aos céus pelo trabalho extra.
Chocada, foi eufemismo diante do que ela sentiu ao assistir uma sessão de BDSM, Boybang, Gangbang, Ménage à trois, Grupal, entre outras coisas que deixaram Ella espantada, e em alguns momentos curiosa. Ela nunca tinha visto nada daquilo, dois homens e uma mulher, duas mulheres e um homem, vários homens fazendo coisas incríveis com uma mulher e vice e versa.
— É isso que acontece lá? — perguntou corada como um pimentão.
— É muito mais intenso pessoalmente, mas eles mal percebem que a gente está lá, a não ser quando pedem uma música ou outra. — Júlia explicou — você vai tirar de letra, pensa que é um filme e que quando ele acabar você vai voltar para casa com a grana e pronto.
Ella estava determinada a vencer os seus tabus e dar o melhor de si para conseguir fazer esse trabalho — trabalho, é apenas trabalho — repetiu para si mesma.
A semana foi intensa, com uma carga de ensaios extenuante, mas todos se esforçaram para ajudá-la a pegar todas as músicas.
Ella cresceu ouvindo a maioria das canções que faziam parte do repertório da banda, e abrir o show tocando João e Maria, era um presente, pois a deixaria muito à vontade no palco. — pelo menos foi o que ela pensou.
Ademais, ela era uma garota de cidade grande agora, não seria um monde de homens pelados, excitados, fazendo sexo com mulheres amarradas, amordaçadas — e aquelas expressões em seus rostos? — Ella percebeu que não eram os jogos que a tinham deixado impressionada, ela não podia dormir, pois, não parava de pensar no prazer estampado nos rostos daquelas mulheres.
Na véspera da festa, Ella estava na frente de seu computador, uma taça de vinho para dar alguma coragem e o endereço da igreja mais perto caso ela sentisse necessidade de se confessar. Ella abriu o a página de busca e antes de digitar a primeira palavra, tomou mais um bom gole de vinho e estralou os dedos gelados. Se a intenção era criar coragem, não estava funcionando.— Qual é Ella, você não vai fazer o que eles fazem, é só curiosidade natural. — Repreendeu-se — Não seja tão puritana.Ela digitou a primeira palavra, e se assustou com a definição do termo.BDSM; “Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo”O termo refere-se a relações sexuais baseadas no prazer da dor. É uma prática que exige respeito e consentimento de quem está envolvido nela e que requer conhecimento dela como um todo.— Prazer em sentir dor? Como alguém pode gostar de apanhar, ser espancado, amordaçado e todas essas coisas que colocam na boca e em outros orifícios? — perguntou para a tela do
Yago D‘Alba era o homem mais insuportavelmente perfeccionista quando se tratava de seu trabalho. Era minucioso, extremamente fiel a cada detalhe. Esse fato a respeito de sua personalidade às vezes dificultava a convivência com as pessoas que trabalhavam para ele. Por isso, era comum que ele sempre tivesse a sua própria equipe ao seu lado sempre.— Existe uma razão para você estar aqui e não em Madri, Carajo hombre. Eu não quero saber como vai resolver isso, mas quero o material que pedi com a qualidade que eu exijo. Se não puder fazer, volte para a Espanha e fique por lá — gritou com o seu assessor. Todos ao redor tremeram diante da sua explosão. — Já disse que não preciso de chupamedias. Quero trabalhadores qualificados e você me garantiu que os tinha. Agora se responsabilize pelos erros deles ou será demitido junto com eles.— AÍ, irmão, acho que você anda precisando de um tempo. — Alex se apressou em acalmar o gêmeo irado, antes que precisasse trocar todo o pessoal da linha. — Há q
Alex foi surpreendido pelo Capitão ao acordar e ver o tio sentado à beira de sua cama com uma xícara de café na mão. Ele achou estranho, pois era muita animação para aquela hora da manhã.— Cabron, tem um convite para você e para o bunda suja, quarta-feira na casa do Senador. Ele está de volta à ativa, dizem que participou de um evento dos bons em Londres. Espero que tenha aprendido alguma coisa.— De quem você está falando, capitão? — perguntou sonolento.— O dono do Babylon. Pensei que você tinha gostado do clube!— Ah! Claro que foi bom, tio, mas nunca me lembro dos nomes, sabe como é.— Meu menino, você me enche de orgulho — o velho bateu na perna de Alex sorridente.— Família fodida, eu digo que sou viciado em sexo e você bate nas minhas costas como se eu te entregasse uma estrela de bom aluno de Oxford.— Você já me deu diplomas demais, filho, de Oxford, da Universidade de Madrid, e daquela na Suíça, mas acredito que nenhuma delas fez os seus olhos brilharem mais do que a primei
