– Onde você estava? Estávamos todos procurando por... – Ela desceu os olhos até os braços do marido, onde uma mulher parecia descansar. – Tom, o que... – Ela engoliu a vontade de explodir em fúria. – É uma longa história. Será que nós podemos conversar mais tarde. – E então? – Uma voz grossa reverberou atrás do casal alheio a tudo. Carmem Lúcia arregalou os olhos, temendo pelo pior. Ela acabara de se casar e estava feliz demais para aceitar que perderia o seu grande amor. Aquilo parecia uma maldição. – Senhor Reese. Nós já a encontramos. – Ah é... – Ele desviou o olhar na direção do homem que ousava levar a sua linda esposa nos braços. – O que você está fazendo com ela assim? – Eu estou fazendo algo que o senhor não fez! Eu estou cuidando dela. Ele rosnou toda a fúria. – O que você disse, insolente? – Ele arrancou o chicote da calça e o levantou na direção do homem alto e bonito. – Repete e eu te coloco no seu devido lugar agora mesmo! Vamos lá! Diga alguma coisa. – Ca
– Eu acho bom você começar a explicar direito como isso aconteceu, senhora Reese... – Espera! Se acalma. Está tudo bem, foi só um... – Só um o que? Ele ainda a estava segurando pelo braço quando a arrastou em direção ao quarto e bateu a porta. Ela foi jogada na cama como um saco de batatas, e ainda tentava inutilmente esconder-se por trás do terno do homem que amava. Aurora Beatrice Reese não sabia se tinha mais medo de que ele a visse como ela de fato havia se vestido para aquela noite, mesmo depois que ele deu-lhe a confiança, ou se temia que caso tirasse aquela roupa, jamais voltaria a sentir o cheiro do amado amante tão próximo ao seu corpo outra vez. – Foi só um susto. Eu estou bem. – Não perguntei se você esta bem. Eu quero explicações, senhora Reese. E eu as quero agora mesmo! – Eu já te contei tudo. Até mesmo as partes que me causam profunda vergonha. Mas aquele rapaz só estava me defendendo de ser atacada. – Você não me disse tudo, Aurora. Eu tenho certeza que
Ela não conseguiu ter uma noite de sono em paz, e a aquela altura, nem sequer fazia ideia de com quem a Sara Reese estava. Ela comeu bem? Ela foi bem cuidada durante sua dolorosa ausência? Não importava. Ela só conseguia sentir ódio por si mesma, e a dor da perda parecia deixar a mulher estonteante, completamente cega de tristeza. A porta bateu na sala, a deixando alarmada... Os olhos não estavam fundos, apesar do pouco descanso ou o fato de ter chorado a noite inteira. Ela saltou da cama, sem ao menos vestir-se para sair do quarto. E nem mesmo colocou um robe por cima da camisola sexy que vestira com a intenção de acalmar o marido, mesmo que em uma atividade que ela odiava fazer com ele.Aurora Beatrice Reese pisou os pés na sala da casa e paralisou ao ver sangue preso as botas daquele homem. A lágrima desceu pelo rosto sem pedir licença. Havia um claro desespero estampado no rosto delicado. As faces rosadas tornaram-se vermelhas de tanta dor que ela tentou, inutilmente guardar.
