Voltamos para casa bem, Clara tentou me convencer a deixá—la dormir em meu quarto, mas eu não quis, eu precisava pensar, chorar, e odiar, eu precisava do meu momento, da minha angústia. Ele não era a mesma pessoa, ele não era o Chuck que eu conheci há anos, ele era o Alfa agora, o Chuck morreu naquele dia. E eu não precisava sentir nada por esse Alfa.
Com o coração destroçado eu me deitei em minha cama, podia ouvir sua voz daquela época, dizendo que me amava, que nunca me abandonaria, podia ouvir sua respiração fraca quando raramente adormecia antes de mim, eu me agarrei em tudo de bom que vivemos, e iria apertá—los forte até que sumissem, e hoje eu vou esquecer tudo e tentar viver sem ele em meus pensamentos.
Chuck foi alguém especial pra mim, pena que morreu tão jovem, agora meu coração está vazio, de um lado pequeno estão os dois anos que passei com ele, e o resto não tem nada, simplesmente, nada. Pelo menos era no que eu queria acreditar. Mas uma coisa eu garanto, eu vou voltar naquela floresta e vou matar cada maldito lobisomem que entrar no meu caminho.
—
Acordei no dia seguinte e fui direto para a academia, Tyler estava lá. Assim que entrei ele me analisou com calma e me jogou as talas. Eu as agarrei depressa e as enrolei em meus punhos.
— Estava me perguntando quando ia voltar. — ele disse quando entramos no ringue.
Eu não respondi. Treinamos socos e chutes e outros golpes de ataque e defesa, até Josh e Clara chegarem, nós intercalamos um com outro, finalmente eu estava extravasando, bater em meus irmãos era melhor do que eu imaginava, eu parecia ser uma pessoa nova, o sono de ontem me tornou melhor, de certa forma, mais forte.
— Devagar, lobinha. — Disse Josh. Eu odiava quando ele me chamava de lobinha, mas não adiantava mostrar isso, ele nunca se importava mesmo. Então eu passei a não ouvir.
— Caça ao leste de Madison, hm… terça—feira, quem vai? — Perguntou Clara com um papel na mão.
— Eu não, tenho prova na faculdade. — respondi dando um chute no saco de pancadas.
— Você é entediante, pequena Sam. — Disse Josh.
— Só porque eu estudo e sou mais inteligente do que você… — Afirmei.
— Mamãe teria ficado orgulhosa. — Ele suspirou e me deu um sorriso triste.
Eu larguei o saco de pancadas e corri para abraçá—lo.
— Eca, eca, eca, suor de lobinha. — Reclamou ele.
— Obrigada por ser um idiota. — Eu estava sendo sincera, mas carinhosa.
— Você sabe né… É um dom natural. — Disse ele convencido.
— Acredite, eu sei. Não tenho dúvidas.
— Ei, não me façam vomitar com tanta estranheza, preciso de alguém pra caçar na terça comigo. — Disse Clara.
— Eu vou, irmãzinha. — Disse Josh. Clara sorriu para ele e caminhou em direção ao corredor.
— Eu quero alguém pra caçar na reserva no sábado. — Eu disse, firme.
Clara voltou na mesma hora e olhou pra mim confusa.
— A reserva… Hm… A reserva do Chuck?
— A reserva não é do Chuck, é da cidade e eles estão matando pessoas, temos que fazer alguma coisa. — Eu respondi.
— Não, definitivamente, não! — Respondeu Clara voltando em minha direção.
— Bom, se você não for, eu vou com Tyler e Josh. Vocês vão, não é, meninos?
Eles me encararam, se entreolharam e depois assentiram.
— Qualquer coisa por você… — Disse Josh.
— Ótimo. Eles são muitos, e se matarmos o Alfa, todos morrem, então… Foquem em Chuck.
Eu dei um sorriso forçado para Clara e me retirei.
Eu fui para a faculdade às quatro da tarde na segunda—feira, faltavam menos de três semanas pra terminar, eu finalmente seria médica legista, assim como minha mãe, meu pai estava orgulhoso de mim (não que eu me importasse), meus irmãos estavam… Deus, eu estava orgulhosa de mim mesma, e, com certeza, se minha mãe estivesse aqui estaria orgulhosa também, eu contava os minutos para o dia da formatura.
