Depois que voltamos da lanchonete, liguei para minha mãe. Falei que iria dormir na casa da Milena esta noite e que iriamos ao shopping no dia seguinte. Ela não disse nada para me impedir, apenas perguntou se tinha ocorrido tudo bem na viajem da Milena e os pais dela. Eu disse que sim. Era a verdade.
Milena e eu subimos para o quarto. Não tínhamos terminado a arrumação pós-viajem que tínhamos prometido a mãe dela. E o quarto de Milena era imenso.
Depois que terminamos tudo, descemos para jantar. Ao contrário da minha casa, na casa de Milena todos comiam sentados à mesa como uma “família de verdade”.
Milena me chamou para subir assim que terminamos o jantar. Ela estava exausta da viagem – como todos da casa. Milena só teve tempo de usar o banheiro antes de capotar na cama. Eu ainda fiquei algumas horas acordada na minha cama improvisada no chão. Mas o sono acabou chegando para mim também.
Quando acordei, Milena estava pulando no banheiro. Apesar de ser fora do quarto, podia ouvi-la cantarolando uma música qualquer. Assim que ela saiu, eu entrei. Tomei um banho bem rápido e corri para o quarto. Havia um vestido lindo em cima da cama quando voltei.
– Então, gostou? – perguntou Milena – Comprei para você.
– Deu para notar, o vestido é a minha cara. Amei demais, muito obrigada! Só não te dou um abraço agora porque estou meio molhada.
– Não esquenta não. O importante e que você gostou.
Nós íamos começar a nos arrumar de verdade – cabelo, maquiagem, unhas – quando a mãe de Milena gritou:
– Mili, as meninas já chegaram. Elas estão subindo!
Não demorou muito para as meninas se juntaram a festa da beleza – como Milena batizou. Ficamos conversando sobre a volta às aulas, sobre as expectativas para o dia de hoje e sobre os mistérios da nova família – que ainda era o assunto principal.
Contrariando as crenças populares, ficamos prontas bem rápido. Como iriamos de carona, acho que todas resolveram ser bem focadas no que iriam usar.
Nós íamos com o primo de Milena, Ricardo, ou melhor, Rick. Ele era mais velho, 19 anos, porém sempre nos dava carona para onde quer que fossemos. Ele era um cara legal, divertido, totalmente desencanado, além de ser lindo. Seus olhos marrons, cabelo castanho claro e músculos perfeitos o faziam sonho de consumo de quase todas as garotas da cidade. Eu já tive a esperança de um dia ele me querer, mas acho que ele me via apenas como aquela garotinha sem graça de 6 anos atrás. Já eu, não o via como o garoto chato e implicante de quando ele tinha 13 anos. Ele havia crescido. E como!
Já tinha passado um pouco do horário combinado quando Rick chegou para nos levar. O que foi uma grande ironia, já que estávamos todas prontas dentro do tempo combinado. Ele estava com seu carro conversível, óculos escuros, uma jaqueta marrom, calças jeans e os cabelos menores do que a última vez que havia visto.
– Rick, cada dia que passa você está mais perfeito! – disse Mel.
– Mel, doce da minha vida, querida Mel. São seus olhos! – disse Rick, tirando os óculos de um jeito que só ele sabe. Sexy e sedutor. – Então, estão prontas?
– Há muito tempo, não é garotas? – respondeu Milena.
– Então o que estão esperando? Entrem logo no carro – Rick fez um sinal com a mão, convidando todas para entrarem em seu carro.
Bia foi a primeira a subi. Ela foi na frente, deixando Milena um pouco irritada. O resto de nós sentou atrás, claro. Rick seguiu sorridente como sempre era. Parecia não ter problemas na vida. E se tinha, deviam ser pequenos demais para perder o humor.
O shopping era em outra cidade. Não me surpreendia que a única coisa que poderia animar Vila Bela estivesse fechado há 10 anos.
Quando chegamos, Bia resolveu sair do carro de uma forma bem diferente. Pulou para fora, sem abrir as portas. Além de Rick, nenhuma de nós quis repetir o ato.
O shopping estava relativamente cheio. Mas nada que não pudéssemos enfrentar. Fomos direto para as lojas de roupas – viciadas. Rick foi encontrar uns amigos em uma loja de artigos esportivos e disse que se precisássemos dele era só ligar.
Provamos várias e várias roupas. Brincamos de combinar e saímos gastando nossa mesada de três meses. Foi muito divertido, como deveria ter sido. Estava dando graças a Deus, pelo menos isso para dar uma animada nas minhas férias. Havia roupas de tudo que é jeito, de várias lojas diferentes. Saímos da última loja e fomos tomar sorvete. Ou melhor, íamos.
– Gente, o sorvete pode esperar? – perguntou Mel.
– O que você quer fazer? – Milena foi bem direta.
– É que preciso fazer xixi – respondeu Mel cruzando as pernas. Pela cara dela, parecia mesmo apertada.
– Está bem, vamos! Você parece que vai explodir! – disse Milena, já seguindo para o banheiro. Era engraçado como nós sempre tratávamos Milena como se fosse a líder do grupo. E ela agia feito uma líder.
Encontramos com Rick, por sorte, e ele se ofereceu para esperar com as bolsas na porta do banheiro. Ele não curtiu tanto ficar esperando sozinho, mas paciência. Ele já conhecia bem as regras sobre nossas idas ao shopping.
