Aquilo tudo parecia um pesadelo. Marcos ofegante nos braços de Gabriel com o suor escorrendo pelo corpo em demasia. Nós três abraçados e petrificados olhando a cena sem reação. E um pânico eminente contaminado o ambiente.
Os socorristas chegaram rápido. Não perderam um minuto sequer no atendimento em meio a minha sala e logo estávamos dentro de uma ambulância a mil pela cidade a caminho do hospital.
Segurava a mão dele firme entre as minhas e lhe acariciava seu rosto tentando manter ele calmo. Ele tinha um respirador sobre sua face, um soro em seu braço e já estava conectado a medidores de pressão e batimentos cardíacos. Um infarto é igual a um tsunami. A primeira onda anuncia o desastre. A segunda, maior e mais devastadora acaba com seus planos para o futuro...
Os olhos dele transmitiam inúmeros sentimentos nas lágrimas que deixava escapar. Medo, dor, decepção, tristeza por talvez ter que partir...
Beijei seu rosto e lhe pedi calma. Que tudo iria ficar bem.
Marcos precisou de dois dias de descanso no hospital por causa da idade e tem um atestado de um mês inteiro em casa. Difícil vai ser fazer ele cumprir essa decisão médica diante de tantas providências as quais temos que tomar.Chegou animado, corado e louco de saudades da filha. Quanto a Fábio... A animação não era das melhores. Eles mal se falaram nesses dias e as poucas palavras que trocaram não foram tão amorosas. Ainda guardava mágoa da atitude irresponsável que o filho tivera sobre seu futuro.Deixamos ele descansar uns dias, depois remarcamos uma reunião pra ver o que faríamos com relação aos nossos filhos. Marta chegou com um sorriso farto no rosto a nossa casa, ela nunca tinha nos visitado e quando viu o grau de estabilidade financeira que temos...___ Acho que vamos ser boas avós... __ Começou sentando-se ao lado da filha no sofá à nossa frente.___ Não acha, Fernanda?___ Acho que eles são só crianças... E que talvez, devêssemos repensar isso..
“Do pó viemos ao pó retornaremos...”Disse o padre diante do cais. Marcos foi cremado e suas cinzas lançadas ao mar... Era seu último desejo... Desejo esse do qual só eu era conhecedora...Não deu pra contar quantas lágrimas derramei naqueles dias que se passaram até ali. Ver meu filho pelos cantos amoado com o seu filho em seu colo, era de partir o coração.Mesmo tão pequeno, Mateos sentia a mesma dor que nós pelo seu avô de adoção. Seus olhinhos sempre úmidos, mesmo tentando nos fazer viver a dor de modo mais terno nos pedindo canções das quais cantávamos juntos ou trazendo os álbuns de fotografias dos momentos felizes que tivemos enquanto Marcos vivera entre nós.Meu corpo com certeza desidratou por causa delas. Meu coração ferido sangrava a todo momento em ver o sofrimen
Lembro-me como se fosse hoje, daquela noite inesquecível de virada de ano. O céu com estrelas pontilhado, iluminado pela luz da lua com todo seu esplendor, naquela noite fresca de verão. A brisa balançando delicadamente meu cabelo e acariciando com mãos invisíveis agradavelmente meu rosto. Era como se estivesse presa a um sonho, um conto de fadas daqueles que nem sempre são descritos nos livros. Do alto do mirante podia ver as pessoas lá em baixo, espalhadas pela areia da praia felizes, comemorando essa data tão almejada durante todo o ano. A praia lotada só fazia se confirmar o quanto para elas era importante celebrar mais um ano que se findara. Mais um ano chieo de novas esperanças e sonhos que come&c
Quando você acredita que num dia trágico como esse nada mais de ruim pode acontecer ou piorar a situação... O destino lhe dá uma rasteira. Derruba-te sem dó nem piedade ao chão e lhe diz na tua cara quem é que manda no jogo da vida...E eis que a vida te apresenta uma cartela que parece infinita das situações complicadas que o destino lhe reservou. A vida te surpreende com notícias ainda mais dolorosas. E faz você perceber que seus problemas são complicados de serem resolvidos. Mas, que outras pessoas têm problemas maiores que o seus. Bem mais complicados e às vezes quase insolúveis...E nesse momento ela faz que você sinta vergonha dos dilemas. Infantis, diriam os mai
Mesmo diante de tantos questionamentos no dia anterior, aceitei a ajuda da megera. Marcamos um horário e com uma extrema preocupação entreguei-me aos cuidados dela. Espero sinceramente estar fazendo a coisa certa...Mas, me enganei redondamente com a bondade apresentada pela mãe dele. Apesar das promessas de cuidar de mim e do bebê, seu futuro neto, ela tinha outros planos para nós. Bem macabros poderia dizer. Que nem de longe, lhe dariam uma passagem para o céu das sogras bondosas...Lembro-me como se fosse hoje do terror se espalhando ao meu corpo, quando percebi que não era a um bom consultório de um médico ginecologista que iria me levar. Muito menos, era seu desejo certificar-se que estávamos bem. Não havia expressão nenhuma de preocupação ou bondade no r
Um mês depois me casava igreja matriz da cidade. Um casamento até bem pomposo, devido ao pouco tempo que tivemos para organizar todos os documentos, convidados, Buffet e até mesmo a cerimônia. Tivemos convidados muito importantes como autoridades regionais, clientes em grande potencial financeiro e até mesmo algumas celebridades locais. O que resultou num burburinho sem tamanho pelo povo local, que de penetra assistiu a cerimônia. Eles não entendiam por que uma doce criança como eu, casava-se com um “velho” como Marcos. Quer dizer, eles tinham uma definição muito boa para isso que ainda estava tentando entender se não poderia ser verdade.Chamava-se “GOLPE DO BAÚ”.Passei o mês me martirizando se realmente não era isso que estava fazendo. Em alguns momen
Levei um segundo em distração... Porém, um segundo é muito tempo para desperdiçar quando se está no transito... Quiçá todo aquele tempo que passei lhe ralhando sobre sua atitude mimada. Isso gerou vários metros percorridos à cega e causou um previsto acidente... Pelo menos uma vez na vida agradeci por ser medrosa na direção e andar sempre como uma tartaruga. Assim quando acertei a traseira do carro parado na minha frente, percebi que os estragos que causei não foram tantos, como poderiam se estivesse num velocidade muito alta. O que me alegrou de momento fora o susto tremendo que dei em Fabinho. Apesar de ter feito tudo muito rapidamente, quando chegamos à oficina, Marcos já tinha feito a proeza de já estar por lá, conversava tranquilamente com Gabriel como se fossem velhos amigos. Embora Gabriel, demonstrasse em seu olhar não estar totalmente à vontade com tal situação.Provavelmente o porteiro lhe tinha fofocado em ter me visto sair de casa com Fábio de arrasto e com várias malas. E como Marcos sempre lhe dá boas gorjetas para ficar me vigiando, já deveria estar no meu encalço por muito tempo.Também havia o fato de termos nos mudado para um novo condomínio uns 50 quilômetros daqui a uns dois meses em decorrência do novo canteiro de obras que estavam montando perto daqui. Ele gosta de acompanhar a evolu&ccedCapítulo - 6