Depois que encontrei Chuck, passei a cogitar uma possibilidade de sair de Forest Lake, ir para uma outra cidade, talvez um outro estado, eu vou este final de semana caçar pela última vez, vou entrar naquela reserva sem medo, e vou caçá—lo. Se tem uma coisa que eu aprendi nesses dez anos, foi, nunca desistir de uma caça, e essa era fácil. Eu entrei e saí de lá duas vezes, mesmo que ele tenha me ameaçado, não vai me matar, eu vou pegá—lo primeiro.
Os lobos são previsíveis e nós somos mais inteligentes, se você capturar um deles, eles tentarão tomá—lo de volta, os deixando vulneráveis e no fim, mortos.
—
A semana foi tranquila, eu continuei fazendo as provas finais da faculdade e finalmente entrei em recesso, daqui a duas longas semanas, seria a formatura, e eu finalmente estaria formada.
Quando chegou no sábado, Clara mudou de ideia e decidiu juntar—se a Tyler, Josh e eu. Tyler chamou mais dois caçadores, Piper e Seth, eles eram irmãos, assim como nós, Piper tinha vinte e cinco anos e Seth tinha vinte e oito. Quando chegamos no lugar marcado, entramos todos juntos no bosque, olhávamos para todos os lados, os lobos não são estúpidos, eles sabiam que viríamos.
Caminhamos até o rio, e quando chegamos ouvimos o choro de uma criança.
— Que porra é essa? — Perguntou Josh. — É a porra de uma criança? — continuou com seu sotaque caipira mais puxado do que o meu.
O choro e os gritos continuaram.
— Meu Deus, temos que ir ajudar. — Disse Piper.
— O que? Não! — Eu disse. — É uma armadilha, o que uma criança faria em uma floresta? Ainda mais essa aqui.
— Hm… Perdida? — Perguntou Piper como se fosse a resposta óbvia.
— É uma armadilha. — Repetiu Tyler.
— Que se foda cara, eu vou procurar. Nenhum lobo, por mais foda que ele seja é capaz de imitar o choro de uma criança. — Disse Seth.
— Claro que não, idiota! É uma criança que faz parte da alcateia. — Disse Josh.
— Não há crianças na alcateia. — Disse Clara.
— Hã… cara, eles são metade lobos e metade humanos, ambos podem ter filhos. — eu respondi. — Contanto que sejam ambos lobisomens.
— Isso não é poss…
Um uivo próximo nos fez pular, o choro da criança havia parado e agora tinha um lobo amarelo bem na nossa frente. Seus dentes nos ameaçavam, com crostas de baba caindo no chão, o lobo parecia furioso, mas estava sozinho.
— Atira! — Gritou Josh.
Clara lançou uma flecha que o atingiu na barriga e o lobo caiu. Ele curaria logo, então precisávamos agir rápido. Eu me aproximei do lobo caído, desenrolei as cordas banhadas em wolfbless e as enrolei em suas patas, foi preciso quatro de nós para mover o lobo de lugar, nós o escondemos e ficamos a espreita.
— Vamos lá… Só queremos uma luta justa. — Disse Josh para os lobos que estivessem nos escutando.
— Eu sei como fazê—los vir. — falei querendo briga.
Eu peguei minha faca de prata e me aproximei de onde havíamos escondido o lobo.
— Vamos ver quanto tempo ele consegue viver com uma faca de prata enfiada na barriga. — Eu levantei a faca e quando ia enfiar nela o lobo mudou de forma, assumindo uma forma de mulher. Eu parei por um segundo e percebi as cordas ficarem frouxas. — Droga! — A mulher se levantou de pressa e me empurrou, eu derrapei para trás, mas não caí, a encarei e lutei, Clara correu para me ajudar, a mulher estava com os olhos vermelhos e veias alaranjadas em volta. Suas garras estavam enormes e ela sabia lutar. Mas eu fui mais rápida e consegui cravar a faca em sua barriga, ela caiu no chão e ficou, ainda acordada e gemendo. Olhos vermelhos?
— Vadia! — cuspiu Clara para ela.
Nós ouvimos outro uivo, e percebemos que eles estavam vindo, finalmente.
Sem demorar muito, cada um dos lobos apareceu, inclusive Chuck, eles estavam por cima de umas pedras e Chuck estava na mais alta, eu o encarei com um olhar de desafio e disse:
— Tudo bem galera, essa é minha última caçada, faça valer a pena, e matem cada maldito vira—lata que encontrarem. — Eles se posicionaram e os lobisomens atacaram, houve uma luta justa, armas contra garras, eu recuei e peguei a loba ferida pelo cabelo, enquanto meu grupo lutava com os que restavam. Ela gritou de dor e eu arranquei a faca da barriga dela, Chuck via tudo de cima da pedra, mas não se movia.