Ser adepto de sexo livre e jogos do prazer não significa, necessariamente, estar aberto a tudo. Na verdade, era difícil, se não impossível, encontrar alguém. Alex, no entanto, pode dizer que já experimentou tudo, desde que seja uma mulher a estar embaixo dele.Os gêmeos resolveram circular mais um pouco e chegaram aos famosos "tatames", camas extragrandes em que vários casais se tocam, se beijam e transam ao mesmo tempo, com muitos outros ao redor, assistindo ou simplesmente tendo a visão como estímulo para masturbação ou carícias com parceiros. Neste espaço, luzinhas pequenas no piso são a única forma de enxergar o que se passa, deixando muito para a imaginação — e provavelmente este é o segredo.Yago e Alex observavam as duas mulheres que antes se exibiram para eles no grande salão, agora estavam se fodendo com tudo o que tinham. A loira penetrava a morena com um vantajoso pênis de borracha e ela olhava para Alex, com certeza imaginando-o ali. Um homem de meia-idade se aproximou apó
Com a cartilha devidamente decorada, Ella entrou no que, à primeira vista, parecia ser um ambiente de festa absolutamente normal, exatamente como estamos acostumados a ver nas baladas por aí: música alta, várias opções de drinks, mesas, palco para shows e até mesmo algumas barras para prática de pole dance perdidas pelos cantos. Ela respirou tranquila, e embora a cortina grossa os protegesse da visão da plateia, ela não resistiu à curiosidade de olhar pela fresta.Ella pensou que podia esquecer tudo o que havia pensado a respeito do que veria naquele tipo de ambiente, ou melhor, quase tudo. Pelo menos foi exatamente isso que aconteceu quando ela se viu no palco de uma casa destinada à "orgia descontrolada". Não foi bem assim. Na verdade, se tem uma coisa que ela não viu foi o descontrole.Pelo menos não da forma que esperou a partir da ideia geral e quadrada que leu e aprendeu sobre casas de swing para não desmaiar quando chegasse ao local. Era como se estivesse em outra realidade. Bo
Ella poderia dizer que esteve em "modo automático" durante toda a semana. Dormindo muito pouco e com sono conturbado por imagens que não deveriam estar lá, Ella não sabe como pode executar corretamente suas obrigações. As aulas particulares, os ensaios, a faculdade, seu trabalho no hotel nas noites de quinta, tudo passou como um borrão. A única coisa constante na mente de Ella Guido eram as mãos daqueles homens no corpo da mulher enquanto olhavam diretamente para ela. Ella teve sonhos em que os dois diziam seu no me e a chamavam para participar, e no sonho ela ia.— Por todos os santos Ella, esqueça isso! — gritou exasperada enquanto tentava se concentrar em apenas lavar as suas partes intimas no banho, em vez de fantasiar com mãos que jamais estariam ali.No último ensaio antes da apresentação que teria um solo de Julia na flauta e Ella no violoncelo tocando a música "Sim" de Oswaldo Montenegro. Ella adorava a música em toda a sua essência, amava o compositor, amava o filme "O Perfum
Yago não estava no clima para jogos naquele dia, mas seu irmão tinha outros planos e mesmo sem estar animado para sexo hard, ele o acompanhou, embora estivesse decidido a ficar no bar.Chegaram mais tarde do que o habitual, pois Alex tinha uma reunião inadiável com um cliente na Europa. Quando chegaram a banda já estava no palco. Alex havia sumido em uma das portas acompanhado de um casal. Como não tinha intenção de participar da festa, para tristeza de algumas mulheres, Yago foi até o bar e se sentou um pouco distante do palco desta vez, mas com uma visão ainda privilegiada dos músicos. Embora ele só tivesse notado uma.A garota atrás do violoncelo não parecia deslocada desta vez, estava estonteante em um traje preto, o vestido possuía uma fenda e o instrumento apoiado entre as suas pernas deixava a mostra toda a coxa, a imagem era muito mais sensual do que qualquer mulher nua no grande salão. Yago estava excitado só de assisti-la tocar.No momento em que um belíssimo solo de violonc
Os gêmeos Sanz D'Alba decidiram não deixar uma mulher entre eles, de modo que se eles eventualmente se apaixonassem pela mesma garota, eles juraram abrir mão dela se ela não fosse capaz de amar os dois ao mesmo tempo. E nenhum dos dois estava pronto para falar sobre a noite, e desde o pacto deles esta era a primeira vez que algo assim acontecia.Alex queria a voltar na semana seguinte, e quantas vezes fosse preciso para vê-la novamente, e ele sabia que seu irmão faria o mesmo, mas preferiu guardar seu desejo para si, até saber quão interessado seu irmão estava, afinal parece que ele estava mesmo muito encantado pela garota, e ele não tiraria isso de Yago.Sim, ele era um bastardo altruísta, pelo menos quando se tratava do irmão gêmeo. Yago era a sua família, ele não tinha mais ninguém no mundo, e faria qualquer coisa para que ele fosse feliz. E por saber que seu irmão pensava exatamente a mesma coisa a seu respeito, Alex preferiu fingir não ter notado o vermelho intenso dos cabelos de