Ela andou pela prioridade sentindo aquele aperto no peito a sufocando com cada vez mais intensidade, enquanto o homem a seguia a distância, como se nem ao menos a conhecesse. Carmem Lúcia segurava a filha que ela deveria levar nos braços para o que seria o passeio entre mãe e filha. Mas ela não tinha o costume de fazer aquilo para não estragar as unhas recém feitas. Afinal, a criança nem mesmo era dela. E o que mais Sara Reese poderia querer se já tinha tudo na vida? Ela tirara a sorte grande ao ter entrado para a família Reese, onde possivelmente seria a única herdeira de uma fortuna incalculável deixada pela mãe e pelo pai que também não dava-lhe a mínima atenção. Mas ela tinha tudo que queria. As melhores bonecas, as melhores roupas, e joias. Joias demais para tornar alguém tão pequena na criatura mais soberba e vaidosa que já pisou por aquelas terras. Aurora Beatrice Reese olhou para trás como se tentasse provoca-lo, embora tentasse a todo custo que ele voltasse para ela, se
Aurora Beatrice parecia mais feliz, embora ainda sentisse aquele ciúmes a correr lentamente por dentro.O homem que a acompanhava como uma sombra, mantendo-se sempre a distância, podia sentir cada tentação do cheiro, da forma como ela o encava. Das torturas que todos aqueles dias tinham se tornado. Ela andou em direção ao quarto e fez questão de deixar a porta do banheiro aberta quando ele a seguiu até o quarto, como o marido havia mandado que ele fizesse. Tomas sentiu um súbito medo de que fosse flagrado se entrasse ali com ela, embora fosse a sua maior vontade. A esposa dormindo no quarto ao lado não o permitiu abandonar os escrúpulos o suficiente para fazer aquilo. Não enquanto ela cuidava tão bem de uma criança que nem mesmo era dela. Toda vez que ele pensava que a menina era do Santorini, todo o seu ódio crescia. O amor parecia desaparecer ao afogar-se em um mar de magoas e ressentimentos que jamais poderiam ser superados. E ele sabia que aquela era só mais uma das maiores
Aurora Beatrice Reese levantou-se pela manhã, sentindo o coração doer. Fazia algum tempo desde que vivia naquela situação, e sentia-se cada vez mais infeliz. Ela abriu a porta do quarto e encarou o homem parado, esperando que ela acordasse, mas ainda sem dizer-lhe uma única palavra.Foram tantas vezes que ela o havia tentando. Foram tantos momentos em que chorara e desabafara com ele todos os seus pesares e pesadelos, mas ele ainda parecia não se importar o suficiente para consola-la. Aurora encarou o rosto serio como o de um jagunço e passou direto por ele. – Bom dia! – Foi tudo que ela disse, sentindo-se amargurar a alma a cada dia que passava, com mais maldade. Sara Reese a encontrou no corredor. – Mamãe, nós podemos... – Não! Você tem as suas aulas, querida. Não pode sair de casa hoje. – Mas eu pensei que... – Pensou errado! Você não pode. – Eu vou pedir ao papai. – E então, a menina mal criada virou-se de encontro ao homem que a mimava comprou a princesa mais precios
Ela esperou do lado de fora daquele quarto durante todo o tempo em que o médico esteve com a senhora Carmem. Havia uma clara hesitação no olhar, e naquele ponto, a mulher passara a roer as próprias unhas também. Aurora Beatrice Reese viu-se entre a cruz e a espada quando o coração conflituoso dividiu-se em culpa e rancor. Ela era mesmo a culpada por aquilo? Ela merecia tanto sofrimento? A mulher sabia que não. Mas e quanto a Carmem Lúcia? Ela também não merecia nada daquilo. Aquela mulher queria apenas ser mãe. A porta se abriu, e ela rapidamente ajeitou a postura. A mulher secou as lágrimas e tomou coragem para enfrentar o casal que provavelmente estava bravo. Ela esperou que o medico idoso saísse do quarto, carregado pela mesma carranca que sempre teve, desde que frequentara a mansão dos Beatrice pela primeira vez. – Bom dia, senhora. Está tudo ajeitado. Acertarei mais tarde com o seu marido. – Oh, não. Não se preocupe. Eu tenho tudo aqui. – Tem certeza? Não quero tirar-
Aurora Beatrice Reese tentou afastar-se o quanto pode, andando para longe daquele homem, mas ele ainda representava a figura dos seus sonhos e dos piores pesadelos. Ele a acompanhou lentamente como uma sombra que nunca a deixaria sozinha. Ela soube que nunca estaria em paz. Rapidamente, ela olhou para trás e fitou o rosto de traços marcantes e feição rígida como uma rocha, mas ainda havia bondade nele, especialmente os olhos. A mulher andou mais rápido, em uma tentativa de fuga que sabia que nunca daria certo. Ainda assim, ela precisava tentar. E ela passou a correr rápido e muito mais devagar que ele, torcendo mentalmente para que ele desistisse de alcança-la. Naquela altura, o coração da jovem doía como a própria morte, e ela olhou para trás apenas para notar o quanto estava longe de casa. Ela estava longe de tudo. Naquele instante pareceu ter apenas os dois no mundo, num cenário pós apocalíptico. O problema é que ela não o queria mais. Ela não queria estar com ele ali. Ela