No banheiro, todas ficaram no espelho, exceto Mel que foi para a primeira porta aberta que viu. Tinham poucas pessoas no banheiro, então deu para conversar um pouco.
– Hoje o shopping está mais cheio que o comum – começou Milena – Mas pelo menos meu biquíni já está garantido. Pena que não achei aquela sandália nova. Era o que faltava para completar o meu look de verão.
– Mas não se pode ganhar sempre. – falou Bia enquanto retocava o batom.
– Eu queria era ter encontrado algum menino. – Milena parecia realmente chateada.
– Para com isso, garota! – Mel deu um tapa no ombro de Milena – Vai meter garoto nisso? Está tão divertido só a gente.
– Meninas, vocês ficariam chateadas se eu saísse um pouco. Preciso beber água! – estava começando a ficar com a boca seca.
– Que é isso, menina! Vá, não queremos que ninguém morra de desidratação. – Bia exagerando.
Enquanto bebia água tive a sensação de estar sendo observada. Ignorei. Mas a sensação estava mais forte. Não tinha muita gente no local, mas mesmo assim não dava para ver direito. Rick estava falando no celular, de costas para mim. Havia três mulheres saindo do elevador e um casal entrando no outro. Uns moleques ficavam rindo em frente à porta do banheiro masculino, mas não olhavam para mim. Até que eu o vi. Olhando pela janela de uma porta que tinha escrito “Somente Funcionários”. Um garoto me observando. Apesar de não conseguir ver seu rosto direito, seus olhos estavam bem nítidos. Ele parecia não se importar de saber que eu já o tinha visto, parecia que queria ser pego.
As meninas saíram do banheiro. Olhei para elas, estavam rindo, olhei de volta e ele já não estava mais lá. Corri para a porta e olhei pela mesma janela.
– O que foi, Alice? – perguntou Bia.
– Não, nada. Apenas achei ter visto alguém aqui. – respondi ainda olhando para janela.
– Seja lá quem for já não está mais aí – disse Milena, que olhou pela janela assim que sai. – Eu que não gostaria de estar neste corredor sozinha. Ele me assusta!
Realmente o corredor era assustador. Era largo, de paredes brancas. Havia ventilação, pois sentia sair pelas frestas da porta, mas não se via de onde surgia. E com certeza não teria dado tempo de ninguém sumir dali.
Voltamos às compras. Rick fez a gentileza de nos acompanhar nessas últimas aquisições do dia. Foi um verdadeiro cavalheiro, carregando as sacolas, dando sua opinião sobre as roupas e ainda fazendo todas nós rirem com suas histórias malucas.
No final das compras fomos todos para a praça de alimentação. Comemos uma pizza gigante, sem medo. Estava deliciosa.
Conversamos mais um pouco. Rick contou mais algumas histórias que aconteceram com ele é o irmão dele enquanto nós apenas riamos muito.
A volta foi mais tediosa. Já tínhamos conversado tudo o que tínhamos para conversar, fofocado tudo o que tinha para fofocar, cumprimos nossas expectativas de compras, agora só nos restava comentar sobre o que compramos e o que aconteceu nesse longo dia no shopping. Mas mesmo assim eu só conseguia manter uma coisa em minha cabeça: Quem era aquele garoto?
Feliz ou infelizmente o mês de janeiro havia acabado. Foi rápido e tedioso, talvez um dos meses mais solitá Finalmente a aula havia acabado, não estava mais suportando aquilo. Estive ao ponto de pensar que poderia enlouquecer se ficasse mais um segundo ali, com ele me olhando e eles fofocando sobre mim. Quando sai da classe pude ouvir algumas garotas contando para outras salas o que havia acontecido. No corredor, indo para a sa As coisas estavam indo terrivelmente mal para mim. O dia anterior tinha sido um... Nem sei como chamar o dia anterior.Estava indiscutivelmente mal por tudo o que vinha acontecendo.As coisas estavam mudando rápido demais e eu n Fiquei tão estranhamente confusa com tudo o que estava acontecendo que acabei perdendo a noção do tempo. Peguei meu reló Quando estava voltando da escola, fiquei pensando no Devón.Queria entender o que ele era, ou melhor, o que ele significava para mim. Às vezes eu tinha certeza de que eu o5. Invasão
6. Olhos Protetores
7. Brigas
8. Histórias de Dormir
Com um pouco de custo, consegui voltar a dormir depois do sonho estranho. Quando acordei, tentei não dar muita atenção pra ele. Era só um sonho bobo, não é?Quando cheguei à escola, Milena e Bia estavam conversando no corredor principal. Elas pareciam bem animadas. E eu não estava para tanta animação.
O dia já estava amanhecendo e nenhuma de nós dormiu bem aquela noite. Tudo por causa da fantasmagórica brincadeira do copo. Levantamos a contra gosto. Tínhamos que ir à escola – por mais que ninguém estivesse com ânimo para isso.Depois que tomamos caf O mês de fevereiro passou bem rápido. Rápido até demais. Porém foi tempo o suficiente para firmar uma amizade agradável com Daniel – que a esta altura já tinha virado Dani.Último capítulo11. Feliz Aniversário