— Aw, Chuck… — Provoquei. — Eu pensei que você fosse mais corajoso. Oh, não, me desculpe, eu me esqueci totalmente, você é um covarde.
Posicionei a faca no pescoço da loba e ouvi um uivo assustador, era ele, o Alfa, Chuck. Eu parei a faca e lancei um sorriso para ele.
— O que? Não posso matar seu animalzinho de estimação? — Perguntei.
Ele finalmente desceu da pedra e chamou a atenção de seu bando, os outros lobos pararam de lutar e recuaram.
— Chega! — Gritou ele quando se aproximou.
— O que? O Alfa está pedindo arrego? — Provoquei.
Ajoelhei a loba em minha frente e a fiz olhá—lo, com a faca ainda no pescoço dela.
— Não faça isso Sam… Por favor. — Pediu ele. Será que ela tinha algum valor sentimental? Irmã, talvez, namorada, o que será?
— Samantha… — murmurou Tyler.
Eu o ignorei. Não viemos aqui pra isso? Matar lobisomens?
— Me dê um motivo, pra eu não matá—la. — Pedi a Chuck.
Ele olhou pro chão e depois me encarou.
— Ela é minha esposa. — balbuciou arrancando uma gargalhada nervosa de mim. Eu pisquei várias vezes meio desacreditada do que havia acabado de escutar e ele continuou. — Não a mate…
É isso. Só quem tem olhos vermelhos são Alfas. E em uma alcateia só pode haver um casal alfa no máximo.
Meu sangue ferveu, eu senti uma adrenalina desconhecida passar pelo meu corpo, estava junto com meu sangue, no ar, nos meus batimentos cardíacos, o ódio saía pelos meus poros, senti meu rosto esquentar. Eu poderia jurar que eu estava vermelha de raiva agora. Percebi olhos em mim, eles estavam me analisando, queriam saber se eu explodiria, se eu iria matá—la, ou se eu a deixaria ir. Mas eu não fiz nada disso, eu joguei minha besta no chão, joguei a faca que estava segurando no pescoço da loba, agora esposa de Chuck, arranquei meu cinto de wolfbless e meu colar, eu larguei todo o equipamento que poderia machucá—lo. Eu não queria que nada o machucasse, somente minhas próprias mãos. Eu pisei firme em direção a ele e alguns lobos tentaram me deter, mas Chuck fez um sinal para que não me impedissem, ouvi Clara e Tyler me chamarem, mas não dei ouvidos, quando me aproximei o bastante de Chuck, eu dei um soco, mas não foi um soquinho, foi um soco que o fez virar a cabeça, e depois eu não parei, eu continuei a socá—lo, a chutá—lo, no rosto, no peito, estapeei seus rosto diversas vezes, mas ele não revidou, pelo contrário, ele ficou exatamente na posição que estava, e também não se defendeu, eu consegui arrancar muito sangue dele, — Ahhhh! — gritei com raiva ainda batendo nele. Eu o amava tanto e ao mesmo tempo o odiava tanto, eu queria ele morto e queria ele bem, eu queria ele machucado e queria que ele me batesse e reagisse. — Reage! — Gritei. — Me bate de volta! — Ele não bateu, mas eu vi sua expressão mudar. — Seu filho da puta! Como você pode me deixar?! — As agressões não paravam. — Eu te odeio, tanto, tanto! — Minhas lágrimas finalmente começaram a cair e eu senti seus braços me envolverem, e eu chorei mais, mas quando percebi o que estava fazendo eu o empurrei e como ele não saiu do lugar eu dei um passo para trás. E o encarei, ainda com o rosto cercado de lágrimas, minhas mãos latejavam e ardiam.
— Eu te odeio! — Gritei. Senti alguém me puxar para trás, era Tyler. Ele estava ali, me salvando de Chuck, de novo.
Eu olhei na expressão de Chuck, ele estava diferente agora, não sentia raiva, ódio, ele sentia arrependimento, estava desolado e cheio de culpa no olhar. Eu caí no chão, me humilhando, e continuei a chorar.
— Nós vamos embora. — eu ouvi sua voz, mas não virei para olhar. — Vamos sair de Forest Lake, mas não querermos vê—los de novo.
— Nós não precisamos da porra da sua misericórdia. — eu murmurei para ele ouvir. — Nós ainda podemos matar vocês.
— Adeus, Samantha.
— Ah. Vá se foder!
Eu terminei minha faculdade, peguei meu diploma e no último mês não foi mais ouvido notícias de mortes por animais na floresta,eleshaviam ido embora, a alcateia inteira. Ele finalmente havia ido embora.Eu não sei se “finalmente” seria a palavra certa… Bom… Seria… Se eu estivesse feliz com isso, mas não estou, me sinto miserável, um lixo, ele me deixou, de novo. E eu continuava gostando dele, continuava o amando. Tudo estava pior, eu não cacei mais, não saí mais, e o único lugar que eu ia, era até o bar do Pete, as vezes com Clara e as vezes sozinha. Não tinha mais falado com meu pai direito depois daquilo e não pretendia voltar a falar.Eu pesquisei algumas cidades que talvez eu devesse ir e escolhi uma que talvez me deixas
Eu podia sentir a casa tremer com o tornado passando, era pequeno, pelo que Chuck falou, mas perigoso. Estávamos todos no porão, incluindo os três empregados que vieram hoje e Tina.— Meu peito está doendo, estou me sentindo sufocado. — Disse Chuck se sentando no chão.— Agora você sabe como me sinto, idiota. — Eu disse pra mim mesma e sabia que ninguém estava me escutando. E nem Chuck, pois ele estava ocupado sentindo dor.— — Encontrei… Sozinha… Ninguém… Fugido… Polícia… Depois…Eu estavam tonta, tudo o que eu via era uma luz branca muito forte, elas estavam correndo, eu ouvia uma voz de homem familiar, mas a da mulher eu não reconheci. O que estava acontecendo? Onde eu estava? Por que eu sentia tanta dor?—— Clara<9 - Calerva
1900GRÉCIAANTIGA MANSÃO WOODHOUSEEra dia de ação de graças quando Elizabeth Woodhouse enlouqueceu. Ela segurava uma adaga de prata que antes era usada para enfeitar uma parte da parede de sua casa, junto com o resto de antiguidades da família Woodhouse. Seu marido Alec Woodhouse, seus filhos mais velhos, Benjamim e Lorec, gêmeo
Depois de conseguir me livrar dos meus irmãos, eu peguei o celular na gaveta da cabeceira. Tinha algumas chamadas perdidas de Clara e outras de Josh, antes de entrarem no meu quarto de hotel. Mas haviam dez ligações de Chuck, e três mensagens de texto.— Atende o telefone, Sam..— Sam? Eu descobri uma coisa..— Samantha? Não saia do hotel, estou indo aí. Deus, eu espero que esteja bem.
Caleb tinha voltado para a escola e eu fiquei sozinha com a governanta que me atendeu hoje mais cedo. Passei o dia treinando na academia de Caleb. Não era tão grande como a do meu pai, mas dava pra fazer alguma coisa. Algumas horas depois eu peguei meu Jeep e saí da floresta em direção a cidade. Ainda não tinha escurecido, mas era quase noite. O gelo estava deixando a estrada escorregadia, mas dava pra dirigir. Eu falei com Clara enquanto dirigia. Ela começou a falar como papai estava mal e eu desliguei. A última coisa que eu queria agora era ouvir sobre meu pai.Passei por uma loja de armas. Eu havia trazido algumas para Darkvalle, mas eu sentia falta de armas nov
Eu estava deitada na cama, o corpo quente de Chuck me envolvia. Eu podia ver por sua respiração que ele ainda estava dormindo. Fiz todo o possível para não acordá—lo. Tirei seu braço de cima de mim e me apoiei com o cotovelo. Chuck me puxou de volta e me apertou.— Onde vai? — perguntou com a voz embargada de sono.— Banheiro. — respondi.Ele me soltou e eu sai da cama e fui em direção ao banheiro ao lado de fora do quarto.
Uma hora depois eu estava no carro, a caminho da casa de Summer. Era ela quem dirigia, parecia uma garota legal, mas muito calada e sombria. Eu não conseguia sentir nenhuma energia nela, nada. E também não sentia o calor dos lobos, e nem o frio dos vampiros. Era como se ela tivesse realmente bloqueado toda minha magia.— Como você faz isso? — perguntei quebrando o silêncio constrangedor.— Isso o que? — ela perguntou indiferente.